Director: Marcelo Mosse

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Actualizado de Segunda a Sexta

Juma Aiuba

Juma Aiuba

sexta-feira, 23 outubro 2020 07:31

Querem culpar o c* do povo

Pode ser paranóia minha, mas, sinceramente falando, estava a ficar muito preocupado com o interesse que o governo está a dar ao nosso traseiro. A preocupação que o governo tem com o rabo dos cidadãos já estava a me preocupar bastante. Nunca na história de Moçambique um governo mostrou tanto interesse em cuidar do c* dos moçambicanos como agora. Este governo é muito de c*. 

 

Há uns anos, um ministro bem estudado havia aconselhado a ingestão de tseke/nhewe a escala nacional para amolecimento das fezes. Há poucos dias, um brigadeiro disse que o c* dos moçambicanos não tinha tempo para férias. Hoje, um ministro diz que Moçambique gasta 30 milhões de dólares por ano só com importação de papel higiénico. Agora está tudo explicado. Essa ladainha toda era para nos prepararem sobre esses números. Nem todo o papel higiénico é usado na traseira, mas o histórico das declarações dos dirigentes deixa muito a desconfiar. É tanto dirigente falando de rabo, gente!

 

Daqui a pouco vão dizer que o dinheiro das dívidas ocultas foi para comprar papel higiénico mais macio em Dubai para o povo. Vão dizer que a maior parte desse item de higiene vai para aqueles soldados e polícias que estão 'sa-cagar' demasiadamente em Cabo Delgado. No fim de tudo vão dizer que os lucros do petróleo e gás serão para higienizar os rabos dos moçambicanos. O último golpe é dizerem que o país não desenvolve porque o povo caga muito. Do tipo o Estado está a gastar todas as economias no c* do povo. 

 

Ya, esse filme eu já vi. Querem nos fazer acreditar que temos as nádegas mais trabalhadoras e mais eficientes do mundo, porque fazemos o cocó mais leve do mundo e, por isso, temos os c*s mais caros do mundo. Vão inventar um novo ranking para desviarem dinheiro. Enquanto caímos no índice de desenvolvimento humano, vamos subindo no índice de desenvolvimento anal. Querem nos fazer crer que os nossos c*s é que são a fonte da nossa desgraça. Do tipo, a nossa miséria vem do nosso c*. Culpar o c* alheio é fácil.

 

Contem outra, primos! Há quem pensa que tendo uma fábrica de papel higiénico em Moçambique vamos gastar menos limpando o rabo. Engana-se! Açúcar está aí a subir todos os dias com fábricas às catadupas. Não há nem uma colher de açúcar para dar um chá simples aos nossos irmãos que chegam todos os dias à Pemba. Essa cena de milhões de dólares para o c* do povo é uma armadilha. Não caiam nessa! Um dia vão me dar razão.

 

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sexta-feira, 16 outubro 2020 07:29

Vamos ajudar o Manuel Chang

Segundo o jornal 'Canal de Moçambique' desta semana, o nosso compatriota Manuel Chang está a pedir referências das melhores cadeias dos Estados Unidos para viver. Ele quer informações da área das celas e da composição nutricional das refeições. Quer saber se as cadeias de lá têm ar condicionado e colchões 'king' com 'djuveti' dele. Quer saber se têm um 'personal-treina' para lhe endurecer os bíceps. 

 

Vamos ajudar, piplo! Por exemplo, quem souber de uma cadeia que tenha celas com vista para o mar, piscina e alpendre de capim sul-africano pode dizer. Uma cadeia onde é permitido fazer safari e pesca desportiva. Até quem souber de uma cadeia em que ele pode ter direito a férias também pode partilhar. 

 

É uma ajudinha, irmãos, não custa nada. Solidariedade dele que falam, então, é isso mesmo. Logo um homem como o Chang, que tanto fez para levar o nome de Moçambique ao epítome da gatunagem mundial! Ele merece.

 

Tudo pode ser útil, gente. É bem possível que em Nova Iorque exista uma cadeia com Bilene, Tofo e Macaneta lá dentro. Ou uma que tenha Dubai. Também quem souber da existência de uma prisão em que ele pode continuar a ser ministro, com direito à segurança, motorista, A-Dê-Cê e um Mercedes preto pode dar o endereço. Não podemos permitir que a pose do nosso compatriota caia. É um cidadão de alto padrão. 

