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Redacção

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Está tenso o ambiente político em Moçambique, depois de os órgãos eleitorais distritais terem declarado a vitória do partido Frelimo em 64 autarquias do país, no âmbito da realização, na passada quarta-feira, das VI Eleições Autárquicas, tendo ficado apenas a Cidade da Beira para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

 

Ontem, a Comissão Política Nacional da Renamo reuniu-se em Maputo de forma extraordinária, tendo deliberado nove pontos, com destaque para a exigência de uma auditoria à proveniência e autoria dos boletins paralelos usados nos enchimentos das urnas, em todas as autarquias, onde o partido reclama vitória.

 

A Renamo diz não aceitar os resultados divulgados pelos órgãos eleitorais em todos os distritos com autarquias e convoca todos os moçambicanos, em particular os munícipes das 65 autarquias, para uma manifestação geral em repúdio a qualquer manipulação dos resultados a partir desta terça-feira, 17 de Outubro de 2023.

 

O maior partido da oposição no xadrez político moçambicano garante que irá interpor recursos junto às instituições competentes e exigiu a Comissão Nacional de Eleições, um esclarecimento público sobre os ilícitos cometidos perante o seu olhar impávido e sereno.

 

Aliás, a Renamo responsabiliza os órgãos eleitorais pela má gestão do processo eleitoral, tal como o Presidente da República e Polícia da República de Moçambique (PRM) “por toda a instabilidade e convulsão social em consequência da fraude eleitoral”.

 

“Apelar à sociedade civil moçambicana, as confissões religiosas e a comunidade internacional para agir vigorosa e urgentemente, de modo a travar esta manipulação de resultados eleitorais”, defende o segundo maior partido do país, garantindo que está a encetar contactos junto do corpo diplomático e das organizações da sociedade civil para solicitar a sua intervenção de modo a evitar a presente crise política. (Carta)

O Departamento de Segurança e Protecção das Nações Unidas acaba de lançar uma advertência para precauções acrescidas a ter em Nelspruit, na África do Sul. O alerta surge após recentes incidentes relacionados com crimes que afectaram, em Nelspruit, o pessoal do Departamento de Gestão de Segurança e Protecção das Nações Unidas (UNDSS) de Moçambique.

 

O UNDSS lembra que as taxas de criminalidade em Nelspruit são elevadas e que os incidentes de roubo envolvem gangues armadas organizadas bem armadas, numa altura em que os recursos policiais são desafiados.

 

Ao viajar para Nelspruit, explica o UNDSS, o pessoal deve estar sempre atento ao que está acontecendo ao seu redor e prestar atenção quando estiver em trânsito congestionado, ao parar em portões de segurança, semáforos e quando o veículo se encontra na fila no posto fronteiriço.

 

″Não viaje à noite. Planeie a sua viagem tendo em mente que a passagem pela fronteira pode levar tempo. Certifique-se de que o seu veículo tem combustível suficiente (tanque cheio). Abasteça apenas em postos de combustível bem iluminados e lotados. Não troque dinheiro na fronteira e não mostre dinheiro″, estas são algumas das recomendações anunciadas pelo UNDSS.

 

O Departamento de Gestão de Segurança e Protecção das Nações Unidas chama atenção para que não se use “corredores” para facilitar a passagem na fronteira e para evitar a circulação pela cidade depois das 18 horas. Segundo o organismo, as pessoas devem planear as suas refeições e compras e não chamar táxis na rua, devendo solicitar este meio de transporte na recepção do hotel.

 

″Mantenha a sua família informada sobre o seu paradeiro e não confronte ninguém, os ladrões provavelmente estarão armados. Considere todas as armas de fogo carregadas″, observa o UNDSS. Em nota informativa, aquela entidade refere que, em caso de notar actividades suspeitas, o pessoal do UNDSS deve evitá-las e denunciar discretamente, se puder.

 

O Departamento de Gestão de Segurança e Protecção das Nações Unidas termina dizendo que, se os ladrões exigirem itens pessoais, entregue-os imediatamente, a sua vida vale mais do que seus objectos de valor, solicitando que se deve registar e manter os números de segurança na África do Sul: o de emergência em todo o país: 10 111 (telefones celulares e fixos).

 

O UNDSS é responsável pela liderança no tocante à segurança, apoio operacional e supervisão do sistema de gestão de segurança, com o objectivo estratégico de permitir a condução mais segura e mais eficiente dos programas e actividades da ONU ao nível mundial.

