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terça-feira, 17 dezembro 2019 05:42

Análise: “Hey Joe”…

O polémico “profeta” Joe Williams foi premiado pelo partido Frelimo.


Efectivamente, no último fim-de-semana, ficamos a saber que o “glorioso” agraciou aquele religioso “swagger” com um Diploma de Honra, pelo seu “empenho, dedicação, apoio e participação activa no processo de preparação e realização das Eleições Presidenciais, Legislativas e das Assembleias Provinciais que culminaram com a vitória expressiva da Frelimo, no dia 15/10/2019”. Traduzido em miúdos, pode subentender-se que o autoproclamado “homem mais rico de Moçambique” terá drenado largas “coroas” para financiar aquele partido, nas últimas eleições.


Antes de mais, não deixa de ser curioso que, embora residindo na capital, Williams tenha recebido tais louvores do Comité Provincial do Partido Frelimo… em Inhambane. O Diploma de Honra foi, aliás, rubricado pelo Primeiro Secretário do partido naquela província, Dinis Chambuiane Vilankulo.


As honrarias a Williams aconteceram há quase dois meses – ou seja, logo a seguir às eleições – porém, só agora “meio mundo” tomou conhecimento do facto, porque o próprio decidiu “show-offar” o referido canudo nas suas redes sociais.

 

Em foto-legenda publicada este domingo, o “santo” escreveu textualmente o seguinte: «Obrigado pela atenção, partido FRELIMO. When JUSUS say yes, nobody can say no”. (Traduzindo a passagem em inglês: “Quando JUSUS diz sim, ninguém pode dizer não”)…


É Isso mesmo: JUSUS! Assim escreveu o “profeta” o nome do filho de Deus.

 

 

No rol das “relações promíscuas” do partidão?

 

Muito se tem comentado sobre algumas “ligações promíscuas” do partido no poder. Não é preciso ir longe para encontrar exemplos disso. Basta recuarmos algumas semanas para darmos de caras com um exemplo crasso: os “bordereauxs” apresentados no tribunal nova-iorquino de Brooklyn – na sequência do julgamento de Jean Boustani – que revela(va)m um encaixe de USD 10 milhões pelo partido, no âmbito das “jogatanas”.


Até agora, ninguém das hostes veio oficialmente desmentir aquela “prova”.


Não só os críticos externos, mas também várias figuras de “dentro” insurgem-se, cada vez que vêm à ribalta notícias relacionadas em que o nome da Frelimo aparece em “envolvimentos duvidosos”.


Aqui, há uns meses, por exemplo, comentou-se à boca pequena que, numa reunião em que participaram membros seniores do partido, teria havido um momento de particular fricção entre dois históricos: o antigo Presidente Armando Guebuza e o Prof. José Óscar Monteiro. As razões, pelo que se avançou na altura, estariam (como sempre) ligadas aos contornos das dívidas ocultas.

 

O que transpirou foi que o Prof. JOM questionou/condenou a alegada “amizade” entre Guebuza e um “puto mafioso” – referindo-se a Teófilo Nhangumele – ao que Guebuza teria reagido muito mal e, de forma irritada, fincado pé, jurando que não conhecia o “businessman” de lado algum, e que tudo não passava de um boato (na época ainda não havia inventado o termo “poeira”).

O objetivo fundamental de qualquer caça-níqueis online é organizar o padrão de tal forma que pareça ser uma <a>linha vencedora de caça-níqueis<a>.
 
 
 
 
 
 
 

 

A verdade é que os acontecimentos subsequentes, nomeadamente os “files” tornados públicos na sequência do julgamento de Boustani, vieram provar o contrário…


Ora bem, a ilação que daqui decorre é que, apesar de tudo, ainda existem na Frelimo figuras como Óscar Monteiro e outros a quem se pode considerar de “reservas morais” do partido. Figuras que continuam a bater-se por valores como a ética, a honra, a honestidade, etc.
Aliás, a cinquentenária Frelimo, no poder desde que este país se conhece como tal, sempre se considerou um partido de massas. Embora (já) não pareça, nunca deixou de se auto-intitular de partido de esquerda. Partido de operários e camponeses.


