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Política

É já Maio próximo que a Agência Metropolitana de Transportes de Maputo (AMTM) irá introduzir o polémico sistema automático de cobrança de tarifas no transporte urbano de passageiros na área metropolitana de Maputo.

 

O anúncio foi feito há dias pelo PCA da instituição, António Matos, à margem da conversa com “Carta” acerca dos desafios que se colocam ao Governo no sector dos Transportes e Comunicações.

 

O sistema, a ser implementado pela empresa tanzaniana Maxcom Africa PLC, irá abranger todos os autocarros da AMTM e mais 400 transportes semi-colectivos e, de acordo com a instituição, visa modernizar o sistema de cobrança nos autocarros, eliminando os pagamentos em numerário.

 

A ser implementado pela empresa tanzaniana, num período de 10 anos, o sistema é avaliado em 1.400.905.602,00 Mts e consistirá na emissão de cartões de viagem, a serem cobrados automaticamente em cada viagem no maior centro urbano do país. Refira-se que a Maxcom venceu a concorrência do consórcio moçambicano Sir Comércio Internacional e BCI; da CC Investimento, SA; do Consórcio ITC-Works; e da SA Transit Connect. A Servisis não apresentou nenhuma proposta.

 

À nossa reportagem, Matos afirmou que, nesta primeira fase, o sistema será introduzido no chamado “Corredor 1 (Baixa/Museu/Boane/Mozal/Tchumene)”, que integra 15 rotas e mais de 70 autocarros operacionais, de modo a avaliar a operacionalidade do sistema.

 

Segundo o PCA da AMTM, os autocarros das rotas a serem abrangidas, nesta fase, já se encontram preparados e, desde Dezembro passado, que a instituição tem vindo a fazer testes. “Os autocarros estarão equipados com validadores, consolas e computadores, que irão receber os dados. Estamos, neste momento, a trabalhar na infra-estrutura tecnológica”, disse a fonte.

 

António Matos explicou ainda que, para o sucesso do projecto, a AMTM irá realizar campanhas de marketing, a partir do próximo mês de Fevereiro, nos seis corredores de transporte rodoviário de passageiros, que compõem a área metropolitana de Maputo. Sublinhou que a Maxcom irá adquirir e distribuir, gratuitamente, 500 mil cartões aos passageiros de todos os corredores, que integram as cidades de Maputo e Matola e os distritos de Marracuene, Boane, Matutuine e Manhiça.

 

“Os custos de emissão dos cartões são da responsabilidade da empresa. O que vai acontecer é que o passageiro irá recarregar o cartão, no acto do seu registo. Todos os passageiros vão adquirir esse cartão. O registo será feito em quiosques e/ou nos serviços financeiros (banca móvel ou convencional) para podermos entregar os cartões”, explica a fonte, garantindo que a Maxcom irá emitir diferentes tipos de cartões, como são os casos do “cartão de passageiro frequente; cartão de estudante; cartão de idoso; cartão de combatente; e cartão de deficiente físico. Todos com 50% de desconto em todas as viagens”.

 

“Teremos também cartões para grandes empresas, com viagens ilimitadas, que serão pagos pelas empresas”, disse Matos, assegurando: “vamos estipular formas para que os passageiros que apanham dois ou mais autocarros, numa viagem, possam pagar uma vez, sobretudo os passageiros frequentes”.

 

Questionado se o sistema garantia segurança na colecta da receita, o PCA da AMTM respondeu que seria “criancice da nossa parte não reconhecermos falhas na tecnologia, mas penso que é um sistema seguro e que tem a vantagem não só de eliminar os pagamentos em numerário, como também produzir dados”, disse.

 

“O sistema irá produzir dados, o que me vai permitir sabermos quantos passageiros estavam a bordo”, explicou.

 

De acordo com a AMTM, o sistema irá abranger mais de três milhões de utentes da área metropolitana de Maputo e o reembolso do capital será através de comissões, a serem cobradas pela empresa, por cada bilhete vendido.

