Dados do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) revelam que os eventos extremos, registados no território nacional, de 01 de Outubro de 2019 a 31 de Março de 2020, causaram a morte de 57 pessoas, das quais 41 na província da Zambézia, oito em Sofala, quatro na província de Maputo, duas em Manica e duas na província do Niassa. Dos 57 óbitos, 45 foram causados por descargas atmosféricas, sete por desabamento de residência e cinco por arrastamento de água.
Os dados foram apresentados esta segunda-feira, em Maputo, durante a sessão do Conselho Coordenador do INGC, um encontro que tinha como objectivo discutir a situação de emergência no país. De acordo com a instituição, nos eventos extremos registados no país, durante a época chuvosa e ciclónica 2019-2020, 53.835 pessoas foram afectadas por chuvas intensas, 27.509 pessoas por ventos fortes e 4.841 pessoas por descargas atmosféricas.
Os dados da instituição responsável pela gestão de calamidades revelam que os eventos extremos afectaram, cumulativamente, em todo o país, um total de 191.492 pessoas e destruíram 17.918 casas, das quais 6.175 ficaram totalmente destruídas. Referem ainda que foram destruídas 542 salas de aula e oito unidades sanitárias.
A província de Cabo Delgado foi a mais afectada pelos eventos extremos, com destaque para as chuvas e ventos fortes, que afectaram 40.255 famílias (162.047), em 17 distritos. Assim, no quadro da assistência humanitária, o Governo enviou para aquela província do Norte do país 151 toneladas de arroz, 10 toneladas de feijão, 12 toneladas de sal e 2.000 litros de óleo alimentar. Enviou ainda 500 unidades de lonas, 100 rolos plásticos, 2.391 kits familiares, 112 kits de higiene, 265 kits de dignidade, 1.842 caixas de roupa usada, 1.820 jerricans.
Adicionalmente, refere o INGC, o Programa Mundial de Alimentação (PMA) prevê assistir 84.200 pessoas nos distritos do Ibo, Macomia, Mocímboa da Praia, Nangade, Palma, Quissanga, Mueda e Metuge, com um total de 2.120 toneladas de produtos alimentares diversos, sendo 1.712 toneladas de milho, 232 toneladas de feijões e 174 toneladas de óleo alimentar.
Refira-se que a maior parte dos afectados está localizada nos distritos de Macomia, que apresenta 10.284 famílias (29.339 pessoas), Mocímboa da Praia que tem 5.209 famílias (26.000 pessoas) e Quissanga com 5.083 famílias (15.109 pessoas).
Ainda no quadro das acções de combate aos efeitos das calamidades naturais, o INGC diz ter concluído quatro furos multifuncionais na província de Gaza (dois em Chibuto e dois em Chigubo) e que seis ainda estão em construção, dos 14 planificados. Afirma também ter concluído 10 reservatórios escavados, sendo nove na província de Maputo (quatro em Matutuíne e cinco em Magude) e um no distrito de Chibuto, na província de Gaza, de um total de 14 planificados. Igualmente, foram iniciadas obras de transformação de 12 furos de abastecimento de água, em sistema multifuncional, para beneficiar 11.569 pessoas, em Gaza.
A nível nacional, o Governo e os seus parceiros prevêem, no corrente mês de Abril, assistir cerca de 980 mil pessoas (143 mil pelo Governo e 837 mil pelos parceiros), também no quadro da mitigação da insegurança alimentar e do impacto da seca. Estão, igualmente, disponíveis 1.400 toneladas de arroz, suficientes para cobrir as necessidades de 140 mil pessoas durante um mês.
Durante a época chuvosa, o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) diz ter havido registo de chuvas significativas no segundo período (de Janeiro a Março), com maior incidência para as províncias de Gaza, Inhambane, Sofala, Manica, Tete, Nampula, Cabo Delgado e Niassa, onde a precipitação acumulada esteve entre 500 a 700 milímetros.
Como consequência, garantem os dados da Direcção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos, a bacia hidrográfica do Licungo atingiu um nível alto, enquanto as bacias hidrográficas dos rios Maputo, Umbeluzi, Zambeze, Ligonha, Molócuè, Meluli, Monapo e Mecuburi apresentaram um nível “moderado”. Por seu turno, as bacias hidrográficas do Búzi, Savane, Púngoè, Namacurra, Raraga, Messalo, Megaruma e Montepuez tinham um nível moderado a alto.
Neste momento, revela a fonte, todas as bacias hidrográficas registam oscilação de níveis hidrométricos com tendência a baixar, face à escassez de precipitação. (Carta)
Há seis dias para o fim do Estado de Emergência, decretado pelo Presidente da República, a 30 de Março último, com objectivo de conter a propagação da doença, Moçambique continua a registar casos de Covid-19. Esta quinta-feira, o sector da saúde anunciou mais cinco casos positivos desta pandemia, tendo subido para 46, o número total de pessoas contaminadas com o vírus no país.
Segundo Rosa Marlene, Directora Nacional de Saúde Pública, os novos casos resultam de um total de 73 novos testes, efectuados de quarta para quinta-feira. Todos são de transmissão local, pelo que o país já conta com 38 casos de infecção local.
Marlene explicou que, dos novos casos diagnosticados, quatro estão ligados aos contactos de Afungi, em Cabo Delgado, e outro registou-se na província de Maputo, concretamente na cidade da Matola, porém, não se conhecendo as causas da transmissão.
