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Actualizado de Segunda a Sexta

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Redacção

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Tal como determinou a Comissão Permanente da Assembleia da República, há dias, as sessões plenárias retomam esta quarta-feira, 13 de Maio. E no regresso aos trabalhos, o órgão vai apreciar, na generalidade e especialidade, a Conta Geral do Estado (CGE) referente ao exercício económico de 2018.

 

A CGE de 2018 é a penúltima, do primeiro mandato de Filipe Nyusi, recentemente reconduzindo a um segundo mandato, em virtude de ter ganho folgadamente as eleições presidenciais do passado dia 15 de Outubro de 2019. O instrumento, que espelha como os fundos públicos foram geridos, tal como dos anos anteriores, sabe-se, recebeu uma apreciação negativa do auditor das contas públicas, o Tribunal Administrativo (TA). À data, o órgão (TA) era liderado por Machatine Munguambe.

 

Concretamente, a Conta Geral do Estado tem por objecto evidenciar a execução orçamental e financeira e apresentar o resultado do exercício e a avaliação do desempenho dos órgãos e instituições do Estado.

 

Numa análise ao aludido instrumento, o auditor das contas públicas avança que os mapas do orçamento e da Conta Geral do Estado não apresentam informações detalhadas das dotações e da execução das despesas por prioridades e pilares do Plano Quinquenal do Governo (PQG); falta de consistência entre os dados do Plano Económico e Social de 2018, o respectivo Balanço e a CGE; a presença de instituições auditadas e que não devolveram os saldos de aditamento à Conta Única do Tesouro e ainda celebrados contratos de pessoal, de fornecimento de bens, de prestação de serviços, de consultoria, de empreitada de obras públicas e de arrendamento sem obediência às nomas e procedimentos legalmente instituídos no Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado.

 

O Tribunal Administrativo “reprovou”, recorde-se, a Conta Geral dos anteriores exercícios económicos, nomeadamente 2015, 2016 e 2017, respectivamente.

 

A bancada da Frelimo, a maioritária, assim como nos outros anos, votará a favor da aprovação do instrumento, visto que as da oposição, nomeadamente a Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique, sempre votaram pela reprovação.

 

Entretanto, importa fazer menção que, na próxima sexta-feira (15 de Maio), o Executivo de Filipe Nyusi estará no parlamento para a Sessão de Informações do Governo, onde irá responder as perguntas previamente enviadas pelas três bancadas que compõem o órgão.

 

Salvo situação extraordinária, de acordo com a proposta de programa de trabalho a que tivemos acesso, a I Sessão da Nona Legislatura tem o encerramento previsto para o dia 29 de Maio corrente. A I Sessão Ordinária foi, lembre-se, interrompida no passado dia 16 de Abril, no contexto da prevenção e combate à pandemia da Covid-19. (Carta)

A actividade empresarial sofreu queda acentuada no mês de Abril passado, devido à crise provocada pela Covid-19, mostram os dados do último inquérito, levado a cabo pelo Standard Bank, a 400 empresas moçambicanas do sector privado. Como consequência da queda, o inquérito aponta que os novos trabalhos diminuíram a um ritmo sem precedentes.

 

O principal valor calculado pelo inquérito é o Purchasing Managers’ Index (PMI). Indica que valores acima de 50,0 apontam para uma melhoria nas condições para as empresas no mês anterior, enquanto os registos abaixo de 50,0 mostram uma deterioração. Feito o inquérito, a conclusão foi: “o PMI caiu para 37,1 em Abril, uma descida sem precedentes, indicando uma deterioração acentuada na saúde do sector privado em Moçambique. Isto, em comparação com um registo de 49,9 em Março, consistente com condições estáveis para as empresas em termos globais”.

 

O relatório do inquérito aponta que medidas destinadas a reduzir a propagação do vírus, incluindo as restrições às viagens e a proibição à concentração de pessoas, tiveram um impacto substancial na procura, com a contracção dos números relativos ao emprego e à actividade de aquisição face ao agravamento no panorama para a actividade.

 

Relata ainda que cortes no emprego, nos salários dos trabalhadores e nos preços de aquisição levaram à primeira queda nos custos dos meios de produção da história do inquérito. Acrescenta que os encargos com as vendas continuaram a subir, mas apenas ligeiramente. “Três dos subcomponentes do índice principal também caíram para valores recorde em Abril: produção, novas encomendas e stock de aquisições. Estes valores assinalaram uma redução drástica na actividade, tendo as empresas associado essa situação à Covid-19 e às restrições do governo às deslocações”, detalha o inquérito.