 

Refira-se que a “vitória” da Maxcom foi bastante contestada por alguns concorrentes, que consideram não ter havido transparência no apuramento dos resultados do concurso nº01/UGEA/AMT/2019. (Carta)

O Credit Suisse Group AG ignorou as advertências de um seu Presidente Executivo Regional, que estava de saída do banco, sobre os riscos de emprestar 2 bilhões de USD a Moçambique, num negocio que se tornou escandaloso e levou o banco suíço a um processo judicial, abrindo questões sobre a sua integridade.

 

Uma declaração legal do Credit Suisse (CS) publicada na semana passada revelou que Fawzi Kyriakos-Saad, na época o chefe dos negócios do banco na EMEA, alertou a um grupo de negociadores internos para não prosseguirem com o financiamento de bilhões de USD a Moçambique. É a primeira vez que o CS confirma que seus gerentes tinham dúvidas sobre a transação.

 

O dinheiro foi mobilizado para Moçambique investir numa força de patrulha costeira e desenvolver uma frota de pesca de atum. Mas a captação de mais recursos acabaria chamando a atenção de promotores norte-americanos, que alegaram que os contratos eram uma fachada para funcionários do Governo de Moçambique e os próprios banqueiros do Credit Suisse se enriquecerem em até cerca de 200 milhões de USD.

 

Por outro lado, acções movidas pelos EUA e Moçambique expuseram o lado sombrio de alguns dos financiamentos. Numa acção em Londres, Moçambique questionou a tomada de decisão do Credit Suisse, dizendo que o banco ignorou “alertas vermelhos” e fechou os olhos à corrupção de seus próprios banqueiros.

 

A declaração legal do CS fornece uma janela para os trabalhos internos do banco, no final de 2012, na preparação das transações. Qualquer transação que envolva uma combinação do bilionário franco-libanês Iskandar Safa e Moçambique não deve avançar, avisara Kyriakos-Saad, segundo os documentos.

 

O aviso foi relatado num e-mail de Andrew Pearse, que liderou o grupo de financiamento global do banco e mais tarde se declarou culpado de embolsar pelo menos 45 milhões de USD em subornos. Ainda não está exactamente claro a que é que Kyriakos-Saad se opôs.

 

Mas um dia depois do seu alerta, o banco divulgou que Kyriaks-Saad deveria deixar a instituição no quadro de um processo de reestruturação. O Credit Suisse não comentou as circunstâncias da saída de Kyriakos-Saad e o ex-executivo se recusou a comentar com base no seu acordo com o banco de Zurique. (adaptado de Bloomberg)

A sede do maior partido da oposição do xadrez político nacional, a Renamo, na capital do país, viveu na manhã e princípio da tarde de ontem momentos de alguma agitação. Membros pertencentes à segurança da Renamo decidiram amotinar-se nas instalações do partido com intuito de pedir explicações detalhadas à volta da interrupção da canalização de subsídio a que têm direito. Com intuito de obter explicações em torno do assunto, “Carta” contactou na tarde de ontem o partido liderado por Ossufo Momade. Na pessoa de José Manteigas, porta-voz do partido, explicou que não se trata de corte ou interrupção, mas sim um atraso na canalização dos referidos subsídios.

 

Concretamente, disse José Manteigas, trata-se de subsídios de “água e luz” a que homens pertencentes à guarda do partido têm mensalmente direito. Tal como disse, o partido falhou a disponibilização deste subsídio no mês que hoje finda. Entretanto, José Manteigas assegurou que o partido está a trabalhar a toda a sua extensão tendo em vista o solucionamento do problema a breve trecho, pois, está ciente da importância e dos transtornos que o atraso está a causar.

