A novela da sucessão de Filipe Nyusi retoma hoje e é provável que fique encalhada numa discussão: abrir ou não a “lista curta” da Comissão Política a outros nomes.
A “lista curta”, apresentada ontem ao Comité Central é composta por Roque Silva (o actual SG), Damião José (antigo porta-voz e actualmente membro da Comissão Política) e Daniel Chapo (Governador de Inhambane.
Nos bastidores, há indicações contraditórias: uma aponta que a lista não vai ser aberta; outra alimenta a esperança de vai ser aberta. Aliás, homens afectos a Basílio Monteiro estiveram ontem no terreno mobilizando membros do CC para o seu campo.
Se a lista for aberta, a disputa vai ser feita entre Roque Silva e Basílio Monteiro. Se não for aberta, Roque Silva vai ser eleito sem oposição.
Se isso acontecer, se a lista não for aberta (não apenas para acomodar as pretensões de Basílio Monteiro mas as de outros eventuais também), a Frelimo entra num novo dilema. Porquê?
Porque a “lista curta” demasiado pequena para chegar à Ponta Vermelha percorrendo sem obstáculos o caminho no habitual tapete…vermelho.
Há quem pense que a Frelimo, ao nomear hoje o sucessor de Nyusi, estará também escolhendo o próximo Presidente da República.
Até pode ser! Mas não com a “lista curta”. Parece-me claro que Damião José e Daniel Chapo foram cooptados à última hora, depois do dissenso instalado entre as putativas comadres.Foram cooptados para preencher os lugares como “fauna acompanhante” de Roque Silva.
Damião é um quadro cinzento sem expressão política, que se mostrou inútil como porta-voz. E pesa sobre ele hoje um processo crime por difamação.
O Governador Chapo é um homem cordato, ponderado e bem colocado como ministeriável.
Mas cada um destes teria imensas dificuldades concorrendo contra um Venâncio Mondlane ou mesmo Samito Machel como independente. Ou seja, com eles, a vitória não é garantida. Isto se a oposição convergir num candidato único.
Mesmo o Roque Silva. Ele não é um homem consensual, não tem aura de estadista e criou e alimenta um bom leque que inimigos internos que tudo fariam para sabotar sua jornada.
Roque Silva só tem aceitação dentro de uma circunscrita fornada de militantes em virtude do cargo que ocupa e não de um seu apelo carismático.
Seu único trunfo (poder e autoridade sobre os secretários provinciais) serve para vencer as “internas” apenas. Ele não tem capital político nem popularidade para garantir uma eleição presidencial, a não ser por via fraudulenta, como a Frelimo faz.
Entre o eleitorado urbano, ele mete medo; parece mais nyussista que Nyusi, com requintes manifestos de autocrata e aversão aberta à liberdade de expressão e ao livre arbítrio. Deste modo, ele não garante nada. Se a oposição tiver um candidato à altura.
A “lista curta” é demasiado curta e por isso era esperado que os militantes da Frelimo escolhessem um verdadeiro homem de Estado ou com potencial para arregimentar consensos à escala nacional.
Havia nomes citados com esse potencial: Aires Aly, Luisa Diogo, Amélia Muendane, Samora Machel.
Mas consta que a “lista curta” vai ser a única lista a ir a votos hoje, apesar de ontem à noite emissários de Basílio Monteiro terem trabalhado avidamente no quadro da mercantilização eleitoral vigente na Frelimo.
Então, a principal discussão do conclave hoje será à volta da abertura ou não da “lista curta”.
Enquanto isso, o mercado de votos foi aberto ontem, como dissemos. Os preços variam entre os 200 e os 300 mil Meticais. (Marcelo Mosse)
É oficial! Joaquim Chissano e Armando Guebuza, Presidentes Honorários da Frelimo e ex-Chefes de Estado, estarão presentes na I Sessão Extraordinária do Comité Central, que decorre hoje na Escola Central do partido no poder, na autarquia da Matola, província de Maputo.
A informação foi confirmada na noite de ontem por Francisco Mucanheia, à saída da reunião da Comissão Política, momentos depois de “Carta” e outros órgãos de informação terem avançado a possibilidade de exclusão daquelas figuras em virtude de não serem membros do Comité Central.
“Os nossos Presidentes Honorários são praticamente nossos pais, donos da Frelimo, não há como não estarem presentes, embora a sessão seja destinada aos membros do Comité Central”, afirmou Mucanheia, descrevendo a informação como “não correcta”.
À luz dos Estatutos da Frelimo, os Presidentes Honorários não são membros do Comité Central, sendo que a sua participação na reunião é mediante convite, tal como acontece com os membros do Governo, Secretários de Estado, Governadores, entre outros membros influentes do partido.
