No entanto, o proprietário da escola, Elias Sibia, contou à nossa reportagem ter erguido aquele empreendimento em 2015 com o propósito de fazer aviários e criar outros animais. Entretanto, como na altura não havia uma escola secundária nas proximidades, a comunidade e outros representantes do sector da educação contactaram-no e pediram que fizesse ali uma escola comunitária que pudesse ajudar os alunos que ingressam no ensino secundário.
Posto isto, o proprietário da escola desdobrou-se em criar condições para que a escola entrasse em funcionamento a partir de 2016. Na ocasião, o sector da educação assinou um memorando de entendimento com o proprietário da escola em que se comprometeu a alocar professores e pessoal administrativo do Estado, incluindo o pagamento de salários.
A escola Comunitária Graça Machel entrou em funcionamento em 2016 e, nessa altura, recebeu alvará provisório para funcionar durante um período de um ano e o mesmo acabou sendo prorrogado por quase nove anos. No entanto, em 2022 entrou em funcionamento a Escola Secundária de Zitundo, que dista a 24 quilómetros da vila da Ponta do Ouro e este estabelecimento de ensino teve poucos alunos inscritos no ano passado porque os pais e encarregados de educação alegavam que está distante.
Com a crise de transporte à mistura, os pais e encarregados de educação optaram por matricular os seus educandos na Comunitária Graça Machel, não obstante o pagamento de uma taxa mensal de 620 Mts.
Elias Sibia, proprietário da Escola Comunitária Graça Machel, lembra: “ao longo dos anos, sempre recebeu visita da Inspecção Distrital de Educação que deixava uma e outra recomendação para que pudesse ter um alvará definitivo. Entretanto, nunca escondemos o desejo de trabalhar e melhorar e, por esta razão, procuramos aumentar algumas salas de aula, construir um campo [...] Tudo conforme as recomendações que fomos recebendo”.
Sibia alega que sempre teve vontade de melhorar as condições daquela escola, mas desde a entrada em funcionamento da escola Secundária de Zitundo passou a receber com frequência visitas da Inspecção Provincial de Educação, apresentando novas exigências. “Temos carteiras, mas eles dizem que não querem aquele tipo de carteiras. Eles se esquecem que não temos nenhum parceiro e estamos a trabalhar por conta própria”.
Por outro lado, o Chefe do Posto Administrativo de Zitundo, Euclides Zavala, explicou que a comunidade e o proprietário da escola estão equivocados ao pensar que a Escola Comunitária Graça Machel está a ser encerrada por causa da entrada em funcionamento da Escola Secundária de Zitundo.
“Nós encerramos a escola para fazer valer a lei. A escola com cunho privado deve dar mínimas condições exigidas pelo Governo. Embora seja nosso desejo que a escola de Zitundo seja frequentada por alunos desta localidade, não foi esta a razão que ditou o encerramento da escola Comunitária Graça Machel. Assim que o proprietário reunir todas as condições exigidas, faremos uma inspecção e vamos autorizar a sua reabertura porque é do nosso interesse que ela funcione”, explicou. (M. Afonso)
O jovem Edson Nhassengo que assassinou à facada a esposa, Celina Nhambi, no último dia 14 de Janeiro, na sua residência na Matola-Rio, província de Maputo, tendo posteriormente atirado o corpo para uma lixeira nas proximidades, foi reconduzido às celas nesta segunda-feira (29). Ele tinha sido restituído à liberdade, mediante Termo de Identidade e Residência e pagamento de uma caução de 100 mil meticais.
Quando foi solto, poucos dias depois de se entregar à polícia e ter confessado o crime, soube-se que foi o próprio pai que contactou os órgãos de comunicação social para mostrar a sua indignação pelo facto do filho não ter sido responsabilizado pela justiça pelo crime de homicídio. Nessa altura, várias campanhas foram desencadeadas nas redes sociais e por diferentes organismos da sociedade civil para que a justiça fosse feita.