 

“O partido não conseguiu tempestivamente pagar subsídios de água e luz, mas é uma questão de atraso. E o partido está a organizar-se para poder pagar porque é um subsídio que os homens recebem mensalmente”, disse José Manteigas.  O porta-voz da Renamo acrescentou que, para além do subsídio de água e luz, que não foi pago neste mês de Janeiro, os homens afectos à segurança do partido têm ainda direito de um outro subsídio (para vida particular), cujos desembolsos estão devidamente regularizados. Ou seja, o partido pagou tempestivamente e não tem nenhum mês em falta.

 

Os homens da segurança receberam a garantia da regulação da situação a breve trecho da boca do Secretário-Geral do partido, André Magibire, à saída de uma breve reunião havida entre ambos, ainda ontem.  Noutro desenvolvimento, José Manteigas comentou ainda as informações postas a circular, segundo as quais foram privados os homens que eram leais ao então Presidente do Partido, Afonso Dhlakama. Manteigas disse que não se trata de homens pertencentes à segurança do falecido presidente do partido. São, sim, tal como explicou, homens pertencentes à segurança do partido e responsáveis por garantir a protecção dos quadros daquela formação político-partidária.

 

“Não são seguranças do saudoso presidente Dhlakama. São homens da segurança que garantem a protecção dos quadros do partido Renamo. Ontem, quando estava vivo, o presidente Dhlakama, trabalhavam com ele e hoje trabalham com o Presidente Ossufo Momade e outros quadros. Não há nada de extraordinário que está a acontecer”, esclareceu Manteigas. (I.B.)

Alarmados! É como parte dos 450 estudantes moçambicanos residentes em diferentes Cidades da República Popular da China se sentem, numa altura em que as autoridades chinesas dizem que o coronavírus já matou 170 pessoas e infectou mais de 7.742 pessoas. O coronavírus é uma infecção que se manifesta através de febres, tosse seca, coriza, dores de garganta, dor de cabeça, náuseas/vómitos e pneumonia.

 

O impacto do coronavírus na vida das pessoas na China e nos outros países é enorme, uma doença cujo infectado deve ficar de dois a 10 dias de incubação, uma vez que se transmite através de gotículas, aerossóis, contacto directo através de toque ou aperto de mão e contacto indirecto com objectos ou superfícies contaminadas.

 

Nas entrevistas concedidas à “Carta” esta quarta-feira, 29, e nas quais pediram anonimato, descrevem que a situação é desoladora. Numa breve explicação, a primeira estudante entrevistada disse: “o vírus começou em Wuhan e está a espalhar-se por todo o lado. Todos os supermercados estão fechados e os campus de todas as faculdades estão fechadas, o mais difícil é não poder sair para comprar refeições, porque os locais onde compramos legumes e outros produtos estão fechados”, contou a estudante.

 

Questionada sobre a ajuda da embaixada moçambicana na China, a nossa entrevistada disse: “não sei se estão a ajudar outros alunos, porque nós aqui não”. Um outro estudante afirmou: “eu só sei que o governo chinês não está a ser transparente quanto à toda a informação. Vamos pensar, se o total de casos como eles dizem são os tais 4 mil em toda a China, porque a necessidade de construir novos hospitais às pressas. Mas, enfim, eu entendo que é para não deixar outras pessoas em pânico”, indagou o estudante.

 

De acordo com o entrevistado, “quanto ao governo, nossos irmãos que estão em Wuhan estão a morrer de fome e nunca ouvi falar que eles estão a apoiar de alguma forma (cestas básicas pelo menos) porque eles não têm como sair de casa para ir atrás de comida, tanto que a Cidade também está a ficar sem mantimentos”, explicou.

 

Indo mais, o estudante afirmou: “meu irmão vive naquela cidade, falo com ele todos os dias, pelo menos uma vez ao dia e ele só reclama de fome, porque só come para manter o estômago. Ele até tinha sugerido que meus pais pagassem passagem para ele voltar, mas eles não têm como intervir, sem consentimento da embaixada e a embaixada deve negociar com o governo chinês”.

