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Redacção

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terça-feira, 17 dezembro 2019 07:17

Dois grandes projectos lançados nas Quirimbas

O Fundo Mundial para Natureza-WWF lançou, na última sexta-feira, 13 de Dezembro, dois projectos que serão implementados em parceria com o Parque Nacional das Quirimbas, nos próximos quatro e cinco anos, em algumas comunidades dos distritos de Ibo, Quissanga, Metuge e Mecúfi, em Cabo Delgado.

 

No total, os dois projectos vão abranger cerca de 25 mil pessoas nos distritos arrolados no período de 2019 a 2023.


O lançamento da iniciativa contou com a presença dos representantes das comunidades dos distritos abrangidos, bem como diversas individualidades do governo provincial ligadas ao sector da justiça.

 

O primeiro projecto consiste no melhoramento da governança, meios de vida e ecossistemas para reduzir, durante cinco anos, a dependência dos recursos marinhos, bem como melhorar o valor económico e nutricional nas ilhas Ibo, Quirimbas e Quirambo. Este conta com o financiamento do Ministério da Cooperação e Desenvolvimento Económico da Alemanha num valor de 800 mil Euros.

 

O segundo começa em finais de 2019 e vai até ao ano de 2022. Será implementado nas comunidades de Mecúfi, Ibo e Quissanga, e consiste na expansão da gestão adaptativa para melhorar a eficiência da biosfera das Quirimbas.

 

Para este projecto está previsto o treinamento de 600 pessoas em matéria de gestão de ecossistemas, 360 em empreendedorismo para gestão, 50 experiências de trabalho entre os vários actores (como WWF, Parque Nacional das Quirimbas, instituições de investigação e de administração da justiça), além da capacitação de 10 comités comunitários de pesca e melhoramento das condições de trabalho.

 

O representante do Fundo Mundial para Natureza-WWF disse, no acto de apresentação, que os dois projectos são a continuidade de algumas actividades desenvolvidas na área marinha do Parque Nacional das Quirimbas, através do terminado projecto Bengo 2, as quais foram desenvolvidas na base dos padrões do novo Acordo da Natureza e Pessoas, que chama a humanidade a agir para o bem-estar do planeta.

 

Rodrigo Fernandes explicou que a meta final dos dois projectos é conseguir-se estabelecer uma boa gestão das pescarias, um aumento da biodiversidade marinha e a elevação da consciência das comunidades sobre os valores dos recursos que a natureza oferece. (Carta)

A Rede Came, uma plataforma de luta contra o abuso de menores, constituída por 30 associações, defende que as lacunas existentes na actual Lei que pune o tráfico e exploração de crianças facilita o aumento de casos de género. Este posicionamento foi avançado, na última sexta-feira, em Maputo, durante o lançamento de um estudo que apresenta os contornos graves desta prática.

 

Segundo a gestora de projectos da Rede Came, Virgínia Bambo, a legislação moçambicana não apresenta normas que regulam a circulação interna de crianças, facto que propicia o deslocamento destas, de uma província para outra(s), para fins de exploração.

 

Virgínia Bambo diz haver, em Moçambique, crianças que saem de um distrito para outro sem autorização dos pais e dá o exemplo de menores que deambulam nas ruas, avenidas e praças da capital do país, vendendo diversos produtos, indiciando que a viagem das suas zonas de origem para Cidade de Maputo não terá sido autorizada.

 

Mesma ideia é defendida pela Assistente Social daquela Plataforma, Olga Mazuze, que diz haver necessidade de a Lei ser modificada e aprimorada para o dia-a-dia em que vivem as crianças.

 

De acordo com a Rede Came, de Janeiro a Junho do presente ano, a Polícia da República de Moçambique (PRM) registou mais de 900 casos de abuso sexual de crianças, o que representa um aumento de 200 casos, comparativamente ao mesmo período do ano passado, em que se registaram 700 casos.