 

Tio Zandamela, ajuda lá aí. Será que nos 'esteites' não existem calabouços com chuveiros nos candeeiros? É para o nosso irmão Chopstik. A propósito, quem souber de um presídio em que ele pode abrir o seu próprio banco comercial, pode dar as coordenadas também. Vamos ajudar o Chang! Amigo é quem ajuda, já dizia o Deni-Ó-Dji.

 

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segunda-feira, 12 outubro 2020 05:41

Stélio Craveirinha, peço perdão!

Dizem que perdeu a vida, ontem, um cidadão chamado Stélio Craveirinha. Dizem que era moçambicano. Dizem que nasceu em 1950. Dizem que era filho de José Craveirinha, o nosso poeta-mor. Dizem foi um atleta e amante ferrenho do atletismo. Dizem que participou dos Jogos Olímpicos de Moscovo, em 1980. Dizem que alcançou a fasquia dos 6,94 metros nas eliminatórias do salto em comprimento. Dizem que foi um recordista. Dizem que foi o primeiro treinador da Lurdes Mutola, a nossa Menina de Ouro. Dizem que também treinou a Argentina da Glória. 

 

Tudo isso está a ser dito agora que ele morreu. Homenagem 'post mortem'. Um currículo patriótico e nacionalista sendo promovido no obituário. E as pessoas querem que os moçambicanos chorem a morte deste patriota e nacionalista que perdeu a vida no anonimato assim como choraram a morte do basquetista norte-americano. Hoje, Stélio Craveirinha inundou os noticiários. Daqui a pouco havemos de ver mensagens do Chefe do Estado exaltando a sua memória. Até dos dirigentes desportivos. Vai ter um funeral cheio de gabarolices do Estado.

 

Como é que um cidadão com o pedestal do Stélio, como hoje se fala, não era conhecido? Eu - modéstia a parte - sou um cidadão informado, mas nunca ouvi falar do Stélio. Um homem que marcou o desporto nacional morreu aos 70 anos sem um único parágrafo para a posteridade. Hoje, dizem que 'o desporto moçambicano perdeu uma das suas figuras emblemáticas e carismáticas que muito contribuiu para o desenvolvimento do atletismo nacional'. Palhaçada!!! Que 'figura emblemática'!!! Quem 'emblemou'?! Quando?! Como?! Carismática?! Aí é?!

 

Não conseguimos promover os feitos do Stélio em vida, mas temos a coragem de gastar o erário público construindo estátuas de um indivíduo que foi desconfiado de ter disparado o tiro inaugural da guerra libertária. Desconfiado porque agora temos sérias dúvidas desse tiro de abertura. Hoje é apenas um indivíduo suspeito de ter iniciado uma guerra que já tinha iniciado. Se calhar estamos a exaltar narrações sobre um fulano que as zero horas daquele histórico dia de Setembro estava a beber 'cabanga' algures nas margens do Rovuma e sequer chegou a ir a tal emboscada. Pois é! Não conseguimos dar ao Mister Stélio a sua mais do que merecida página na nossa história (desportiva) quando a imprensa pública passa a vida a reproduzir epopeias mal contadas de heróis gananciosos. 

 

Dói a alma, juro! Gostaria de falar do Stélio com a mesma propriedade que falo do Samora, do Guebuza, do Mondlane, do Chipande, do Nhangumele, da Lurdes, do Eusébio, do Chang, do Chissano, do Malangatana, do Salimo, e doutros 'heróis'. Pelo que se conta, Stélio Craveirinha é um professor. Gostaria de mandar um 'RIP' encharcado de emoção como aquele que mandei ao Kobe Bryant. Aqui na pátria a(r)mada, até a nossa Menina de Ouro só brilha em períodos de campanha eleitoral. Somos especialistas em apagar histórias e pintá-las quando nos convém.

 

Infelizmente, Mister, muitos dos nossos heróis foram deliberadamente arrancados das páginas da nossa História. Talvez, por isso, as nossas enciclopédias estão repletas de heróis que têm medo de ir à África do Sul. Heróis que não conseguem olhar para Mahindra de frente. Na verdade, os nossos livros de História são autênticos mandados de busca e captura. Os nossos compêndios de História deviam já vir com uma ordem de prisão para os personagens na contracapa.

 

Enfim, desfrute do seu eterno descanso Mister Stélio! É lhe merecido, depois de longas corridas e altos saltos. Peço perdão, professor, por não ter te conhecido! É o país... onde morres ainda vivo. O país do politicamente correto. 