“Dos 73 novos testes realizados, 41 são provenientes da província de Cabo Delgado, 13 Inhambane, 28 Maputo Cidade, dois Gaza e um na província da Zambézia”, disse Marlene, antes de detalhar cada um dos casos.
“O primeiro caso é um indivíduo do sexo masculino, nacionalidade moçambicana e com mais de 30 anos de idade. O segundo é um indivíduo estrageiro, com mais de 60 anos de idade. Outro é de mais de 40 anos, moçambicano e é contacto do caso de Afungi. O quarto é do sexo feminino, uma cidadã estrageira, com mais de 40 anos e que é contacto do caso da Total. O quinto e último caso é de um cidadão de nacionalidade moçambicana, com pouco mais de 30 anos de idade e que é contacto dos casos de Cabo Delgado”.
Entretanto, o sector da saúde referiu que, de quarta para quinta-feira, foram registadas mais quatro pessoas recuperadas, totalizando 12 recuperados, o que significa que o país continua com 31 casos activos.
Refira-se todos os casos positivos encontram-se em isolamento domiciliar e não apresentam sintomas. (Marta Afonso)
O sector do turismo é dos mais afectados pela pandemia do novo coronavírus (ou Covid-19), no mundo e Moçambique não é excepção. Informação partilhada esta quinta-feira (23) pelo Ministério da Cultura e Turismo, durante a habitual conferência de imprensa sobre actualização de casos de infecção pelo vírus, no Ministério da Saúde, indica que 696 empreendimentos turísticos (hotéis, resorts, logdes, pensões, agências de viagens) já encerraram.
Segundo a Assessora da Ministra da Cultura e Turismo, Ndiça Massingue, os encerramentos colocaram em causa cerca de 3.5 mil postos de trabalho.
Na área da cultura, Massingue apontou que 32 museus, escolas e bibliotecas de ensino artístico estão encerrados, incluindo a suspensão de serviços conexos, neste caso, lojas de artesanato, serviços de edição de músicas e produções cinematográficas de curta e longa-metragem, para além do encerramento de mais de 700 estabelecimentos de entretenimento que afectam mais de duas mil pessoas, singulares e colectivas. A fonte acrescentou ainda que se encontram encerrados os casinos e as salas de máquinas de fortuna ou azar.
“O Governo não está alheio a esta situação e, para tal, o Ministério da Cultura e Turismo criou um Gabinete de Gestão de Crises com objectivos principais de auscultar os profissionais e empresariado que actuam nas áreas da cultura e turismo, buscando colher as principais preocupações e propostas de soluções”, destacou Massingue.
A Assessora da Ministra da Cultura e Turismo referiu que, na qualidade de entidade que superintende a actividade cultural e turística, o Ministério tem estado a procurar, junto do Governo e dos parceiros de cooperação, parcerias para dar respostas aos efeitos decorrentes da pandemia Covid-19 neste sector.
Ao nível interno e junto dos fazedores das artes e cultura, Massingue anunciou que o Ministério que representa está a estudar mecanismos criativos de continuar a ofertar entretenimento, usando para tal plataformas digitais e virtuais.
“Para o efeito, está em formulação o projecto denominado Arte no Quintal que consiste na realização de espectáculos em Live Streaming e na promoção de exposições que serão disseminadas pelas rádios comunitárias, televisões e plataformas digitais”, informou.
Durante a sua locução, a Assessora da Ministra da Cultura e Turismo lembrou que, com o objectivo de mitigar os efeitos dessa pandemia, o Governo tem vindo a aprovar diversas medidas ponderadas. Destacou a recente introdução, pelo Banco de Moçambique, de uma linha de financiamento de 500 milhões de USD num período de nove meses.
Com base nessa linha “cada cidadão, individual ou a título colectivo afectado pela pandemia e em específico do sector da cultura e turismo, pode aproximar-se do seu banco para inteirar-se das condições específicas do acesso ao fundo”, referiu Massingue. (Evaristo Chilingue)
Uma análise feita pelo Banco de Moçambique (BM), no contexto do Aviso nº 10/GBM/2018, de 22 de Outubro, sobre as Instituições de Crédito Domésticas de Importância Sistémica, considera que o Banco Comercial e de Investimento (BCI), Millennium BIM e Standard Bank são os mais importantes bancos do sistema financeiro nacional, por terem conseguido a classificação de D-SIBs.
O referido Aviso orienta o regulador do sistema financeiro moçambicano a publicar, até ao dia 30 de Abril de cada ano, a lista de instituições de crédito classificadas como D-SIBs (mais importantes) ou Quase D-SIBs (quase importantes) e sem importância com base nos dados reportados a 31 de Dezembro do ano anterior.
Neste contexto, o Banco de Moçambique reporta, em comunicado veiculado semana finda, que o BCI, Millennium BIM e Standard Bank notabilizaram-se como os mais importantes no país, por terem conseguido uma pontuação acima dos 130 pontos.
Dos três bancos comerciais, a classificação do Banco Central conclui que o BCI ocupa o primeiro escalão por ter conseguido 266 pontos, seguido do Millennium BIM com 228 pontos e, por fim, Standard Bank com 144 pontos.
De acordo com a nota, para efeito de pontuação, a metodologia proposta no referido Aviso, segue uma abordagem de determinação que assenta numa média de três indicadores com pesos distintos, designadamente: tamanho – com peso de 50%; interligação – com peso de 25%; e substituibilidade – com peso de 25%.