 

A pobreza continua sendo apontada como uma das causas que tornam as crianças vulneráveis, especificamente, nas principais capitais provinciais do país, onde maior parte delas actua no comércio informal, como vendedores ambulantes dos mercados e terminais rodoviários.

 

No estudo publicado semana finda, a Rede Came faz referência às estatísticas de 2016, que revelavam que 1.200.000 crianças estavam envolvidas nas piores formas de trabalho infantil, sublinhando que estes números aumentaram, porque as crianças passaram a trabalhar na agricultura, indústria extractiva, comércio informal e trabalhos domésticos. Houve mesmo algumas crianças que se tornaram carregadores de diversos produtos, enquanto outras foram envolvidas na prostituição.

 

Conforme consta do relatório, as faixas etárias mais vulneráveis são crianças dos 10 aos 16 anos, que realizam trabalhos de pessoas adultas, chegando a trabalhar das 07 horas às 19 horas e com subsídio mensal que ronda entre os 500 Mts e os 1.500 Mts, sem direito à educação e assistência médica. (Carta)

Está desde ontem em debate, na cidade de Maputo, uma proposta de revisão da Lei nº 6/2008, de 09 de Julho, atinente ao Tráfico de Pessoas e o seu respectivo Regulamento, com o objectivo de reajustá-los à realidade actual.

 

O debate, que decorre até próxima quinta-feira, foi co-organizado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, em parceria com o Gabinete das Nações Unidas contra a Droga (UNODC) e a Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA), em Maputo.

 

Com 31 artigos, a proposta estabelece, entre outros aspectos, o alargamento das circunstâncias agravantes dos traficantes, a garantia de compensação às vítimas, o assegurar do repatriamento das crianças vítimas e a criação de um fundo para as vítimas. Entre as disposições a serem revistas, de acordo com a PGR, destaque vai para os artigos 3, 4, 5, 9, 20, 21, 22 e 23.

 

A Procuradora-Geral Adjunta da República, Amabélia Chuquela, disse ser importante melhorar-se a compreensão do crime de tráfico de pessoas e diferenciá-lo do crime de crianças e outros crimes conexos.

 

Falando, esta segunda-feira, durante o Seminário de Validação da Proposta de revisão da Lei 6/2008 de 09 de Julho, Chuquela afirmou que se pretende rever, na Lei, entre outros aspectos, o crime de tráfico de pessoas para que o mesmo esteja em consonância com os padrões internacionais.

 

Por seu turno, o Representante da UNODC, em Moçambique, César Guedes, defendeu que o Protocolo de Palermo (Itália) exige a implementação das suas disposições, através de legislações e políticas nacionais dos Estados signatários.

 

Na sua locução, Guedes citou os dados do Relatório Global sobre tráfico de pessoas, realizado em 2018, que dão conta de que 70% das vítimas do tráfico são mulheres e que cerca da metade são adultas. Já as raparigas representam um quinto de todas as vítimas, porém, com os números a apresentarem uma tendência de subida.

 

A fonte sublinhou ainda que a exploração sexual continua sendo o principal objectivo do tráfico de seres humanos, representando cerca de 59%, enquanto o trabalho forçado representa 34%.

 

“Portanto, a existência de quadros legislativos é um dos ingredientes fundamentais para uma resposta abrangente contra o tráfico de pessoas”, disse.

 

Já o Adido Político da Embaixada norte-americana, em Maputo, Frederick Hawkins, afiançou que os dados do Relatório sobre tráfico de pessoas, que a Embaixada publica todos os anos, apontam que de 2018 para 2019 o nosso país ainda não conseguiu atingir os padrões mínimos exigidos para a eliminação do tráfico, apesar do esforço que tem empreendido.

 

Hawkins acrescentou ainda que Moçambique tem estado a trabalhar, nos últimos anos, com o governo norte-americano no combate a vários crimes e estes esforços resultam no aumento da capacidade de combater o tráfico de seres humanos.