 

O relato do PMI explica que a queda nos novos negócios foi a mais rápida na história da série (desde Abril de 2015) e provocou reduções massivas nas aquisições e nos inventários das firmas moçambicanas. Algumas empresas, relata a análise, referiram que o encerramento das fronteiras – em particular, com a África do Sul – dificultou a obtenção de meios de produção, tendo os prazos de entrega, por conseguinte, sofrido atrasos. O emprego caiu, pela primeira vez, em 18 meses, com as empresas a ajustarem os números da mão-de-obra face à pandemia.

 

“Entretanto, as encomendas em atraso diminuíram pela primeira vez desde Janeiro, em virtude da redução no número de encomendas recebidas. As empresas moçambicanas esforçaram-se duramente para reduzir os custos dos meios de produção durante o mês, devido à descida das vendas. Com a queda nas aquisições, os fornecedores reduziram acentuadamente os preços das matérias-primas, tendo os custos com o pessoal registado, também, uma descida devido a salários mais baixos”, acrescenta a fonte.

 

Por fim, o PMI mostra que as expectativas para a produção no prazo de um ano pioraram em Abril, pelo segundo mês consecutivo. Diz ser um sentimento mais fraco do que a média da série, tendo as empresas relacionado o pessimismo com a pandemia do vírus e o declínio em novos negócios. (Carta)

Moçambique ultrapassou, esta segunda-feira, a barreira dos 100 casos de infecção pelo novo coronavírus. Ontem, o Ministro da Saúde, Armindo Tiago, anunciou que o país já conta com 103 casos positivos de Covid-19, em virtude de se ter diagnosticado mais 12 casos, de domingo para segunda-feira. Lembre-se que até domingo o país contava com 91 casos de infecção pelo novo coronavírus.

 

Com a doença a “não dar trégua”, as províncias de Sofala e Inhambane passaram a engrossar a lista de províncias com casos confirmados de Covid-19. Segundo o titular da pasta da Saúde, que dirigiu o habitual briefing de actualização dos dados sobre a evolução da pandemia no país e no mundo, dos 12 novos casos, seis estão na cidade de Pemba (Cabo Delgado), quatro na cidade da Beira (Sofala), um na cidade de Inhambane (Inhambane) e outro na cidade da Matola (província de Maputo).

 

Segundo Tiago, com os casos reportados nas províncias de Sofala e Inhambane, constrói-se novas cadeias de transmissão do vírus, pelo que o sector da saúde destacou alguns dos seus quadros seniores para trabalharem em coordenação com os governos locais, de modo a investigar o possível foco de transmissão, assim como “estancar” a sua cadeia de transmissão, contactando os contactos dos casos confirmados.

 

“Dos 12 casos testados positivos, nove são de nacionalidade moçambicana e três são estrageiros, alguns com sintomatologia leve ou com sintomatologia moderada e a maior parte destes resultam da vigilância activa, em que vamos às unidades sanitárias procurar pessoas com sintomatologia e testamos. Desta feita, totalizamos 94 casos de transmissão local e nove importados”, detalhou Tiago, revelando que entre os novos casos há um bebé de sete meses de vida, diagnosticada na cidade da Beira.

 

De acordo com a comunicação do Ministro da Saúde, de domingo para segunda-feira, o Laboratório do Instituto Nacional de Saúde (INS) testou 250 amostras, sendo que 238 revelaram-se negativas para o novo coronavírus. Até ontem, Moçambique tinha testado 4.173 pessoas suspeitas de ter contraído uma infecção do novo coronavírus.

 

Das amostras testadas, Tiago explicou que 138 são da cidade de Maputo, 83 da província de Maputo, 13 de Cabo Delgado, seis de Inhambane, outras seis de Sofala, duas de Tete e outras duas de Manica. Avançou ainda que o país continua com os 34 recuperados.

 

Sublinhar que as últimas 35 amostras, provenientes do Acampamento da Total, na Península de Afungi, distrito de Palma, província de Cabo Delgado, já foram testadas e os resultados serão divulgados na tarde de hoje. (Marta Afonso)

O Ministério Público moçambicano propôs a dissolução da Proindicus, Ematum e MAM, considerando que a situação de liquidez das três empresas é inferior a metade do valor do capital social, avançou uma fonte da Procuradoria-Geral de Moçambique.