Com base nesses cálculos, o Banco Central concluiu ainda que o Absa Bank é o único que ocupa a classificação de Quase D-SIBs (quase importante), cuja pontuação situa-se entre 65 e 130 pontos, tendo concretamente conseguido 110 pontos.
Da classificação do Banco de Moçambique estão também as instituições de crédito sem importância para o sistema, cuja pontuação esteja abaixo dos 65 pontos. Desta lista lidera o Moza Banco com 49 pontos, seguido do Banco Único com 43 pontos, Banco ABC com 34 pontos e FNB com 32 pontos. Sem importância, estão também o Banco Mais com 16 pontos, BNI com 12 pontos e CPC com 10 pontos.
Na “casa” dos bancos ou instituições financeiras sem importância no sistema, estão o Societe Generále Moçambique com nove pontos, The First Capital Bank com oito pontos, UBA com sete pontos, Letshego com cinco pontos, Ecobank e Bayport com seis pontos cada, MyBucks Banking Corporation com três pontos e Socremo e BIG com dois pontos cada. (Evaristo Chilingue)
O Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) defendeu, esta quarta-feira (22), que é preciso aumentar parcerias económicas e de saúde entre os Estados Unidos da América (EUA) e o continente africano para vencer a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) em África.
“A nossa humanidade colectiva está em jogo”, disse Akinwumi Adesina, durante uma reunião virtual do Conselho Corporativo de África, uma associação empresarial norte-americana que promove o comércio entre os EUA e os países africanos.
Adesina salientou que a Covid-19 “ameaça apagar o crescimento sem precedentes e os ganhos económicos alcançados durante a última década”, por isso, “África tem de duplicar os gastos na saúde”. Aproveitando o fórum, o dirigente apelou mais apoios e investimentos da comunidade empresarial norte-americana, com destaque para o sector farmacêutico.
Em comunicado citado pelo portal “Notícias ao Minuto”, o Presidente do BAD usou da ocasião para instar as instituições multilaterais para alinhar esforços relativamente à dívida dos países africanos e à gestão dos 'ratings', que têm sido sucessivamente revistos em baixa desde o início da pandemia.
Adesina faz esses apelos quase um mês após o BAD emitir uma dívida elevada na sua história, no valor de 3 mil milhões de USD, para angariar verbas para os países africanos contra a pandemia de Covid-19.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infectou perto de 26 mil pessoas no continente africano, das quais 1250 morreram e 6.5 mil pessoas recuperaram. Moçambique contava até esta quinta-feira com 46 pessoas infectadas das quais 12 já venceram a doença.
O mundo contava com 2.6 milhões pessoas infectadas até esta quinta-feira, das quais cerca de 190 mil morreram e 700 mil recuperaram. (Carta)
Não é um “grupo de empresários moçambicanos residentes na Beira” e muito menos “antigos garimpeiros das minas de Rubi em Montepuez”, tal como já avançaram o Chefe de Estado e o Comandante Geral da Polícia da República de Moçambique, na tentativa de explicar a origem da barbárie que se vive na província de Cabo Delgado, desde 05 de Outubro de 2017.
Segundo o Conselho Nacional de Defesa e Segurança (CNDS), o facto de os ataques que se verificam naquele ponto do país serem reivindicados pela organização terrorista Estado Islâmico, revela que “estamos em presença de uma agressão externa perpetrada por terroristas”.
A conclusão saiu esta quinta-feira, após a Segunda Reunião Ordinária daquele órgão do Estado de consulta específica para os assuntos relativos à soberania nacional, integridade territorial, defesa do poder democraticamente instituído e à segurança, presidida por Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República e Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS), que apreciou, dentre vários pontos da agenda, a informação sobre a situação da ordem e segurança públicas, com enfoque para a província de Cabo Delgado.
“O Conselho Nacional de Defesa e Segurança analisou a situação dos ataques na província de Cabo Delgado e concluiu que o facto da autoria dos mesmos ser reivindicada pelo Estado Islâmico, uma organização terrorista, revela que estamos em presença de uma agressão externa perpetrada por terroristas”, refere o comunicado de imprensa, recebido na nossa Redacção.
De acordo com o documento, o CNDS saudou as FDS pelo “esforço empreendido com vista à reposição da ordem e segurança públicas, bem como o normal funcionamento das instituições e apela às comunidades a continuarem o seu empenho no apoio às FDS”.
Desde 05 de Outubro de 2017 que os distritos das zonas centro e norte do país são alvos de ataques terroristas, levados a cabo por um grupo até aqui ainda não identificado. Em finais de Março último, a situação deteriorou-se, com o grupo a tomar de assalto três vilas-sedes, nomeadamente Mocímboa da Praia, Quissanga e Muidumbe, atacando postos policiais, residências oficiais dos administradores distritais, para além de ter destruído infra-estruturas sociais e içado a bandeira do Estado Islâmico no local.
Refira-se que o grupo terrorista Estado Islâmico já anunciou diversas vezes ter atacado posições militares na província de Cabo Delgado, mas os seus comunicados nunca foram levados a sério, tendo em conta a falta de precisão nos seus detalhes.
Na reunião que teve lugar ontem, o CNDS diz também ter feito o balanço intermédio sobre o Estado de Emergência, tendo enaltecido o esforço dos profissionais da saúde e de todos os intervenientes que se entregam à causa do combate à Covid-19.