 

Acrescentando, avançou: “muitas embaixadas negociaram com a China para levarem seus patriotas de volta para casa. Ainda na segunda-feira, 27, 250 indianos foram evacuados”.

 

“O que me está a deixar intrigada é essa falta de informação que pessoas têm, os nossos pais também não nos estão a dar a devida atenção ou algo parecido. Pensam que está tudo sob controlo”, desabafou a entrevistada. A estudante afirmou: “é algo que nem os chineses, que se dizem ser os tais, estão a conseguir controlar a propagação”.

 

A estudante revelou ainda à nossa reportagem que ontem ficou triste quando recebeu mensagem do pai, a pedir que se mantivesse calma. “Ele prefere que eu morra para não ter problemas com a embaixada de Moçambique”. Um outro estudante residente em Beijing disse: “essas cenas que vocês estão a ouvir é na província de Wuhan, aqui em Beijing estão a controlar para o vírus não se espalhar, aliás, fecharam as portas para pessoas que vêm das outras províncias não entrarem”. O nosso interlocutor explicou ainda: “o governo ainda não deu notícias da escola, que todo o mundo está à espera, nosso semestre foi adiado”.

 

Posição diferente dos outros estudantes entrevistados pela “Carta” tem Anselmo Sulumate, estudante moçambicano de economia e comércio internacional, na Cidade de Wuhan, Província de Hubei, na República Popular da China através de um vídeo posto a circular nas redes sociais explicou que “a Cidade de Wuhan é composta 38 estudantes moçambicanos, e que a mesma encontra-se isolada devido as orientações das autoridades chinesas. Ninguém entra e ninguém sai”.

 

 

Sulumate disse que relativamente a alimentação existem alguns supermercados locais abertos e que a embaixada tem contactado com os estudantes moçambicanos residentes na Cidade de Wuhan. Sulumate explicou que até ao momento ainda não houve nenhum estudante estrangeiro infectado pelo coronavírus. O mesmo estudante pediu a comunidade moçambicana para estar tranquila e que eles estavam a ter um atendimento devido, até porque foram orientados a se manterem nos seus quartos. 

 

Governo suspende emissão de vistos e garante estar a monitorar a situação

 

Relativamente aos moçambicanos residentes na China, a Embaixadora de Moçambique na China, Maria Gustava, em entrevista à Televisão de Moçambique (TVM), realizada na terça-feira, 28, disse: “30 estudantes residentes na Cidade de Wuhan já haviam sido contactados e todos estavam de boa saúde”. A embaixadora garantiu que todos têm recebido as orientações necessárias para se manterem precavidos.

 

Respondendo às questões apresentadas pelo Jornalista da TVM, a embaixadora confirmou que a Cidade de Wuhan estava a atravessar uma crise de alimentos. Porque grande parte das lojas estavam fechadas. Portanto, “as autoridades da universidade providenciaram mecanismos para aquisição de víveres a partir de lojas de cidades distantes”, afirmou Maria Gustava.

 

No entanto, para a prevenção do Coronavírus, a 2ª sessão ordinária do Conselho de Ministros (CM), realizada na terça-feira em Maputo, decidiu suspender a emissão de vistos para China como forma de evitar a exposição de cidadãos moçambicanos ao coronavírus que já matou mais de 130 pessoas e 6 mil encontram-se infectados na China.

 

Segundo a Porta-voz do CM, a Ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, até terça-feira não havia registo de nenhum moçambicano residente na China infectado pelo vírus. Kida disse que as medidas restritivas no movimento migratório seguem às que já estão a ser implementadas em várias partes do mundo.

 

De acordo com a nova timoneira do pelouro da justiça, “a limitação de saída ou entrada de pessoas que venham da China é uma das formas encontradas para reforçar a prevenção, uma medida também adoptada pela China que está a limitar a emissão de vistos. As autoridades de saúde em todo o mundo estão em alerta e acompanham a evolução do vírus”.

