Eis uma carta de desabafo de Mulweli Rebelo, filho de Jorge Rebelo, a propósito da visível crise eleitoral na Frelimo, com a Renamo a se mostrar, pela primeira vez desde a transição para a democracia, uma forte capacidade de mobilização eleitoral em Maputo.
De acordo com o seu perfil no LinkedIn, Mulweli, formado em Sistemas de Informação pela Universidade de Cape Town, é Director Geral nas Empresas Ologa, GuanoMoz, Globalstar.
Seu pai, Jorge Rebelo, foi Ministro da Informação de Samora Machel e Secretário do Trabalho Ideológico da Frelimo, nos primórdios da independência. É catalogado como uma das “reservas morais” de um partido cada vez mais questionado na sociedade.
Eis a carta, publicada ontem vastamente partilhada nas redes sociais:
Caros amigos de infância do “Bairro”, filhos dos líderes da antiga FRELIMO, envolvido em actividades questionáveis
Escrevo isto com um coração pesado de tristeza e com esperança de que, como “jovens”, possam reflectir sobre as decisões que estão a ser tomadas no partido FRELIMO, assim como a direcção que tem seguido este partido que nossos pais criaram e lideraram.
Eu me pergunto se vocês realmente têm orgulho de olhar no espelho e dizer que se identificam com a FRELIMO, que este é o partido escolhido pelo povo, o melhor para governar e que segue os PRINCÍPIOS que diz representar.
Estamos actualmente num processo de eleições, em que está claro que o partido está envolvido em actividades questionáveis, talvez por saber que está prestes a perder. Isto não é algo que pode ser ignorado ou justificado.
Como seres conscientes, é nosso dever questionar estes actos que ameaçam a nossa integridade.
Pessoalmente, sinto vergonha por fazer parte de um grupo elitista que continua a apoiar cegamente um partido ignorante e arrogante, sem uma avaliação crítica das suas acções, mas pelos benefícios pessoais e vantagens que isso traz.
Enquanto alguns desfrutam de privilégios, o país continua a ser explorado, pessoas estão a sofrer, e há um crescente descontentamento. Como tapar os olhos diante da realidade que vemos?
Não foi para isto que nossos pais lutaram.
Que legado queremos deixar para os nossos filhos? De lambebotismo? Covardia de pais que seguiram a direcção de corrupção e da bajulação em benefício próprio? Como “jovens” podemos questionar juntos e tomar acções que busquem mudanças, escolhas que estejam alinhadas com a justiça, a transparência e o bem-estar não apenas deste grupo.
Espero sinceramente que considerem o impacto das vossas decisões e que trabalhem isso dentro de cada um de vocês, das vossas influências, independentemente das vantagens pessoais de tomar um rumo cego e de hipocrisia.(Carta)