Se a memória não me atraiçoa, lá para 94/95 Nelson de Sousa chega a Maputo e integra-se nos quadros da Rádio Moçambique, nos tempos em que a instituição era dirigida por Manuel Veterano. Sua especialidade: humor.
Era uma coisa que faltava na Rádio. A nossa rádio pública era, tal como definiu um dia o escritor Luís Bernardo Honwana, uma instituição “cinzenta, do tipo Sherlock Holmes”. Era preciso fazer perceber que a vida também é feita de sorrisos e de risos. E assim, com o tempo se foi montando o “Ntachakwatika Nzero”, que teve o seu embrião, por força de alguma insistência da minha colega Luisa Menezes, lá para as bandas da “Cabeça do Velho’, onde, timidamente, no Emissor Provincial local, iniciou a sua actividade de contador de histórias, com humor.
O linguajar do povo veio para a Rádio, na conta, peso e medida certa. Em programa semanal de grande audiência, subrepticiamente a crítica estava subjacente. Muitos se viram retratados por aquele que inventou um conjunto de “bordões”, que só ele sabia inventar.
Ntachakwa veio da música. Do grupo musical “Crypton”, no “Cigano”, do tempo de Chico Ventura, Mussa Lacá e outros. Do tempo em que todos éramos “dançadores sem problemas nos joelhos”. Tem a sua colaboração inscrita num dos CD’s de Célio Figueiredo.
Num determinado momento da sua carreira juntou-se a outros dois humoristas, nomeadamente Búfalo e Wantsongo com quem deu continuidade à série de programas de humor da Rádio Moçambique.
Nestas minhas breves e sentidas linhas de homenagem a um grande humorista, com quem tive a possibilidade de aprender e partilhar momentos importantes da radiodifusão moçambicana, transcrevo, com a devida vénia, a mensagem que acabo de receber, do nosso poeta, escritor, autor teatral e jornalista Luís Carlos Patraquim: “O humor é uma inteligência. Ficará connosco, mesmo quando só esboçarmos um sorriso triste. A sua memória ajudar-nos-á a sermos mais outros, o outro em nós”. Descansa em Paz Ntchwatika.
* Retirado da sua página no Facebook.