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Guy Mosse

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Começam hoje, em todo território nacional, os exames da 6ª classe. O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) espera examinar 877.959 alunos, num momento em que os professores continuam a “congelar” as notas finais em protesto à falta de pagamento de horas extras.

 

Informações do MINEDH indicam que os exames do ensino primário e secundário decorrem de 25 de Novembro a 13 de Dezembro, envolvendo cerca de 1.560.000 alunos, em 14.500 centros. Os exames iniciam pontualmente às 07h30min e terminam às 12h00, para o turno da manhã, e das 12h30m às 17h00, para o turno da tarde.

 

Os professores mantêm-se firmes no propósito de boicotar os exames do ensino secundário, que terão início na próxima semana. “Mantemos o nosso posicionamento, porque a conversa que tivemos com o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano sobre o pagamento das horas extras em atraso foi um fiasco”, afirmou Isac Marrengula, da Associação Nacional dos Professores (ANAPRO).

 

“Estamos a preparar o boicote aos exames enquanto o Governo não se preocupar em resolver o nosso problema”, confirmou.

 

Refira-se que os exames deste ano acontecem num clima de manifestações que se vive um pouco por todo o país, devido às eleições que ocorreram no último dia 9 de Outubro, cujos resultados são considerados fraudulentos. (M.A.)

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As reservas obrigatórias dos bancos moçambicanos voltaram a crescer em setembro, atingindo o histórico acumulado de 268.392 milhões de meticais (4.031 milhões de euros), aumentando 13% no último ano, segundo dados oficiais compilados hoje pela Lusa.

 

De acordo com dados de relatórios estatísticos do Banco de Moçambique, o volume destas reservas tem vindo a bater recordes mensais consecutivos praticamente no último ano e meio. Em setembro de 2023, essas reservas obrigatórias ascendiam a 237.092 milhões de meticais (3.561 milhões de euros).

 

As reservas obrigatórias dos bancos comerciais no banco central estavam fixadas pelo Banco de Moçambique no coeficiente de 10,5% em moeda nacional e 11% em moeda estrangeira no início de janeiro de 2023.

 

Mas nos primeiros seis meses de 2023 o banco central aumentou por duas vezes o coeficiente, para “absorver a liquidez excessiva no sistema bancário, com potencial de gerar uma pressão inflacionária”.

 

O último desses aumentos aconteceu em junho do ano passado, chegando então a 39% dos depósitos em moeda nacional e 39,5% no caso de moeda estrangeira a ficarem em reserva bancária.

 

Desde o final de dezembro de 2022, quando ascendiam a 62.144 milhões de meticais (933 milhões de euros), o volume das reservas bancárias à guarda do banco central já aumentou mais de 332%.

 

O Banco de Moçambique decidiu em 30 de setembro manter inalterados, nestes valores máximos, pelo menos até 27 de novembro – data da próxima reunião do Comité de Política Monetária (CPMO) -, os coeficientes de reservas obrigatórias dos bancos comerciais, apesar dos apelos anteriores dos empresários e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

 

O FMI defende a redução dos rácios de reservas, para impulsionar a economia, aconselhando alternativas para absorver excesso de liquidez e a remuneração das reservas.

 

"A redução dos elevados requisitos de reservas é essencial para aliviar as condições financeiras. Embora o sistema financeiro moçambicano apresente um excedente de liquidez estrutural, os aumentos significativos nas reservas obrigatórias em 2023 [de cerca da 10% para 40%] (…) podem ter sido maiores do que o necessário para absorver o excesso de liquidez", lê-se no relatório do FMI da quarta avaliação ao programa de Facilidade de Crédito Alargado, concluído em julho.

 

Os empresários moçambicanos apontaram em 25 de julho a falta de divisas no mercado, levando a atrasos nos pagamentos ao exterior, multas e quebras na faturação, e apelaram ao banco central para reduzir o coeficiente de reservas obrigatórias, até agora sem efeito.

 

"No geral, a falta de divisas no mercado tem constrangido o processo de pagamento das faturas com o exterior", sublinhou o vice-presidente da CTA, Zuneid Calumia. (Lusa)

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Os apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, na cidade de Nampula, cumpriram na íntegra, sexta-feira, com o protocolo das manifestações do “luto nacional”. Pontualmente às 12h00, iniciaram com apitos e buzinas, condicionando o trânsito na urbe.