A tia da vítima, Emelina Cossa, reiterou o seu sentimento de gratidão pelo papel exercido pelos órgãos de comunicação social, em particular pela “Carta”, na divulgação deste assunto e acredita que agora a justiça será feita.
“A nossa oração para que a justiça fosse feita foi ouvida. A mãe da Celina também se encontra bastante satisfeita. Ela sentia-se desamparada pelo facto de não ter condições financeiras e chorava dia e noite com a soltura do jovem”.
Para a tia da vítima, neste momento, a vitória da família reside no facto de saber que o jovem não só recolheu às celas como também perdeu o dinheiro que deu ao tribunal para a sua soltura.
“Somos gratos por tudo que está a ser feito neste momento. A gratidão é enorme, embora seja um pouco difícil ter que explicar ao filho da minha sobrinha que a mãe perdeu a vida, assassinada pelo próprio marido. A minha cunhada não tem condições, mas com o pouco que ela conseguir vai sustentar o neto deixado pela Celina Nhambi”, detalhou a tia. (M.A.)
Os terroristas que nos últimos dias estenderam as suas incursões a sul da província de Cabo Delgado protagonizaram mais um ataque na tarde de terça-feira (30), numa região entre as aldeias Titimule no distrito de Mecufi e Naminaue do lado de Metuge, matando pelo menos dois membros da Força Local.
Fontes ouvidas a partir da sede do distrito de Metuge explicaram que se tratou de uma emboscada por volta das 16h00 contra membros das FDS que faziam patrulha em quatro viaturas. Acrescentaram que, no ataque, outros membros das forças locais e governamentais contraíram ferimentos graves e ligeiros e se encontram a receber tratamentos na cidade de Pemba.
"Deve haver baixas. As FDS caíram numa emboscada. Os terroristas foram os primeiros a ouvir o ruído de carros e emboscaram as forças estatais, isso por volta das 16h00 e houve essas consequências” contou uma das fontes, acrescentando que quatro viaturas foram queimadas no local.
Refira-se que o ataque acontece um dia depois de o Presidente Filipe Nyusi, que falava em conferência de imprensa em Roma, na Itália, ter afirmado que os terroristas teriam momentos difíceis nos próximos dias, ao mesmo tempo que aconselhava a se entregarem às autoridades.
Numa escala esta quarta-feira (31), na aldeia Impiri, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, apelou à população para continuar a ser resiliente e não abandonar as suas terras, garantindo que os terroristas estavam de passagem fugindo da perseguição das forças moçambicanas no distrito de Macomia. (Carta)
Dados da Sasol indicam que a petroquímica sul-africana duplicou o valor dos impostos pagos ao Estado moçambicano, entre Julho de 2022 e Junho de 2023. De acordo com informações partilhadas com a “Carta”, à margem de um encontro com jornalistas, a Sasol pagou um total de 124.9 milhões de USD (correspondente a oito mil milhões de Meticais) entre Julho de 2022 e Junho de 2023, contra 67.1 milhões de USD (4,3 mil milhões de Meticais) pagos entre Julho de 2021 e Junho de 2022.
Isto é, de 2022 para 2023, os impostos pagos pela Sasol, em resultado da exploração do gás natural, em Temane (Inhassoro) e Pande (Govuro), na província de Inhambane, cresceram em mais de 57.7 milhões de USD (3.6 mil milhões de Meticais), o correspondente a 46,25%.
Do valor arrecadado entre 2022 e 2023, o destaque vai para o Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC), que ascende a 95,8 milhões de USD, contra 48,4 milhões de USD pagos entre 2021 e 2022. Sublinhar que, em 2022, a Sasol Petroleum Temane (SPT) foi reconhecida pela Autoridade Tributária (AT) como terceiro maior contribuinte do Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC).