 

Na passada sexta-feira, 24, a Directora Nacional de Saúde pública, Rosa Marlene, disse aos órgãos de comunicação social em Maputo que o risco da eclosão do coronavírus no país é baixo, sobretudo, devido às condições climáticas predominantes.

 

Falando à imprensa, Rosa Marlene afirmou: “nós sabemos que as condições favoráveis às doenças gripais têm a ver com o inverno, na altura fria e na China, neste momento, é inverno. Nós estamos numa altura quente, portanto, a probabilidade de transmissão da infecção respiratória é muito pequena. Sendo assim, o risco de nós termos aqui um surto da pneumonia ou de gripe de vida (A), o coronavírus, neste momento, é extremamente pequeno”.

 

Relacionado com o surto por coronavírus (nCoV), o Ministério da Saúde (MISAU) emitiu um documento datado do dia 28 de Janeiro, em que explica que o coronavírus pertence a uma família de vírus que causam doenças que variam entre as gripes comuns e as doenças mais graves, como a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e a síndrome respiratória grave (SARS-CoV).

 

Segundo informa o MISAU, no passado dia 31 de Dezembro de 2019, a República Popular da China reportou à Organização Mundial da Saúde (OMS) a existência de casos de pneumonia de etiologia desconhecida detectados na Cidade de Wuhan, na Província de Hubei e a 7 de Janeiro de 2020 foi identificado um novo coronavírus (2019-nCov) como causador da doença.

 

Dados do MISAU até o dia 27 de Janeiro avançavam que o coronavírus já foi confirmado em países como China com mais de 2.761 casos, EUA com cinco, Tailândia com cinco, Singapura com quatro, Austrália, República da Coreia, Japão e Malásia todos com quatro casos cada, França com três, Vietname com dois, Canadá e Nepal com um respectivamente. Em países africanos ainda não foi registado nenhum caso até ao momento.

 

Esta quarta-feira, 29, a SIC Notícias, um órgão de comunicação português, noticiou que um grupo de cientistas australianos recriou o coronavírus em laboratório, o que pode ajudar a desenvolver uma vacina para combater a propagação da doença.

 

Para a OMS, Moçambique não está isento de risco. Devido ao modo de transmissão da doença, todos os países estão em risco. Esta situação levou as autoridades da OMS a considerarem o coronavírus como a quarta doença mundial depois da febre-amarela, H1N1 e Ébola. Devido a isto, as autoridades de saúde reforçaram a presença de técnicos e medidas de controlo nos aeroportos nacionais com principal enfoque para cidadãos provenientes de 14 países dos continentes asiáticos e europeus. (Omardine Omar)

Em 2019, a Autoridade Tributária de Moçambique (AT) não alcançou a meta de arrecadação de impostos para o Cofre de Estado, pois, dos 244.2 mil milhões de Meticais programados, apenas conseguiu colectar 234.5 milhões de Meticais, ficando com um défice fiscal de cerca de 10 mil milhões de Meticais. Todavia, com as receitas extraordinárias (não programadas), em forma de mais-valias da venda da Anadarko à Ocidental e esta à Total, a AT conseguiu, em Outubro, embolsar 54.1 mil milhões de Meticais (880 milhões de USD), o que resultou numa receita total de 288.6 mil milhões de Meticais, equivalentes a 113%.

 

Portanto, é com as mais-valias da venda da Anadarko que o porta-voz da AT, Fernando Tinga, refirmou ontem, em Maputo, que a instituição em que trabalha alcançou e até superou a meta prevista. Desta forma, Tinga desembrulhava o que na última terça-feira (28), o Director-geral das Alfândegas de Moçambique, Aly Mallá, recusou esclarecer à “Carta”, violando, assim, a Lei de Acesso à Informação. Numa conferência de imprensa sobre o balanço do exercício económico de 2019, o porta-voz da AT detalhou que, em termos estruturais, os impostos internos tiveram uma contribuição de 75,61% sobre a receita global, incluindo mais-valias, enquanto os impostos sobre o comércio externo contribuíram em 24,39%.

