Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

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terça-feira, 30 março 2021 09:14

Madjermanes!

Patriotas esquecidos.

No passado, jovens exemplares;

vivem atormentados

do sangue sugado.

 

Os madjermanes!

Filhos rejeitados,

por um pai insensível

viciado pelo cabritismo,

nojento!

 

As quartas,

inundam a avenida 24 de Julho, em Maputo;

com apitos e gritos de revolta;

implorando pelo dinheiro que não volta,

coitados!

Quem lhes salva?

Dos projectos da vida frustrados

das almas que tombaram

na fila da esperança;

das promessas molestadas,

após as vitórias eleitorais retumbantes e qualquerizantes.

 

Madjermanes!

Abnegados lutadores

pela justiça económica e social;

filhos de Samora Machel

que seus sucessores ignoraram.

 

Madjermanes,

os enteados de uma pátria

incolor e de heróis.

 

Omardine Omar – Maputo, Fevereiro de 2021

 
 
 

 

terça-feira, 30 março 2021 08:36

Entrevista fictícia ao Guita Jr.

- Agora vives na Alemanha, o que é que te levou para essas terras?

 

- Eu estou sempre a ser levado, nunca questionei isso. Cheguei a conclusão de que viemos à terra para algum tempo  depois sermos levados outra vez, ou sermos abalroados em rios profundos. Então, acho que o importante é você ser feliz, no mesmo sítio ou em outros lugares, não importa a causa dessa movimentação ou dessa estaticidade. Estaticidade poética no sentido de que passas a vida a plantar flores lindas e diversificadas no mesmo canteiro e nos mesmos vazos. E vives!

 

- E como é que é a tua vida aí?

 

- A minha vida não mudou, ainda sou o mesmo. Passo recorrentemente, como sempre passei, o tempo com a caneta na mão ou em frente ao silêncio do computador, esgravatando  palavras na gandaia. É verdade que já não sinto por aqui o cheiro do capim seco ao redor da minha casa em Malembwana (bairro suburbano da cidade de Inhambane), mas reconforta-me o facto de que um dia voltarei ao meu chão.

 

- Com um livro no regaço?

 

- Com um livro no peito, escondido pelas mãos nervosas de abraçar os meus amigos. O livro está pronto, agora deixemos que o tempo se encarregue do resto. Há coisas que não dependem de mim.

 

- Qual é a diferença de viver na Alemanha e viver em Inhambane?

 

- Epá, as diferenças são muitas. Em todo o lado há diferenças, aliás, antes de aportar neste que é o país mais poderoso da Europa, eu já estava mais do que preparado para encontrar diferenças em tudo. Mas o que mantem a minha alma inabalável é o cheiro do zorre que impregna o meu espaço imaginário, ainda sou o mesmo, mesmo com alguns problemas que me ferem a carne. E como sabemos, a carne vai apodrecer, a alma não.

 

- Alguém dizia em tempos que a poesia está em desuso. O quê que pensas sobre esta afirmação.

 

- O mundo é poesia. Então, se alguém vem dizer que a poesia está em desuso, está a afirmar que o mundo não presta! Deus é poeta, só pode ser poeta a Pessoa que fez esta maravilha chamada terra, e o nome dessa Pessoa é Jehová.

 

- Não achas que o mundo está em derrocada? E consequentemente também a poesia?

 

- Pode ser que o mundo esteja em derrocada, mas eu acredito no refocilamento. Tu podes enterrar um gato vivo a uma profundidade de cem metros, ele vai refocilar (ressurgir). A poesia vai prevalecer sobre todos os abalos. A poesia é o último baluarte, ou seja, toda a vida resume-se na poesia.

 

- Foste professor de português, com muitos alunos sob tua batuta. Mais do que ensinar, o que é que aprendeste desta profissão?

 

- Aprendi a viver, a valorizar cada sinal que a vida nos transmite. Há alunos dos quais jamais me esquecerei por aquilo que me ensinaram, como o Madabule, que foi meu aluno durante dois anos consecutivos. Ele tinha uma inteligência rara, mas nunca vinha cá fora dizer isso. Não discutia abertamente com o professor nem com os colegas. Mostrou-me em muitos momentos, de forma sábia, que a humildade é mais do que tudo.

 

- Ainda fumas muito? Inveteradamente!

 

- Estás a fazer-me uma pergunta estúpida. Como é que posso continuar a fumar com este raio de tubo que me embutiram na garganta?

