Jovens residentes na cidade de Nampula pedem ao governo a redução dos preços dos produtos de primeira necessidade como forma de minimizar o sofrimento da população, uma vez que os actuais não são compatíveis com o bolso do cidadão. Grande parte da camada juvenil associa o custo de vida à falta de emprego que assola muitos jovens.
"Estamos a enfrentar várias dificuldades por conta do elevado custo de vida, desde os preços até o acesso ao emprego", disse Jana Amisse, que exige ao governo oportunidades de emprego para os jovens, independentemente de possuir ou não uma formação profissional.
Cláudio Rafael, técnico informático que desenvolve as suas actividades no mercado Novo na cidade de Nampula, alerta que o governo deve trabalhar com vista a ultrapassar a questão do desemprego, sob pena de ressurgimento de mais ondas de protesto contra o elevado custo de vida.
"O nosso governo deve trabalhar para dar oportunidades aos jovens desempregados. Mesmo aqueles com alguma formação também não têm emprego ou alguma actividade de renda", disse Cláudio Rafael.
Outra entrevistada, Lara Lopes, diz que o custo de vida em Nampula é sufocante, daí que muitos olham para as manifestações populares como um grito de socorro.
"As coisas estão complicadas, passamos por momentos conturbados nos últimos meses por conta das manifestações e, como consequência, o custo de vida subiu. Espero que se concretize a promessa do Chefe de Estado sobre a redução dos preços, caso contrário, as manifestações populares vão continuar", disse Lara Lopez.
Por seu turno, José Fausto pede ao governo para trabalhar com os agentes económicos para a redução do preço de arroz, óleo, farinha de milho, entre outros produtos de primeira necessidade. "Ficaria feliz se o governo tentasse responder ao clamor do povo, sobretudo dos jovens". Refira-se que o governo afirmou na última sessão do Conselho de Ministros que o custo de vida só poderá baixar caso terminem as manifestações. (Carta)
Contra todas as expectativas e apelos vindos de dentro e de fora do partido Frelimo, o Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, continua a ignorar e a excluir o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane da mesa do diálogo político com vista a pôr fim à crise política pós-eleitoral instalada no país desde fim de Outubro passado.
Esta quarta-feira, o Chefe de Estado voltou a reunir os líderes políticos do PODEMOS, Renamo (representado por Ivone Soares), MDM (Movimento Democrático de Moçambique) e da Nova Democracia, em mais uma ronda de conversações entre o Presidente da Frelimo e os líderes dos partidos com assento parlamentar.
No fim do encontro, Daniel Chapo anunciou a integração de mais quatro partidos na mesa do diálogo, nomeadamente, os Partidos Revolução Democrática (RD); Humanitário de Moçambique (PAHUMO); de Renovação Social (PARESO); e de Reconciliação Nacional (PARENA).
“Achámos que era importante incluir estes partidos políticos porque já temos aqui o Partido Nova Democracia, com 16 mandatos na autarquia do Gúruè, província da Zambézia, que participa neste diálogo, e achámos que era importante a inclusão destes partidos com representação nas Assembleias Provinciais no próximo encontro que teremos”, justificou Chapo, em conferência de imprensa sem direito a perguntas.
Segundo Daniel Chapo, a inclusão destes partidos, que conquistaram assentos nas Assembleias Provinciais do Niassa, Cabo Delgado, Inhambane e Gaza, reforça o compromisso do diálogo com a representatividade e a construção de um consenso alargado para questões fundamentais do país.
“Achamos que a melhor solução para encontrar esta estabilidade económica, política e social do país é o diálogo, e este diálogo deve começar pelas plataformas partidárias com representação na Assembleia da República, Assembleia Provincial e Assembleias Municipais”, afirmou, antes de repetir que o mesmo será depois alargado a outros estratos sociais, sobretudo organizações da sociedade civil, académicos, religiosos, sector privado e líderes comunitários.
Na declaração feita à imprensa após o encontro, o nome de Venâncio Mondlane voltou a não ser citado como parte da solução da crise que se vive no país desde Outubro passado, sobretudo na região sul, onde diariamente se assiste a um festival de bloqueio de estradas, vandalização de infra-estruturas públicas e privadas e à humilhação da Polícia da República de Moçambique.