 

Do total cobrado, continuou Tinga, 218.2 mil milhões de Meticais são provenientes dos impostos internos e 70.3 mil milhões de Meticais oriundos dos impostos sobre o comércio externo, consubstanciando um desempenho de 127,27% para os impostos internos e 95,50% para os impostos externos, para as duas áreas, respectivamente. O Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC) teve execução extraordinária devido à componente das mais-valias, tendo atingido 164,99% de realização. O IVA teve igualmente bom desempenho com realizações de 104,78% em impostos e 115,99% em impostos sobre comércio externo.

 

O porta-voz da AT explicou que vários factores condicionaram o desempenho da receita, de entre eles, a frágil situação económico-financeira de Moçambique, os efeitos dos ciclones Idai e Kenneth nas regiões Centro e Norte do país, constrangimentos administrativos no processo de contratação dos serviços e indisponibilidade financeira para a realização da despesa.

 

Mesmo assim, Tinga ressaltou que houve aspectos positivos que contribuíram para o nível de arrecadação de receitas. Dos vários factores, a fonte destacou a expansão e melhoria do sistema de cobrança e-Tributação, formação dos funcionários em língua chinesa; auditorias e área paramilitar para melhor encararem os desafios da defesa das fronteiras, da arrecadação de receitas e da economia. Tinga incluiu ainda o processo de marcação de combustíveis, a selagem de bebidas e produtos de tabaco, para além das auditorias que, em 2019, contribuíram com 885,9 milhões de Meticais para os cofres do Estado, contra 640.9 milhões de Meticais registados em 2018, o que representou um crescimento de 38.2%.

 

Para este ano, a AT desafia-se, de entre vários aspectos, a cobrar 261,90 mil milhões de Meticais, implementar com efectividade a selagem electróncia e aprovar regulamentos e modelos de declaração, com vista a garantir um bom ambiente de negócio no sector de minas e petróleo. (Evaristo Chilingue)

O Governo apontou ontem um novo Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), Estêvão Pale, um carreirista do sector, que vem dirigindo com sucesso uma das principais subsidiárias da empresa petrolífera nacional, a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH). A ascensão de Pale corresponde a queda do economista Omar Mithá, um “outsider” proveniente da banca comercial.

 

Mithá fora apontado em Agosto de 2015, poucos meses após a chegada ao poder de Filipe Nyusi. Seu mandato de 4 anos à frente da ENH terminara em Agosto do ano passado. Desde lá, ele foi “posto de molho”. Carlos Agostinho do Rosário, o Primeiro-Ministro repetente de Nyusi, mostrou-se, dizem fontes de “Carta”, em desfavor à renovação de Mithá. Porquê? A razão primária nunca nos foi apontada, mas nos corredores principais da indústria, Mithá alimentou a fama de um “homem de trato difícil”, com “mau feitio”, pouco dado a ouvir opiniões distintas da sua.

 

Ele tinha sido uma escolha pessoal de Filipe Nyusi. Mas, nos últimos anos, o PR cansou-se de ouvir reclamações sobre o seu alegado mau feitio. Por isso, sua saída já estava traçada. E Mithá sabia. Em Dezembro, ele começou a remover seus pertences do gabinete e preparou-se para entregar as pastas.

 

Durante o seu mandato, Mithá conseguiu, em Abril de 2019, aquele que foi o seu principal feito: consolidar as contas atrasadas da empresa, ao publicar o Relatório e Contas dos exercícios fiscais referentes aos anos 2016 e 2017, o qual mostrava a situação financeira das suas seis subsidiárias, nomeadamente a CMH (Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos), a CMG (Companhia Moçambicana de Gasoduto), ENH Integrated Logistics Services, a ENH Logistics (ENHILS), a Gás Natural, PCD (Portos de Cabo Delgado) e a ENHL Bonatti. No Relatório apresentam-se também as contas das empresas nas quais a ENH detém participações, designadamente a Matola Gas Company, a ROMPCO, ENH Kogas e a ENMAR.

