Ao fim de quase 40 dias de tumultos, nas cidades de Maputo, Matola, Quelimane, Nampula e Nacala-Porto – com a Polícia a impedir milhares de moçambicanos de marchar, incluindo organizações profissionais – a Polícia da República de Moçambique permitiu, finalmente, a realização de marchas “pacíficas” um pouco por todo país, no último fim-de-semana.
A façanha foi protagonizada pela Frelimo, partido que governa Moçambique desde 1975, que, no último fim-de-semana, saiu à rua para celebrar a contestada vitória eleitoral do escrutínio do dia 09 de Outubro, cujos dados da Comissão Nacional de Eleições apontam para uma vitória do partido no poder e do candidato Daniel Chapo com mais de 73%.
A marcha de saudação ao candidato presidencial Daniel Francisco Chapo teve lugar na manhã de sábado, nas cidades de Maputo e Quelimane, envolvendo centenas de membros e simpatizantes do partido no poder (incluindo crianças), transportados em autocarros de diversos bairros da Cidade e Província de Maputo.
Segundo a Secretária do braço juvenil da Frelimo (OJM), a nível ada cidade de Maputo, Laura Chavana, para além de saudar Daniel Chapo, a marcha visava também “desconstruir a narrativa de que os jovens não votaram no partido Frelimo”.
Contrariamente ao que se assiste em todo o território nacional desde 21 de Outubro, em que cidadãos são impedidos de marchar – com recurso a gás lacrimogéneo e balas de borracha e reais – a Polícia abriu passagem para que a Frelimo realizasse a sua marcha, em mais uma demonstração clara que de somente o partido no poder pode marchar.
Trata-se, na verdade, de uma situação que se verifica no país há quase uma década, em que organizações da sociedade civil e partidos da oposição são impedidos de marchar/protestar por “ordens superiores”, contra o livre-trânsito do partido Frelimo. Os casos mais recentes aconteceram no presente mês de Novembro, com médicos (dia 05) e professores (dia 16) a serem vítimas da aversão da Polícia às marchas.
Aliás, na sexta-feira, a Polícia impediu a realização de uma marcha na cidade da Beira, em Sofala, convocada pela Associação Nacional dos Enfermeiros de Moçambique (ANEMO), em repúdio à violação dos direitos humanos durante as manifestações populares. A marcha, segundo o Delegado provincial da ANEMO, Josefino Alberto, citado pelo Notícias, era do conhecimento das autoridades, pelo que “não sei quem decidiu que não se marchasse”.
No mesmo dia, mas na capital do país, a Polícia dispersou centenas de manifestantes, com recurso a gás lacrimogéneo, que se encontravam a entoar o hino nacional, de joelhos, junto à Estátua de Eduardo Mondlane. A manifestação aconteceu um pouco depois das 13h00 e enquadrava-se nas medidas de protesto popular, no contexto dos três dias de luto nacional, decretado pelo candidato em homenagem às vítimas das manifestações, que aproximam a 70 mortes, em todo o país.
Refira-se que o Ministro do Interior e o Comandante-Geral da Polícia já haviam anunciado o fim das manifestações em Moçambique, por alegadamente serem violentas, subversivas e se caracterizarem como um “terrorismo urbano”. (Carta)