Igualmente, há registo de uma subida galopante do Imposto sobre Produção de Petróleo pago em espécie (através do gás entregue à ENH-Empresa Nacional de Hidrocarbonetos), que saiu de 6.8 milhões de USD, em 2022, para 12.7 milhões de USD, em 2023.
Os dados da Sasol mostram também uma subida considerável das receitas provenientes do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), que saíram de 1.2 milhão de USD entre 2021 e 2022 para 6.2 milhões de USD, entre 2022 e 2023. No entanto, o Imposto sobre Produção de Petróleo pago em dinheiro registou uma descida, de 6.6 milhões de USD, em 2022, para 5.5 milhões de USD, em 2023.
Referir, entretanto, que o valor dos 2,75% que é transferido anualmente às comunidades de Pande e Temane é deduzido das receitas do Imposto sobre Produção de Petróleo, pago em dinheiro, e não da globalidade das receitas produzidas pela petroquímica, facto que influencia negativamente nos valores desembolsados pelo Governo. (A.M.)
O Vodacom Moçambique (VM) iniciou nesta semana um processo de transformação no âmbito da qual 200 colaboradores vão deixar a empresa, apurou “Carta de Moçambique”.
O processo resulta de pressões externas da indústria e um realinhamento interno da empresa, em curso.
Neste momento, a “VM”, maior operadora de telefonia móvel em Moçambique e importante provedora de serviços financeiros móveis através do M-Pesa, tem 800 trabalhadores no seu quadro e 2000 contratados (lojas, apoio ao cliente, etc).
A empresa está neste momento a negociar com os ambrangidos. “Carta” trará mais detalhes sobre o processo nas suas próximas edições.
A Vodacom Moçambique estabeleceu-se no país há 20 anos. E ao longo da última década, investiu mais de 30 mil milhões de Meticais em despesas de capital, solidificando sua posição como a principal rede móvel em Moçambique.
Desde o início em 2003, a Vodacom tem sido pioneira, introduzindo serviços 3G em 2010, sendo os primeiros a lançar serviços 4G em 2018, para além de ter aberto caminho para a introdução no país do 5G em 2023.
Em 2022, a Vodacom empreendeu uma ambiciosa iniciativa de lançamento do cabo submarino 2 África, ligando Nacala – o primeiro cabo submarino a chegar à região norte do país – e Maputo.(Carta)
O Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu esta quarta-feira (31 de Janeiro) reduzir a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, de 17,25% para 16,50%. Numa conferência de imprensa, o Governador do Banco Central, Rogério Zandamela explicou que a decisão é sustentada pela consolidação das perspectivas de manutenção da inflação em um dígito, no médio prazo, num contexto em que a avaliação dos riscos e incertezas associados às projecções da inflação é mais favorável.
Zandamela anunciou estarem criadas as condições para o início de um ciclo de redução gradual da taxa MIMO, com vista à sua normalização, num período de 24 a 36 meses. Quer dizer que o Banco Central prevê uma queda do custo do dinheiro na banca comercial, nos próximos dois ou três anos, facto que irá aliviar as famílias e empresas com empréstimos, ou que pretendam contratar crédito.
Além da taxa MIMO, segundo o Governador do Banco Central, serão abrangidas também as taxas de Facilidade Permanente de Depósitos (FPD), fixada actualmente em 14.25% e a taxa de Facilidade Permanente de Cedência (FPC), fixada em 20.25%. Da redução gradual, Zandamela mostrou reservas quanto à redução das taxas de Reservas Obrigatórias, quer em moeda nacional, bem como em moeda estrangeira, alegadamente porque o sistema financeiro tem dinheiro suficiente para as necessidades da economia.
Todavia, o Governador do Banco Central sublinhou que “o ritmo e a magnitude da redução dos próximos ajustamentos [um dígito ou aproximadamente] irão depender das perspectivas da inflação, bem como da avaliação dos riscos e incertezas subjacentes às projecções do médio prazo”.