Desde a sua tomada de posse, a 15 de Janeiro último, Daniel Francisco Chapo ainda não clarificou se vai ou não sentar com Venâncio Mondlane que, nas contas do Conselho Constitucional, é o segundo candidato mais votado das eleições presidenciais de 09 de Outubro.
Mondlane, que vem reclamando vitória no escrutínio, é o rosto da maior crise pós-eleitoral da história do país, tendo convocado, a partir do exterior e com recurso às redes sociais, uma série de manifestações entre Outubro e Janeiro passado, que saldaram na morte de pelo menos 350 pessoas (na sua maioria assassinadas pela Polícia) e na destruição de diversas infra-estruturas públicas e privadas. (Carta)
A Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE) diz ter sido afectada pela tensão pós-eleitoral caracterizada por manifestações violentas nos últimos três meses de 2024. “Registamos prejuízos por parte dos nossos parceiros, nomeadamente, mediadores e agentes que nos apoiam na distribuição dos nossos produtos. De forma directa nós fomos afectados no que diz respeito ao volume de receitas”, afirmou o Presidente do Conselho de Administração da EMOSE, Janfar Abdulai.
O PCA, que falava à margem da 39ª reunião de gestores e quadros da empresa, havida há dias, não conseguiu precisar em que medida os lucros foram afectados. “Entretanto, é importante explicar que a actividade seguradora tem o seu pico nos últimos três meses por conta das renovações e contratação de outros seguros e, se formos a perceber, as manifestações pós-eleitorais decorreram no último trimestre do ano passado. Por fim, há prejuízos, mas por questões operacionais e não estruturais da própria empresa”, afirmou o PCA da EMOSE.
Ainda assim, disse Abdulai, a empresa pagou em 2024 43 milhões de Meticais em dividendos aos cofres do Estado, valor que resultou das receitas registadas durante o referido ano económico. “Para nós, este valor representa um ganho enorme porque mostra aquilo que é o papel da EMOSE como uma entidade detida pelo Estado, que investe para ter retorno”, sublinhou o gestor.
Quanto ao seguro agrícola a ser implementado na província central da Zambézia numa fase piloto, o serviço apresenta um imbróglio, tendo apontado a falta de financiamento para o desenvolvimento da agricultura. “A agricultura tem reportado a falta de recursos para poderem contratar os seguros, e nós estamos a estudar o melhor modelo para que esse seguro não seja muito caro e, acima de tudo, consciencializar o agricultor da importância desse seguro”, afirmou Abdulai.
O seguro agrícola consiste no contrato entre o produtor e a seguradora, em que o produtor paga um prémio e a seguradora garante uma indemnização em caso de perdas na produção, e o valor do seguro na EMOSE varia de 3% a 15% do custo de produção da lavoura. O seguro agrícola visa essencialmente que os prejuízos financeiros do produtor sejam minimizados em caso de chuvas torrenciais, inundações, períodos de seca, incêndio, entre outros.
Nos últimos dois anos, a EMOSE desdobra-se na digitalização dos seus produtos com vista a dinamizar ainda mais os serviços da empresa. Segundo o PCA da EMOSE, o processo já está quase a ser concluído e espera que até ao fim deste ano a actividade termine. (Evaristo Chilingue)
A Autoridade Reguladora de Energia (ARENE) actualizou os preços dos produtos petrolíferos regulados, a vigorar a partir desta quinta-feira (20). Com a actualização, o preço da gasolina será ajustado em baixa dos actuais 86.25 Meticais/litro para os 85.82 Meticais/litro, uma redução de 0.43 Meticais.
Já o preço do petróleo de iluminação reduz dos 87.05 Meticais/litro para 69.35 Meticais/litro, uma variação de 17.70 Meticais; o preço do gasóleo diminui dos 91.23 Meticais/litro para 86.79 Meticais/litro (uma queda de 4.44 Meticais) e o gás natural veicular reduz dos 44.52 Meticais/litro equivalente para 43.40 Meticais/litro equivalente, uma redução de 1.12 Meticais.
Segundo o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da ARENE, Paulo da Graça, a redução dos preços esteve relacionada com o comportamento das variáveis consideradas no processo do seu cálculo, principalmente com o custo de aquisição dado pelo CIF (USD/Ton) que perfaz na estrutura de preços o Preço Base dos produtos petrolíferos.