 

A entidade é composta, a nível global, pelo Gabinete do Subsecretário-Geral de Salvaguarda e Segurança, que engloba Políticas, Unidade de Planeamento e Coordenação e da Secção de Auditoria, Monitoramento e Avaliação, e de três grandes grupos operacionais, a Divisão Regional de Operações, a Divisão de Serviço de Apoio às Missões de Campo e Divisão de Serviços de Segurança e Salvaguarda das Sedes. (Carta)

segunda-feira, 16 outubro 2023 07:26

Estado congela salários da função pública em 2024

O Orçamento do Estado (OE) moçambicano para o próximo ano não prevê aumentos para os funcionários públicos e antevê um crescimento económico de 5,5 por cento, disse o vice-ministro da Economia e Finanças, Amílcar Tivane.

 

“Criámos provisões no OE para o Governo gerir a política salarial, mas pretendemos assegurar a estabilização da massa salarial”, disse Amílcar Tivane, em entrevista à Lusa em Marraquexe, à margem dos Encontros Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que decorreram semana finda em Marrocos.

 

“Já fizemos aumentos substanciais para classes com rendimentos médios e esperamos ter devolvido poder de compra, não prevemos aumentos significativos em 2024”, disse o vice-ministro, na semana em que o Conselho de Ministros aprovou o documento que será debatido na Assembleia da República até Dezembro.

 

Segundo o governante, “a decisão sobre um aumento pode ser feita, mas os aumentos não devem desviar a trajectória da massa salarial”, que Moçambique quer manter no nível em que está.

 

O cenário macroeconómico aponta para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,5 por cento, mais 0,5 pontos que a previsão do FMI, que estima uma expansão económica de 5 por cento em 2024, com a dívida pública a consumir quase metade da receita fiscal.

 

“A meta de 5,5 por cento está em consonância com os progressos que temos visto no sector extractivo, em particular no gás natural liquefeito, mas não é induzida apenas pelas dinâmicas do sector do gás, há também sectores como a agricultura e a indústria transformadora”, disse Amílcar Tivane, admitindo que, apesar do crescimento económico, a dívida continua a ser um dos principais problemas do país.

 

Segundo o vice-ministro, o Governo dedica “um pouco mais de 40 por cento da receita fiscal ao serviço da dívida, que cresceu muito e absorve uma proporção cada vez maior do que é o espaço fiscal que devia ser canalizado para investimentos no desenvolvimento do país, e daí o esforço de consolidação” que é preciso assegurar.

 

“O Orçamento está estruturado para perseguir os objectivos de política económica e social do Governo, fundamentalmente a criação de condições de incremento de espaço fiscal para apoiar investimentos que possam acelerar o ritmo de recuperação da economia moçambicana, que foi flagelada por múltiplos choques nos últimos anos”, concluiu Amílcar Tivane, salientando que as medidas de consolidação orçamental serão feitas principalmente do lado da despesa.

 

Refira-se que os estados membros do FMI concordaram em aumentar as suas contribuições e em dar a África um terceiro assento no seu Conselho Executivo, anunciou no sábado o Fundo Monetário Internacional em Marraquexe, Marrocos.

 

Os responsáveis do FMI instaram os seus membros a aumentarem o financiamento das instituições, para que possam apoiar melhor os governos na luta contra a pobreza e as alterações climáticas.

 

“Unimo-nos sobre a importância de impulsionar o crescimento inclusivo e sustentável, avançando nas nossas agendas climáticas e digitais. Mantemos um forte apoio aos esforços para resolver as vulnerabilidades da dívida. Comemoramos o encerramento da lacuna de financiamento do Fundo para Redução da Pobreza e Crescimento para continuar ajudando os membros mais vulneráveis”, disse Nadia Calvino, Presidente do Comité Financeiro e Monetário Internacional (IMFC).

 

Estes pontos estavam entre os objectivos declarados das reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, que terminaram ontem, domingo. Actualmente, a distribuição de quotas favorece as economias avançadas, particularmente os países europeus, em detrimento dos grandes países emergentes, liderados pela China e pela Índia, que há vários anos apelam a uma reforma do sistema.

 

Mas embora os países ocidentais digam que, em princípio, estão abertos à ideia, na verdade estão relutantes, temendo que o papel da China no FMI seja reforçado.