 

As propostas do Ministério Público moçambicano baseiam-se na análise dos relatórios de contas das três empresas e já foram submetidas ao Tribunal da Cidade de Maputo, indicou fonte da PGR, citada ontem pela Televisão de Moçambique (TVM).

 

As petições foram submetidas ao Tribunal da Cidade de Maputo nos dias 08 e 09 de abril e fundamentam-se no facto de as empresas terem suspendido as atividades por um período superior a três anos, acrescenta a fonte, que não avança, no entanto, o relatório de contas das empresas.

 

As três empresas estatais moçambicanas estão ligadas às dívidas ocultas, empréstimos de cerca de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros) contraídas entre 2013 e 2014 em forma de crédito junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB.

 

Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo moçambicano da altura, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.

 

A operação acentuou uma crise financeira que levou Moçambique a entrar em incumprimento no pagamento aos credores internacionais ('default') e consequente afastamento dos mercados financeiros internacionais.

 

As dividas são alvo de processos judicias em Moçambique e nos EUA, devido a indícios de atividade ilícita na operação.

 

Os empréstimos foram avalizados pelo então ministro das Finanças, Manuel Chang, mas o Governo de Moçambique afirma que ele "não tinha autoridade" para assinar as garantias soberanas, que eram inconstitucionais e ilegais porque o parlamento de Moçambique não aprovou os empréstimos.

 

A denúncia apresentada pelo Governo de Moçambique alega que as três transações envolveram o pagamento de subornos a funcionários do executivo, incluindo Chang, que está detido na África do Sul desde 29 de dezembro de 2018, a pedido da Justiça dos Estados Unidos para julgá-lo em Nova Iorque por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro. (Lusa)

O preço de algodão por quilograma, no mercado nacional, poderá baixar significativamente na presente época agrária 2020/21, devido à depreciação do valor do produto ao nível internacional, por influência da Covid-19.

 

Na safra passada, 2018/2019, o quilograma de algodão custou 23 Meticais. Todavia, dados partilhados esta segunda-feira, em Maputo, pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER) indicam que o preço do produto no mercado interno poderá situar-se muito abaixo do praticado na época finda.

 

Numa reunião que juntou representantes dos produtores, comerciantes, Instituto de Algodão de Moçambique, e dirigida pelo Ministro do pelouro, Celso Correia, a Directora de Serviços de Mercados, Ancha Ainadine, mostrou que, após uma análise do valor do algodão ao nível global e, por conseguinte, cálculo do preço de referência nacional, constatou-se que um quilograma de algodão custaria entre 18 a 19 Meticais na presente safra.

 

O preço não correspondeu às expectativas do Fórum Nacional dos Produtores de Algodão (FONPA). Contra as expectativas, Benilson Simoque, em representação do FONPA, sugeriu que permanecessem os 23 Meticais praticados no ano passado, como forma de incentivar os produtores.

 

“Esta proposta visa evitar o abandono dos produtores na área do algodão. Por isso o FONPA sugere que, pelo menos, permaneça o preço do ano passado”, afirmou Simoque.

 

Entretanto, para o representante dos compradores do algodão, em Moçambique, Francisco dos Santos, a proposta é favorável. Todavia, para não agravar a baixa renda dos produtores do algodão, actualmente situada entre 12 a 15 mil Meticais por ano, Dos Santos disse que os comerciantes aceitariam pagar até 19 Meticais por quilograma de algodão.

 

Ainda assim, observou a fonte, assumir que esse preço é um risco, pois, com o evoluir da crise pandémica, o valor do algodão poderá baixar ainda mais no mercado internacional.

 

Sem consenso, coube ao Ministro do pelouro, Celso Correia, deliberar pela suspensão da reunião que visava a fixação do preço de algodão ao nível nacional. A decisão, explicou Correia, visa dar tempo aos produtores, comerciantes e o Governo para discutir e fixar o preço aceitável.

 

Após a fixação do preço, o Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural deverá levar a proposta ao Conselho de Ministros para apreciação, aprovação e publicação. Informações colhidas no local indicam que o preço acordado deverá ser divulgado ainda este mês.

 

Refira-se que, na última safra, o MADER revelou, na ocasião, que o país produziu 45 mil toneladas de algodão e prevê, para a presente época, produzir 56 mil toneladas, um trabalho que conta, em todo o país, com 200 mil produtores. (Evaristo Chilingue)

terça-feira, 12 maio 2020 03:36

Ataque armado em Sofala faz seis feridos

Eram 7 horas e 30 minutos, desta segunda-feira, quando um grupo de homens armados protagonizou mais um ataque armado na região de Mutindiri, na zona de separação entre as províncias de Sofala e Manica, tendo resultado no ferimento de seis pessoas, que seguiam viagem num autocarro de passageiros.