“O órgão observou com agrado a implementação das medidas preventivas contra a propagação desta pandemia. No entanto, deplora a prevalência de atitudes de alguns cidadãos que abandonam a quarentena, colocando em causa os esforços conjuntos de combate a este mal e apela a todas as forças vivas da sociedade no sentido de maior consciencialização para a observância das recomendações das entidades competentes”, afirma o CNDS, em comunicado de imprensa. (Carta)
Maior número de produtos de consumo, de primeira necessidade, escassearam em alguns mercados da cidade da Beira, província de Sofala, segundo o levantamento feito pelo Observatório do Meio Rural (OMR), nos dias 08 e 15 de Abril corrente. Os dados constam do quinto Boletim de preços de bens alimentares, publicado esta semana, por aquela organização da sociedade civil.
De acordo com o levantamento do OMR, os produtos que escassearam nos dias 08 e 15 de Abril são o amendoim e o feijão nhemba, que não foram comercializados nos mercados Central e Praia Nova. O Boletim, elaborado com o objectivo de analisar a variação dos preços dos produtos alimentares, após o diagnóstico do primeiro caso da Covid-19 no país, revela ainda que os preços dos principais produtos de consumo apresentaram aumentos significativos, sobretudo na cidade de Maputo, onde foi registado maior número de produtos com variações significativas de preços (igual ou acima de 10%, em pelo menos um mercado).
A constatação partiu de um levantamento feito na primeira quinzena deste mês, em quatro mercados da capital do país (Fajardo, Xiquelene, Central e Zimpeto), cinco da cidade da Beira (Central, Chingussura, Maquinino, Mascarenha e Praia Nova); e três da cidade de Nampula (Central, Matadouro e Waresta), tendo-se baseado em 11 produtos, de um total de 27. Os produtos analisados são: amendoim; batata-reno; carvão; cebola; coco; feijão nhemba; frango; mandioca; ovos; repolho; e sal.
De acordo com o levantamento do OMR, de entre os produtos em análise, a batata-reno (Maputo), o amendoim (Beira) e a cebola (Nampula) foram os bens cujos preços baixaram, em todos os mercados. Em Maputo, o preço da batata-reno reduziu em 20% no mercado Central, 9,4% no Fajardo e 5,7% no Xiquelene; na Beira, o preço do amendoim decresceu em 14%; e a cebola baixou em 13% em Nampula.
Segundo o OMR, na cidade da Beira, o frango foi o único produto cujo preço subiu em todos os mercados: em 15% no mercado Mascarenha e a taxas menores nos restantes mercados. No dia 08 de Abril, o preço do frango (1,4 Kg) variou entre 200 e 220 Mts, sendo que o preço mais alto era praticado no mercado Central. Já no dia 15, o preço variava entre 210 e 240 Mts.
Em Maputo, o frango apresentou uma subida de 4,3% a 13,6%, exceptuando o mercado Central, onde se verificou manutenção do preço. O preço variou entre 220 a 280 Mts.
Enquanto isso, verificou-se que o feijão nhemba foi o produto com maior aumento de preço, tendo subido em cerca de 150% no mercado Central (Maputo). “No Zimpeto [Mercado Grossita], o preço deste bem aumentou em 28,6%, 14,3% no Fajardo e reduziu em 11% no Xiquelene. Na Beira, preço do feijão nhemba manteve-se estável, excepto no mercado Chingussura, onde decresceu em 17%”, descreve a fonte.
Em termos nominais, o preço do copo de feijão nhemba variou de 20 a 50 Mts, na cidade de Maputo, e de 15 a 30 Mts, na cidade da Beira.
Já o carvão (vegetal), de acordo com o levantamento do OMR, aumentou em 100% no mercado Central, 50% no Xiquelene, 20% no Fajardo e manteve estabilidade no Zimpeto. O molho do carvão variou de 20 a 40 Mts num espaço de sete dias.
Por seu turno, o preço do sal aumentou em 25% no Zimpeto, mas baixou nos mercados Fajardo (33,3%) e Xiquelene (16,7%) e manteve-se estável no mercado Central. O consumidor pagou entre 20 a 25 Mts, o Kg de sal no Mercado Grossista do Zimpeto, 30 a 20, no Fajardo e 30 a 25 no Xiquelene. No mercado Central, o preço manteve em 50 Mts nos dois dias.
“O preço da cebola aumentou no Zimpeto (14,6%), reduziu no Central (16,7) e foi estável no Xiquelene. O preço do amendoim aumentou no Zimpeto (25%), baixou no Xiquelene (14,3%) e manteve estabilidade nos restantes mercados. O preço da mandioca baixou em 40% no Fajardo e manteve-se constante nos restantes mercados”, detalhou o quinto Boletim de preços de bens alimentares.
O preço dos ovos também aumentou nos mercados Fajardo e Xiquelene em 10%, mantendo-se constante nos restantes mercados. A dúzia foi comercializada entre 100 e 120 Mts.
“Na Beira, o preço do coco aumentou no mercado Chingussura (50%), baixou no Maquinino (33%) e manteve estabilidade nos restantes mercados. O preço do repolho foi decrescente em todos os mercados, excepto no Central, onde se manteve estável”, sublinhou a fonte.
Refira-se que, na cidade de Maputo, o OMR analisou os preços de nove produtos na cidade de Maputo (amendoim, batata-reno, carvão, cebola, feijão nhemba, frango, mandioca, ovo e sal); cinco na cidade da Beira (amendoim, coco, feijão nhemba, frango e repolho); e um na cidade de Nampula (cebola). (Carta)
Se a memória não me atraiçoa, lá para 94/95 Nelson de Sousa chega a Maputo e integra-se nos quadros da Rádio Moçambique, nos tempos em que a instituição era dirigida por Manuel Veterano. Sua especialidade: humor.