 

Por sua vez, o Secretário Permanente do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Manuel Malunga, afirmou que o tráfico de seres humanos faz parte do crime organizado e, em Moçambique, tem atingido contornos alarmantes, com maior incidência para mulheres e crianças.

 

A fonte defendeu tratar-se de um crime que se manifesta de forma silenciosa, mas com efeitos corrosivos ao tecido social e, consequentemente, um forte golpe à dignidade da pessoa humana.
Portanto, na sua óptica, a revisão da referida Lei deve abarcar o máximo possível todas as preocupações da sociedade no combate a este tipo de crimes. (Marta Afonso)

É oficial. A empresa Sahara Energy será a nova fornecedora de combustíveis ao país durante o próximo semestre. O anúncio de adjudicação foi tornado público, ontem, pelo Director Nacional de Hidrocarbonetos e Combustíveis, Moisés Paulino, durante uma conferência de imprensa.

 

O anúncio, que é a confirmação do que “Carta” avançou em Novembro passado, aquando da abertura das propostas, marca o início de uma nova era no fornecimento de um dos produtos mais importados no país.

 

A adjudicação à Sahara Energy sucede o aval da Comissão (interministerial) de Aquisição de Combustíveis Líquidos e da Associação de Empresas de Petróleos, depois de, em princípios de Novembro passado, a multinacional ter ganho o concurso internacional lançado pela Importadora Moçambicana de Petróleos, num universo de 10 concorrentes.

 

Com sede no Canadá e a operar em mais de 38 países, a Sahara qualificou-se no concurso, por se propor a importar, nos próximos seis meses, 960 mil Toneladas Métricas (TM) de três diferentes combustíveis (gasolina, gasóleo e jet), por 45,80 USD por TM em média.

 

Em sede de concurso, o preço da Sahara foi menor que os 47,43 USD sugeridos pela Trafigura, 50,95 USD pela IPG, 51,74 USD pela Glencore, 52,74 USD pela Petrochina, 53,11 USD pela Totsa, 53,60 USD pela Vitol, 54.64 USD pela actual importadora, a Finergy, 58,38 USD pela Addax e uma média de 70,92 USD por TM proposta pela Augusta.

 

Adjudicada, a empresa deverá importar de Janeiro a Junho do próximo ano 960 mil TM de combustíveis (contra 900 mil TM importados neste semestre), das quais 250 mil TM de gasolina, 50 mil TM de jet e 660 mil TM de gasóleo, através dos terminais de Maputo, Beira e Nacala.

 

A Sahara vem substituir a Finergy que, durante o semestre a findar, forneceu combustíveis ao país com uma série de dificuldades, principalmente no cumprimento de prazos, alegadamente por falta de experiência e competência financeira. (Evaristo Chilingue)

A actividade económica do país tem estado a decrescer nos últimos três anos, prevendo-se que este ano o Produto Interno Bruto (PIB) ronde nos 2.1%, contra os 4.7% previstos, devido principalmente a efeitos dos ciclones Idai e Kenneth.

 

No entanto, num balanço preliminar relativo ao ano, havido ontem em Maputo, o Banco de Moçambique (BM) disse perspectivar que o PIB acelere para cerca de 4%.

 

“Esta previsão é fundamentada pelas acções de reconstrução pós-ciclones, pela regularização das dívidas aos fornecedores de bens e serviços ao Estado, pelo incremento do crédito ao sector privado e pelo impulso do investimento no sector do petróleo e gás”, explicou o Governador do BM, Rogério Zandamela.

 

Perante gestores da banca comercial, administradores e funcionários da instituição e não só, Zandamela renovou para 2020 o compromisso de combater a inflação, que em Novembro passado situou-se nos 2.58%, contra 4.27% registados em igual mês no ano passado.

 

“As nossas perspectivas apontam para a continuidade da estabilidade de preços, consubstanciada numa inflação estável, em níveis de um dígito, dentro da banda de convergência da SADC, embora relativamente acima do nível deste ano”, acrescentou.