 

Conforme contam testemunhas, as seis pessoas foram atingidas por estilhaços de vidro do autocarro, depois de ter sido metralhado pelo grupo, que suspeita pertencer à auto-proclamada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo, que diz não se rever com a liderança de Ossufo Momade, actual Presidente daquele partido da oposição. O autocarro tinha como destino a cidade de Quelimane, capital provincial da Zambézia e partira, este domingo, da cidade de Maputo.

 

Segundo contam, o autocarro tinha pernoitado naquela região, pois, as FDS impedem o trânsito de automóveis depois das 17 horas e 30 minutos, porém, foi ao raiar do sol que o pior aconteceu. Refira-se que os ataques militares na região centro do país já causaram mais de mais de 20 óbitos, desde o seu recrudescimento, em Agosto passado. (Carta)

O assassinato de dois menores de idade, na vila de Gurúè, província da Zambézia, está a chocar a sociedade, havendo cidadãos que, através das redes sociais, propõem a implementação do Código de Hamurabi (aplicação da mesma medida aplicada pelo infractor ao ofendido).

 

Esta segunda-feira, 11 de Maio, a Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível do Comando Provincial da Zambézia, apresentou os quatro indiciados de terem assassinado os dois menores, identificados por Dino e Dércio.

 

À imprensa, um dos indiciados, que confessa ter praticado o crime, disse o seguinte: “Eu levei para lá no chá… antes, as 15:00 horas cruzamo-nos na cidade e sentamos num sítio e começamos a conversar. Essas crianças são minhas conhecidas porque casei a mãe deles uma vez. Então, no regresso levei as crianças para o chá…”, afirmou, confirmando ter assassinado as crianças.

 

Sidner Londzo, Porta-voz da PRM, na Zambézia, garantiu: “os elementos que a Polícia tem indicam que os quatro indivíduos estão envolvidos no crime dos menores, sendo que dois são actores morais e dois materiais”.

 

Acrescentando, Londzo explicou que os corpos foram encontrados graças aos caçadores de ratazana que, na quinta-feira do dia 07 de Maio, colocaram armadilhas nas plantações de chá, pertencentes à Companhia da Zambézia. A fonte garantiu ainda que a investigação continua e que existem elementos que irão permitir chegar aos verdadeiros mandantes, pois, os órgãos humanos seriam traficados para a província de Nampula, terra natal de um dos supostos mandantes.

 

O Porta-voz da PRM, na Zambézia, revelou também que a arma do crime (faca) ainda não foi encontrada, porém, assegurou que a corporação abriu várias frentes investigativas para localizar o “paradeiro” daquela arma branca. (Omardine Omar)

Existem paralelismos entre os dois casos e prendem-se com a origem da insurgência, diz Alex Vines. Mas o investigador britânico acredita que a crise ainda pode ser contida e que Maputo pode aprender dos erros de Abuja.

 

As acções dos insurgentes na província nortenha de Cabo Delgado entraram agora numa nova fase. Aumentou a violência e a frequência dos ataques e as suas investidas passaram a atingir de forma humilhante os símbolos do Estado e religiosos, e sugerem a "tomada" de certas zonas.

 

Mas a resposta das autoridades moçambicanas também já começa a ser ajustada às incursões dos insurgentes. E com isso entram novos atores no palco dos confrontos. É sobre esta nova fase em Cabo Delgado que entrevistámos Alex Vines, investigador do Programa para África no instituto britânico de pesquisa Chatham House:

 

DW África: Pela primeira vez, o Governo reagiu a altura das investidas dos insurgentes, aparentemente com resultados satisfatórios. Se isso acontecer com regularidade, acredita que a insurgência tem os dias contados em Cabo Delgado?

 

Alex Vines (AV): As Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique, durante o último mês, estiveram concentradas numa contra-ofensiva que foi possivelmente bem sucedida. E como todas as operações de contra-insurgência, esse desafio é de longo prazo, conquistando corações e mentes da população local, fornecendo desenvolvimento e segurança.

 

DW: Há relatos sobre a presença de mercenários sul-africanos, zimbabueanos e até de tropas angolanas a apoiar o Governo moçambicano. Também já se fala na possibilidade de uma tropa da SADC para apoiar o país. Como vê a cooperação regional, se considerarmos que os insurgentes podem ter intenções expansionistas na região austral de África?

