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quarta-feira, 30 setembro 2020 05:56

O crime do 'Apóstolo' Adelino

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Quem já leu a obra 'O Crime do Padre Amaro', de Eça de Queiroz?  Eça de Queiroz conta a história do romance proibido entre o jovem padre Amaro, recém-chegado à cidade de Leiria, e a menina Amélia, a filha da dona da pensão onde o jovem sacerdote se hospedara. Uma paixão pecaminosa que resulta numa gravidez indesejada que acabou por matar a jovem donzela. Após a morte da Amélia, Amaro continuou padre noutra paróquia abençoando e perdoando sacrilégios alheios. 

 

Nesse clássico literário, Eça retrata a hipocrisia e a corrupção moral e ética do clero da santa igreja e da burguesia daquela época. 'O Crime do Padre Amaro' é uma obra oportuna quanto actual, tanto é que ainda inspira. No caso concreto, o 'Apóstolo' Adelino vem fornicando as reservas da aposentadoria dos moçambicanos, numa relação amorosa e apaixonada religiosamente deverás condenável. Hoje, já viciado, chegou ao ponto de solicitar a compra de um bilhete de voo para a sua mulher para ir passear na baía de Pemba. Aliás, não era para o I-Ene-Esse-Esse comprar o bilhete apenas, era, também, para tratar de todas as demarches de reservas e marcações dos vôos como a sua querida madame merece. 

 

Nem era falta de dinheiro. Era arrogância mesmo. A ideia do 'Apóstolo' Adelino era mostrar a sua apaixonada esposa - como sempre o fez, acredito - que ele sabe f*der o dinheiro dos suados e por demais coitados cidadãos. Era para mostrar que ele não brinca em serviço: em casa assim como no trabalho, no quarto assim como no gabinete, na cama assim como na secretária, com bilau assim como com carimbo da instituição. Mostrar que ele manda. Mostrar que, quando ele está em cima, as pessoas gemem e obedecem. 

 

O 'Santo' Adelino pertence a uma burguesia moral e eticamente chula. Uma élite com verminose parasitária. Um conluio de sanguessugas. Um protótipo de insurgentes civilizados e urbanos. Um feitio de Nhongos engravatados e perfumados. Uns gatunos armados em bonacheirões. 

 

Como é que um empresário do calibre do Adelino 'Book' (que mereceu confiança dos seus pares para os representar numa instituição séria) não consegue comprar um bilhete à Pemba para a sua amada esposa?! Ademais, depois de recusada a sua pretensão, como é que conseguiu o bilhete?! Não era mais fácil pedir emprestado aos seus colegas empresários?! Lá no partido não há quem o pudesse emprestar?!

 

O que mais irrita é que o Adelino ainda insiste em querer nos convencer que ele continua santo e imaculado, e que tudo não passa de uma tramóia da sociedade civil. Insiste em querer nos convencer que ele é o discípulo de Jesus Cristo que, por mera inveja mundana, foi afastado dos salmos da Bíblia Sagrada. E, pior, há quem acredita na sua pureza. Por isso, o crime do 'Apóstolo' Adelino vai continuar órfão. Desta vez, foi um coito interrompido, mas não é o fim deste infame estupro coletivo. Esta farra é antiga com provas bastantes... e vai continuar. Nem sei por que é que não nos deixam gerirmos sozinhos as nossas pensões! Não sei que lógica é essa de colocar o patrão a gerir o dinheiro de reforma dos seus empregados!

 

Quem se importa? Ninguém. Não me espanta que, tal como Amaro, o todo santo e imaculado Adelino siga incólume na pseudo-gestão do dinheiro dos seus humildes compatriotas e contemporâneos. Não me surpreende que os contribuintes morram estuprados e o Adelino continue firme nos seus degraus rumo à presidência do cofre. Se a falsidade fosse líquida, o Adelino 'Livro' morria asfixiado no seu próprio suor. Se ao menos houvesse Prémio Nobel da Cara-de-pau!

 

- Co'licença!

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