 

- O quê que aconteceu?

 

- Fui submetido a uma intervenção cirúrgica a laringe, enfiaram-me uma faca fria  e saí de lá com este tubo, mas eu tinha consciência desse risco, aliás os médicos já me tinham avisado, a laringe é delicadíssima.

 

- Essa tua nova situação mudou alguma coisa em ti?

 

- Eis que me fazes outra pergunta estúpida. Claro que mudou! Mas há uma coisa que nunca vai tremer na minha estrutura, é a minha alma que continua intacta e cada vez mais forte. Muito forte demais.

terça-feira, 30 março 2021 06:41

DIREITOS

A primeira vez que apareceu escrito em forma de lei, O Direito, foi no Código de Hamurabi – de onde a lei do talião foi a mais famosa do código.

 

segunda-feira, 29 março 2021 14:01

Juma Aiuba reloaded*: A penosa missão do Elias

Para muitos, Elias Dhlakama é apenas irmão de Afonso, também Dhlakama, o falecido líder da RENAMO. É uma irmandade despoletada em forma de propaganda política da FRELIMO e de Filipe Nyusi quando, só em 2015, Elias foi promovido a dois cargos de relevo nas Efe-A-Dê-Eme: em Fevereiro, promovido a comandante do comando de reservistas e, em Setembro, promovido da patente de coronel para brigadeiro. De resto, foram duas cerimónias pomposas e mediáticas vistas por alguns analistas como arranjo de cavalheiros. Golpe político.

 

Fora isso, Elias não passa de um profeta bíblico que significa "Jeová é meu Deus" que tenta a todo custo infiltrar-se e benzer a RENAMO. Elias não passa de uma menina mimada que não ajuda a escolher o feijão, nem a acender e a soprar o fogão, mas que aparece, fazendo aquele sorriso administrativo, na hora de comer.

 

As pessoas perguntam onde andava o Elias quando o Afonso era perseguido e emboscado? Onde andava o Elias quando o Bissopo era atacado e espancado? Onde andava o Elias quando o Ossufo era seviciado? Onde andava o Elias quando a Ivone (sua legítima sobrinha) era ameaçada de morte (graças à arma que encravou)? De que lado estava o brigadeiro Elias Dhlakama quando o deputado Armindo Milaco dava o peito às balas da ofensiva do regime?

 

Elias Dhlakama pode até concorrer à presidência da RENAMO em Janeiro, mas para granjear simpatias, dentro e fora do grupo, tem de comer muito feijão, como se diz por aqui. O atual contexto político do país requer da RENAMO um líder que conhece e que seja conhecido nas duas hostes: a militar e a diplomática. Mais do que conhecido que seja reconhecido. Um militante de peito aberto. Um peito sem colete a prova de balas. Ao Elias, eu só olho. É uma missão penosa. Não será fácil convencer e vencer em 45 dias que restam. Não é fácil apagar a ideia de que Elias estava desde 1992 nas Efe-A-Dê-Eme comendo a vida com a colher grande. O difícil mesmo é comparar-se ao seu falecido irmão Afonso que preferiu morrer na selva da Gorongosa a viver refastelado na capital às custas do Estado, tudo em nome da democracia e do povo. Enfim, o que os membros da RENAMO querem hoje é um líder que não morreu ontem por mera sorte. Não querem apelidos, muito menos carreira militar formal. Quando precisamos de sal não adianta trazer açúcar, diz o ditado.

 

- Co'licença!

 

Publicado em 03-12-2018

 

*Desde a primeira edição de Carta, em 22 de Novembro de 2018, o cronista Juma Aiuba impregnava nestas páginas o doce sabor da sua escrita. Sua morte abrupta foi um tremendo golpe. Para tentar manter sua voz viva, Carta decidiu reeditar semanalmente uma das suas crónicas. Seu perfume permanecerá vivo!

 

Este espaço é oferecido pela:  

   

No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

Ontem, para lograr entrar em Palma, os “insurgentes” usaram uma tática. Bloquearam o cruzamento de Pundanhar para impedir que as FDS se reforçassem com tropa instalada em Mueda e atacaram a aldeia de Manguna. Porquê Manguna? Porque daqui o único sentido de refúgio da população seria correr em debandada para Palma. Desde há uns meses que Palma é quase que uma vila e sitiada – e só entra lá quem tenha consigo uma espécie de “guia de marcha”. Com tiros no ar e gente em fuga, esses procedimentos são letra morta.