 

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sexta-feira, 09 outubro 2020 07:39

Malta RENAMO, vocês envergonham maningue!

Todos nós sabíamos que a RENAMO gosta de comer com colher grande sem trabalhar. Também sabíamos que o novo projeto da RENAMO é se parecer cada vez mais com a FRELIMO da pior maneira possível. Também nunca duvidamos que o objetivo da RENAMO nunca foi chegar ao poder. 

 

Ficou sempre claro que a maior e a mais importante meta da RENAMO é a FRELIMO deixar cair os maiores nacos do bufê para eles apanharem no carpete com a modéstia satisfação. Não há dúvidas que na RENAMO há muita fome e por causa disso há muito arranca rabo. Não é novidade para ninguém que, quando é para aprovar mordomias e regalias para si, a RENAMO não tem mãos a medir. 

 

Ora, o que nós não sabíamos, ou seja, a grande novidade aqui é saber que doeu (e ainda dói) à RENAMO o facto de terem sido excluídos da partilha das dívidas ocultas. Não sabíamos que a RENAMO está muito chateada com isso. Não sabíamos que também querem aquele dinheiro. Nunca demonstraram. Se já, não foi assim tão claro.

 

Não sabíamos que a RENAMO estaria muito feliz, se Chang fosse o seu membro sénior. Nunca nos passou pela cabeça que, para a RENAMO, Nhangumele é ideal para o seu ministro dos negócios estrangeiros e cooperação. É um bom negociador. Quer dizer, para malt Magibire, aqueles dólares que entraram na conta da FRELIMO foi uma grande cabeçada. Doeu. Chiça!!! Não sabíamos.

 

André Magibire é o número dois do partido e, por isso, tem a legitimidade de falar em nome de todos os renanistas. O sentimento dele é de todos os membros e simpatizantes da RENAMO. É por isso que Magibire pode convidar a imprensa para peidar publicamente sem que os ditos intelectuais do partido lhe chamem a razão. É claro que convidar a RENAMO para combater os insurgentes em Cabo Delgado foi a ideia mais estapafúrdia, mas daí usar a exclusão da partilha dos dinheiros das dívidas ocultas como argumento, foi bastante revelador. Foi muito clarificador. Foi honesto demais. 

 

Nossos amigos e familiares da RENAMO, estamos rendidos convosco! Sim, senhora! Assim, quer dizer, nós não podemos contar nada convosco nesta vida porque a FRELIMO não vos deu quinhenta do dinheiro das dívidas! Quer dizer, está a 'vus-duer'! Estamos rendidos com o vosso nível de dependência. A vossa mendicidade é doutra galáxia. A vossa pobreza não é deste planeta. A vossa gula é diabólica. Estamos simplesmente rendidos. Vocês envergonham maningue! Armados ou desarmados, rurais ou urbanos, não deixam de ser bandidos. 

 

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sexta-feira, 02 outubro 2020 05:51

Intrigante

ENTÃO, o guarda do prédio (testemunha) que assistiu a tentativa de assassinato disse que o camarada Vuma gritou, antes de ser baleado, por duas vezes: 'Salimo, o que eu te fiz?', 'Salimo, o que eu te fiz?'.

 

COM ISSO, um cidadão (suspeito), coincidentemente, de nome Salimo, foi detido dias depois em conexão com o caso.

 

ENTRETANTO, quase três meses depois, o camarada Vuma (vítima) diz que não se lembra de ter proferido tal frase nem tal nome naquele dia.

 

MAS, então, com que base é que a Polícia prendeu aquele Salimo, com tantos Salimos que existem no mundo, em África, na África Austral e em Maputo?! O que motivou a Polícia a deter exactamente aquele Salimo?! Porquê ele?! Qual foi a base?! Era o único Salimo que estava a passar por ali naquele momento?! O gajo estava a rir quando o camarada Vuma foi baleado e quando o interpelaram descobriram que, por mera coincidência, se chamava Salimo também?! Tinha indícios de alegria no rosto?! Encontraram algum objeto dele no local?! É um Salimo procurado pela Polícia?! A testemunha (o guarda do prédio) confirmou que foi ele, depois duma acariação?! É um Salimo que tem desavenças com a vítima?! São rivais?! São adversários em algum negócio?! Foi simples azar?! Com tantos Salimos neste país, até famosos, por que é que foram buscar exactamente aquele Salimo?! Muito intrigante.