“A nível internacional, nas transações do barril do petróleo Brent, também foram registados alguns acontecimentos importantes que ditam esta redução, como por exemplo o facto de o dólar usado para as negociações no mercado futuro de Brent ter sofrido valorizações, que tornam mais cara a aquisição do petróleo, baixando assim a procura e também o preço, aliado ao provável, mas ainda não certo, excesso da oferta em 2025, uma vez que a OPEP ainda pode estender os cortes de produção”, explicou Da Graça.
Falando a jornalistas em conferência de imprensa, o PCA da ARENE acrescentou que os ajustamentos dos preços poderão ter impacto positivo no custo de vida, tendo em conta que o combustível comercializado em Moçambique é um importante factor dinamizador da economia. “Assim, espera-se um efeito de amenização dos outros produtos que usam o combustível como insumo de produção, considerando que o custo dos vários outros produtos está ancorado e associado aos preços dos combustíveis”.
O petróleo de iluminação é comumente usado pelas famílias cujo poder de compra é reduzido e, para o gestor, a redução do seu preço visa também fornecer alguma capacidade do poder de compra corroída ao longo do tempo, tendo também em consideração que a ARENE tem o papel de proteger os consumidores que sejam economicamente vulneráveis em relação a preços.
Quanto ao preço do Gás de Petróleo Liquefeito (ou gás de cozinha), cujo preço se manteve em 86.05 Meticais por quilograma, da Graça explicou que não foi mexido porque já tinha sido ajustado em baixa três vezes consecutivas, nos meses de Dezembro de 2022, Janeiro de 2023 e Julho de 2023. (Evaristo Chilingue)
Depois dos tumultos verificados esta terça-feira, na cidade de Chókwè, província de Gaza, contra o custo de vida, hoje, o caos atingiu as vilas de Homoíne, na província de Inhambane, e da Praia do Bilene, na província de Gaza, ambas no sul do país.
Informações colhidas pela “Carta” indicam que, na vila municipal de Homoíne, os populares incendiaram uma viatura de caixa aberta, pertencente ao Director da Escola Secundária de Homoíne, e invadiram a sede distrital do partido Frelimo, onde retiraram o mastro no qual os membros do partido no poder içam a bandeira daquela formação política. Escalaram ainda o edifício do Conselho Municipal de Homoíne, mas nada foi destruído.
Fontes da “Carta” baseadas em Homoíne contam que os tumultos desta quarta-feira foram motivados por três problemas: o custo de vida; a cobrança do dinheiro do guarda na Escola Secundária de Homoíne; e a obrigatoriedade de os alunos adquirirem uniformes escolares na própria instituição ao preço de 1.500,00 Meticais.
Segundo as fontes, um grupo de pessoas deslocou-se àquele estabelecimento de ensino para exigir a devolução do dinheiro do guarda e da compra dos uniformes, adquiridos por alguns pais e encarregados de educação. Não tendo sido satisfeita a exigência, decidiu incendiar a viatura do Director da Escola.
Tal como noutros pontos do país, o custo de vida foi também usado como a razão para o caos. Aliás, as fontes contam que a vila municipal de Homoíne está com o comércio encerrado há três dias por ordem dos manifestantes, que exigem a redução dos preços dos produtos de primeira necessidade.
As fontes narram que, na segunda-feira, os manifestantes convocaram uma reunião com os comerciantes, mas estes não se fizeram ao local por ordens do Governo distrital. O encontro teria lugar na terça-feira, porém, com dois membros do Município e alguns comerciantes.
Do encontro, garantem as fontes, foi acordado que os comerciantes podiam abrir os seus estabelecimentos comerciais para vender os produtos em stock, mas estavam proibidos de descarregar novos produtos, sem antes haver acordos em relação aos preços. A exigência não foi acatada pelos comerciantes, que decidiram continuar com as lojas encerradas, facto que exacerbou os ânimos dos manifestantes.
“Carta” tentou entrar em contacto com Jovial Setina, Presidente do Conselho Municipal de Homoíne, mas sem sucesso. Fontes garantem que a Edil de Homoíne encontra-se em parte incerta, depois de ter abandonado o gabinete de trabalho logo após a invasão do Edifício do Município.
Quem também não quis prestar quaisquer explicações ao nosso jornal em torno do caso é a porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível do Comando Provincial de Inhambane, Nércia Bata. A Superintendente da Polícia disse que estava reunida e que ia retornar a ligação, mas não mais aconteceu, mesmo perante a nossa insistência.
