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Ninguém se despede do mundo a 25 de Dezembro. Essa é data de chegadas; recomeços. Nem as consciências humanas aceitam concorrências desavindas com o Redentor. Os humanos evitam as disputas com os celestiais. Procuram e seleccionam suas próprias datas, espaços e tempos. Assim, podem eternizar os seus feitos e glórias.

 

Nampula, essa capital de tantas conexões e emoções, se vestiu de lilás e xadrez, bandeiras quadriculadas, para apagar as últimas velas da consoada. Desconcertaram os abraços de alegria, para cruzarem com as lágrimas da compaixão.

 

O final de um ciclo, de um pujante e proeminente editor e jornalista, Pai e Mentor, que já exausto, decidiu ir escrever novas matérias nas alturas, num desporto sem trapaça e nem dribles ousados. Tudo no dia da maior festa da humanidade.

 

Irreverente e perspicaz, Vasco Fenita, regressou, pois, às origens, ao espaço das estrelas, de um espaço onde nunca soube sair. O ser humano descende dos céus. Aqueles que vivem 90 anos, então, regressam de forma triunfal como lendas. Reencontram a razão de terem passado pela terra.

 

Vasco Fenita, natural de Tete, nasceu estrela, porém, soube estruturar motivos para viver como constelação. Mais de 20 anos de futebol activo e privou com o Pai do Carlos Queiroz e o próprio Queiroz. Foram 60 anos dedicados ao jornalismo e 90 oferecidos para o mundo, seus amigos e familiares. Ele foi o mais antigo e activo jornalista que este país alguma vez conheceu.

 

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Exímio na arte do drible, no futebol, com os seus pés encantou estádios, emocionou adeptos e levou a loucura os simpatizantes do verde e branco, suas cores predilectas. As cores de um leão que rugiu em Quelimane, Nampula, Lourenço Marques e, lá para a metrópole, que ofereceu seus palcos aos nossos mais finos e nobres artistas da bola. Do furor dos estádios para o jornalismo desportivo foi consequência. A arte de costurar redes e bolas de futebol traduzidas para Os Lusíadas, através de nomes sonantes como José Craveirinha e Fernando Pessoa. Estes eram os seus predilectos. Ele próprio um Vasco da Gama da palavra e dos descobrimentos. Coleccionou vários escritores, porém, estes eram os poetas e cronistas que mais o enfeitiçaram.

 

Assim, como os deuses sempre foram alfaiates, Vasco Fenita interpretou e costurou os cânones do esmero e aprumo da escrita nos seus requintados textos. Criou uma ligação afectuosa, testemunhada e assertiva, com seus leitores, servindo das suas matérias para enviar recados, de toda ordem e natureza, palavras de desacordo, opiniões enviesadas e os elogios e apreço para quem estrelava.

 

Lutou por um país digno, honesto e ordenado; uma república. Sabia que nem todos os fins são legítimos, e que nem todos os métodos são apropriados. É necessário guiar a escolha respeitando as escolhas de cada um.

 

Me confessou, uma vez, que não imaginava que estivesse seguro para colocar suas crónicas a disposição dos leitores. Por essas alturas, já levava mais de 40 anos de carreira. Humildade exagerada. Mas, ele sabia que era detentor de uma combinação harmónica impressionante, de linguagem ajustada, identidade própria e ideias muito peculiares. Suas palavras suavizavam derrotas e faziam parecer que vitórias e derrotas eram, apenas, desporto. Relativizava o sofrimento e evitava disputas extra campos e muros.

 

Era um dos jornalistas mais discretos que, mesmo assinando seus textos, eles permaneciam impecáveis, cheios de pudor, mistérios, uma espécie de quem estende a mão, mas tem medo que lhe roubem os dedos. Com este carácter, formou dezenas de novos jornalistas e transmitiu os segredos e a arte de bem comunicar.

 

Nos recordaremos dele como essa bússola que apenas indicava o Norte, com total precisão, porém, sem nunca mencionar os obstáculos até ao destino final. Um homem que viveu unindo margens, sem, necessariamente, mostrar as pontes.

 

Foi homenageado algumas vezes, porém, muito poucas, para a sua dimensão e grandiosidade. Merecia outro reconhecimento e essas medalhas nacionais que, muitas vezes, se escapam, aos cidadãos de mérito e servidores de causas.