 

Ainda em 2020, o Banco Central espera continuar comprometido com o regime de câmbio flexível, com vista a absorver os choques exógenos e consolidar as reformas no mercado cambial, de modo que a taxa de câmbio reflicta a procura e oferta de divisas, no mercado doméstico.

 

A trabalhar nesse quadro, o BM perspectiva que as reservas internacionais permaneçam em níveis confortáveis, podendo cobrir acima de cinco meses de importações de bens e serviços, excluindo as transacções dos grandes projectos.

 

Em relação a 2019, Zandamela disse que a avaliação preliminar dos impactos das medidas e reformas implementadas é bastante positiva, a avaliar pelo bom desempenho dos indicadores sob a alçada do BM.

 

“A inflação manteve-se baixa e estável, em torno de 2 por cento, em linha com o nosso objectivo de médio prazo, de um dígito, e substancialmente abaixo da meta de convergência da SADC, de 3 a 7%. As reservas internacionais incrementaram para cerca de sete meses de cobertura das importações, nível confortavelmente acima dos padrões mínimos aceitáveis, de três meses”, destacou o Governador.

 

Na sua locução, aquele gestor sublinhou também que a taxa de câmbio manteve-se relativamente estável, tendo, no contexto actual de regime cambial flexível, flutuado na banda entre 60 e 65 meticais por dólar, bem como o rácio de solvabilidade do sistema bancário que continuou robusto, em torno de 25%, bem acima do mínimo de 12% estabelecido, num contexto de redução do crédito mal parado.

 

O gestor máximo do BM anotou inclusive que o crédito ao sector privado expandiu, depois da contracção verificada em 2018, tendo (o crédito total) crescido, em termos acumulados até Outubro, em 6% e o crédito em moeda nacional aumentado em torno de 11%.

 

No âmbito da implementação de reformas visando o reforço da estabilidade macroeconómica e do sistema financeiro, o Governador do Banco Central recordou ainda que, em face da melhoria significativa das projecções de inflação para o médio prazo, a instituição que dirige baixou a taxa de juro de política monetária por duas vezes, passando de 14,25%, no início do ano, para os actuais 12,75%.

 

“Adicionalmente, reduzimos a proporção dos depósitos em moeda nacional que os bancos comerciais são obrigados a manter no Banco de Moçambique por motivos precaucionais, de 14 para 13 por cento”, apontou.

 

Entretanto, lembrou Zandamela, perante o agravamento dos riscos externos e visando conferir maior peso ao Metical, incrementámos a proporção dos depósitos em moeda estrangeira que os bancos são obrigados a manter no BM, de 27 para 36 por cento. (Evaristo Chilingue)

O governador do Banco de Moçambique (BM), Rogério Zandamela, anunciou hoje que a proposta para a criação de um fundo soberano proveniente das receitas do gás estará concluída em 2020.

 

"Iremos concluir, em 2020, os trabalhos técnicos para proposta", disse Rogério Zandamela, falando durante o evento de encerramento do ano económico de 2019 em Maputo.

 

De acordo com o governador do banco central moçambicano , a proposta servirá de base para as discussões políticas para adoção de um fundo para as receitas do gás natural em Moçambique.

 

O objetivo é a "implementação de um modelo transparente para a gestão das receitas provenientes dos recursos minerais", acrescentou Rogério Zandamela.

 

O responsável do BM garante que a proposta vai incluir a opinião todos segmentos da sociedade.

 

"Queremos contar com todos intervenientes, incluindo a sociedade civil", declarou.

 

Em março deste ano, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu que o país deve criar um mecanismo de poupança das receitas dos recursos minerais, para evitar que as riquezas nacionais sejam fonte de desastre económico e social.