Zandamela explicou que a redução gradual prevista da principal taxa de deve-se à manutenção das perspectivas de inflação em um dígito no médio prazo, depois de em Dezembro de 2023, a inflação anual ter-se fixado em 5,3%, devido à redução dos preços de bens alimentares importados, com destaque para os produtos de mercearia.
“Para o médio prazo, consolidam-se as perspectivas de uma inflação em um dígito, reflectindo, sobretudo, a estabilidade do Metical, a previsão de queda dos preços das mercadorias no mercado internacional e o impacto das medidas tomadas pelo CPMO”, acrescentou, o Governador.
Ainda sobre a inflação, o Banco de Moçambique diz que a avaliação dos riscos e incertezas associados é mais favorável, por causa do esforço da consolidação fiscal, a menor severidade dos eventos climáticos extremos e o impacto menos gravoso dos conflitos geopolíticos sobre a cadeia logística e sobre os preços das mercadorias no mercado internacional.
Durante a conferência, Zandamela alertou que se mantém elevada a pressão sobre o endividamento público interno. Disse que, em finais de Janeiro último, o endividamento público interno, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, situa-se em 320,6 mil milhões de Meticais, o que representa um aumento de 8,3 mil milhões em relação a Dezembro de 2023. (Evaristo Chilingue)
Um enorme conjunto de documentos anteriormente confidenciais relacionados com o caso das “dívidas ocultas” de Moçambique no Tribunal Superior de Londres foi divulgado terça-feira à imprensa e organizações que seguiram o julgamento. Essencialmente, o julgamento analisa se estas garantias soberanas de Moçambique serão anuladas devido a subornos pagos a funcionários do governo e outras irregularidades graves no processo e se a empresa no centro do escândalo, o grupo Privinvest, com sede em Abu Dhabi, deveria pagar mais de três mil milhões de USD em compensação a Moçambique.
No dia 23 de Janeiro, o juiz de primeira instância, Robin Knowles, decidiu que dezenas de documentos fossem disponibilizados e pediu que os advogados de Moçambique, Peters & Peters, facilitassem isso. Em particular, o Juiz Knowles registou o pedido da AIM para a divulgação de relatórios de peritos que tinham sido retidos pela Privinvest.
Entre os documentos divulgados está o acordo confidencial alcançado extrajudicialmente entre Moçambique, o Credit Suisse e outras oito instituições financeiras em relação ao acordo de facilidade Proindicus – onde o Credit Suisse era o banco líder.
O acordo de liquidação, datado de 30 de Setembro de 2023, é claro no seu objectivo, que é extinguir qualquer responsabilidade que Moçambique teria de outra forma em dívida ou danos em troca de libertar as outras partes do acordo de qualquer responsabilidade decorrente das irregularidades reveladas no julgamento.
No entanto, menciona especificamente, “para evitar dúvidas” que nada no acordo comprometerá os direitos de Moçambique contra a Privinvest, ou o VTB e o banco português BCP. Também não limita os direitos de Moçambique de “investigar, processar ou de outra forma prosseguir qualquer acção criminal, processo criminal ou processo criminal”.
O principal ganho para Moçambique é que, em troca do abandono do processo contra o Credit Suisse, o banco suíço anulou a dívida restante. Durante o julgamento em Londres, o advogado moçambicano Joe Smouha revelou que, como resultado do acordo, o Credit Suisse concordou em renunciar a toda a dívida pendente, que ascendia a 450 milhões de dólares americanos. Em troca, Moçambique concordou em não solicitar compensação ao banco.