Era uma coisa que faltava na Rádio. A nossa rádio pública era, tal como definiu um dia o escritor Luís Bernardo Honwana, uma instituição “cinzenta, do tipo Sherlock Holmes”. Era preciso fazer perceber que a vida também é feita de sorrisos e de risos. E assim, com o tempo se foi montando o “Ntachakwatika Nzero”, que teve o seu embrião, por força de alguma insistência da minha colega Luisa Menezes, lá para as bandas da “Cabeça do Velho’, onde, timidamente, no Emissor Provincial local, iniciou a sua actividade de contador de histórias, com humor.
O linguajar do povo veio para a Rádio, na conta, peso e medida certa. Em programa semanal de grande audiência, subrepticiamente a crítica estava subjacente. Muitos se viram retratados por aquele que inventou um conjunto de “bordões”, que só ele sabia inventar.
Ntachakwa veio da música. Do grupo musical “Crypton”, no “Cigano”, do tempo de Chico Ventura, Mussa Lacá e outros. Do tempo em que todos éramos “dançadores sem problemas nos joelhos”. Tem a sua colaboração inscrita num dos CD’s de Célio Figueiredo.
Num determinado momento da sua carreira juntou-se a outros dois humoristas, nomeadamente Búfalo e Wantsongo com quem deu continuidade à série de programas de humor da Rádio Moçambique.
Nestas minhas breves e sentidas linhas de homenagem a um grande humorista, com quem tive a possibilidade de aprender e partilhar momentos importantes da radiodifusão moçambicana, transcrevo, com a devida vénia, a mensagem que acabo de receber, do nosso poeta, escritor, autor teatral e jornalista Luís Carlos Patraquim: “O humor é uma inteligência. Ficará connosco, mesmo quando só esboçarmos um sorriso triste. A sua memória ajudar-nos-á a sermos mais outros, o outro em nós”. Descansa em Paz Ntchwatika.
* Retirado da sua página no Facebook.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, ficou surpreendido com a recente contratação, por parte do governo moçambicano, de uma empresa de segurança privada da África do Sul, para operações nalguns distritos da província de Cabo Delgado.
É que as negociatas com a firma privada, Dyck Advisory Group (DAG), decorreram nas costas de Cyril Ramaphosa, numa altura que continua sem resposta o pedido formulado em fevereiro pelo governo moçambicano, visando apoio no combate aos insurgentes dos ‘Sem Rosto’.
O Africa Intelligence (AI) afirma que o contrato com a DAG tem a duração de dois meses, ou seja, abril e maio.
O que mais terá irritado, embaraçado, o governo da África do Sul, foi ter visto helicópteros da DAG sobrevoarem o território moçambicano, no quadro de um negócio realizado e fechado sem o conhecimento do executivo de Pretória, num momento que este tem mãos pedido de ajuda do governo de Filipe Nyusi contra os insurgentes.
Agência sul-africana de Segurança do Estado (SAA) ficou consternada com os vídeos que dia 8 de abril circularam nas plataformas sociais, mostrando três helicópteros militares, incluíndo dois Gazelles, sendo que um deles serviu as forças armadas britânicas.
As aeronaves sobrevoavam a costa marítima moçambicana, em direcção a Cabo Delgado, província onde os insurgentes ganham avanço. Trata-se de aeronaves paramilitares rearmadas que se envolveram em operações na província moçambicana, tendo uma delas sido atingida durante ataque a uma base de apoio dos insurgentes, dia 10 de abril. O helicóptero foi derrubado, mas a tripulação escapou ilesa, imediatamente socorrida pelos colegas da segunda aeronave.
A AI acha que a secreta sul-africana, SSA, liderada por Loyiso Jafta, ordenou a tripulação a colocar fogo na aeronave danificada. Jafta suspeita que o especialista em segurança privada, Dyck Advisory Group (DAG), tenha atacado, no passado, o aeroporto Wonderboom, perto de Pretória.
Com efeito, segundo a AI, a aviation at Work registou uma das Gazelles avistadas recentemente em Moçambique, no aeroporto de Wonderboom, em dezembro do ano passado, mas Frikkie Boltman, quando contactado, afirma que a empresa de que é presidente havia vendido a aeronave, resposta sem confirmação da Autoridade de Aviação Civil da África do Sul.
Em agosto de 2019, duas ex-gazelles, do exército francês, foram remilitarizadas nas cabides da Warbird Aircraft Services, empresa também sediada perto da pista de pouso Wonderboom, a 25 km da sede da SSA, o Complexo Musanda.
As aeronaves foram parar em Cabo Delgado para ajudar as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e a força policial. Foi o Grupo Consultivo Dyck, presidido por Max Dyck, filho do ex-coronel da Rodésia Lionel Dyck, que ainda lidera a ala militar do grupo, que orquestrou esse backup militar.
O episódio das aeronaves sul-africanas em Cabo Delgado, de acordo com a AI, perturbou a SSA e envergonhou o governo sul-africano, por estas alturas em busca de formas de apoiar Moçambique na sua luta contra a insurgência de Cabo Delgado.
“Ter aeronaves militarizadas sul-africanas privadas, no auxílio ao exército moçambicano, colocou Pretória em uma posição embaraçosa”, escreve a AI.
A velocidade com que a insurreição moçambicana vem crescendo nos últimos meses pode vê-la invadir o solo sul-africano.