 

As avenidas Eduardo Mondlane, do Trabalho, Samora Machel e 25 de Setembro foram as mais visadas, com os manifestantes, na sua maioria trajados de roupa preta, cantando e relatando os problemas que assolam o país e gritando pelo nome do Venâncio.

 

Até às 14h00, os apoiantes do candidato suportado pelo PODEMOS continuavam com a marcha, na Avenida Eduardo Mondlane, defronte à Escola Secundária de Nampula, escoltados pela Polícia da República de Moçambique (PRM).

 

Enquanto isso, na avenida das FPLM, o momento foi caracterizado por muita afluência de jovens, seguindo todo o protocolo dado por “VM7” (tal como é conhecido Venâncio Mondlane), apitando e buzinando por 15 minutos.

 

Em seguida, a nossa reportagem escalou a rotunda, onde nas imediações encontram-se algumas instituições públicas, com destaque para o Registo e Notariado, o Hospital Central, o Tribunal Judicial da Província de Nampula, o IPAJ, entre outras, local que marcou o ponto mais alto das manifestações assim como de luto nacional, sob comando do PODEMOS, com os seus apoiantes, cantando e dançando com apelos de mensagens de paz, tudo de forma pacífica. (Carta)

 

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Ao fim de quase 40 dias de tumultos, nas cidades de Maputo, Matola, Quelimane, Nampula e Nacala-Porto – com a Polícia a impedir milhares de moçambicanos de marchar, incluindo organizações profissionais – a Polícia da República de Moçambique permitiu, finalmente, a realização de marchas “pacíficas” um pouco por todo país, no último fim-de-semana.

 

A façanha foi protagonizada pela Frelimo, partido que governa Moçambique desde 1975, que, no último fim-de-semana, saiu à rua para celebrar a contestada vitória eleitoral do escrutínio do dia 09 de Outubro, cujos dados da Comissão Nacional de Eleições apontam para uma vitória do partido no poder e do candidato Daniel Chapo com mais de 73%.

 

A marcha de saudação ao candidato presidencial Daniel Francisco Chapo teve lugar na manhã de sábado, nas cidades de Maputo e Quelimane, envolvendo centenas de membros e simpatizantes do partido no poder (incluindo crianças), transportados em autocarros de diversos bairros da Cidade e Província de Maputo.

 

Segundo a Secretária do braço juvenil da Frelimo (OJM), a nível ada cidade de Maputo, Laura Chavana, para além de saudar Daniel Chapo, a marcha visava também “desconstruir a narrativa de que os jovens não votaram no partido Frelimo”.

 

Contrariamente ao que se assiste em todo o território nacional desde 21 de Outubro, em que cidadãos são impedidos de marchar – com recurso a gás lacrimogéneo e balas de borracha e reais – a Polícia abriu passagem para que a Frelimo realizasse a sua marcha, em mais uma demonstração clara que de somente o partido no poder pode marchar.

 

Trata-se, na verdade, de uma situação que se verifica no país há quase uma década, em que organizações da sociedade civil e partidos da oposição são impedidos de marchar/protestar por “ordens superiores”, contra o livre-trânsito do partido Frelimo. Os casos mais recentes aconteceram no presente mês de Novembro, com médicos (dia 05) e professores (dia 16) a serem vítimas da aversão da Polícia às marchas.

 

Aliás, na sexta-feira, a Polícia impediu a realização de uma marcha na cidade da Beira, em Sofala, convocada pela Associação Nacional dos Enfermeiros de Moçambique (ANEMO), em repúdio à violação dos direitos humanos durante as manifestações populares. A marcha, segundo o Delegado provincial da ANEMO, Josefino Alberto, citado pelo Notícias, era do conhecimento das autoridades, pelo que “não sei quem decidiu que não se marchasse”.

 

No mesmo dia, mas na capital do país, a Polícia dispersou centenas de manifestantes, com recurso a gás lacrimogéneo, que se encontravam a entoar o hino nacional, de joelhos, junto à Estátua de Eduardo Mondlane. A manifestação aconteceu um pouco depois das 13h00 e enquadrava-se nas medidas de protesto popular, no contexto dos três dias de luto nacional, decretado pelo candidato em homenagem às vítimas das manifestações, que aproximam a 70 mortes, em todo o país.