 

Só resta saber, se, de alguma forma, o camarada Vuma conhece o senhor Salimo, o suspeito. Ou, então, se ele sabe que foi baleado ou se pensa que tropeçou nas escadas. Ou seja, se o que ele sabe se lembra ou foi contado.

 

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quarta-feira, 30 setembro 2020 05:56

O crime do 'Apóstolo' Adelino

Quem já leu a obra 'O Crime do Padre Amaro', de Eça de Queiroz?  Eça de Queiroz conta a história do romance proibido entre o jovem padre Amaro, recém-chegado à cidade de Leiria, e a menina Amélia, a filha da dona da pensão onde o jovem sacerdote se hospedara. Uma paixão pecaminosa que resulta numa gravidez indesejada que acabou por matar a jovem donzela. Após a morte da Amélia, Amaro continuou padre noutra paróquia abençoando e perdoando sacrilégios alheios. 

 

Nesse clássico literário, Eça retrata a hipocrisia e a corrupção moral e ética do clero da santa igreja e da burguesia daquela época. 'O Crime do Padre Amaro' é uma obra oportuna quanto actual, tanto é que ainda inspira. No caso concreto, o 'Apóstolo' Adelino vem fornicando as reservas da aposentadoria dos moçambicanos, numa relação amorosa e apaixonada religiosamente deverás condenável. Hoje, já viciado, chegou ao ponto de solicitar a compra de um bilhete de voo para a sua mulher para ir passear na baía de Pemba. Aliás, não era para o I-Ene-Esse-Esse comprar o bilhete apenas, era, também, para tratar de todas as demarches de reservas e marcações dos vôos como a sua querida madame merece. 

 

Nem era falta de dinheiro. Era arrogância mesmo. A ideia do 'Apóstolo' Adelino era mostrar a sua apaixonada esposa - como sempre o fez, acredito - que ele sabe f*der o dinheiro dos suados e por demais coitados cidadãos. Era para mostrar que ele não brinca em serviço: em casa assim como no trabalho, no quarto assim como no gabinete, na cama assim como na secretária, com bilau assim como com carimbo da instituição. Mostrar que ele manda. Mostrar que, quando ele está em cima, as pessoas gemem e obedecem. 

 

O 'Santo' Adelino pertence a uma burguesia moral e eticamente chula. Uma élite com verminose parasitária. Um conluio de sanguessugas. Um protótipo de insurgentes civilizados e urbanos. Um feitio de Nhongos engravatados e perfumados. Uns gatunos armados em bonacheirões. 

 

Como é que um empresário do calibre do Adelino 'Book' (que mereceu confiança dos seus pares para os representar numa instituição séria) não consegue comprar um bilhete à Pemba para a sua amada esposa?! Ademais, depois de recusada a sua pretensão, como é que conseguiu o bilhete?! Não era mais fácil pedir emprestado aos seus colegas empresários?! Lá no partido não há quem o pudesse emprestar?!

 

O que mais irrita é que o Adelino ainda insiste em querer nos convencer que ele continua santo e imaculado, e que tudo não passa de uma tramóia da sociedade civil. Insiste em querer nos convencer que ele é o discípulo de Jesus Cristo que, por mera inveja mundana, foi afastado dos salmos da Bíblia Sagrada. E, pior, há quem acredita na sua pureza. Por isso, o crime do 'Apóstolo' Adelino vai continuar órfão. Desta vez, foi um coito interrompido, mas não é o fim deste infame estupro coletivo. Esta farra é antiga com provas bastantes... e vai continuar. Nem sei por que é que não nos deixam gerirmos sozinhos as nossas pensões! Não sei que lógica é essa de colocar o patrão a gerir o dinheiro de reforma dos seus empregados!

 

Quem se importa? Ninguém. Não me espanta que, tal como Amaro, o todo santo e imaculado Adelino siga incólume na pseudo-gestão do dinheiro dos seus humildes compatriotas e contemporâneos. Não me surpreende que os contribuintes morram estuprados e o Adelino continue firme nos seus degraus rumo à presidência do cofre. Se a falsidade fosse líquida, o Adelino 'Livro' morria asfixiado no seu próprio suor. Se ao menos houvesse Prémio Nobel da Cara-de-pau!