De tal modo que o ministro de Relações e Cooperação Internacionais da Africa do Sul, Nalendi Pandor, está actualmente a analisar o assunto. Em fevereiro, ainda a AI, a diplomacia moçambicana pediu apoio à África do Sul, mas o presidente Filipe Nyusi ainda não recebeu uma resposta final do seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, ainda que o sul-africano tenha destacado a situação de segurança em Moçambique, falando na cúpula da União Africana (UA), 9 de fevereiro, quando da sua nomeação para presidente da instituição.
Os esforços do governo moçambicano para garantir apoio militar dos membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) até agora não foram ouvidos. O chefe de estado do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, que Maputo também solicitou apoio, ainda não deu a sua resposta, ao contrário do seu homólogo angolano. (AI)
O Distrito de Magude, na Província de Maputo, é famoso por ser um dos corredores onde actuam grupos de caça furtiva. Esta actividade ilegal realiza-se particularmente ao longo do Parque Nacional do Limpopo, embora nos últimos tempos, oficialmente, as autoridades digam que a situação abrandou substancialmente.
Um trabalho investigativo desenvolvido pela “Carta”, entre finais de Fevereiro e princípios de Março do presente ano, constatou que as marcas da “furtivagem” em Magude prevalecerão por muito tempo ainda.
Entre os postos administrativos visitados pela nossa reportagem, está Mapulanguene situado a mais de 90 km da vila sede de Magude, e Pangane a 50 km. Nestes locais, onde os reflexos da caça furtiva são assustadores, é normal verem-se sumptuosas mansões que contradizem com o nível de pobreza da maioria da população.
Já na vila de Magude, concretamente nos bairros de Ricatlane e Mahanja 1, ouvimos histórias igualmente impressionantes envolvendo caçadores furtivos (entre sobreviventes e mortos). A cada cinco casas, três têm alguma marca ligada a essa actividade ilegal, com famílias que perderam ou têm detidos um, dois ou até mais dos seus membros devido à caça furtiva do rinoceronte, vulgo xibedjane.
“Carta” ouviu José Nguane (nome fictício), um jovem de 35 anos de idade, natural de Mapulanguene, hoje residente no luxuoso bairro de Mahanja 1, em Magude. Ele esteve detido na África do Sul, entre 2013 a 2014, por ter sido encontrado no interior do Kruger Park com seus comparsas caçando xibedjane. Hoje funcionário público, Nguane contou à “Carta” os contornos daquela prática que muito dinheiro e riqueza deu aos jovens e senhores do crime em Magude, mas que deixou também muitas famílias na desgraça.
“Vim viver para cá depois de fazer a 5ª classe. Estudei aqui da 8ª à 12ª classe. Depois de terminar os estudos voltei para casa, onde a actividade da maioria dos jovens é a caça, não por quererem, mas porque a vida é difícil, agravada pela seca. Não tive outra alternativa senão entrar para esse mundo.
Cedo percebi que esse trabalho rendia muito dinheiro. A minha mãe não aceitava, pois sabia dos perigos que se correm, mas eu insisti e ela cedeu. Um dia ela disse, está bom e, daí, entrei uma vez”.
bem
“Carta”: Quantas vezes entrou no Parque para caçar e não conseguiu?
José Nguane: Entrei três vezes sem conseguir nada.
- Quantas vezes conseguiu e o que fez com o dinheiro?
– A primeira vez que consegui, coloquei o produto à venda. Vi que o dinheiro era muito e decidi investir, pois também estava ciente que este negócio não custa acabar com a vida de alguém. Então, comprei uma motosserra e arranjei três homens para produzir o carvão em Tshikossane, mas o negócio não deu certo e tive de voltar à caça. Fiz sete novas investidas ao Kruger Park, na companhia de um grupo de jovens.
À sétima vez acabei sendo apanhado. O que aconteceu foi que, logo que entramos, encontramos um outro grupo a caçar no mesmo raio em que estávamos. Então, logo que os fiscais chegaram e começaram a manipular as armas, em vez de dispararem contra o grupo que estava a atirar, eles atiraram contra nós e, nesta situação, perdemos um jovem do nosso grupo que tinha, na altura, 34 anos de idade, que era o nosso atirador.
– Qual era o seu papel específico no grupo? Sabemos que existem tarefas para cada um dos três…
– (risos) Ali, a minha a tarefa era carregar a sacola do pão e de coisas para enganar o estômago. A minha tarefa era de carregar os mantimentos para o grupo se alimentar.
Eu fui pego num sábado por volta das 10:00 horas e, na segunda-feira, fomos levados para um tribunal sul-africano. Quando questionados, admitimos que havíamos sido apanhados no interior do Kruger. Fomos defendidos por um advogado oficioso, mas acabamos condenados a cinco anos de prisão: quatro anos e sete meses por estar no Kruger Park sem autorização e três meses por estar na África do Sul sem passaporte.
– Então não foram condenados por crime pela caça em si?
– Crime de caça não houve, uma vez que, aquando da detenção, os fiscais pegaram a arma que levávamos, esquecendo-se que não a deviam pegar sem usar luvas, o que acabou por apagar as digitais da máquina (arma), daí o Tribunal ter anulado esta acusação.
– Voltando a aspectos técnico-tácticos das vossas operações: normalmente quanto tempo levavam lá dentro, desde a entrada à saída, até chegarem à zona do abate?
– Isso depende da coragem de cada um. Existem aqueles que levam dois, três dias ou uma semana de forma a acumular cada vez mais o produto. Existem aqueles que acertam e ficam ainda a caçar mais. Depende da coragem de cada um.