 

Grosso modo, as contas estavam no vermelho, mas esse não era necessariamente um problema decorrente da sua gestão.  Um dos grandes falhanços de Mithá foi a mobilização financeira de 1.5 bilhões de US para a participação da ENH nos projectos do gás do Rovuma. Ele, por várias vezes, anunciou que realizaria “roadshows” na Europa mas isso nunca se efectivou. É certo que o perfil do endividamento do governo dificultaria essa mobilização de dinheiro nos mercados globais, mesmo com uma garantia soberana do Governo. O problema é que Mithá sempre mostrou um optimismo exacerbado, apesar da situação conjuntural negativa. Acabou fazendo um “fundraising” limitado em Sandton, na RAS, num evento organizado sob os auspícios do BAD (Banco Africano de Desenvolvimento).

 

Outro falhanço foi sua tão propalada parceria com o Frontier Services Group Ltd., empresa de Hong Kong fundada por Erik Prince, anunciada nos primeiros meses de 2019. Mithá exultara com o negócio, que se centraria na área logística.  Confrontado com o passado de Prince, ele disse que a ENH tinha feito o devido “due dilligence”, que mostrou que o FSG estava completamente limpa e era um parceiro viável.

 

Em Dezembro, quando Mithá deu seu último “briefing” à imprensa, ele disse (e a Bloomberg noticiou) que a tal parceria tinha chegado ao fim. “Os accionistas maioritários chineses da FSG decidiram retirar-se da parceria”. Nunca chegou a apontar as razões para essa ruptura.

 

Governo aposta em Pale

 

Para o lugar de Mithá, o Governo apostou em Estêvão Pale, 60 anos de idade. Pale tem um CV de mão cheia e mais de 30 anos de experiência na indústria de mineração. Ele é o PCA da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos, S.A., uma empresa moçambicana de gás natural, onde negocia contratos de venda de gás natural e condensado, além de lidar com credores juniores e seniores da Companhia.

 

Entre 1996 e 2005, foi Diretor Nacional de Minas no Ministério dos Recursos Minerais e Energia, onde foi responsável pela supervisão e controle das actividades minerais em Moçambique e pela formulação e implementação da política de mineração e geologia aprovada pelo Governo. Pale possui um diploma de pós-graduação em Engenharia de Mineração pela Camborne School of Mines na Cornualha (Inglaterra) e um Mestrado em Economia Financeira pela Universidade de Londres (SOAS). Ele completou um curso em Gestão de Negócios de Gás, em Boston.

 

Sob sua gestão, a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) foi considerada, em 2008, a melhor empresa de Moçambique pela KPMG. Esta premiação foi uma inovação introduzida pela KPMG na pesquisa das 100 maiores empresas de Moçambique de 2008, que tem como indicadores o crescimento do volume de negócios, o crescimento de negócios por trabalhador, rentabilidade, autonomia financeira e liquidez.

 

Para o então Director Executivo da CMH, Estêvão Pale, o prémio resultara de muito trabalho bem como do “rigor na gestão da firma e negócio por cada trabalhador”. Em 2008, a CMH tivera um volume de negócios avaliado em 48 milhões de dólares norte americanos (USD) e lucros de cerca de 28 milhões USD. “Somos uma empresa pequena, com muito rigor financeiro. Trabalhamos no sentido de rentabilizar ao máximo o dinheiro dos nossos accionistas e penso que este é um reconhecimento do trabalho que temos vindo a desenvolver nos últimos anos. Tentamos manter uma estrutura leve na empresa”, frisou. (Marcelo Mosse)