Não sei como é que criaste esta assinatura, mas talvez Deus sabia que em todas as produções da Bang Entretenimento que acompanhei, desde muito cedo, essa voz desafiadora em cada videoclipe do Marcell, era a tua imagem de marca.
Lembro-me de ti desde como parte do meu debute profissional, em Moçambique. Eu era novinha em Maputo. Com o meu sotaque “tuga”, e toda a minha bagagem e as experiências europeias inerentes à minha narrativa. Tu e a tua “Gang” eram um produto engraçado de trabalhar para uma miúda que ainda não tinha chegado aos 30.
Lembro-me perfeitamente como tudo começou e a Bang Entertainment entrou na minha vida. Depois de uma passagem pelo grupo Soico, fui copy da agência GOLO e como tinha muitas ideias o Thiago Fonseca criou um departamento de marketing relacional para criarmos os conceitos do bellow the line para o Verão Amarelo da Mcel a tua maior patrocinadora antes da vermelhinha.
Na altura lembro-me de estar na sala dele, com o Tito e a Sandra a apresentar, sozinha, o projeto que tinha para esse início de Verão “sem qualquer responsabilidade” da GOLO. A cena Bateu! E a ideia foi aprovada.
É bom! Como dizemos aí. E o meu atrevimento valeu-me o melhor Verão Amarelo de sempre durante o tempo que trabalhei na GOLO. Enquanto isso, entre os concursos da miss Coconuts era preciso show e é aí que me lembro da voz rouca do Denny OG, uns tempos mais tarde do “Teresinha Você”, e de um grupo de miúdos que era constituído pelo molwene mais desejado da cidade – o nosso Ziqo Ziquinho – a estudante de Direito, Dama do Bling, a voz suave da Lizha que muitas vezes te vi ir buscar à Josina Machel no teu carapau branco, os Mozdance e as Dejá Vu, dançarinos de apoio dos músicos da Bang e toda uma estrutura que passou de “Gang” a produtora de sucesso nos meados dos anos 2000.
Se estivesse a partilhar isto contigo agora íamos rachar. Porque ninguém começa de cima, a não ser os que já sabemos, e tu não começaste. Tinhas entre 23 e 25 anos quando decidiste ser o produtor “grande”. Eu, que nem sou do tempo do Alex Barbosa, só consegui aferir duas pessoas até hoje – durante os dez anos que vivi em Maputo - que conseguiram fazer “shit´s” no entretenimento em Moçambique. Tu e o Tio Julinho, com os shows dele. Que também não nos podemos esquecer. Mas você tinha label.
Tinhas aquele ar bruto e arrogante, que muita gente descreve, mas já se colocaram no teu lugar, Bang? Um puto que provavelmente naquela altura vivia na Malhangalene a encher o Coconuts com músicos nacionais, fechar parcerias com operadoras móveis para grandes concertos e conseguir colocar no mercado sem “rochar” cerca de cinco a seis músicos em permanência durante anos? Até o Big Nelo rendeu no dia que tu partiste e também tive orgulho da minha costela angolana ao ouvi-lo falar de ti.
Por isso demorei a escrever, porque intenções há muitas, mas é preciso fazer homenagens com base no teu percurso e não em especulações e ausência de empatia que ando a assistir um pouco por todo o lado. Mas não te preocupes. Personalidades como o Luís Moreira, Beto Sarmento – que te abriram a porta do Coconuts – sabem a dimensão do teu esforço.
Como dizia ontem o Big Nelo tu conseguiste trazer a soberania da música moçambicana que nunca tinha sido conquistada até à data. Sempre vivemos de cooperação e não de produção. Por trás de um concerto havia sempre uma instituição e não um produtor sozinho e eu, também como produtora cultural, nunca te cobrei “cultura”. Tu eras puro entretenimento. O que o povo precisava para se empoderar. Eu empoderei-me com a primeira música da Dama do Bling. “Quem é que tem mais style?” E vinha da Europa onde já tinha assistido Prince, U2, Jamiroquai e outras bandas icónicas, mas nunca tinha assistido a nascimento de projetos de raíz.
Até hoje rendo com “Essa Mulher é Minha”! E o mais recente “Tá Nice”, onde envolveste sangue novo com os Big Five ficou muito bom. Via-se estratégia em tudo. Até naquela camisete “Moluene”.
Nós que tínhamos acesso às traseiras do “Mini-Golf”, quando subíamos aquelas escadas, depois dos shows acabarem, assistíamos a um grupo de putos felizes por fazerem o que gostam e fazerem a “bomba rebentar” – esta é para ti Denny OG.
Foi aí que foste crescendo e a fasquia aumentou. Anselmo Ralph, Nelson Freitas, Pérola, Matias, Alcione e tantas outras internacionalizações fizeram a Bang crescer.
Mas antes vou voltar atrás. Lembras-te da rota da Mao Tse Tung? Onde toda a malta se encontrava e se preparavam para os shows? Era no Nephitys que tu entravas para partilhar ideias, dar bronca nos atrasados, falar alto com o DJ Marcell a combinar próximo clip e foste fazendo a tua life.
Querido por uns e odiado por outros. Ninguém pode agradar toda a gente e não é porque partiste que te estou a endeusar. Estou apenas a partilhar uma história que existe, não tem outra versao que não esta, e que o André, o Ardilles, o Deejay Júnior, Valdemiro, Cátya, Lizha, Ivânea, Doppaz não me vão deixar mentir.
Bang não perdeu tempo, não deixou nada por fazer. E fez bem, com os recursos à medida dos seus sonhos. Vais fazer falta puto, mesmo assim com todos os molhos.
Profissionalmente só te posso descrever até ao último Team de Sonho que organizaste com os angolanos, a minha outra costela, em 2012, e aquela viagem que fizeste a Luanda em 2014 onde fizemos uma produção para a Lizha e a entrevistei para a revista Lux Angola. Sei que sempre confiaste em mim e que não te atrapalhavas com as minhas verdades. Mas sempre que regressava a Maputo rachávamos.
A última vez foi no ginásio, lembras? Estávamos no Power do Baía Mall a tentar perder as nossas barrigas, em 2018. Mês de Março. Quando mais uma vez fui fazer o meu festival “Jardins em Festa” e como sempre nos tivemos respeito mútuo rimos e perguntaste se estava feliz na Tuga. Disse que sim. Tu continuaste lá a fazer metade do treino, porque o telefone era o teu melhor amigo e o teu Personal Trainer sofria contigo! Acho que para 1h de tempo levavas 3h (risos)
Bang. A última vez que falámos foi em julho. Entraste num direto meu e mandaste um DM (mensagem) para falarmos.
Tenho a certeza que tinha a ver com o teu projeto televisivo e o que eu puder fazer para esse sonho continuar conta comigo.
Bang 4 Life, Nigga!