Cada uma das outras oito instituições financeiras também concordou em retirar todas as reclamações contra Moçambique e o acordo lista os montantes que receberam, do Governo, em pagamento final, da seguinte forma:
Forfaitierungs do Atlântico: US$ 1.000.000
Banco Internacional de Moçambique (BIM): US$ 38.188.800
Banco Comercial e de Investimentos (BCI): US$ 15.840.000
Farallon Capital: US$m15.120.000
ICE Canyon: US$ 5.000.000
Moza Banco: 20.592.000 $00
Banco Unido para África (UBA): US$ 21.840.000
VR Global Partners: US$ 12.240.000
Os credores internacionais foram pagos em dólares, enquanto os bancos moçambicanos receberam o seu pagamento em moeda local sob a forma de obrigações. Especialistas financeiros disseram à AIM que o acordo foi bom para Moçambique. O Credit Suisse, como banco líder, esteve no centro do escândalo, com os principais membros da sua “equipa de negociação” a receberem subornos em troca da aprovação dos empréstimos.
Três dos negociadores do Credit Suisse (Andrew Pearse, Detelina Sibeva e Surjan Singh) confessaram num tribunal de Nova Iorque que tinham aceitado subornos da Privinvest. Portanto, havia poucas perspectivas de o Credit Suisse recuperar qualquer parte da dívida de Moçambique.
Em Dezembro, os restantes litigantes apresentaram os seus argumentos finais ao Tribunal e o Juiz Robin Knowles está actualmente a considerar as provas. Espera-se que ele pronuncie sua sentença nos próximos dois meses. É pouco provável que isto seja afectado pela morte, na segunda-feira, do bilionário libanês Iskandar Safa, fundador e proprietário do grupo Privinvest. (AIM)
Há pouco menos de duas semanas, a Federação Moçambicana de Empreiteiros (FME), através do seu Presidente Bento Machalia, deu uma conferência de imprensa para denunciar que o concurso público do Projecto Move-Mobilidade Urbana da Área Metropolitana de Maputo, cuja empreitada é financiada pelo Banco Mundial na ordem dos 250 milhões de USD, estava ferido de “vícios insanáveis”.
No âmbito do Projecto Move, o Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC) lançou, o ano passado, cinco concursos de contratação de empreitadas, sendo que duas empreitadas são no Município de Maputo, nomeadamente a reabilitação da Av. 24 de Julho e Av. Das Nações Unidas (ONU), e três empreitadas no Município da Matola, para pavimentação das estradas Intaka – Boquisso, Kongolote – Molumbela e Matlemele – Matibjwana. As obras de Maputo foram ganhas pela JJR Construções & Filhos Moçambique SA. e as obras da Matola foram ganhas pela chinesa China Jiangxi International Economic and Technical Cooperation Co. (CJIC), a quem a FME acusou de má conduta no mesmo processo.
Na colectiva com os jornalistas, Machaila não foi detalhado. Posteriormente, por solicitação do nosso jornal, ele forneceu-nos as suas “evidências” para os alegados vícios insanáveis do concurso.
O primeiro vício, disse ele, tinha a ver com as regras aplicáveis. No entender de Bento Machaila, “o anúncio do concurso do jornal publicado pelo MTC e os documentos de concurso referem que as regras de contratação são as estabelecidas no Decreto 5/2016, que, entretanto, foi revogado e substituído pelo Decreto 79/2022, de 30 de Dezembro, que já havia entrado em vigor durante o processo, mesmo antes da submissão das propostas”. Sendo assim, alegar que o concurso foi dirimido com base em regras do Banco Mundial, disse ele, era uma violação grave.
Em segundo lugar, asseverou Machaila, “o empreiteiro chinês (CJIC) omitiu, no preenchimento do Mapa de Quantidades, um preço que representa 30% do orçamento da obra e, com a conivência de elementos no Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC), foi-lhe adjudicada a obra para, posteriormente, negociar uma adenda que acabaria por encarecer a obra e superando o segundo concorrente”. O FME entende que essa alegada omissão do preço de um item relevante tinha contornos de corrupção.