 

“É hora de solidariedade. Mas a solidariedade, quando há tanta tensão, é difícil de construir. E ainda assim conseguimos fazê-lo. Estamos a terminar as nossas reuniões com quatro objectivos que estabelecemos para nós próprios antes das reuniões, todos alcançados”, concluiu Kristalina Georgieva, Directora-Geral do FMI.

 

Embora a distribuição dos votos não tenha sido alterada, o FMI concordou em expandir o seu Conselho de 24 para 25 membros, para dar um assento adicional à África, que até agora detinha dois. As reuniões realizaram-se no continente africano pela primeira vez desde 1973. (AIM)

Alguns munícipes expressaram este domingo (15) o seu repúdio ao facto de os órgãos eleitorais darem vitória à FRELIMO em quase todas as 65 autarquias, incluindo as cidades de Maputo e Matola. Os nossos entrevistados alegam não ter votado no partido FRELIMO como vingança.

 

Passados alguns dias depois do anúncio dos resultados pelos órgãos eleitorais, “Carta” foi à rua, nas artérias da província de Maputo, para perceber as razões que levam o povo a discordar da “suposta vitória da FRELIMO” e o que lhes move para tal.

 

Numa breve conversa, falamos com Clara Ecineta, de 67 anos de idade, residente no bairro T-3. Ela diz que votou no partido que encontrou por perto. “Votei na FRELIMO, mas já não está a dar. Para mim, o pior é que a FRELIMO já não está nem aí para nós. Eles permitem mortes de qualquer maneira, se pudessem ver nos nossos corações, iam nos matar a todos porque já não aguentamos com os desmandos deste partido. Já chega da FRELIMO reinar sozinha, demos-lhe muitos anos e só está a piorar as nossas vidas. Médicos sem salários, professores a sofrer, polícias não recebem há meses... Só Deus para ajudar o nosso país e nos libertar das mãos destes ladrões”.

 

Carolina Lissenga, de 52 anos de idade, residente em Txumene 2, explicou à nossa reportagem que, mesmo não tendo votado na FRELIMO, o voto dela não contou para a RENAMO.

 

“Sempre que chega essa época de eleições me lembro da guerra dos 16 anos, nós sofremos muito, eu andava sempre com minha mãe e os homens da RENAMO nos fizeram rastejar de barriga com varas em cima de nós, não queriam saber se havia criança ou adulto, sofri muito, meu pai sofreu mais ainda. Então, se a RENAMO venceu estas eleições não foi com o meu voto porque eu não confio em nenhum destes partidos”, disse.

 

Para Ratita Nhampossa, de 26 anos de idade, residente no bairro da Matola Gare, esta seria a segunda vez que participaria na votação, mas não foi votar porque sabia que o voto dela não ia contar nem para RENAMO e nem para outro partido.

 

“Eu vi minha patroa a ser obrigada pelo esposo para ir votar. Ela saiu de casa cansada e sem saber em quem votar e meu patrão disse que ela devia votar na RENAMO para o voto dela dar vitória a este partido. Meu patrão tentou me obrigar também, mas eu disse que não adiantava nada porque a FRELIMO sempre vai fazer das suas para arrancar o município da Matola de António Muchanga porque mesmo há cinco anos fiquei a saber que o mesmo venceu e desta vez não seria diferente. Está seria a segunda vez a ir votar. Conheço a história de roubo da FRELIMO, a gente escolhe o que quer e eles escolhem por nós. Por mais que eu quisesse votar na RENAMO, sabia que a FRELIMO dificilmente deixaria a RENAMO reinar. Mas deviam nos deixar tentar outro partido e quem sabe as coisas iam mudar, visto que estamos cansados de tanto sofrimento e quem sabe as nossas vidas podiam mudar", referiu.

 

Falando à nossa reportagem, Alcídio Mussa, 32 anos de idade, residente no bairro de Siduava, na Matola Gare, explicou que tudo estava previsto para que a FRELIMO ganhasse, mesmo recorrendo à fraude. Por isso votou por vingança.

 

“FRELIMO é um partido de boladas e de falcatruas por isso muitos jovens estão desempregados. Penso que deviam deixar a RENAMO nos mostrar a sua forma de governar e quem sabe a nossa vida ia melhorar. Estamos cansados da FRELIMO, eles já não nos respeitam, já não se preocupam com o povo, estão mais preocupados em perder suas boladas. Calisto Cossa esteve no poder por muito tempo e só conhece Matola que lhe interessa, onde tem boladas feitas com o dinheiro que roubou dos impostos do povo. Se nós permitirmos que a FRELIMO governe mais uma vez, a nossa vida vai piorar”, disse Mussa.

