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segunda-feira, 16 outubro 2023 03:19

Munícipes da província de Maputo votaram na RENAMO como vingança e para pôr fim ao sofrimento

Alguns munícipes expressaram este domingo (15) o seu repúdio ao facto de os órgãos eleitorais darem vitória à FRELIMO em quase todas as 65 autarquias, incluindo as cidades de Maputo e Matola. Os nossos entrevistados alegam não ter votado no partido FRELIMO como vingança.

 

Passados alguns dias depois do anúncio dos resultados pelos órgãos eleitorais, “Carta” foi à rua, nas artérias da província de Maputo, para perceber as razões que levam o povo a discordar da “suposta vitória da FRELIMO” e o que lhes move para tal.

 

Numa breve conversa, falamos com Clara Ecineta, de 67 anos de idade, residente no bairro T-3. Ela diz que votou no partido que encontrou por perto. “Votei na FRELIMO, mas já não está a dar. Para mim, o pior é que a FRELIMO já não está nem aí para nós. Eles permitem mortes de qualquer maneira, se pudessem ver nos nossos corações, iam nos matar a todos porque já não aguentamos com os desmandos deste partido. Já chega da FRELIMO reinar sozinha, demos-lhe muitos anos e só está a piorar as nossas vidas. Médicos sem salários, professores a sofrer, polícias não recebem há meses... Só Deus para ajudar o nosso país e nos libertar das mãos destes ladrões”.

 

Carolina Lissenga, de 52 anos de idade, residente em Txumene 2, explicou à nossa reportagem que, mesmo não tendo votado na FRELIMO, o voto dela não contou para a RENAMO.

 

“Sempre que chega essa época de eleições me lembro da guerra dos 16 anos, nós sofremos muito, eu andava sempre com minha mãe e os homens da RENAMO nos fizeram rastejar de barriga com varas em cima de nós, não queriam saber se havia criança ou adulto, sofri muito, meu pai sofreu mais ainda. Então, se a RENAMO venceu estas eleições não foi com o meu voto porque eu não confio em nenhum destes partidos”, disse.

 

Para Ratita Nhampossa, de 26 anos de idade, residente no bairro da Matola Gare, esta seria a segunda vez que participaria na votação, mas não foi votar porque sabia que o voto dela não ia contar nem para RENAMO e nem para outro partido.

 

“Eu vi minha patroa a ser obrigada pelo esposo para ir votar. Ela saiu de casa cansada e sem saber em quem votar e meu patrão disse que ela devia votar na RENAMO para o voto dela dar vitória a este partido. Meu patrão tentou me obrigar também, mas eu disse que não adiantava nada porque a FRELIMO sempre vai fazer das suas para arrancar o município da Matola de António Muchanga porque mesmo há cinco anos fiquei a saber que o mesmo venceu e desta vez não seria diferente. Está seria a segunda vez a ir votar. Conheço a história de roubo da FRELIMO, a gente escolhe o que quer e eles escolhem por nós. Por mais que eu quisesse votar na RENAMO, sabia que a FRELIMO dificilmente deixaria a RENAMO reinar. Mas deviam nos deixar tentar outro partido e quem sabe as coisas iam mudar, visto que estamos cansados de tanto sofrimento e quem sabe as nossas vidas podiam mudar", referiu.

 

Falando à nossa reportagem, Alcídio Mussa, 32 anos de idade, residente no bairro de Siduava, na Matola Gare, explicou que tudo estava previsto para que a FRELIMO ganhasse, mesmo recorrendo à fraude. Por isso votou por vingança.

 

“FRELIMO é um partido de boladas e de falcatruas por isso muitos jovens estão desempregados. Penso que deviam deixar a RENAMO nos mostrar a sua forma de governar e quem sabe a nossa vida ia melhorar. Estamos cansados da FRELIMO, eles já não nos respeitam, já não se preocupam com o povo, estão mais preocupados em perder suas boladas. Calisto Cossa esteve no poder por muito tempo e só conhece Matola que lhe interessa, onde tem boladas feitas com o dinheiro que roubou dos impostos do povo. Se nós permitirmos que a FRELIMO governe mais uma vez, a nossa vida vai piorar”, disse Mussa.

 

Por seu turno, Abano Nhassengo, 44 anos de idade, residente em Txumene 2, disse que no seu bairro saíram bem cedo e em massa decididos a votar na RENAMO. Surpreendentemente, no dia seguinte ficaram a saber que não adiantou em nada todo o esforço feito.

 

“Isso vai nos fazer não votar nos próximos anos. A FRELIMO não quer deixar de infernizar as nossas vidas, mas nós já estamos cansados. Basta de sermos dirigidos por corruptos, gente sem escrúpulos, pessoas que só pensam no seu próprio estômago. Muitos jovens aqui na minha zona não têm emprego, agora está cheio de institutos abertos que dão cursos em que o jovem nem tem tempo de terminar e mesmo quem termina não consegue emprego. Afinal onde vamos parar, o que a FRELIMO quer de nós. Que deixe o outro governar para vermos se alguma coisa pode mudar”, frisou, bastante enfurecido.

 

Mais adiante, abordamos Arão Licumbe, 37 anos de idade, residente no bairro da liberdade e em poucas palavras disse: “Não questione muito senhora jornalista, eu não fui votar porque sabia que iam roubar votos e tinha a certeza que não iam deixar a RENAMO ganhar, por isso preferi ficar em casa”.

 

Lembrar que os actuais resultados que estão a ser divulgados nas cidades de Maputo e Matola dão vitória à FRELIMO enquanto que as actas mostram que a RENAMO foi o partido mais votado nestas duas autarquias. Ao longo desta semana estão previstas manifestações de repúdio convocadas pela oposição. (M.A)

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