 

"Com um mecanismo de poupança bem estruturado e com padrões de gestão e de governação moderna, podemos transformar os ganhos de recursos não renováveis em geração de recursos renováveis que irão beneficiar, de forma perpétua, as nossas gerações e as gerações futuras", declarou então Filipe Nyusi, na abertura da conferência "Preparando Moçambique para a Era do Gás Natural".

 

Moçambique tem reservas de gás natural estimadas em cerca de 270 triliões de metros cúbicos, cuja exploração vai arrancar nos próximos anos, o que obriga o país a preparar-se para o advento de volumes massivos de investimento, alguns dos quais já em curso, e para uma gestão criteriosa das receitas da atividade extrativa, segundo dados da Presidência moçambicana. (Lusa)

terça-feira, 17 dezembro 2019 03:06

Sistema da Euronet começa a funcionar em 2020

Continuam uma incógnita os moldes que culminaram com a contratação da Euronet, entidade a quem o Banco de Moçambique (BM) confiou a implementação de uma nova plataforma de pagamentos interbancários no país.

Os termos contratuais continuam, até hoje, no “segredo dos deuses”.

 

Entretanto, esta segunda-feira, durante o brinde alusivo ao enceramento do ano económico, o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, garantiu que o sistema da Euronet começará a funcionar efectivamente no próximo ano, 2020.

 

No entanto, aquele dirigente não avançou uma data concreta para a entrada em funcionamento do novo sistema. Disse apenas que o mesmo irá marcar a viragem na história do país.

 

“Ainda em 2020, iremos implementar uma nova plataforma de pagamentos interbancários, ao abrigo do contrato com a Euronet, o que marcará uma viragem na história de Moçambique”, disse Rogério Zandamela.

 

Sobre o serviço em concreto, Zandamela disse: “a nova infra-estrutura será mais segura, sólida, com maior cobertura de transacções e permitirá maior interoperabilidade em todo o sistema financeiro, incluindo entre as instituições de moeda electrónica”.

 

A Euronet, empresa americana, foi escolhida a dedo por Rogério Zandamela para substituir a portuguesa Bizfirst, que é actualmente responsável pela gestão do sistema de pagamentos interbancários no país.

 

Apesar do Banco Central nunca ter revelado os números envolvidos na operação, sabe-se que a proposta apresentada pela Euronet ronda os USD 7 milhões.

 

Com a fima americana, o BM rubricou, a 10 de Dezembro de 2018, um contrato para o licenciamento, implementação e manutenção de um sistema informático de pagamentos electrónicos interbancários, que será utilizado pela Sociedade Interbancária de Moçambique (SIMO).

 

O novo operador do sistema de pagamentos no país surge na sequência de uma velha “zanga” com o anterior provedor, no caso a Bizfirst, que a 16 de Novembro de 2018, de forma unilateral, decidiu deitar abaixo o sistema de pagamentos eletrónico interbancário, devido a um alegado incumprimento por parte da rede-SIMO.

 

À data, Zandamela, como forma de fazer vincar a sua decisão, disse, à saída de uma audição no parlamento, que afastava a firma portuguesa por esta ter feito “chantagem” e “colocado o país de joelhos”.

 

Recorde-se que o apagão no sistema financeiro só veio a ser restabelecido, graças à intervenção da banca que decidiu pagar a dívida de cinco milhões de dólares norte-americanos à Bizfirst, num processo em que o BM foi apenas um mero expectador. (Carta)

Conhecido pelas suas medidas incisivas no sistema financeiro nacional, o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, diz que quer pôr fim ao nepotismo naquela instituição pública moçambicana.

Falando, ontem, em Maputo, durante o Balanço do ano de 2019 e perspectivas para 2020, Zandamela queixou-se da existência de muita “familiaridade” no Banco Central.

 

Perante o cenário, avisou: “Quem quiser que o seu familiar entre no Banco Central, que cesse funções antes para deixar espaço ao seu parente”.