 

- Co'licença!

segunda-feira, 28 setembro 2020 06:50

Os cães do acampamento

Se há uma coisa que eu presto muita atenção quando chego num estaleiro de obra são os cães que andam por ali. Normalmente, são cães vadios que abundam as lixeiras da estalagem. São cães que engordam sorvendo do bom e do melhor que a lixeira pode dar. É regra: onde há obra em construção há acampamento, onde há acampamento há gente, onde há gente há comida, onde há comida há resto, onde há resto há lixeira e onde há lixeira há cão... cães, na verdade.
 
 
Entre os cães que abundam às lixeiras dos acampamentos há os que lhes cai a sorte de serem adotados por um dos operários e passa a viver lá dentro. É lhe atribuído um nome qualquer e vive lá dentro a comer lixo de luxo. Passa a comer lixo de primeira antes de ser deitado na lixeira pública. E digo-vos: esse tipo de cão é muito bravo. É muito mau. Quer morder todos que por ali passam. Quer mostrar serviço. Quer mostrar que a sua adopção foi uma ideia bastante acertada. Ladra muito, e quando não há motivo para ladrar, inventa. Quando não há inimigos, os cria. Morde de qualquer maneira. Vira o expoente máximo do excesso de zelo. Um cão muito perigoso. Raiva é com ele.
 
 
Mas a parte mais triste do filme do cão do acampamento é o seu futuro. É um futuro mais infeliz que o seu passado de vira-lata. Tem um fim triste e ele sabe disso. Ele sabe que a sua vida de cachorro chique tem dias contados, acaba com o fim da obra. O seu cronômetro é o decurso da obra. O seu calendário está escrito em letras garrafais 'prazo da obra' e pendurado na entrada do estaleiro. 
 
 
A verdade é que ninguém leva um cão do acampamento para casa ou para outro acampamento. Cada acampamento com os seus cães, assim como - só por simples analogia - cada governo com os seus puxa-sacos, se é que me faço entender. A um cão que se voluntariou para ser cão ninguém quer dar comida do seu bolso. No acampamento a comida é da empresa e no governo é do Estado. Por isso, com dinheiro alheio, qualquer um pode criar um 'dogui'. Não dói. 
 
 
Quando a obra termina e o estaleiro pré-moldado é removido, o cão volta à sua vida verdadeiramente de cão. E como as oportunidades não se avizinham, o cão 'fazido' vai morrer sem comer mais lixo de luxo de um acampamento de obra. Nunca mais. O mais triste é o fim daqueles cães das grandes empreitadas onde os estaleiros passam de um empreiteiro para o outro. As vezes os próximos inquilinos são predadores.
 
 
Quando eu trabalhava em Tete, houve um caso terrível. Estávamos a construir a primeira fase da mina de carvão da multinacional brasileira. Havia um estaleiro duma empresa sul-africana cuja lixeira era o maior restaurante canino da obra e que mais tarde passou para uma empresa filipina, e os cães viraram iguarias, sumiram. Foram saborosamente comidos. É assim mesmo: há inquilinos que comem cães dos inquilinos anteriores, assim como - mais uma vez só para exemplificar - há governos que matrecam lambe-botas dos governos anteriores sem dó nem piedade. Ser cão do acampamento não é brinquedo. Pois é, é caso para dizer 'se a obra anda, os cães não entram de férias'.
 
 
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sexta-feira, 18 setembro 2020 09:00

As 'grandas' descobertas do papá Guebuza

O cidadão A-ponto-Guebuza acaba de descobrir que o Ministério Público de Moçambique não é de confiança. Segundo ele o Judiciário moçambicano é usado para perseguir cidadãos depois de proferirem publicamente discursos não alinhados ao sistema. Nas suas pesquisas concluiu que a Procuradoria é usada para satisfazer interesses pessoais e para matar politicamente os adversários dos que detêm o poder. 

 

Nas suas difíceis investigações, que tem sido feitas há 45 anos, o visionário e iluminado Guebuza descobriu que o próprio Estado moçambicano confia na Justiça do estrangeiro. As mesmas pesquisas levaram-no a concluir igualmente que os assuntos mais importantes de Moçambique são discutidos fora do território nacional.

 

De resto, são grandes revelações. Tudo novidade para os moçambicanos. Ninguém sabia disso. Ninguém podia imaginar tal coisa. Na verdade, esta é a maior descoberta de todos os tempos feita por um moçambicano residente em Moçambique. Moçambique está em festa. 