Na Praia do Bilene houve passeata…
Já na vila da Praia do Bilene, no distrito de Bilene, província de Gaza, houve uma “passeata” de grupo de jovens, gritando o nome de Venâncio Mondlane, o ex-candidato presidencial responsável pela convocação das manifestações populares testemunhadas no país, entre Outubro e Janeiro passados.
O Edil daquela vila municipal, Mufundisse Chilengue, disse à “Carta” que os manifestantes não destruíram nada, além de terem realizado uma “passeata” pela vila, exigindo redução de preços nos produtos de primeira necessidade. A fonte garante que, depois da “passeata”, o grupo, composto por dezenas de jovens, recolheu às suas residências.
Já o porta-voz da Polícia, em Gaza, disse ao nosso jornal que a corporação ainda estava a trabalhar no terreno, com vista a esclarecer o caso e que ia prestar esclarecimentos esta quinta-feira.
Refira-se que ontem, manifestantes vandalizaram a sede da Frelimo, no distrito de Chókwè, província de Gaza, e incendiaram infra-estruturas do FIPAG, no mesmo distrito. Já na província de Maputo, concretamente no distrito de Marracuene, populares impediram a Polícia de Trânsito de controlar a velocidade instantânea de viaturas, na Estrada Nacional Nº 1, alegando corrupção por parte dos agentes da lei e ordem. (Carta)
O Governo, reunido na terceira Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, aprovou, no dia 04 de Fevereiro corrente, a venda de 91% de acções do Estado na empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), por 130 milhões de USD, e autorizou as empresas Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e a Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE) a adquirirem a participação do Estado na LAM.O Governo, reunido na terceira Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, aprovou, no dia 04 de Fevereiro corrente, a venda de 91% de acções do Estado na empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), por 130 milhões de USD, e autorizou as empresas Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e a Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE) a adquirirem a participação do Estado na LAM.
Contudo, o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, não esclareceu se as empresas indicadas tinham ou não tomado a decisão final de investimento na companhia aérea. Quase três semanas depois e durante a quinta Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, Impissa explicou que a HCB, CFM e EMOSE ainda estão a avaliar para decidir a compra.
“As empresas indicadas para pensar no assunto já estão a fazer o trabalho para decidir. Trata-se de três empresas públicas que poderão discutir qual é a repartição de participação na empresa e creio que, a breve trecho, ou as empresas ou o Governo poderá informar qual terá sido a saída. Contudo, como dissemos, é uma acção que vai acontecer dentro dos 100 dias de governação, incluindo outras medidas relacionadas à empresa”, explicou o porta-voz do Governo.
Apesar dessas explicações, muitas críticas continuam a ser levantadas pelos analistas. O destaque vai para o facto de o negócio transferir os problemas da companhia aérea tecnicamente falida para as outras empresas públicas financeiramente estáveis. Para os analistas, a transferência de problemas da LAM para as outras empresas pode afectar novos investimentos nos seus sectores de actuação, bem como reduzir a sua contribuição (em dividendos) para os cofres do Estado.
Como solução viável, o Centro de Integridade Pública (CIP) defende que, mais do que uma simples injecção de capital, a LAM necessita de uma profunda reestruturação administrativa, acompanhada de melhorias nos processos de transparência e responsabilização dos gestores.
Para que a reestruturação do sector seja eficaz, a organização da sociedade civil diz ser fundamental adoptar medidas que reduzam a interferência política e governamental na gestão da empresa. Defende também a formação de uma parceria público-privada, com a entrada de um investidor estratégico forte, como uma medida para mitigar os riscos associados à influência política e governamental e promover uma gestão mais eficiente e sustentável.
As críticas sobre o negócio estendem-se também ao concurso lançado pela LAM, há semanas, para a aquisição de aeronaves (em número não especificado), que estabeleceu uma semana para a apresentação de propostas para um concurso de tamanha envergadura.
Actualmente, a rede de voos da LAM abarca 12 destinos no mercado doméstico. Na região, voa para Joanesburgo, Dar Es-Salaam e Cape Town, preparando-se para breve a expansão para mais destinos. Diariamente, a LAM realiza mais de 27 voos, operados através da sua frota composta por dois (2) Bombardier CRJ900, um (1) Q400, assim como 1 Embraer 145 operado pela sua subsidiária MEX– Moçambique Expresso. (Evaristo Chilingue)