Aliás, não é por acaso que entre os seus princípios fundamentais consta que “a Frelimo assenta o seu projecto nacional de sociedade na unidade nacional, na defesa dos direitos do Homem e do cidadão, nos princípios do socialismo democrático, de liberdade, democracia, justiça social, igualdade e de solidariedade”. O objetivo fundamental de qualquer caça-níqueis online é organizar o padrão de tal forma que pareça ser uma linha vencedora de caça-níqueis.

 

Pois então não deixa de ser estranho que seja esta mesma Frelimo quem concede um Diploma de Honra a uma figura (no mínimo) tão controversa como o “profeta” Joe Williams, sobre quem se diz – e já se publicou na media – estar a decorrer uma investigação do SERNIC, por suspeitas de lavagem de dinheiro… 

 

Santo ou pecador?

 

Gostando-se ou não dele, a verdade é que as atitudes de Joe Williams mexem com o “nervo” do povo.


Para uns – e não são poucos – ele é verdadeiramente um enviado do Altíssimo: um profeta (moderno) que se apoia na dita “teoria da prosperidade”.  Já outros consideram-no exactamente a antítese de tudo isso: um impostor, uma fraude. Um “flop”. A verdade é que o homem se põe a jeito para estar no centro das atenções e, na maior parte das vezes, pelos piores motivos. 


Sendo ele um exibicionista nato, basta entrar nas suas redes sociais para se ficar a saber que o homem é “podre de rico”. Que organiza festas faustosas. Que chama de “burros e pobres” a todos quantos lhe tentam fazer frente. Que possui uma frota de bólides, um dos quais “banhado a ouro” (com o qual se auto-presenteou no seu aniversário, em Setembro, sendo que, dias mais tarde, a máquina em questão apareceu “mergulhada”… numa sargeta).


Mas não é só nas suas redes sociais que Williams promove este tipo de “show-offs”. As suas aparições, particularmente em certos canais de TV, não deixam de ser bombásticas. A título de exemplo: apareceu recentemente num debate televisivo para o qual haviam sido convidados outros dois religiosos – um dos quais “apóstolo” do também famoso “profeta” costa-marfinense Phillipe Kakou. Claramente alterado, Williams virou-se para o referido “apóstolo” e, de chofre, perguntou-lhe: “esse tal teu profeta chama-se o quê …CÚ?”.


Numa outra circunstância, também num programa televisivo, terá afirmado que “só namora com mulatas”…


Mas essas “bocas”, enfim… ainda passam.


A situação assume outros contornos quando alguma imprensa nacional publica notícias – nunca desmentidas, aliás – dando conta que o SERNIC decidiu empreender uma investigação sigilosa ao auto-intitulado “homem mais rico de Moçambique”, por desconfiar de “lavagem de dinheiro”, na sequência da sua multimilionária festa de aniversário, para a qual terá convidado quase todos os maiores artistas da praça e mais a estrela angolana, Puto Português.


Recorde-se que, na tal festa, Joe usou um helicóptero para se fazer presente ao local e depois apareceu aos convidados, a bordo de uma “carruagem” puxada por cavalos... Já para não falar do supracitado carro-presente dourado.


O curioso é que essa bombástica notícia veio a lume justamente em Outubro, mês em que a Frelimo decidiu diplomar o “profeta”.

 

Aposta em “cavalo errado”?

O ponto aqui é: faz sentido que um partido como o cinquentenário, que por acaso até já anda atolado em problemas até ao pescoço, se “envolva” desta maneira com uma figura tão polémica como Joe Williams?

 

Será que a atribuição deste Diploma de Honra foi consensual?  Ou terá sido algo “da cabeça” do Primeiro Secretário Provincial da Frelimo em Inhambane?

 

Pelos exemplos que apresentamos acima, dá para perceber que ainda existem, sim, as tais “reservas morais” no partido.  Porém, dá para perceber igualmente que também existem naquela formação política (como em todas outras) muitas pessoas que agem “fora da caixa”. Pessoas que, “dois por três”, agem e/ou tomam decisões sem dar cavaco a ninguém.


São os “freaks” do partido. Os “Jimi Hendrix´s” desta vida que podem muito bem aparecer a cantar o “Hey Joe” a solo…


Será o caso? (Homero Lobo)

Sir Motors

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