 

Discursando perante administradores, directores e funcionários da instituição, gestores públicos e da banca comercial, entre outros, Zandamela explicou que a introdução de normas que impedem a entrada no Banco Central de familiares directos, até ao quinto grau, de gestores a partir do nível de director, é uma medida que se enquadra nas reformas internas e que visa tornar a instituição mais transparente e inclusiva.

 

Nesse contexto, “continuamos a privilegiar a abertura de concursos internos para o provimento de vagas para cargos de gestão e mantivemos a promoção de concursos externos transparentes para o preenchimento de vagas para técnicos”, acrescentou o Governador do Banco Central.

 

Zandamela garantiu, na ocasião, que esta medida já está a vigorar. Deu exemplo do recrutamento havido recentemente na filiar do Banco Central em Xai-Xai, província de Gaza.

 

“Todos os jovens dos 20 aos 30 anos de idade, que foram recrutados, foram admitidos neste novo critério, em que familiares directos, até ao quinto grau, de gestores, não podem entrar na instituição”, concluiu o Governador do Banco de Moçambique. (Evaristo Chilingue)

O distrito de Muidumbe, na província de Cabo Delgado, vive momentos de grandes contradições.


É assim: no último domingo, as populações das aldeias de Chitunda e Namacande decidiram “expulsar” membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) que ali se encontravam, por alegada inoperância.


Porém, logo na madrugada seguinte (de segunda-feira portanto), a aldeia de Chitunda foi atacada, supostamente por insurgentes – facto que leva algumas pessoas a insinuarem que terá havido uma retaliação.

 

Três vídeos amadores foram partilhados nas redes sociais, na manhã desta segunda-feira, ilustrando populares a gritarem “vão embora”, nas línguas portuguesa e local (Cimakonde) para um grupo de membros das FADM. Os manifestantes empunhavam flechas, paus, catanas e outros instrumentos contundentes, seguindo um grupo de mais de 10 militares.

 

“Você é alshabab!... Bate!” eram algumas palavras que se ouviam dos manifestantes. Segundo o que “Carta” apurou, a dita expulsão deveu-se aos ataques ocorridos nas aldeias vizinhas de Litapata e Malangonha, na passada sexta-feira, que resultaram na morte de três pessoas e incêndio de diversos bens.

 

De acordo com as fontes, após esses episódios, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) enviaram uma equipa para a aldeia de Namacande, Sede do distrito de Muidumbe, porém, a população manifestou-se contra, supostamente porque os militares não retaliaram os referidos ataques.

 

À “Carta”, as fontes afirmaram que a população diz confiar em si própria, pois, no seu entender, todos os locais, para onde as FDS foram destacadas foram alvos de ataque. Assim, asseguram as fontes, a população entendeu que deveria lutar pelos seus próprios meios contra os malfeitores.

 

Durante a “manifestação” em Chitunda, uma pessoa perdeu a vida e outras duas ficaram feridas, em resultado da confusão instalada no local, após os militares disparem para o ar, de modo a dispersar os populares.

 

Entretanto, como já fizemos alusão acima, horas depois da expulsão dos militares, a aldeia Chitunda foi alvo de um ataque, supostamente protagonizado por insurgentes. Durante a incursão, contam as nossas fontes, os insurgentes queimaram um número considerável de casas e barracas de alguns comerciantes locais. Não houve registo de vítimas humanas, apenas materiais. (Carta)

terça-feira, 17 dezembro 2019 05:42

Análise: “Hey Joe”…

O polémico “profeta” Joe Williams foi premiado pelo partido Frelimo.


Efectivamente, no último fim-de-semana, ficamos a saber que o “glorioso” agraciou aquele religioso “swagger” com um Diploma de Honra, pelo seu “empenho, dedicação, apoio e participação activa no processo de preparação e realização das Eleições Presidenciais, Legislativas e das Assembleias Provinciais que culminaram com a vitória expressiva da Frelimo, no dia 15/10/2019”. Traduzido em miúdos, pode subentender-se que o autoproclamado “homem mais rico de Moçambique” terá drenado largas “coroas” para financiar aquele partido, nas últimas eleições.