– Quando voltou a Moçambique foi detido pelas autoridades. Teve alguma acusação?
– Não, porque ninguém aqui soube do que se passou. O que eles sabem é que existem jovens que entram lá, por isso, quando somos pegos eles só sabem que existem jovens detidos, mas não sabem quem são exactamente. Mas acredito que se fosse aqui eles me tratariam da mesma maneira: iria ao tribunal e seria condenado e por fim sairia.
– Esta realidade da caça furtiva é evidente cá?
– Acredito que sim, mas não posso comentar o caso daqui da vila de Magude, porque sou de Mapulanguene. Posso sim dizer que, apesar de tudo, reduziu-se drasticamente. Posso dizer igualmente que reduziu porque perdemos muitos jovens mesmo por causa da caça proibida.
– Uma das questões que muito se avança é o papel dos curandeiros nesta actividade. O que tem a dizer acerca disso?
– Existem aqueles que vão, mas aquilo ali é só para ter coragem. Mas muita coisa lá depende da fé de cada um. Embora existam aqueles que acreditam em deuses e existem aqueles que acreditam em Deus. Não pode haver diferenças de fé no grupo. Porque não pode existir aquele que vai ao curandeiro e outro que não vai. Tudo deve estar ligado com o grupo.
– Quem vos levava para a mata eram os “patrões”?
– Os patrões não conhecem a mata. Nem querem conhecer. O que eles sabem é fornecer máquinas (armas), receber o produto e ir vender apenas.
– Fala-se de muito dinheiro envolvido após a venda do produto. De quanto se está a falar exactamente?
– Isso depende muito do peso, que tanto pode ser 12.5 kg ou 8 kg. Pelo menos em 2016 era assim. Quanto maior for o produto, menor o valor. Ou seja: quando o produto é menor, tem mais valor. Na altura um quilo rondava em 450 mil meticais. Nós nem queríamos saber de onde vinha o dinheiro. A nossa luta era apenas trazer o produto até à vila e o patrão levava e ia vender na Cidade e trazia o valor.
– Chegou a conhecer algum desses patrões?
– (Risos) não conheci com os meus próprios olhos! Nós só entregávamos o produto a alguém e essa pessoa trazia-nos o dinheiro no mesmo dia, porque a máquina (arma) usada era dele.
“Xibedjane levou meu irmão à morte”
Sorte diferente teve Sérgio Filimone Monjovo, nascido em 1982, em Mapulanguene, tendo perdido a vida em 2013 quando partia pela segunda vez para o Parque Nacional de Kruger em busca de mais um troféu.
Segundo Meita Filimone Monjovo, irmã do finado, “foi uma situação que chocou a família, mas que já foi ultrapassada, porque nos fez perceber que, de facto, o crime não compensa”.
Meita contou à nossa reportagem que o irmão deixou uma mulher grávida na altura e quatro filhos, sendo que o mais velho tem actualmente 10 anos de idade. Meita Filimone Monjovo explicou ainda que trabalhou na Fazenda de Bravio da Twenty City, onde na altura as pessoas diziam que quem visse peugadas de rinoceronte no Parque e mostrasse aos caçadores furtivos seria recompensado com três mil meticais, mas que ela nunca se meteu no negócio.
Meita revelou que, quando perdeu o irmão na África do Sul, tiveram de vender uma cabeça de gado para poder transladar o corpo para Moçambique. Actualmente, a esposa do finado cuida dos menores, enquanto ela (a irmã) se encontra desempregada.
Bons exemplos
Entre vários jovens residentes na Vila de Magude, “Carta” entrevistou Lálio Cossa, jovem empreendedor na área de lavagem de viaturas que, após terminar o ensino secundário, sofreu aliciamento para entrar na caça furtiva, mas devido à sua força de vontade em ter uma “vida justa” não se deixou levar.
Lálio Cossa diz que há três anos Magude tinha uma outra imagem “com jovens que pagavam valores de mil a dois meticais para dar bofetadas ou chutes e pontapés, assim como havia alguns que até lavavam viaturas com cerveja, mas a maior parte desse perdeu a vida. Outros encontram-se desgraçados e perderam tudo o que ganharam com a actividade ilegal.
O nosso entrevistado revelou que foi graças à família, que lhe incentivou a trabalhar no projecto de lavagem de carros, que hoje viu que valeu a pena não ter enveredado por aquele caminho.
Já Henrique Filimone, Director da Escola Primária Completa de Mapulanguene, considera: “actualmente muitos jovens abandonaram a ideia de exercer a caça furtiva devido às medidas implementadas pelo Parque Karingani Game, que cercou a área de conservação e indemnizou as famílias residentes nas proximidades da zona”.
“Muitas crianças são órfãs de pai. Mais de 20 crianças perderam os pais na caça furtiva. Igualmente, há muita gente detida na África do Sul”, disse Filimone, avançando que, em 2006, um colega seu de nome David, que era o Director-adjunto Pedagógico, abandonou a educação para se dedicar à caça furtiva.
A realização de campanhas de sensibilização como a do dia 3 de Março ajudam bastante a comunidade a ser amiga do rinoceronte e a conservar o mesmo, em vez de matá-lo para a venda. “As comunidades já percebem que o animal tem mais valor vivo que morto porque irá atrair turistas e mais empregos para os jovens locais”, disse Henrique Filimone.