 

Refira-se que o Ministro do Interior e o Comandante-Geral da Polícia já haviam anunciado o fim das manifestações em Moçambique, por alegadamente serem violentas, subversivas e se caracterizarem como um “terrorismo urbano”. (Carta)

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Continua a indignar o mundo o assassinato de cidadãos civis por agentes da PRM (Polícia da República de Moçambique), no âmbito dos protestos convocados por Venâncio Mondlane, em repúdio aos resultados eleitorais de 09 de Outubro e ao assassinato do advogado Elvino Dias e do mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe.

 

Desta vez, a indignação vem da Associação Moçambicana de Juízes (AMJ) que, na quarta-feira, condenou a morte de “cidadãos indefesos”, baleados por agentes da Polícia, “numa actuação bastante desproporcional e de total falta de contenção policial”.

 

Segundo a agremiação, as manifestações transformaram-se num palco marcadamente de “extrema violência”, com danos humanos irreparáveis e prejuízos materiais avultados, quando se esperava que fossem ocorrer num quadro jurídico-constitucional de estrito respeito mútuo pelos direitos fundamentais de todos os intervenientes.

 

Num comunicado de imprensa divulgado esta quinta-feira, os juízes condenam também a actuação de cidadãos que, no lugar de exercer o seu direito de forma pacífica, “envolvem-se em actos de destruição de bens públicos e/ou particulares e, ainda, impedem a circulação dos demais”.

 

A censura, diz a AMJ, “estende-se aos outros concidadãos que, não estando propriamente nas marchas, aproveitam-se do momento para envolverem-se em actos de vandalismo, subtraindo e danificando bens alheios”.

 

Para a organização, que defende os interesses profissionais dos juízes, matar, ferir, destruir ou roubar são crimes de natureza pública, pelo que é sua expectativa que “o Ministério Público [Procuradoria-Geral da República] desencadeie a investigação e o competente procedimento criminal contra todos os intervenientes, sem qualquer excepção”.

 

Os juízes terminam apelando aos cidadãos, actores políticos, forças de defesa e segurança e outras instituições competentes para actuarem em conformidade com o Estado de Direito e Democrático e “em respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana”.

 

Lembre-se que desde o início das manifestações populares, a 21 de Outubro, pelo menos 50 pessoas foram assassinadas, em todo o país, sendo na sua maioria civis, vítimas da Polícia. (Carta)

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As autoridades de Migração na província de Cabo Delgado ainda não têm data definida para a reabertura da fronteira de Chacamba, com a República da Tanzânia, localizada no distrito nortenho de Nangade. O posto fronteiriço encontra-se fechado desde o ano passado, devido aos ataques terroristas.

 

Para chegar à Tanzânia e visitar familiares ou realizar outras actividades, a população de Nangade e de outros pontos de Cabo Delgado que utilizava a fronteira de Chacamba é obrigada a recorrer às fronteiras de Negomano, em Mueda, e Namoto, no distrito de Palma.

 

“Não se está a passar nada aqui desde o ano passado. Primeiro, ainda não abriram, e, segundo, as pessoas têm medo das forças de segurança, que fazem patrulhas todos os dias na fronteira”, confirmou um residente, acrescentando: "não temos outra opção; a única saída é ir para Mueda ou via Palma”.

 

O encerramento da fronteira de Chacamba também reduziu o comércio e afectou o serviço de táxi-mota, uma das principais actividades de rendimento para os jovens da região. “Nos últimos tempos, o táxi-mota não tem saída. Muitos jovens faziam esse serviço, indo da sede até à fronteira, e ganhavam dinheiro, mas agora não é possível”, lamentou a mesma fonte.

 

No entanto, em conferência de imprensa, na cidade de Pemba, o porta-voz do Serviço de Migração em Cabo Delgado, Ivo Sampaio, afirmou, sem revelar uma data específica, que a fronteira será reaberta. Segundo ele, já foram dadas instruções para a limpeza e manutenção das instalações, como parte dos preparativos para a sua reabertura. (Carta)

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Já tem data e local o encontro entre o Chefe de Estado e os quatro candidatos à Presidência da República, anunciado na terça-feira, por Filipe Nyusi, na sua comunicação à nação, no âmbito das manifestações populares, convocadas pelo candidato Venâncio Mondlane, em repúdio aos resultados eleitorais de 09 de Outubro.

 

De acordo com os convites endereçados aos quatro candidatos, a que “Carta” teve acesso, o encontro terá lugar às 16h00 do próximo dia 26 de Novembro, terça-feira, no Gabinete da Presidência da República.