 

AV:É verdade que o Governo de Moçambique contratou grupo AJA para fornecer aconselhamento e apoio aéreo. Esta dupla presença na experiência de contra-insurgência de Angola, Serra Leoa, Nigéria e de outros países me parece ter revertido os ganhos da insurgência a curto prazo. Igualmente, importante é o recente anúncio de que a Tanzânia enviou tropas adicionais para a fronteira [com Moçambique] do rio Rovuma. Não acredito que Angola tenha enviado tropas, mas ofereceu conselhos como o Zimbabué. A crise em Cabo Delgado é um assunto regional e a SADC desempenha um papel nesse sentido. 

 

DW: Já se fala em insurgentes infiltrados nas aldeias que estarão a usar a população como escudo. Também se advinha que deverão sequestrar ou atacar proeminentes líderes religiosos e altos governantes. Como interpreta essa nova abordagem dos insurgentes?

 

AV: A insurgência entrou numa nova fase. Ataques como o de Mocímboa da Praia evitaram muitas baixas civis e elementos como combustíveis e dinheiro foram restituídos durante a ocupação. Claramente os insurgentes estão a tentar construir uma base social e estão a revesar os símbolos do Estado e dos colaboradores. É por isso que o Governo precisará melhorar muito as suas próprias estratégias de corações e mentes.

 

DW: Já se pode dizer que Cabo Delgado é palco de uma guerra civil?

 

AV: É uma insurgência em Cabo Delgado e as causas principais são locais e regionais. Eu não diria que isso é como a guerra civil, como começou com a RENAMO em 1977 e que terminou em 1992, é diferente. Mas as maiorias das causas e soluções são moçambicanas.

 

DW: Também se acredita que as desigualdades sociais estejam na ordem da insurgência. Como acha que as autoridades deviam resolver isso?

 

AV: Pobreza, desigualdade e a governação são os principais impulsionadores deste conflito. A nomeação de Armando Panguene em março deste ano como presidente da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte de Moçambique é um desenvolvimento importante. Não existe uma solução militar para essa insurgência. 

 

DW África: Acha que os interesses dos gás em Cabo Delgado são o objetivo final dos insurgentes?

 

AV: Pesquisas mostram que nos primeiros anos da década anterior a raiz do descontentamento islâmico já estava lá presente. Os desenvolvimentos do gás não são a causa ou raiz da insurgência, mas podem esperá-lo provocando o sentimento de inquisição.

 

DW África: Há perigo de um conflito inter-religioso?

 

AV: O islão mais puro é uma das razões para apoiar a insurgência. Isso certamente recorre à mediação por meio das mesquitas, ONG islâmicas e da comunidade muçulmana em Moçambique para buscar soluções. Não será resolvido através da violência.

 

DW África: Há o risco de Moçambique se transformar numa pequena Nigéria?

 

AV: A insurgência em Cabo Delgado me lembra o crescimento inicial do Boko Haram no nordeste da Nigéria. As causas principais são semelhantes, assim como o local que faz fronteira, como uma fronteira internacional porosa. Espero que o Governo moçambicano aprenda com os erros dos nigerianos e evite que as crises piorem. A crise em Cabo Delgado ainda pode ser contida e [a situação] gradualmente melhor. (DW, com a devida vénia)

Arranca nesta terça-feira, no Tribunal Provincial de Gaza, cidade de Xai-Xai, o julgamento do assassinato do activista social Anastácio Matavele. Ele foi metralhado, em plena luz do dia, por agentes da Polícia da República de Moçambique afectos à tropa de elite, nomeadamente o Grupo de Operações Especiais (GOE) e a Unidade de Intervenção Rápida (UIR).

 

O crime ocorreu no dia 07 de Outubro de 2019. Matavele saía de uma sessão de formação de observadores eleitorais, no calor da campanha eleitoral do pleito de 15 de Outubro passado.

 

O processo com o número 78/19-Querela da quarta secção Criminal conta com oito arguidos. Entre eles, destaca-se o actual Presidente do Conselho Municipal de Chibuto, Henriques Machava, à data dos factos proprietário da viatura usada para o crime.

 

É também arguido Ricardo Manganhe, professor de carreira e subordinado de Machava no município de Chibuto, onde responde pelo pelouro da Educação. Da lista dos arguidos fazem parte os agentes Alfredo Macuacua (ex-Comandante da Subunidade da UIR), Tudelo Guirrugo (ex-Comandante de Companhia do GOE), e Edson Sílica, Euclídio Mapulasse, Januário Rungo, Justino Muchanga.  