 

Foi justamente isso que aconteceu. Por volta das 16 horas, os atacados de Manguna estavam a chegar a Palma com suas trouxas. Era uma situação de emergência...Devido ao ataque, as FSD foram mobilizadas para Manguna, deixando Palma de portas abertas e com proteção diminuída. Os terroristas tinham-se infiltrado no seio dos fugitivos de Manguna, entrando também em Palma com suas mochilas armadas. Dentro de Palma, abriram as mochilas, sacaram das armas e desataram a atacar alvos militares e civis.

 

O centro dos combates localizou-se na zona da Igreja Católica. Desconhece-se ainda a magnitude dos danos e perdas humanas e de um propalado ataque ao balcão do BCI. Ontem, por volta das 16 horas, a rede da Vodacom foi cortada. Tudo feito milimetricamente. Houve disparos contra a uma avioneta que descia para o aeródromo local.

 

Hoje, por volta das 10 horas da manhã, quem estivesse refugiado no principal hotel da cidade (que possui um heliporto) podia ouvir tiros dispersos. Estima-se que pouco mais de 100 terroristas estiveram envolvidos neste ataque, cujas características mostram que foi planeado com muita antecedência e... inteligência militar.

 

Os mercenários da DAG foram envolvidos nos combates, lançando bombas contra os terroristas. Hoje, um helicóptero da DAG, de 6 lugares, começou a evacuar as cerca de 200 pessoas que receberam a guarda do referido hotel para o acampamento da Total em Afungi. São os expatriados quem tem acesso aos voos, mas também moçambicanos funcionários da banca. Esta tarde, o exército mandou reforços de Maputo para Palma, incluindo fuzileiros navais. Carta obteve estes detalhes de várias fontes. (M. Mosse)

quinta-feira, 25 março 2021 15:04

Tempo ganho em vão

É do conhecimento de que “tempo é dinheiro” e por isso é também sabido de que  é necessário “correr para ganhar tempo”. Neste entendimento, aposto que quem tenha ganho mais tempo terá  tirado mais vantagens  para lograr os seus objectivos pessoais e até corporativos. Concorda? Eu concordo e faz muito sentido. Aliás, e para citar um exemplo corriqueiro,  a ambulância quanto menos tempo perde no trânsito, mais tempo sobra para salvar o doente. Contudo, e como não há bela sem senão, também discordo e acho que o princípio não faz nenhum sentido quando o assunto são os governantes da Pérola do Índico.  Já explico e vou ser breve porque preciso de ganhar tempo antes das 13 horas. 

 

Desde que me conheço noto que os nossos governantes   ganham muito tempo, tanto em afazeres do serviço como nos da vida privada. Por exemplo, e é só um cheirinho: eles  não esperam; não ficam na fila; não  “respeitam” os sinais de trânsito; nada começa sem a presença deles ( os outros que se atrasem ou gastem o tempo); e também nada acaba sem a saída deles. Alguém pode justificar de que este comportamento não é dos dirigentes, mas uma exigência do Protocolo do Estado. Tudo bem e acredito que o Protocolo do Estado  tenha sido concebido  no espírito de que  “tempo é dinheiro” e de que os nossos  dirigentes precisam de “correr para ganhar tempo” e assim  poderem resolverem os  problemas que apoquentam o povo que são muito e corpulentos. .  

 

Dito isto, reitero que o princípio faz muito sentido, sobretudo em países subdesenvolvidos como o caso de Moçambique, justificando assim que os seus  dirigentes precisem de mais tempo face aos problemas dos respectivos países. No entanto, infelizmente, e para fechar, também reitero que discordo e que o princípio  não faz nenhum sentido, pois o tempo que é ganho (e que não é pouco) pelos dirigentes da Pérola do Índico não tem surtido o efeito (de desenvolvimento) desejado para o país.  E isto, é caso para dizer: tempo ganho em vão! 

 

PS: Aproveito a deixa do texto e partilho em seguida uma preocupação de uma amiga ocidental:  ela não compreende como a África (Moçambique) é atrasada se no compasso da dança, o africano (moçambicano) acompanha sempre  os passos no tempo certo da música.  Talvez esteja aqui uma saída para o problema do “tempo ganho em vão”, pois não são mais ou menos minutos da música que são determinantes para o passo certo, mas sim que o passo  seja (e bem) feito no tempo certo.