 

Os convites foram enviados aos concorrentes à Ponta Vermelha na quarta-feira, 20 de Novembro, pelo Ministro na Presidência para Assuntos da Casa Civil, Constantino Bacela, e visam “discutir a situação do País no período pós-eleitoral”.

 

Refira-se que o candidato presidencial Venâncio Mondlane, actualmente em parte incerta, foi o primeiro a manifestar, publicamente, a sua disponibilidade para o encontro, porém, mediante uma “agenda muito clara”.

 

“Eu, Venâncio Mondlane, candidato suportado pelo partido PODEMOS, candidato vencedor das eleições presidenciais de 2024, aceito, sem reservas, esse diálogo, mas, como qualquer negociação, deve ter uma agenda”, afirmou o candidato, em mais uma transmissão em directo na sua página do Facebook.

 

Como forma de não ir ao encontro “no vazio”, Mondlane disse que vai submeter, hoje, na Presidência da República, “um ofício”, por si assinado, com a proposta de agenda da reunião, “sustentada pelos vários moçambicanos” que, segundo ele, foram dando as suas opiniões de como devia ser conduzido o diálogo, assim como as manifestações.

 

Venâncio Mondlane disse ainda que o diálogo deverá decorrer à porta aberta “ao público”, de modo que os moçambicanos tenham acesso ao conteúdo em debate. “Não devem ser diálogos à porta fechada, em segredo, para que a gente se acerte nos nossos segredinhos sem que o povo saiba”, disse Mondlane, exigindo a presença da imprensa, da sociedade civil e da comunidade internacional. (Carta)

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O candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane diz estar disponível ao diálogo entre o Presidente da República e os candidatos à Ponta Vermelha, tal como anunciou, na terça-feira, o Chefe de Estado, em sua comunicação à nação, no âmbito das manifestações populares em curso no país desde 21 de Outubro último.

 

Em mais uma transmissão em directo na sua página oficial do Facebook, feita ao início da tarde de hoje, Mondlane disse aceitar o desafio feito pelo Presidente da República de haver um encontro entre Filipe Nyusi e os candidatos à Presidência da República, nomeadamente, Lutero Simango (do MDM), Daniel Chapo (da Frelimo), Venâncio Mondlane (do PODEMOS) e Ossufo Momade (da Renamo).

 

“Eu, Venâncio Mondlane, candidato suportado pelo partido PODEMOS, candidato vencedor das eleições presidenciais de 2024, aceito, sem reservas, esse diálogo, mas, como qualquer negociação, deve ter uma agenda”, afirmou o candidato.

 

No entanto, para não ir a um encontro sem agenda, disse Mondlane, irá submeter amanhã, sexta-feira, na Presidência da República, “um ofício”, por si assinado, com a proposta de agenda, “sustentada pelos vários moçambicanos” que, segundo o político, ao longo do tempo foram dando as suas opiniões de como devia ser conduzido o diálogo, assim como as manifestações.

 

A agenda a ser proposta, assegurou, é composta por 20 pontos – selecionados de mais de 40 mil emails recebidos pelo político – que constituem os anseios do povo moçambicano e, após a sua entrada na Presidência da República, será partilhada com os moçambicanos para que tomem ciência do que foi entregue ao Chefe de Estado. “Não queremos diálogos que são feitos e o povo nem tem direito de dizer uma única palavra”.

 

Venâncio Mondlane disse ainda que o diálogo deverá decorrer à porta aberta “ao público”, de modo a que os moçambicanos tenham acesso ao conteúdo em debate. “Não devem ser diálogos à porta fechada, em segredo, para que a gente se acerte nos nossos segredinhos sem que o povo saiba”, disse Mondlane, exigindo a presença da imprensa, da sociedade civil e da comunidade internacional.

 

“Queremos evitar aqueles diálogos que iam a 100 rondas e o povo não sabia”, sentenciou o político, em referência ao diálogo político entre o Governo e a Renamo, que durou mais de dois anos no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano.

 

Referir que na sua comunicação, Venâncio Mondlane não impôs condições de segurança para sua pessoa e muito menos garantias de que não ser detido a sua chegada à Maputo. Lembre-se que o político encontra-se, neste momento, em parte incerta. (Carta)

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O líder do Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), Albino Forquilha, disse ontem não ver “matéria” para a reunião pedida pelo Presidente moçambicano com os quatro candidatos presidenciais, defendendo a recontagem “transparente” dos votos para travar manifestações.