Agostinho José Chicuambo, Director-Adjunto da EPC de Panjane, afirma, por seu turno: “existiam rapazes que faziam parte destes grupos, muitos dos quais deixaram de estudar até ao ano de 2016. Eles viam a caça furtiva praticada pelos irmãos mais velhos como uma coisa boa, devido aos valores elevados que os mesmos traziam”.
Chicuambo explicou que, com a instalação das fazendas de bravio, a imagem do Posto Administrativo mudou, porque as comunidades vêem os investidores com bons olhos.
O Director avançou que, na zona de Panjane, quatro jovens estão a cumprir penas devido à caça furtiva.
Papucides Ntela, representante do Fundo Mundial para Natureza (WWF), considera que as escolas devem ser um local de transformação das crianças residentes nas áreas de conservação, porque elas é que podem levar a mensagem para as famílias. “É preciso conscientizar as crianças e as comunidades sobre o valor da fauna bravia”.
O representante da ONG que trabalhou em mais de 10 escolas de Magude, interagindo com mais de nove mil alunos das escolas primárias e secundárias, explicou que é preciso mudar a imagem do distrito fazendo com que “as comunidades se apropriem dos programas que a organização leva para aquele distrito. A WWF, em parceria com o Governo distrital, lançou um torneio de futebol em Magude, visando ocupar a juventude para que de facto se verifique “zero a caça furtiva”.
Investimento das Fazendas está a impulsionar a mudança de consciência da comunidade
Para Ângelo Zeca, supervisor da Masintonto Ecoturismo, “a companhia sempre cumpriu as exigências locais e existem mudanças significativas, assim como, existem jovens locais que estão empregues no Parque. Em termos de produção, a empresa ainda está a trabalhar e com o tempo haverá resultados positivos.
Questionado sobre se os despedimentos que ultimamente se verificam não seriam uma ameaça para o retorno à caça furtiva, Ângelo Zeca disse não ter nada para comentar a respeito.
Enquanto isso, Radisone Fernando Massine, representante de programas sociais da Karingani Game Reserve, explicou: “a instituição construiu escolas, casas para os professores, construiu postos de abastecimento de água e apoiou as comunidades com mais de 50 cabeças de gado bovino”.
Massine avançou que há anos Mapulanguene era uma zona onde a caça furtiva era muito frequente, mas, nos últimos anos, devido ao trabalho com as comunidades, a mesma reduziu, porque as pessoas denunciam de imediato. Massine revelou ainda que existem projectos em curso para empregar mais jovens na Karingani.
De acordo com aquele representante, na área de conservação da Karingani, existem as cinco espécies mais procuradas pelos caçadores furtivos, ou seja, os chamados “big five” (Rinocerontes, Elefantes, Leões, Leopardos e Pangolins).
“Há cinco anos Mapulanguene era palco da caça furtiva e hoje não”
Em entrevista concedida ao nosso Jornal, Fernando António Djinje, chefe do posto de Mapulanguene, no Distrito de Mapulanguene, disse que a construção das quatro áreas de conservação ao longo do posto veio mitigar a questão da caça furtiva. “Há cinco anos Mapulanguene era palco da caça proibida. Muitos jovens preferiram aderir, mas hoje já não se verifica”, explicou.
Djinje afirmou: “a comunidade está sensibilizada, uma vez que no passado houve mortes de jovens que eram caçadores furtivos. Mas com a empregabilidade que se regista, maior parte deles preferiram abraçar o emprego que a caça proibida”.
O chefe do posto disse que em Karingani ou Twenty City, “foram empregues mais de 50 jovens de Mapulanguene e os que se dedicam hoje à caça furtiva “são pessoas que vêm de outros locais e actualmente é difícil ouvir-se dizer que alguém entrou, assim como a procura mudou de corno de rinoceronte para marfim”.
Fernando António Djinje disse que, entre 2018 e 2019, registaram-se dois casos de elefantes abatidos, depois que um grupo estranho entrou no posto, tendo a comunidade denunciado.
Para o dirigente, “a sensibilização das comunidades ajudou Mapulanguene e a questão dos 20 por cento já começou a sentir-se, havendo associações locais já criadas para beneficiar-se dos fundos provenientes da exploração da fauna bravia”.
Lázaro Mbambamba, Administrador do Distrito de Magude, intervindo na cerimónia do dia mundial da vida selvagem ou fauna bravia, disse: “Moçambique foi alvo de um gritante tráfico ilícito de cornos de rinoceronte e marfim que agudizou a caça furtiva em todas as áreas de conservação e que resultou em grandes perdas de população animal, principalmente, os “big five” e a perda de muitas vidas humanas”.
Mbambamba ressaltou o facto de Magude ter sido infelizmente uma triste referência há anos devido à vontade do lucro fácil. “A caça furtiva agudizou a pobreza das famílias, por terem deixado crianças órfãs, mulheres viúvas e idosos sem condições”. O administrador revelou que, embora o ano de 2020 esteja ainda no início, o distrito de Magude já registou um caso de caça furtiva. Lembrou ainda que no ano de 2018 se verificaram 10 casos e um em 2019.
Mbambamba defendeu que é importante ocupar os jovens de forma positiva e que a conservação das áreas com fauna bravia vai trazer mais empregabilidade para Mapulanguene. Mbambamba disse que Magude deve trabalhar para que se erradique na totalidade a caça furtiva. O administrador disse que as pessoas devem habituar a conviver com o animal vivo e não morto, porque só o distrito terá mais turistas e investimentos. (Omardine Omar)