Eventualmente, por causa do mesmo entendimento (o de que a legislação aplicável é a nacional, e não do Banco Mundial; a CJIC omitiu a cotação de um item relevante). A JJR contestou a integridade do concurso, tendo apresentado uma denúncia ao GCCC que, por sua vez, enviou um ofício ao MTC no dia 8 de Setembro de 2023 solicitando toda a documentação do concurso, incluindo as reclamações. Essa informação foi prestada pontualmente ao GCCC pela Unidade Técnica de Implementação do Projecto Move, dirigida pela Dra. Engenheira Maria de Fátima S. R. Arthur.
E como é que ela responde às alegações sobre os alegados vícios insanáveis?
Ela explicou que, para todos os efeitos, as regras aplicáveis a este concurso são as do Banco Mundial. E o facto de o Projecto ter publicado, em Março de 2023, no jornal Notícias, um anúncio de concurso onde se frisa que o mesmo será regido pelo Decreto 5/2016, de 8 de Março, não invalida a precedência das normas do banco, as quais clarificam os procedimentos da licitação.
“O anúncio do jornal foi apenas para efeitos de convite público. O Banco Mundial tem dois tipos de concurso: ‘pre-review’ e ‘pos-review’. No caso vertente, trata-se das regras ‘pos-review’. Mesmo assim, apesar da referência à legislação local, as regras do banco têm precedência sobre tudo o resto. Os documentos do concurso foram feitos com base nas regras do Banco Mundial. Lá estão plasmadas todas as instruções aos concorrentes e sempre com base nessas regras”, explicou ela.
Em suma, repisa a fonte, trata-se de um donativo do Banco Mundial, em caso de dúvida ou de conflito com os regulamentos nacionais, aplicam-se as Regras de Procurement publicadas em Novembro de 2020 e revistas, recentemente, em Setembro de 2023. “Igualmente, aplica-se o Guião para Prevenir e Combater Fraude e Corrupção nos projectos financiados pelo IBRD e IDA, assim como para Donativos, datado de 15 de Outubro de 2006 e revisto em Janeiro de 2011 e em Julho de 2016. Estas regras de Procurement estão reflectidas na Secção I - Instruções aos Concorrentes, etc.”.
Quanto ao facto de a empreiteira chinesa ter omitido a cotação de um item relevante no mapa de quantidades, Fátima Arthur disse que isso não era relevante.
“Após uma verificação minuciosa com o empreiteiro, reparamos que esse item havia sido cotado dentro de um outro. Houve um erro, que depois foi corrigido, e, ao fim e ao cabo, a proposta financeira em causa não aumentou com a correcção da tabela”, garante Fátima Arthur, mostrando estar de cabeça tranquila perante as alegações que são atiradas à unidade de implementação. "Na verdade, no curso da negociação com a empresa adjudicada, foi possível baixar os valores iniciais para cada uma das três obras da Matola, por entre 1 a 2 milhões de dólares, sobre o qual temos evidência", asseverou ela.
Ou seja, remata o Projecto Move, “a empresa China Jiangxi cumpriu com os requisitos do concurso e da legislação vigente e apresentou uma boa proposta técnica, assim como um menor preço nos três concursos da Matola, pelo que foi seleccionada empresa vencedora na avaliação, e depois de rebatidas as reclamações dentro do prazo, na adjudicação. A empresa que reclamou no GCCC (a JJR Construções) não teve o melhor preço nos concursos da Matola e, por isso, não venceu. Contudo, teve o melhor preço nos concursos de Maputo e foram-lhe adjudicadas as obras de Maputo".
Calendário atrasado
Este imbróglio, que suscitou a denúncia da JJR ao GCCC e um recurso de contencioso junto do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo (reclamando a legalidade das adjudicações ao empreiteiro chinês), está a atrasar o Projecto Move, estruturante para Área Metropolitana do Grande Maputo. De acordo com o seu calendário, por esta altura, a empresa chinesa deveria estar a iniciar a mobilização.