 

“O Presidente da República encontrou-se com partidos e agora está a pedir que os candidatos se encontrem com ele. O que quer conversar com candidatos? O que vai resolver, se a contenda sobre a justiça eleitoral é um processo matemático e se deve dizer quem ganhou e quem não ganhou?”, questionou o líder do partido que apoia o candidato Venâncio Mondlane, em declarações à Lusa, defendendo que a primeira ação deve ser a reposição da “justiça eleitoral”.

 

“Vão conversar o quê? Não vejo alguma matéria. Se está preocupado com o que está a acontecer é dizer ao Conselho Constitucional (CC) para fazer a confrontação dos dados com transparência”, acrescentou, defendendo igualmente que o processo deve ser testemunhado por observadores nacionais e internacionais e jornalistas visando a sua transparência.

 

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, convidou terça-feira os quatro candidatos presidenciais para uma reunião, incluindo Venâncio Mondlane, e disse que as manifestações violentas pós-eleitorais instalam o “caos” e que “espalhar o medo pelas ruas” fragiliza o país.

 

“Prometo que, até ao último dia do meu mandato, irei usar toda a minha energia para pacificar Moçambique, irei usar. Mas para que eu tenha sucesso nesta missão, precisamos de todos nós e de cada um de vocês (…). Moçambicanos têm de estar juntos para resolvermos os problemas”, disse Nyusi.

 

Na mesma declaração, o presidente do Podemos criticou as revisões pontuais à lei eleitoral em Moçambique, incluindo a eliminação das competências dos tribunais distritais de ordenarem a recontagem de votos nas eleições, atos da competência exclusiva do Conselho Constitucional, referindo que são “tentativa de proteger o derrotado” nas eleições.

 

“A recontagem de votos nos distritos seria feita na presença dos mandatários dos partidos, hoje como é que o CC vai poder fazer o mesmo trabalho sem a presença dos mandatários e outros intervenientes? Enviamos um conjunto de evidências e até agora não temos informações de se ter chamado algum mandatário”, criticou Albino Forquilha, assegurando que as manifestações são para manter até à reposição da “verdade eleitoral”.

 

“Continuaremos a fazer manifestações para pressionar que a justiça seja feita. Depois da decisão do CC quem recorre mais? Qualquer um que for a reclamar é considerado desobediente, então o momento para fazer essa investida é esse, antes da proclamação dos resultados”, concluiu.

 

O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou terça-feira aos moçambicanos para cumprirem três dias de luto nacional pelas "50 vítimas mortais" nas manifestações pós-eleitorais, a partir de hoje, incluindo uma paragem e buzinão dos carros por 15 minutos.

 

Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela CNE e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional. (Lusa)

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Jovens de vários extractos sociais saíram à rua esta quarta-feira, trajados de preto em vários pontos do país, em repúdio ao assassinato de pelo menos 50 pessoas pelas forças policiais durante as manifestações convocadas por Venâncio Mondlane em protesto aos resultados eleitorais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória à Frelimo e Daniel Chapo.

 

O traje resulta do anúncio, na terça-feira, de três dias de luto nacional, decretados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, em memória aos cinquenta mortos durante as manifestações contra a fraude eleitoral. Durante este período de luto, Mondlane apelou que todos vestissem de preto ou, pelo menos, usassem um item de cor preta (laço, luvas, chapéu, entre outros artigos).

 

O pedido foi acatado e ontem milhares de cidadãos saíram à rua de preto, em Maputo e Matola. Logo nas primeiras horas do dia, “Carta” fez uma escala em Malhampswene, um dos locais de maior concentração de vendedores e de diversos populares provenientes de diferentes bairros da cidade e província de Maputo, e observou algo diferente: a presença massiva do preto. Quase todos os vendedores e passageiros usavam roupa preta ou um avental, boné, lenço ou laço preto.

 

Aliás, para a nossa surpresa, vários operadores de transporte semi-colectivo que desaguam em Malhampswene exigiam uma peça preta como condição para que os passageiros tivessem acesso ao carro e pudessem se dirigir aos seus destinos.