 

Por seu turno, Abano Nhassengo, 44 anos de idade, residente em Txumene 2, disse que no seu bairro saíram bem cedo e em massa decididos a votar na RENAMO. Surpreendentemente, no dia seguinte ficaram a saber que não adiantou em nada todo o esforço feito.

 

“Isso vai nos fazer não votar nos próximos anos. A FRELIMO não quer deixar de infernizar as nossas vidas, mas nós já estamos cansados. Basta de sermos dirigidos por corruptos, gente sem escrúpulos, pessoas que só pensam no seu próprio estômago. Muitos jovens aqui na minha zona não têm emprego, agora está cheio de institutos abertos que dão cursos em que o jovem nem tem tempo de terminar e mesmo quem termina não consegue emprego. Afinal onde vamos parar, o que a FRELIMO quer de nós. Que deixe o outro governar para vermos se alguma coisa pode mudar”, frisou, bastante enfurecido.

 

Mais adiante, abordamos Arão Licumbe, 37 anos de idade, residente no bairro da liberdade e em poucas palavras disse: “Não questione muito senhora jornalista, eu não fui votar porque sabia que iam roubar votos e tinha a certeza que não iam deixar a RENAMO ganhar, por isso preferi ficar em casa”.

 

Lembrar que os actuais resultados que estão a ser divulgados nas cidades de Maputo e Matola dão vitória à FRELIMO enquanto que as actas mostram que a RENAMO foi o partido mais votado nestas duas autarquias. Ao longo desta semana estão previstas manifestações de repúdio convocadas pela oposição. (M.A)

Já são conhecidos os resultados intermédios das VI Eleições Autárquicas, realizadas no passado dia 11 de Outubro em todos os 65 municípios do país. Contra todas as expectativas, os resultados dos órgãos eleitorais dão vitória ao partido Frelimo em 64 autarquias, deixando a rebelde e temível cidade da Beira ainda nas mãos do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

 

Das eleições mais contestadas da história da autarcização do país, com a Renamo, por exemplo, a reclamar vitória em mais de 10 autarquias, com destaque para as Cidades de Maputo, Matola, Vilankulo, Moatize, Quelimane, Nampula, Nacala-Porto e Angoche, salta à vista, mais uma vez, a quantidade de votos inutilizados pelos órgãos eleitorais nas cidades de Maputo e Matola.

 

De acordo com os dados divulgados no último sábado pela Comissão Provincial de Eleições da Cidade de Maputo, na capital do país, 8.849 votos foram considerados nulos e 3.309 estavam em branco, totalizando 12.158 votos inutilizados pelos órgãos eleitorais. Isto é, 12.158 eleitores da cidade de Maputo dirigiram-se às urnas, no dia 11 de Outubro, para não escolher nenhuma das listas de candidatura.

 

No entanto, os números revelam uma redução em relação aos votos inutilizados em 2018, nas V Eleições Autárquicas. Naquele ano, os órgãos eleitorais inutilizaram 13.384 votos, sendo que 9.598 foram considerados nulos e 3.786 estavam em branco.

 

Já na autarquia da Cidade da Matola, província de Maputo, a Comissão Distrital de Eleições diz ter inutilizado 21.624 votos, pois, 18.504 eram nulos e 3.120 estavam em branco. É, de resto, uma subida astronómica de votos inutilizados, quando comparado com os votos inutilizados em 2018, em que os órgãos eleitorais inutilizaram 10.951 votos, ao considerar 8.090 votos como nulos, enquanto 2.861 estavam em branco.

 

No total, os órgãos eleitorais inutilizaram, nas cidades de Maputo e Matola, 33.782 votos, nestas VI Eleições Autárquicas, contra 24.335 votos inutilizados em 2018, representando um aumento de 9.447 votos. Os votos inutilizados, sublinhe-se, equivalem a uma média de 75 Mesas de Votos, tendo em conta que a média de votantes por cada Mesa é de 450 eleitores. Isto é, em 75 Mesas, os eleitores deslocaram-se para depositar os boletins em branco ou com sinalizados em mais de uma candidatura.

