No meio da Eduardo Mondlane estão os desprezados. Eles impedem que os carros transitem e ocupam determinados o asfalto. Muitos são oriundos do outro lado da fronteira, onde a fome e a miséria fazem a sua ignóbil condição. Estão rebelados.
Erguem cartazes. Têm apitos. Estão obstinados na sua luta. Um BTR abre alas sem estrépito. Segue-se-lhe um outro, numa velocidade enraivecida. As suas rodas impenitentes sobre uma das jovens manifestantes. Aquele BTR voa na direcção da sua ignomínia e ignora no chão uma vida destroçada. Não se calam assim as vozes dissonantes, antes pelo contrário. Assim se justifica a sua veemência e premência.
Perante este ou outros semelhantes e sórdidos actos, o silêncio torna-se cúmplice destes crimes e anuncia que entre nós foi derrotada a humanidade. Estamos costas voltadas e já não temos empatia. Nada, porém, justifica a barbárie. A barbárie no seu esplendor. A irracionalidade. A bestialidade. A incivilidade.