 

Em conversa com Noémia Nhampossa, residente em Marracuene, contou que teve de vestir-se de preto para garantir a sua segurança na rua, enquanto se dirigia ao seu local de trabalho. “Depois de acompanhar a live de Venâncio Mondlane, ontem [terça-feira], em que ele apelava para que vestíssemos uma peça preta, decidi preparar uma saia e blusa preta para garantir a minha livre circulação”, contou.

 

Continuando, disse: “um facto curioso é que não foi nada fácil conseguir transporte hoje [ontem] devido à roupa que eu trajava. Na minha zona, há falta de transporte e dependemos muito de boleia paga em carros particulares para chegar à cidade. O que pude perceber é que muitos dos que nos dão essas boleias são frelimistas e, quando perceberam que grande parte dos que estavam na paragem estavam vestidos de preto, passavam e não aceitavam levar ninguém. Outros até paravam para espreitar da janela e, logo que viam alguém de preto, diziam: ‘Vocês são venancistas [referência aos que apoiam Venâncio Mondlane], por isso, hoje não vamos vos levar”.

 

Conversamos também com Hélio Mateus Cuna, residente na cidade da Matola, que contou à nossa reportagem que, na noite de terça-feira, quando se apercebeu de que a sua esposa estava engomando uma camisa vermelha, ordenou que ela trocasse por uma preta para evitar que lhe partissem os vidros do carro na estrada.

 

“Eu vesti-me de preto em respeito ao luto, porque 50 vidas se foram a defender a nossa causa e isso não é pouco. Não sou pró nem contra o venacismo, mas gosto de ser justo. Foram vários inocentes que deram o peito à bala para defender um futuro melhor do nosso país. Mas, uma das maiores razões que me fez vestir um fato preto e uma camisa preta foi para conseguir sair de casa e voltar em segurança, porque alguns oportunistas nas ruas acabam se aproveitando dessas situações para partir os vidros, principalmente quando percebem que você não acata o que Venâncio diz”, disse Cuna.

 

Cruzamos também com Helena Lopes Loforte e Judite Laura das Neves, vizinhas e colegas de trabalho, ambas vestidas de preto da cabeça aos pés. As duas residem no bairro Patrice Lumumba e contaram que, logo nas primeiras horas, os “modjeiros” (aqueles que são responsáveis pela busca de passageiros) estavam a mandar descer todo o passageiro que tentasse subir no transporte público sem roupa preta. Para sorte delas, não fugiram ao protocolo.

 

“Na verdade, eu vesti roupa preta por medo do que poderia acontecer na rua. Eu trabalho num local onde não posso faltar, sob o risco de perder o emprego. Então, para garantir a minha ida segura, vesti a roupa preta. Eu sou do Venâncio, eu estou com o povo, eu sinto pelas vidas que se foram, mas o meu preto de hoje foi mesmo pela minha segurança”, disse Helena.

 

“Na empresa onde trabalhamos, o meu supervisor procurou saber se estávamos de preto ou não. E, logo que o ponteiro indicou 12h00, todas as máquinas foram desligadas e fizemos uma oração em memória às 50 mortes. Foi bonito de ver. Alguns colegas murmuravam e diziam que o trabalho estava atrasado por conta de infantilidades e pessoas usadas pelo Venâncio”, frisou Judite.

 

Outro facto curioso anotado pela nossa reportagem foi quando tomamos o transporte da cidade da Matola para Malhampsene, em que todos os passageiros estavam vestidos com uma peça preta, incluindo o cobrador e o motorista. Durante o percurso, o cobrador procurou saber se todos estávamos de preto para prosseguir com a viagem, pois, em Malhampsene foi estabelecida como condição levar apenas os passageiros “de preto”.

 

Convidado a pronunciar-se sobre o momento actual, Luarte Simão Rungo, cobrador daquele transporte, disse que o preto para ele tinha um significado muito importante e que continuaria a usá-lo até novas ordens de Venâncio Mondlane.

 

“Eu vi um vizinho perder a vida vítima de uma bala disparada pela Polícia, vítima da covardia daqueles que trabalham para a Frelimo, vítima da reivindicação dos nossos direitos... Ele lutou por nós, lutou para que fôssemos libertos. Vestir preto é pouco para mostrar solidariedade por essas vítimas que morreram para termos melhores condições neste país.”

 

Refira-se que, além de “decretar” três dias de luto nacional, Mondlane apelou para a recontagem dos votos, em vez de novas eleições, e uma homenagem bem prestada aos mártires da revolução. (M.A.)

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