 

Passou por diversas redacções, incluindo o Notícias, Revista Tempo, Diário de Moçambique, A Bola, e muitos outros, porém, ter criado o primeiro jornal independente no Norte de Moçambique, o deixou lisonjeado e glorificou seu nome na eternidade da história do jornalismo do nacional. Seu jornal virou uma grata referência ao jornalismo moçambicano e lusófono, como bandeira fundamental no enriquecimento da língua, convenhamos, na defesa da verdade, rigor e integridade, bem como dos valores da cultura moçambicana. Foi um cultor de uma crónica rabiscada e um editor atento, de luxo e mérito.

 

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Neste Natal, de sentido invertido, pouco celebrado, com doses de gás lacrimogéneo, balas e saques desproporcionais, quando as nossas cidades se vestiram de cadáveres e irracionalidade, também quisemos pensar no Velho Vasco Fenita. Uma espécie de exercício de remissão e indulto desse iconoclasta do jornalismo desportivo moçambicano.

 

Minha sentida homenagem à sua família, mais próxima e distante, aos amigos e admiradores, que se prostram diante desse decanato jornalístico, exemplo de longevidade, dos chutes na bola que geraram genialidade nos seus textos, e das frases enigmáticas que só ele conhecia o sentido e a profundidade.

 

Ao Eleutério, a Florbela, ao Aurélio, ao Arsénio, ao Sérgio e Flora Fenita, um abraço condoído de amizade e compaixão.

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Ninguém se despede do mundo a 25 de Dezembro. Essa é data de chegadas; recomeços. Nem as consciências humanas aceitam concorrências desavindas com o Redentor. Os humanos evitam as disputas com os celestiais. Procuram e seleccionam suas próprias datas, espaços e tempos. Assim, podem eternizar os seus feitos e glórias.

 

Nampula, essa capital de tantas conexões e emoções, se vestiu de lilás e xadrez, bandeiras quadriculadas, para apagar as últimas velas da consoada. Desconcertaram os abraços de alegria, para cruzarem com as lágrimas da compaixão.

 

O final de um ciclo, de um pujante e proeminente editor e jornalista, Pai e Mentor, que já exausto, decidiu ir escrever novas matérias nas alturas, num desporto sem trapaça e nem dribles ousados. Tudo no dia da maior festa da humanidade.

 

Irreverente e perspicaz, Vasco Fenita, regressou, pois, às origens, ao espaço das estrelas, de um espaço onde nunca soube sair. O ser humano descende dos céus. Aqueles que vivem 90 anos, então, regressam de forma triunfal como lendas. Reencontram a razão de terem passado pela terra.

 

Vasco Fenita, natural de Tete, nasceu estrela, porém, soube estruturar motivos para viver como constelação. Mais de 20 anos de futebol activo e privou com o Pai do Carlos Queiroz e o próprio Queiroz. Foram 60 anos dedicados ao jornalismo e 90 oferecidos para o mundo, seus amigos e familiares. Ele foi o mais antigo e activo jornalista que este país alguma vez conheceu.

 

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Exímio na arte do drible, no futebol, com os seus pés encantou estádios, emocionou adeptos e levou a loucura os simpatizantes do verde e branco, suas cores predilectas. As cores de um leão que rugiu em Quelimane, Nampula, Lourenço Marques e, lá para a metrópole, que ofereceu seus palcos aos nossos mais finos e nobres artistas da bola. Do furor dos estádios para o jornalismo desportivo foi consequência. A arte de costurar redes e bolas de futebol traduzidas para Os Lusíadas, através de nomes sonantes como José Craveirinha e Fernando Pessoa. Estes eram os seus predilectos. Ele próprio um Vasco da Gama da palavra e dos descobrimentos. Coleccionou vários escritores, porém, estes eram os poetas e cronistas que mais o enfeitiçaram.

 

Assim, como os deuses sempre foram alfaiates, Vasco Fenita interpretou e costurou os cânones do esmero e aprumo da escrita nos seus requintados textos. Criou uma ligação afectuosa, testemunhada e assertiva, com seus leitores, servindo das suas matérias para enviar recados, de toda ordem e natureza, palavras de desacordo, opiniões enviesadas e os elogios e apreço para quem estrelava.