 

Refira-se que, na cidade de Maputo, a Frelimo é declarada vitoriosa com 58,78% (235.406) do total dos votos validados pelo STAE (Secretariado Técnico da Administração Eleitoral), enquanto na cidade da Matola obteve 57,23% (207.269 votos).

 

Nas duas autarquias, sublinhe-se, a Renamo reclama vitória, sendo que, na Matola, alega que teve mais de 203.000 votos, contra cerca de 119.000 da Frelimo, enquanto na Cidade de Maputo defende que obteve 53% dos votos válidos. (Abílio Maolela)

A ocorrência de um assalto a uma esquadra na Manhiça, no passado sábado, acaba de ser desmentida pela Polícia. Orlando Mudumane, porta-voz do Comando Geral da Polícia, disse nesta manhã, numa breve entrevista à “Carta”, que näo houve qualquer assalto.

 

Ontem, o “screenshot” de uma mensagem sobre o alegado assalto tornou-se viral e algumas plataformas noticiosas deram a ocorrência como certa, sem citar fontes. Mas oficialmente trata-se de “noticia falsa”.

 

A falsa narrativa rezava assim: “Dez homens armados atacaram a Esquadra policial de 3 de Fevereiro”, na Manhiça, província de Maputo, na noite de sábado (14 Out). Eles pretendiam prestar queixa, mas surpreendentemente exibiram pistolas e ameaçaram os policiais, pressionando-os a entregar armas. Sem alternativa e sem capacidade de reacção, os agentes policiais finalmente cederam. Os indivíduos apoderaram-se de uma AK47 e de uma pistola.

 

O assalto à esquadra da Polícia ocorreu numa altura em que o país atravessa alguma instabilidade política devido a eleições autárquicas fraudulentas”. (CIP)

O presidente da Renamo, Ossufo Momade, afirmou hoje que o partido venceu as eleições autárquicas e não reconhece os resultados anunciados pelos órgãos eleitorais, denunciando uma “megafraude” para “manter” Filipe Nyusi e a Frelimo no poder em Moçambique.

 

“A megafraude, a manipulação dos resultados eleitorais, visam criar um ambiente de guerra para o senhor Filipe Jacinto Nyusi [Presidente da República] e o partido Frelimo manter-se no poder ilegitimamente”, afirmou esta tarde o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição), em Maputo, no final de uma reunião extraordinária alargada da Comissão Política Nacional.

 

O encontro serviu para analisar “o decurso do processo de votação e apuramento” das sextas eleições autárquicas realizadas em 11 de outubro em 65 municípios, sobre as quais os órgãos eleitorais já anunciaram a vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder) em pelo menos 45 e uma para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), com a Renamo a perder até agora todas as oito autarquias que controlava.

 

“É um autêntico aniquilamento da democracia em Moçambique”, disse Ossufo Momade, pelo que aquele órgão do partido coloca a responsabilidade no chefe de Estado nas conclusões desta reunião: “Responsabilizar o Presidente da República e a Polícia da República de Moçambique por toda a instabilidade e convulsão social em consequência da fraude eleitoral”.

 

“A Comissão Política Nacional constatou com muito agrado que o partido Renamo ganhou as eleições autárquicas”, afirmou o líder do partido, citando os dados da contagem paralela recorrendo às atas das assembleias de voto, e criticando a Comissão Nacional de Eleições (CNE), face ao “cenário de autêntica negação de eleições livres, justas e transparentes”.

 

Afirmou que o partido decidiu “não aceitar e repudiar todos os resultados eleitorais que estão a ser divulgados”: “Lá onde ganhámos, queremos a vitória. Não é um determinado partido que pode adiar a vitória”.

 

Apontou como exemplos de vitória da Renamo nestas eleições as autarquias de Nampula, Quelimane, Vilanculo, Angoche, Nacala, Ilha de Moçambique, Matola, Marracuene e Maputo, dizendo que são as “atas coladas nas paredes” logo após a contagem de votos que o provam.

 

“Mas foi orientado pelo Comité Central [da Frelimo] a mudar o cenário. E nós não vamos aceitar”, assegurou.

 

A Renamo queixa-se que “em várias as autarquias, os cadernos de recenseamento eleitoral entregues aos partidos políticos eram diferentes dos que estavam nas mesas de votação”, o que “impediu o acompanhamento e controlo da votação para os delegados de candidatura”.