 

O mundo está incrédulo. Wauuu!!! Cientistas de todo o mundo querem saber como é que o Tchembene descobriu isso. A NASA não tem dúvidas que se trata de uma das maiores descobertas do século XXI juntamente com a descoberta científica de que 'onde come um comem dois' feita por Eme-Ci-Rodja em 2008. O Comité Nobel acaba de anunciar que o próprio Alfred Nobel não resistiu à tamanha descoberta e ressuscitou da tumba para conhecer esse génio africano e vai distinguí-lo pessoalmente com o Prémio Nobel da Amnésia. A ONU vai marcar uma Assembleia Geral extraordinária para anunciar que o cérebro deste moçambicano é património divino da humanidade. O Vaticano comunicou que o Papa Francisco está a caminho de Moçambique para pedir bênçãos a esse filho mais querido. O presidente da Ametramo diz que ele já sabia que mais dia menos dia esse Tchembene iria nos surpreender.

 

De facto, o mundo parou. Finalmente a grande descoberta: o Ministério Público de Moçambique não é de confiança, é usado para perseguir cidadãos inocentes e esquartejar politicamente os adversários; e é normal que o mesmo Ministério Público prefira atravessar a África sub-sahariana, o deserto de Sahara, o Mar Mediterrâneo, a Europa Continental, o Canal da Mancha, para obter informações de um cidadão nacional que vive aqui. 'Granda' novidade!

 

Qual é a próxima descoberta, cota? Que temos um gatuno nacional, com alcunha chinesa, que foi capturado no estrangeiro, a mando de outros estrangeiros? Que existe uma matilha de cães raivosos chamada Gê-40 patrocinada pelo Estado? Que a água do mar é salgada? Qual é a próxima novidade, papá?

 

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terça-feira, 15 setembro 2020 06:10

Emboscadas comunicativas

O Estado deve resgatar o seu papel de fonte credível e privilegiada de informação sobre o teatro das operações de Cabo Delgado. Quando o assunto é a guerra de Cabo Delgado, a opinião pública deve recorrer a fontes governamentais e estatais, assim como o faz com a Covid-19. Quem quiser saber algo sobre a Covid-19 sabe que é só esperar a hora do jornal da noite para se informar. Ou seja, há um esquema informativo criado (caracterizado pela rotina, legitimação, tipificação e profissionalização) que dá credibilidade a informação anunciada. Essas características criam aquilo que se chama de 'contrato social' com o povo. 

 

Este 'contrato social' faz com que, por exemplo, as pessoas vejam a senhora Rosa Marlene, o senhor Samu-Gudo, o senhor Ilesh, etecetera, como os detentores de informação credível e legítima. Por exemplo, se você disser que hoje houve mil casos positivos e disser que foi a doutora Marlene que disse, ninguém vai perguntar mais nada. Significa que a informação veio de uma fonte credível e legítima.

 

Ora, o que o nosso Estado tem feito em relação a Cabo Delgado é aquilo que eu chamaria de emboscada comunicativa. O Estado lança uma informação e foge; manda uma indirecta e desaparece; responde a uma informação veiculada nas redes sociais e some; dá uma meia-informação e baza. O Estado não comunica; ele ataca as comunicações dos outros e desaparece. O Estado não informa; ele dispara contra as informações dos outros e foge. O Estado não criou ainda o seu próprio esquema de comunicação com o povo. Não há um fluxo de informação claro, credível e legítimo. Ou seja, o Estado especializou-se em fazer guerrilha contra a opinião pública. Especializou-se em fazer emboscadas comunicativas e esconder-se no segredo do Estado. O Estado assalta o que os outros dizem. O Estado virou o bandido da história. 

 

Sobre o vídeo que viralizou ontem nas redes sociais o Estado não sabe o que dizer. Só sabe dizer que aquilo é condenável e que o povo deve se manter vigilante. Não assume nem desmente as atrocidades cometidas contra aquela pobre mulher. Neste momento, deve estar a decorrer uma conferência dos 'cabeças de repolho' para prepararem uma emboscada contra o vídeo. A estratégia, desta vez, será de ameaçar e culpar as pessoas que partilharam e comentaram o post. Aqueles que colocaram 'laike' serão todos notificados pela dona Buchili. Com um pouco de azar, vão dizer que o celular que filmou é do Bispo Dom Luíz Fernando Lisboa e aqueles jovens fardados são acólitos da diocese de Pemba. 