Numa explanação exaustiva sobre os problemas apontados a este processo de licitação, elaborado pelo Projecto Move (datada de fim de Dezembro) e a que “Carta” teve acesso, lê-se: “os processos de reclamação, rebatidos sucessivamente pelo Projecto e pelo Ministério de Transportes e Comunicações, atrasaram a negociação dos contratos da obra da ONU e das três obras da Cidade da Matola, que deveriam ser pavimentadas de raiz até Novembro. Até ao momento, nenhuma obra foi iniciada. Porquê? Por causa dos expedientes legais em curso”.
De acordo com a nota do Projecto Move, no fim de Dezembro de 2023, o MTC recebeu um ofício do Tribunal Administrativo da cidade de Maputo notificando sobre um recurso contencioso interposto pela Construções JJR & Filhos Moçambique SA contra o Ministério dos Transportes e Comunicações. No mesmo período, o MTC recebeu uma nota do Gabinete Central de Combate à Corrupção solicitando a invalidação dos concursos do município da Matola, sob alegação de violação dos princípios atinentes aos procedimentos de contratação.
Na sequência do recebimento destes dois ofícios, o Ministério dos Transportes e Comunicações suspendeu a assinatura dos contratos com o concorrente seleccionado (a carta de aceitação dos preços revistos já foi encaminhada, em Dezembro, ao empreiteiro) até ao esclarecimento final do processo junto das entidades judiciais atrás referenciadas. Hoje é a data limite que o MTC tem para clarificar as questões colocadas pelo TA da Cidade de Maputo. “Carta” sabe que o MTC não vai invalidar os concursos, sabendo que os mesmos obedeceram aos critérios de isenção e transparência e, sendo assim, caberá a quem tem julgamento distinto exercer o ónus da prova. (Carta)
Um dos grupos terroristas dos vários que se subdividiram nas últimas semanas nos distritos de Macomia e Quissanga, escalou o distrito de Metuge, no passado fim-de-semana, onde matou duas (2) pessoas, ambas do sexo masculino, enquanto trabalhavam nos campos agrícolas na aldeia Pulo. Metuge está a cerca de 50 quilómetros da cidade de Pemba.
Fontes disseram à "Carta" que o grupo capturou três pessoas, sendo que uma conseguiu escapar depois de maus tratos e outras duas foram decapitadas.
"Foi na zona de Pulo, lá vivem também famílias deslocadas. Na verdade, duas pessoas foram decapitadas e a terceira escapou e veio informar na aldeia. Os corpos foram enterrados no domingo, lá mesmo nas machambas", contou à "Carta" Mário Alfredo a partir da sede de Metuge. O mesmo grupo de terroristas foi visto a dirigir-se ao posto administrativo de Mazeze, distrito de Chiúre, mas, ao passar pelas machambas da aldeia Impiri no distrito de Metuge raptou mulheres e crianças.
"As forças governamentais tinham saído para perseguição, porque na zona de Impiri raptaram mulheres e crianças nas machambas numa zona montanhosa próximo da aldeia Nipataconas. A nossa força foi para lá, embora tenha saído um pouco tarde", acrescentou a fonte.
À comunicação social, o administrador de Metuge, Salésio Paulo, confirmou a morte de uma pessoa, um homem de mais de 40 anos de idade. Salésio Paulo alertou que os terroristas tinham tomado a direcção para o distrito de Chiúre, garantindo que apesar do pânico, a população não se movimentou, mas está com receio de se fazer às suas machambas.
Lembre-se que, no dia 26 de Janeiro, o Presidente Filipe Nyusi, vindo de Kigali, no Ruanda, fez uma escala em Metuge onde num encontro com as Forças de Defesa e Segurança admitiu que a situação não é das melhores em Cabo Delgado.
Nyusi apontou que a situação estava crítica nos distritos de Quissanga e Macomia, sobretudo no posto administrativo de Mucojo, onde há duas semanas os terroristas tomaram controlo. (Carta)