 

Lutou por um país digno, honesto e ordenado; uma república. Sabia que nem todos os fins são legítimos, e que nem todos os métodos são apropriados. É necessário guiar a escolha respeitando as escolhas de cada um.

 

Me confessou, uma vez, que não imaginava que estivesse seguro para colocar suas crónicas a disposição dos leitores. Por essas alturas, já levava mais de 40 anos de carreira. Humildade exagerada. Mas, ele sabia que era detentor de uma combinação harmónica impressionante, de linguagem ajustada, identidade própria e ideias muito peculiares. Suas palavras suavizavam derrotas e faziam parecer que vitórias e derrotas eram, apenas, desporto. Relativizava o sofrimento e evitava disputas extra campos e muros.

 

Era um dos jornalistas mais discretos que, mesmo assinando seus textos, eles permaneciam impecáveis, cheios de pudor, mistérios, uma espécie de quem estende a mão, mas tem medo que lhe roubem os dedos. Com este carácter, formou dezenas de novos jornalistas e transmitiu os segredos e a arte de bem comunicar.

 

Nos recordaremos dele como essa bússola que apenas indicava o Norte, com total precisão, porém, sem nunca mencionar os obstáculos até ao destino final. Um homem que viveu unindo margens, sem, necessariamente, mostrar as pontes.

 

Foi homenageado algumas vezes, porém, muito poucas, para a sua dimensão e grandiosidade. Merecia outro reconhecimento e essas medalhas nacionais que, muitas vezes, se escapam, aos cidadãos de mérito e servidores de causas.

 

Passou por diversas redacções, incluindo o Notícias, Revista Tempo, Diário de Moçambique, A Bola, e muitos outros, porém, ter criado o primeiro jornal independente no Norte de Moçambique, o deixou lisonjeado e glorificou seu nome na eternidade da história do jornalismo do nacional. Seu jornal virou uma grata referência ao jornalismo moçambicano e lusófono, como bandeira fundamental no enriquecimento da língua, convenhamos, na defesa da verdade, rigor e integridade, bem como dos valores da cultura moçambicana. Foi um cultor de uma crónica rabiscada e um editor atento, de luxo e mérito.

 

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Neste Natal, de sentido invertido, pouco celebrado, com doses de gás lacrimogéneo, balas e saques desproporcionais, quando as nossas cidades se vestiram de cadáveres e irracionalidade, também quisemos pensar no Velho Vasco Fenita. Uma espécie de exercício de remissão e indulto desse iconoclasta do jornalismo desportivo moçambicano.

 

Minha sentida homenagem à sua família, mais próxima e distante, aos amigos e admiradores, que se prostram diante desse decanato jornalístico, exemplo de longevidade, dos chutes na bola que geraram genialidade nos seus textos, e das frases enigmáticas que só ele conhecia o sentido e a profundidade.

 

Ao Eleutério, a Florbela, ao Aurélio, ao Arsénio, ao Sérgio e Flora Fenita, um abraço condoído de amizade e compaixão.

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As pragas do Egipto continuam a cair sobre nós, a última dos quais foram as calamidades que se abateram sobre as províncias do Norte, Cabo Delgado, sobretudo, e a província de Nampula. 

 

Parece sermos um povo que seja destinado a lamentar-se, a ler o livro das lamentações, e a ter que fazer um exame de consciência e perguntar o que fizemos ao bom Deus e ao mundo para que todas as pragas caiam sobre nós. 

 

Mas de vez em quando temos boas notícias. 

 

As meninas da UP foram campeãs regionais. As meninas do Ferroviário ganharam o Campeonato Africano de Basquetebol. São notícias que nos confortam e alegram o nosso coração que tanto precisa. 

 

Ontem, o Venâncio Mondlane, no seu encontro, como foi noticiado, com parlamentares da União Europeia, disse ter falado pela primeira vez com o Presidente Nyusi. Esta é uma boa notícia. Pegamos pela parte positiva, e é isso que conta, é que eles estão a falar. Nós agradecemos e encorajamos que este processo de diálogo possa continuar e que possa chegar a um bom fim, para que se encontre uma normalidade nova, quer dizer, transformada, que pretenda reformar tudo que é possível que tenha que ser reformado, mas que essa reforma se faça em paz. 