 

De acordo com o Ministério Público (MP), os arguidos são acusados do cometimento dos crimes de homicídio qualificado, dano culposo e falsificação praticada por servidor público no exercício das funções. Alfredo Macuacua, Tudelo Guirrugo, Edson Sílica e Euclídio Mapulasse encontram-se encarcerados no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza. Januário Rungo e Justino Muchanga, altas patentes da Unidade de Intervenção Rápida, a nível da província de Gaza, mantêm-se em liberdade.

 

A família de Anastácio Matavele exigiu, recorde-se, uma indemnização ao Estado Moçambicano de cerca de 35 milhões de Mts, prontamente contestada pelo MP.  (Carta)

O Indicador do Clima Económico (ICE), expressão da confiança dos empresários do sector real, registou uma queda no primeiro trimestre de 2020, facto que pode estar associado à pandemia da Covid-19 que assola o mundo, desde o mês de Dezembro de 2019 e a incerteza instalada particularmente a partir do mês de Março, em Moçambique, quando foi diagnosticado o primeiro caso.

 

Dados publicados, semana finda, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, no período em análise, o indicador caiu para 95.24 pontos, contra 96.11 pontos registados em igual período de 2019.

 

O INE concluiu que a tendência negativa da Confiança empresarial no primeiro trimestre deste ano deveu-se à degradação da confiança em todos os sectores de actividade inquiridos, destacando-se, em termos de amplitude, os sectores de alojamento e restauração e transportes que viram seus níveis de confiança reduzirem 22 e 9.2 pontos percentuais, respectivamente face ao mês de Fevereiro.

 

“O indicador da perspectiva da procura sofreu uma ligeira queda no primeiro trimestre de 2020 se comparado com o quarto trimestre de 2019, tendo o respectivo saldo continuado abaixo da média da respectiva série temporal. Essa perspectiva desfavorável da procura no primeiro trimestre deveu-se, em média, às avaliações negativas das perspectivas da procura nos sectores de alojamento e restauração que viram reduzidas as reservas, as hospedagens e dormidas, da produção industrial, dos transportes e de construção, com redução significativa do volume de encomendas de obras, o que permitiu suplantar a apreciação positiva dos restantes sectores no mesmo período em análise”, relata a fonte.

 

Por efeito da Covid-19, a autoridade estatística relata ainda que a perspectiva do emprego também registou uma queda no primeiro trimestre face ao quarto trimestre de 2019, facto que acontece pelo terceiro trimestre consecutivo. A queda, detalha o INE, deveu-se em média a uma depreciação da perspectiva de emprego nos sectores de alojamento e restauração, de comércio, de transportes, de construção e produção industrial, apesar do registo de incremento da perspectiva de emprego nos sectores de outros serviços não financeiros, no trimestre em análise.

 

Mesmo perante uma especulação de preços, de Janeiro a Março, a fonte explica que o indicador de perspectiva dos preços registou uma diminuição ligeira face ao trimestre anterior, tendo o respectivo saldo se situado acima do observado no trimestre homólogo de 2019. “Contribuíram para a previsão em baixa dos preços futuros no período em análise, a redução do indicador nos sectores de alojamento e restauração, de transportes, da produção industrial e da construção, facto que suplantou os sectores de outros serviços não financeiros e de comércio que viram as suas perspectivas de preço aumentarem no trimestre em análise”, aponta o INE.

 

Empresas com constrangimentos aumentam em 12%

 

A autoridade estatística nacional relata que, em média, 44% das empresas inquiridas enfrentaram algum obstáculo no primeiro trimestre de 2020, o que representou um aumento de 12% de empresas com limitação de actividade face ao trimestre anterior, facto que está em linha com o ICE que diminuiu. O INE explica que a situação foi influenciada pelo aumento de empresas afectadas por algum obstáculo no período de referência em todos os sectores, com maior destaque para os sectores de serviços de transportes (com 58% de empresas afectadas), de alojamento e restauração (52%), da construção (45%) e da produção industrial (41%).

 

O ICE constitui uma publicação mensal sobre a conjuntura económica de Moçambique. O estudo expressa opinião dos agentes económicos (gestores de empresas) acerca da evolução corrente da sua actividade e perspectivas no curto prazo, particularmente sobre emprego, procura, encomendas, preços, produção, vendas e limitações da actividade. (Evaristo Chilingue)