 

Também que “em quase todas autarquias, no ato do apuramento quando os resultados da davam larga vantagem ao partido Renamo, a polícia invadia as assembleias de voto, em tiroteios e lançou gás lacrimogéneo para interromper o escrutínio em curso”. “E, ato contínuo, recolheu as urnas adjudicações para parte incerta, sem o acompanhamento dos delegados de candidatura, os membros das mesas de votação e observadores”, denunciou.

 

Afirmou igualmente que nas autarquias onde a Renamo ganhou as eleições, “os presidentes das mesas de votação foram instruídos a não preencher as atas”.(Lusa)

O presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Ossufo Momade, convocou hoje manifestações “pacificas” em todo o país, a partir de 17 de outubro, contra o que afirma ter sido a “fraude” nas eleições autárquicas.

 

“O que eu quero é uma manifestação nacional, não é a guerra”, disse o líder da Renamo, após a reunião extraordinária alargada da Comissão Política Nacional da Renamo, realizada esta tarde em Maputo, em que o partido decidiu não reconhecer os resultados das eleições autárquicas de 11 de outubro que estão a ser anunciados pelos órgãos eleitorais.

 

“É através das manifestações. Afinal de contas pensam que a única alternativa que a Renamo tem que usar é a arma”, questionou o líder da Renamo, em resposta às perguntas dos jornalistas sobre o caráter dos protestos convocados.

 

“Nós temos que respeitar que o povo moçambicano está cansado das guerras”, acrescentou.

 

Ainda assim, Momade avisou que sobre o desenrolar das manifestações que espera a partir de terça-feira, tudo “vai depender do comportamento do regime”, insistindo que o partido “venceu” estas eleições, as primeiras depois de concluído, em junho, a total desmilitarização e desarmamento do partido, na sequência do acordo de paz.

 

O partido convocou “todos os moçambicanos” para uma manifestação geral “em repudio a qualquer manipulação de resultados, a partir do dia 17 de outubro”, tendo esta sido uma das medidas saídas desta reunião da Comissão Política Nacional da Renamo.

 

Apela ainda à sociedade civil, confissões religiosas e comunidade internacional “para agir, corajosa e urgentemente de modo a travar esta manipulação de resultados eleitorais”.

 

“Queremos que a comunidade internacional apareça a dizer algo sobre o comportamento do partido Frelimo. Não pode existir uma democracia para a Europa e outra para Moçambique”, afirmou, garantindo ainda que a Renamo vai “interpor recursos junto das instituições competentes” contra os resultados anunciados.

 

“Demos evidências que nós ganhamos”, afirmou o líder da Renamo, advertindo: “Se os tribunais não vão fazer o seu papel, não é por falta de reclamação”.

 

Disse igualmente que a Renamo vai exigir à CNE “um esclarecimento público sobre os vários ilícitos cometidos perante o seu olhar impávido e sereno” e que pretendem “responsabilizar os órgãos eleitorais pela má gestão e condução do processo eleitoral”, além de “requerer uma auditoria sobre a proveniência e a autoria dos boletins paralelos usados e vencimento das urnas”.

 

A Ordem dos Advogados de Moçambique manifestou no sábado “profunda preocupação” face ao “elevado nível de violência” após a eleição autárquica de quarta-feira, que “revela um descrédito nas instituições que administram o processo eleitoral”.

 

“Os níveis de violência, para além de poderem desacreditar qualquer resultado eleitoral, podem igualmente gerar suspeição relativa à integridade do próprio ato eleitoral como um todo e das instituições que o administram”, refere um comunicado daquela Ordem, assinado pelo bastonário, Carlos Martins.

 

As comissões distritais e províncias de eleições divulgaram nos últimos dias resultados do apuramento intermédio da votação em pelo menos 46 municípios, sendo que a Frelimo, no poder no país, venceu em 45 - a generalidade fortemente contestadas pelos partidos da oposição e observadores da sociedade civil -, e o MDM, manteve a Beira, província de Sofala.

 

A Frelimo foi anunciada vencedora em Maputo, a capital, em Matola, a cidade mais populosa do país, mas também em Nampula, a ‘capital’ do norte, e em Quelimane, capital da província da Zambézia, estas duas lideradas até agora pela Renamo.