Antes de mais, não deixa de ser curioso que, embora residindo na capital, Williams tenha recebido tais louvores do Comité Provincial do Partido Frelimo… em Inhambane. O Diploma de Honra foi, aliás, rubricado pelo Primeiro Secretário do partido naquela província, Dinis Chambuiane Vilankulo.


As honrarias a Williams aconteceram há quase dois meses – ou seja, logo a seguir às eleições – porém, só agora “meio mundo” tomou conhecimento do facto, porque o próprio decidiu “show-offar” o referido canudo nas suas redes sociais.

 

Em foto-legenda publicada este domingo, o “santo” escreveu textualmente o seguinte: «Obrigado pela atenção, partido FRELIMO. When JUSUS say yes, nobody can say no”. (Traduzindo a passagem em inglês: “Quando JUSUS diz sim, ninguém pode dizer não”)…


É Isso mesmo: JUSUS! Assim escreveu o “profeta” o nome do filho de Deus.

 

 

No rol das “relações promíscuas” do partidão?

 

Muito se tem comentado sobre algumas “ligações promíscuas” do partido no poder. Não é preciso ir longe para encontrar exemplos disso. Basta recuarmos algumas semanas para darmos de caras com um exemplo crasso: os “bordereauxs” apresentados no tribunal nova-iorquino de Brooklyn – na sequência do julgamento de Jean Boustani – que revela(va)m um encaixe de USD 10 milhões pelo partido, no âmbito das “jogatanas”.


Até agora, ninguém das hostes veio oficialmente desmentir aquela “prova”.


Não só os críticos externos, mas também várias figuras de “dentro” insurgem-se, cada vez que vêm à ribalta notícias relacionadas em que o nome da Frelimo aparece em “envolvimentos duvidosos”.


Aqui, há uns meses, por exemplo, comentou-se à boca pequena que, numa reunião em que participaram membros seniores do partido, teria havido um momento de particular fricção entre dois históricos: o antigo Presidente Armando Guebuza e o Prof. José Óscar Monteiro. As razões, pelo que se avançou na altura, estariam (como sempre) ligadas aos contornos das dívidas ocultas.

 

O que transpirou foi que o Prof. JOM questionou/condenou a alegada “amizade” entre Guebuza e um “puto mafioso” – referindo-se a Teófilo Nhangumele – ao que Guebuza teria reagido muito mal e, de forma irritada, fincado pé, jurando que não conhecia o “businessman” de lado algum, e que tudo não passava de um boato (na época ainda não havia inventado o termo “poeira”).

O objetivo fundamental de qualquer caça-níqueis online é organizar o padrão de tal forma que pareça ser uma <a>linha vencedora de caça-níqueis<a>.
 
 
 
 
 
 
 

 

A verdade é que os acontecimentos subsequentes, nomeadamente os “files” tornados públicos na sequência do julgamento de Boustani, vieram provar o contrário…


Ora bem, a ilação que daqui decorre é que, apesar de tudo, ainda existem na Frelimo figuras como Óscar Monteiro e outros a quem se pode considerar de “reservas morais” do partido. Figuras que continuam a bater-se por valores como a ética, a honra, a honestidade, etc.
Aliás, a cinquentenária Frelimo, no poder desde que este país se conhece como tal, sempre se considerou um partido de massas. Embora (já) não pareça, nunca deixou de se auto-intitular de partido de esquerda. Partido de operários e camponeses.


Aliás, não é por acaso que entre os seus princípios fundamentais consta que “a Frelimo assenta o seu projecto nacional de sociedade na unidade nacional, na defesa dos direitos do Homem e do cidadão, nos princípios do socialismo democrático, de liberdade, democracia, justiça social, igualdade e de solidariedade”. O objetivo fundamental de qualquer caça-níqueis online é organizar o padrão de tal forma que pareça ser uma linha vencedora de caça-níqueis.