 

Volto ao dilema de Kant. A ideia de que a revolução e as transformações são necessárias, mas que a gente tem que encontrar maneira para que elas se façam de maneira pacífica, sem perdas de vidas humanas, mais do que aquelas que já perdemos, quer por baleamentos, quer por motins, ou quer até por doenças, pessoas que não conseguiram chegar ao hospital, até para serem curados. 

 

Viva este diálogo, que ele continue e que nos traga frutos. Nós moçambicanos estamos esperançosos e fazemos todo o barulho, como os "tifosi" no futebol, para que esta partida onde se joga a nossa vida, o nosso futuro, continue e que chegue ao bom termo. 

sexta-feira, 06 dezembro 2024 12:57

As “elites do atraso”

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Vimos o quanto custou, ao longo da Historia, a ousadia de pensar diferente  relativamente aos cânones e padrões oficiais. E então qual será o sentido de pensar diferente no Moçambique contemporâneo? Parece que qualquer resposta a esta pergunta implica uma compreensão do que seja “Moçambique contemporâneo”, isto é, o Moçambique do presente.

 

Como é que se caracteriza o Moçambique de hoje?

 

O período particular em que realizamos este evento, assinalando o dia mundial da Filosofia, parece caracterizar, de forma muito eloquente, o perfil social e politico do Moçambique contemporâneo. Este conflito eleitoral, em que estamos mergulhados, resume bem o perfil de um país em grave crise geral; de uma sociedade cujo corpo é atacado por um cancro violento; uma sociedade com as suas bases de sustentação abaladas, correndo, mesmo, o risco de, a qualquer momento, desabar!

 

E que causas estarão por detrás desta crise, cujo desfecho é ainda imprevisivel? Parece que podemos identificar as raizes, as causas desta crise, num sistema de governação absolutamente bloqueado; um sistma de governo inadequado para garantir, minimamente, o cumprimento das três principais funções clássicas do Estado: a segurança do povo; a aplicação da justiça de forma igual para todos, e a promoção do bem-estar económico, social e cultural de todos os cidadãos. 

 

A seguranca do povo e do seu território está gravemente ameaçada, por um lado. Por outro, o  povo sente a justiça formal, a justiça dos tribunais, cada dia mais distante  de si, e mais gravemente, a justiça social, a justica distributiva, de acesso e beneficio da riqueza nacional, cada dia mais distante, e reduzido a mera quimera.

 

A marca das desigualdades sociais aprofunda-se a cada dia, com o contínuo aumento do fosso entre um grupo que acumula riqueza de forma ostensiva e por vezes, até escandalosa, e a vasta maioria, que se afunda na mais abjecta miséria. Num texto que publica na sua conta do Facebook, no dia 17 de Novembro corrente, o sociólogo Elisio Macamo faz uma caracterização deste grupo privilegiado,  dando-lhe a designação, muito sugestiva, de ““elite do atraso “...  uma classe política  que vive do acesso aos recursos  do estado para a sua própria reprodução – governo e oposição”.

 

Dias antes, falando no programa “Grande Entrevista” da STV, outro respeitado académico moçambicano,  o pedagogo Brazão Mazula, tinha caracterizado este grupo como “alta burguesia  que se serve  do partido para se enriquecer. (Este grupo) não produz nada e não cria empresas nem empregos; é um grupo que vive longe do povo; está  lá  (no Partido) por status; para ganhar imunidade...”

 

É este o Moçambique contemporâneo em que assenta a presente crise eleitoral. E este contexto é sustentado por um discurso oficial que explora até à exaustão a legitimidade histórica, resultante da luta pela libertação da terra do jugo colonial, feito heróico de todo o povo moçambicano, entretanto  privatizado  por essa minoria predadora, e transformado  em sua “muralha da China” com um fim claro: a manutenção do status quo do monopolio geral do poder, em todas as suas acepções.

 

E em que pode consistir um pensar diferente daquele instrumental à manutenção deste status quo?