 

Manter as pessoas informadas não significa publicar informações classificadas ou secretas. Não significa publicar esquemas, tácticas ou estratégias militares. Não! Significa disponibilizar uma equipa de técnicos e profissionais para sanarem as dúvidas sanáveis, para responderem as perguntas respondíveis. Sempre tendo em conta a sensibilidade da informação, evidentemente.

 

Hoje em dia, sobre Cabo Delgado, o Estado moçambicano passou de vítima para suspeito devido ao seu descaso. O silêncio deliberado faz do Estado/Governo um cúmplice. Assim parece que o Governo tem algo a esconder e os insurgentes têm alguma razão de se insurgir. Morreu a verdade. A cada informação veiculada e a cada vídeo publicado morre a verdade por asfixia. E com a verdade morre também a confiança e a esperança do povo.

 

Eu estudei Jornalismo com gajos do Ministério da Defesa, até do SISE. Haviam até gajos do Quartel General. Sei também que alguns se especializaram dentro e fora do país. É hora de chamar esta gente. O Estado deve rever a sua forma de se comunicar com a opinião pública... sem arrogâncias. O Estado deve parar com esta guerrilha informativa. O Estado deve parar com estas emboscadas comunicativas. O Estado deve parar de se confundir com o bandido da história. 

 

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segunda-feira, 14 setembro 2020 07:16

É um Dhlakama!

Eu sou apoiante de qualquer cidadão que manifesta intenção ou interesse em concorrer à qualquer posição política, seja presidente da república, edil, governador, e por aí além, etecetera, e mais. Para mim, a eleição é o êxtase da cidadania. É o tal orgasmo da democracia. 

 

Eu respeito e admiro por demais a vontade de Henriques Dhlakama, filho de Afonso Dhlakama. Ele quer candidatar-se a Presidência da República nas eleições de 2024... e eu tiro o chapéu. Democracia é isso mesmo. Está no seu direito. É maior de idade, é nacional, não é condenado e não tem cabeça de repolho, ou seja, está dentro das suas faculdades mentais. Deixêmo-lo! Ele sabe o que faz. Mas também eu não sou a pessoa mais indicada para ensinar o filho mais velho de Dhlakama a fazer política. Não me vejo com tomates para tal. 

 

Henriques manifestou a intensão nas redes sociais e foi logo esquartejado digitalmente. O homem foi logo julgado e condenado. O homem foi antecipadamente derrotado. Dizem que não vai vencer a FRELIMO porque o seu pai também nunca venceu. Dizem que vão lhe roubar os votos e vai chorar como o seu pai. Dizem que não pode se candidatar porque não é conhecido. Só se fosse o seu irmão Billal. Dizem que Billal é mais bonito que ele (mas governar não é concurso de beleza!). Dizem que não pode se candidatar porque nunca foi a tropa (xeee!). Dizem que vai vender o país aos colonialistas. Dizem que não tem agenda própria. Dizem que devia ficar calado a comer a fortuna que o seu pai deixou. Dizem que a sua agenda é destruir a RENAMO. Dizem etecetera, etecetera. 

 

Xi!!! Já rendi! Essa democracia dele é qual já?! O homem ainda nem é oficialmente candidato, só mostrou vontade, e já está a ser abortado. Ninguém quis saber da sua ideia para o país, do seu manifesto, da sua visão. Yaaa, rendi, juro!

 

Possas!!! Os gajos que nos enfiaram ananás foram a tropa, libertaram o país, são bonitos, tinham agenda nacionalista, são conhecidos, são ricos, são experientes, são estudados, e tudo mais. O Henriques só escreveu no 'feici' um dos seus desejos nesta vida. Só isso. Se não temos tomates não precisamos de estragar o tomateiro do vizinho. 

 

É bem possível que o Henriques destrone o Ossufo e seja candidato da RENAMO em 2024. Não irei me surpreender tanto. Não é algo impossível. Também é bem possível que o Henriques crie o seu próprio partido e destrua a RENAMO. É também bem possível que esse partido consiga mais deputados que a RENAMO e Eme-Dê-Eme juntos. Afinal, é um Dhlakama! Leiam a história do Dhlakama-Pai. 

 

Até hoje não vi um só argumento plausível de porquê o Henriques não se deve candidatar. Só vi preconceito só. Caranguejismo.

 

- Co'licença!

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