 

Pois então não deixa de ser estranho que seja esta mesma Frelimo quem concede um Diploma de Honra a uma figura (no mínimo) tão controversa como o “profeta” Joe Williams, sobre quem se diz – e já se publicou na media – estar a decorrer uma investigação do SERNIC, por suspeitas de lavagem de dinheiro… 

 

Santo ou pecador?

 

Gostando-se ou não dele, a verdade é que as atitudes de Joe Williams mexem com o “nervo” do povo.


Para uns – e não são poucos – ele é verdadeiramente um enviado do Altíssimo: um profeta (moderno) que se apoia na dita “teoria da prosperidade”.  Já outros consideram-no exactamente a antítese de tudo isso: um impostor, uma fraude. Um “flop”. A verdade é que o homem se põe a jeito para estar no centro das atenções e, na maior parte das vezes, pelos piores motivos. 


Sendo ele um exibicionista nato, basta entrar nas suas redes sociais para se ficar a saber que o homem é “podre de rico”. Que organiza festas faustosas. Que chama de “burros e pobres” a todos quantos lhe tentam fazer frente. Que possui uma frota de bólides, um dos quais “banhado a ouro” (com o qual se auto-presenteou no seu aniversário, em Setembro, sendo que, dias mais tarde, a máquina em questão apareceu “mergulhada”… numa sargeta).


Mas não é só nas suas redes sociais que Williams promove este tipo de “show-offs”. As suas aparições, particularmente em certos canais de TV, não deixam de ser bombásticas. A título de exemplo: apareceu recentemente num debate televisivo para o qual haviam sido convidados outros dois religiosos – um dos quais “apóstolo” do também famoso “profeta” costa-marfinense Phillipe Kakou. Claramente alterado, Williams virou-se para o referido “apóstolo” e, de chofre, perguntou-lhe: “esse tal teu profeta chama-se o quê …CÚ?”.


Numa outra circunstância, também num programa televisivo, terá afirmado que “só namora com mulatas”…


Mas essas “bocas”, enfim… ainda passam.


A situação assume outros contornos quando alguma imprensa nacional publica notícias – nunca desmentidas, aliás – dando conta que o SERNIC decidiu empreender uma investigação sigilosa ao auto-intitulado “homem mais rico de Moçambique”, por desconfiar de “lavagem de dinheiro”, na sequência da sua multimilionária festa de aniversário, para a qual terá convidado quase todos os maiores artistas da praça e mais a estrela angolana, Puto Português.


Recorde-se que, na tal festa, Joe usou um helicóptero para se fazer presente ao local e depois apareceu aos convidados, a bordo de uma “carruagem” puxada por cavalos... Já para não falar do supracitado carro-presente dourado.


O curioso é que essa bombástica notícia veio a lume justamente em Outubro, mês em que a Frelimo decidiu diplomar o “profeta”.

 

Aposta em “cavalo errado”?

O ponto aqui é: faz sentido que um partido como o cinquentenário, que por acaso até já anda atolado em problemas até ao pescoço, se “envolva” desta maneira com uma figura tão polémica como Joe Williams?

 

Será que a atribuição deste Diploma de Honra foi consensual?  Ou terá sido algo “da cabeça” do Primeiro Secretário Provincial da Frelimo em Inhambane?

 

Pelos exemplos que apresentamos acima, dá para perceber que ainda existem, sim, as tais “reservas morais” no partido.  Porém, dá para perceber igualmente que também existem naquela formação política (como em todas outras) muitas pessoas que agem “fora da caixa”. Pessoas que, “dois por três”, agem e/ou tomam decisões sem dar cavaco a ninguém.


São os “freaks” do partido. Os “Jimi Hendrix´s” desta vida que podem muito bem aparecer a cantar o “Hey Joe” a solo…


Será o caso? (Homero Lobo)