No entanto, fontes da “Carta” garantiram que, até às 17h00 desta quinta-feira, os dois ex-Chefes de Estado ainda não haviam recebido quaisquer convites para participar da reunião, que terá a responsabilidade de eleger o candidato presidencial da Frelimo. O nosso jornal sabe que a participação das duas figuras históricas do partido foi decidida na reunião de ontem da Comissão Política.
Refira-se que a exclusão dos dois antigos Presidentes da República e do partido Frelimo podia ser um duro golpe à capacidade destes influenciarem a escolha final dos pré-candidatos da Frelimo à Presidência da República. Na reunião de Abril, Guebuza era um dos que defendia a eleição do candidato presidencial naquele encontro, entendendo que discutir o perfil do candidato era fugir da realidade. (Carta)
Está difícil encontrar cidadãos moçambicanos presidenciáveis no seio do partido Frelimo, partido que governa o país desde a independência. Quando faltam poucas horas para o início da I Sessão Extraordinária do Comité Central, os 254 membros do órgão (o mais importante do partido no intervalo entre os Congressos) ainda não conhecem os pré-candidatos a Presidente da República.
Ontem, a Comissão Política da Frelimo voltou a falhar a divulgação da lista dos pré-candidatos do partido à presidência do país. Francisco Mucanheia, membro daquele órgão gestor do partido e Conselheiro do Presidente da República, disse que os nomes serão divulgados no fim da manhã de hoje, em virtude de os membros do órgão não terem concluído os debates.
Vestindo a pele de porta-voz da sessão, Mucanheia anunciou a interrupção inédita da reunião daquele órgão, devendo ser retomada às 09h00 desta sexta-feira, no recinto da Escola Central do partido. Ou seja, os pré-candidatos serão anunciados à entrada do conclave.
Segundo Mucanheia, tal decisão deriva, por um lado, do facto de a lista actual ser extensa e, por outro, devido aos acesos debates levantados pelos 18 membros do órgão. A fonte assegurou que a lista em discussão inclui nomes de pessoas que nunca foram avançados publicamente, porém, recusou-se a revelar as suas identidades e muito menos o número dos que já se voluntariaram.
Na conferência de imprensa concedida aos jornalistas na noite desta quinta-feira, Mucanheia garantiu que apenas três nomes serão levados à consideração dos membros do Comité Central, tal como aconteceu em 2014, quando a Comissão Política submeteu, ao Comité Central, apenas três nomes, nomeadamente, José Pacheco, Filipe Nyusi e Alberto Vaquina. Nesse ano, o Comité Central acabou obrigando a inclusão de mais dois nomes: Aires Ali e Luísa Diogo.
Refira-se que, até ao momento, quatro membros da Frelimo assumiram publicamente o desejo de presidir o país, nomeadamente, Samora Machel Júnior, José Pacheco, António Hama Thai e Gabriel Júnior. No entanto, sabe-se que Celso Correia, Amélia Muendane, Basílio Monteiro, Aires Ali e Luísa Diogo figuram na lista dos “presidenciáveis” do partido no poder que, pela primeira vez, deverá eleger seu candidato presidencial faltando cinco meses para as eleições gerais, que decorrem a 09 de Outubro próximo.
Aliás, no seu discurso no fim da III Sessão Ordinária do Comité Central, em Abril último, Filipe Nyusi pediu para que não se comparasse o actual processo eleitoral com os anteriores, alegando que “cada processo eleitoral tem suas características”.
Com o difícil parto dos pré-candidatos, também fica apertado o famoso esquema de compra de consciências, que caracterizou o processo eleitoral de 2014. Aliás, Verónica Macamo, membro da Comissão Política e Chefe da Brigada Central de Assistência à Província de Maputo, admitiu, em seu discurso aos membros do partido nesta parcela do país, haver esquemas de compra de votos na Frelimo, tendo defendido a sua abolição no processo de escolha dos pré-candidatos a Governadores.
Refira-se que os membros da ACLLN (Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional) exigiram, na abertura do Comité Central de Abril, a escolha de um candidato com um passado limpo e que inspire confiança no seio dos “camaradas”. Exigiram ainda a escolha de um candidato carismático, equilibrado, ponderado e que “domine com propriedade os grandes dossiers do país”.
Por sua vez, a OMM (Organização da Mulher Moçambicana) exigiu um candidato que não seja vaidoso e mercantilista, enquanto a OJM (Organização da Juventude Moçambicana) disse querer um candidato igual a Filipe Nyusi. A reunião de hoje começa às 13h00. (A. Maolela)