 

Nas eleições autárquicas de 2018, a Frelimo venceu em 44 das 53 autarquias - foram criadas mais 12 autarquias nestas eleições - e a oposição em apenas nove, casos da Renamo, em oito, e do MDM na Beira.(Lusa)

Eis uma carta de desabafo de Mulweli Rebelo, filho de Jorge Rebelo, a propósito da visível crise eleitoral na Frelimo, com a Renamo a se mostrar, pela primeira vez desde a transição para a democracia, uma forte capacidade de mobilização eleitoral em Maputo.

 

De acordo com o seu perfil no LinkedIn, Mulweli, formado em Sistemas de Informação pela Universidade de Cape Town, é Director Geral nas Empresas Ologa, GuanoMoz, Globalstar.

 

Seu pai, Jorge Rebelo, foi Ministro da Informação de Samora Machel e Secretário do Trabalho Ideológico da Frelimo, nos primórdios da independência. É catalogado como uma das “reservas morais” de um partido cada vez mais questionado na sociedade.

 

Eis a carta, publicada ontem vastamente partilhada nas redes sociais:

 

Caros amigos de infância do “Bairro”, filhos dos líderes da antiga FRELIMO, envolvido em actividades questionáveis

 

Escrevo isto com um coração pesado de tristeza e com esperança de que, como “jovens”, possam reflectir sobre as decisões que estão a ser tomadas no partido FRELIMO, assim como a direcção que tem seguido este partido que nossos pais criaram e lideraram.

 

Eu me pergunto se vocês realmente têm orgulho de olhar no espelho e dizer que se identificam com a FRELIMO, que este é o partido escolhido pelo povo, o melhor para governar e que segue os PRINCÍPIOS que diz representar.

 

Estamos actualmente num processo de eleições, em que está claro que o partido está envolvido em actividades questionáveis, talvez por saber que está prestes a perder. Isto não é algo que pode ser ignorado ou justificado.

 

Como seres conscientes, é nosso dever questionar estes actos que ameaçam a nossa integridade. 

 

Pessoalmente, sinto vergonha por fazer parte de um grupo elitista que continua a apoiar cegamente um partido ignorante e arrogante, sem uma avaliação crítica das suas acções, mas pelos benefícios pessoais e vantagens que isso traz.

 

Enquanto alguns desfrutam de privilégios, o país continua a ser explorado, pessoas estão a sofrer, e há um crescente descontentamento. Como tapar os olhos diante da realidade que vemos? 

 

Não foi para isto que nossos pais lutaram.

 

Que legado queremos deixar para os nossos filhos? De lambebotismo? Covardia de pais que seguiram a direcção de corrupção e da bajulação em benefício próprio? Como “jovens” podemos questionar juntos e tomar acções que busquem mudanças, escolhas que estejam alinhadas com a justiça, a transparência e o bem-estar não apenas deste grupo.

 

Espero sinceramente que considerem o impacto das vossas decisões e que trabalhem isso dentro de cada um de vocês, das vossas influências, independentemente das vantagens pessoais de tomar um rumo cego e de hipocrisia.(Carta) 

Um membro da Renamo foi baleado mortalmente, esta quinta-feira (12), por agentes da Polícia da República de Moçambique, numa das artérias do município de Chiúre na província de Cabo Delgado.

 

Fontes disseram à "Carta" que a vítima, na companhia de outros membros e simpatizantes, manifestava pacificamente e foi atingida por uma bala quando os agentes da polícia começaram a disparar contra a caravana, que supostamente comemorava a vitória da Renamo. Na ocasião, outras duas pessoas também ficaram feridas, estando a receber tratamentos no hospital distrital de Chiúre.

 

Entretanto, a Polícia da República de Moçambique, em Cabo Delgado, através do Porta-voz, Mário Adolfo, confirmou que em Chiúre foi morto um menor de 16 anos de idade e ferido um menor de 12 anos de idade. Mário Adolfo negou que as vítimas sejam membros de partidos políticos e esclareceu que não foi intenção da corporação matar a vítima quando foi obrigada a lançar gás lacrimogéneo e a disparar para o ar com vista a impedir a manifestação.

 

Já na província de Nampula, o porta-voz da PRM, Zacarias Nacute, disse que os agentes da corporação podem ter atingido crianças, quando controlavam uma manifestação ilegal dos membros da Renamo. Segundo a PRM em Nampula, que lamenta o uso de menores em actividades políticas, o número de detidos por ilícito eleitoral subiu de três para sete entre quarta e quinta-feira. (Carta)

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