 

Esse pensar diferente vai consistir em abordar, de forma tão honesta e franca quanto possível, as razões da crise profunda em que a sociedade moçambicana mergulhou.  Vai consistir em  inquirir sobre a qualidade das políticas públicas aprovadas e a consistência da sua implementação. Pensar diferente vai consistir em negar a existencia de Homens, Mulheres,  leis ou regulamentos que sejam sagrados, portanto revestidos de intocabilidade bíblica, mesmo que comprovadamente hostis ao bem-estar  geral e à vida harmoniosa na sociedade.

 

Pensar diferente no contexto contemporâneo de Moçambique pode consistir em advogar por um sistema de governo mais representativo dos cidadãos e dos seus legítimos interesses; por um sistema de governo mais adequado a uma distribuição mais equitativa do poder e dos recursos da Nação. Um sistema de governo com instituições menos vulneráveis à captura pelo crime organizado; instituições públicas protegidas de manipulações a favor de agendas e interesses privados, fora da lei  e prejudiciais ao Bem Comum. Um pensar diferente apontando para um Estado de direito democrático,  que promova a cidadania e politicas ousadamente concebidas para mitigar as desigualdades de género e as  assimetrias regionais.

 

Mas, no presente contexto, este pensar diferente não pode ser expresso livremente, sem consequências. Para todo o pensar diferente; para todo o pensar susceptivel de provocar tremor aos paradigmas oficiais, de questionar de forma fundada o status quo, para esse tipo de pensamento, há-de sempre haver a correspondente.... “santa inquisição”, com o seu séquito de arautos, a que o povo chama de “lambe-botas”.  E esta Santa Inquisição” não precisa de ser legal, ou institucionalizada.

 

Esta “santa inquisição” cobra o custo da “ousadia” de pensar diferente. E o preço pode tomar  mútiplas formas, como: a marginalização; a pura ostracização no local de trabalho; o bloqueio ao acesso a oportunidades públicas, como ascensão a cargos públicos;a promoções na carreira; ao acesso a concursos de obras públicas ou de  prestação de serviços, entre outras. Tudo como forma de pressão para a desistência ou  “rendição” daquele que ousar pensar diferente. E o lema é claro e simples: “doa a quem doer”!

 

No limite, o pensar diferente no Moçambique contemporâneo pode incluir a quebra das próprias pernas,  fracturadas à paulada na berma de uma estrada. Ou mesmo o risco de ser crivado de balas, no escuro da noite, senão mesmo em plena luz do dia.

 

Concluindo: pensar diferente no Moçambique contemporâneo, não sendo proibido por lei, ele não é, contudo, totalmente gratuito. Sobretudo considerando uma sociedade em permanentes crises e todas mal resolvidas ou, simplesmente, escondidas como poeira debaixo do tapete: aquele que tiver a ousadia de levantar este tapete... deve contar com o risco de lá estar à sua espera um escorpião, pronto para o atacar com o seu  venenoso ferrão. Pela sua ousadia!

 

(Excerto de uma comunicação feita no ambito do dia mundial da Filosofia, assinalado no dia 21 de Novembro de 2024).

 

quarta-feira, 27 novembro 2024 17:36

Nada justifica a barbárie

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No meio da Eduardo Mondlane estão os desprezados. Eles impedem que os carros transitem e ocupam determinados o asfalto. Muitos são oriundos do outro lado da fronteira, onde a fome e a miséria fazem a sua ignóbil condição. Estão rebelados. 

 

Erguem cartazes. Têm apitos. Estão obstinados na sua luta. Um BTR abre alas sem estrépito. Segue-se-lhe um outro, numa velocidade enraivecida. As suas rodas impenitentes sobre uma das jovens manifestantes. Aquele BTR voa na direcção da sua ignomínia e ignora no chão uma vida destroçada. Não se calam assim as vozes dissonantes, antes pelo contrário. Assim se justifica a sua veemência e premência. 

 

Perante este ou outros semelhantes e sórdidos actos, o silêncio torna-se cúmplice destes crimes e anuncia que entre nós foi derrotada a humanidade. Estamos costas voltadas e já não temos empatia. Nada, porém, justifica a barbárie. A barbárie no seu esplendor. A irracionalidade. A bestialidade. A incivilidade. 

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