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segunda-feira, 09 maio 2022 09:48

La famba bicha!

Jeremias Nguenha morreu a 4 de Maio de 2007. Passam hoje 15 anos. Provavelmente ainda sejam ouvidas as suas famosíssimas músicas “Vada Voxe” ou “La Famba Bicha”, que são, quanto a mim, um dos mais inventivos diagnósticos da sociedade moçambicana e das suas patologias inultrapassáveis. Permanecem actuais. Actualíssimas. 

 

Era um artista extremamente irreverente e fazia uma arrojada e acerba crítica política e social. Nascera a 19 de Março de 1972, em Inhambane. Cantava em changana. Cantava enérgica e violentamente em changana. Morreu cedo, subscrevendo o anátema moçambicano, com apenas 35 anos. Deixou, no entanto, o seu génio criativo registado nas músicas que compôs e cantou. 

 

Nguenha foi um artista carismático e popularíssimo. Isso devia-se, a meu ver, à sua música poderosa e às suas mensagens certeiras e veementes, mas também à sua imediata identificação com os mais desfavorecidos: a forma de vestir, a forma de se exprimir, a forma de dançar e as suas coreografias. A sua impetuosa denúncia social, sobretudo quando falava da pobreza ou das injustiças sociais, era uma resposta violenta à violência dos que sofriam e sofrem a exclusão, a pobreza e a marginalidade. 


Jeremias Nguenha tinha uma portentosa e magnética energia em palco e vê-lo actuar era um momento fortemente impactante. Vestia uniforme militar e tinha o cabelo sempre rapado. Andava com um exemplar da Bíblia. Era um provocador. As suas composições tinham metáforas e imagens virulentas: "obrigam-nos a pentear as nossas carecas” (tradução livre) é um dos seus versos mais profundos. O grande instigador era, antes de tudo, um grande poeta social e um magistral e intrépido cantor e actor. Ele não cantava apenas. Actuava no estrado. Era a voz dos esquecidos, dos desprezados, dos proscritos. 

 

Teve uma aparição fulgurante. As rádios tocavam-no regular e recorrentemente. Quando foi anunciada a sua morte, o choque foi inevitável. Mas parece que é o destino de grande parte dos artistas moçambicanos. Quantos talentos se perderam precocemente neste país? Quando estes (artistas) desaparecem sucede o silêncio e a escuridão sobre os seus percursos e suas vidas. Não são mais evocados, não são estudados, não existem biografias. Sabemos muito dos artistas estrangeiros e cultuamos o efémero entre nós. Pouco sabemos dos nossos melhores. 

 

Aliás, parece que a Pátria se regozija em ignorar os seus melhores intérpretes. Intérpretes num sentido mais extenso – de tradutores de um tempo e de uma sociedade. Como é este imenso e perseverante artista. Um cantor desassombrado e arrebatador. Jeremias Nguenha foi e é um dos melhores intérpretes do nosso destino individual e colectivo. Foi e é um dos maiores tradutores do devir moçambicano. 

 

La famba bicha!

segunda-feira, 09 maio 2022 09:39

Este homem lembra-me Moisés

Do seio da sarça, Deus rugiu como o verdadeiro Rei dos Céus, abafando todos os sons da planície onde Moisés apascentava o rebanho do seu sogro, Jetro. Era manhã fria e não havia outros pastores por perto, pois toda aquela vastidão de terras pertencia a uma única pessoa, escolhida entre os demais para desfrutar de um manancial sem fim. Foi nesse lugar que a Voz esvaziou-se e troou como o último vulcão e chamou por aquele que seria, afinal, um servo apetrechado de aço filtrado em fogo, para romper as grades do mal.

 

Deus  trovejou como os trovões que, nas montanhas de pedra, na função de megafones Divinos, entram em harmonia com a existência, e chamou pelo pastor solitário imbuído em pensamentos que só o Próprio Jehová podia sondá-los.

 

- Moisés!!!!!!!!!

 

O pastor entrou em pânico ao perceber que a Voz que lhe chamava vinha da sarça ardente, suspensa no espaço  onde o rebanho tinha alimento em porções sem limites.

 

- Quem é você que me chama com essa Voz do fim do mundo?

 

- Sou eu, Deus dos Exércitos.

 

- O quê que você quer de mim?

 

- Quero que vás ao Egipto libertar os filhos de Israel, presos nas masmorras de Faraó.

 

- Mas porquê que  tenho que ser eu a ir ao Egipto, libertar os Teus filhos das masmorras de Faraó.

 

Deus fez uma pausa, permitindo que se ouvisse na plenitude a música dos rios fartos que serpenteam  em todo aquele maná oferecido a Jetro. Era a mesma música que Moisés ouvia todos os dias, mas que agora ressurge retumbante, silenciando todos os outros sons maravilhsos que encontram no cântico dos pássaros, a síntese da maravilha. Depois – ainda do seio da sarça - a Voz voltou e retorquiu: porquê que não tens que ser tu?

 

II

 

Lembro-me desta passagem bíblica, sempre que vejo -  nas ruas da cidade de Inhambane – um homem que usa um cajado que mais parece um elemento de adorno, do que propriamente de suporte. Então, na minha imaginação, este indivíduo enigmático pode ser o próprio Moisés, encarnado numa outra pessoa, que é esta que vagueia sem direcção, aproveitando ao máximo – provavelmente – a paz que reside em toda a urbe.

 

Nunca o tinha abordado até ao dia em que perdi a capacidade de conter-me. Aproveitei o facto - numa manhã de céu nublado - de estarmos lado a lado, na varanda da loja do Matocolo, à espera que a chuva parasse. Não sabia como ele reagiria às minhas palavras, e nem podia saber, por muitos motivos, e um desses motivos é que, para além de nunca ter falado com ele, jamais o vi a conversar com quem quer fosse, apesar de ser uma pessoa bastante conhecida.

 

- O senhor é muito parecido com  Moisés!

 

- Qual Moisés?

 

- Da bíblia!

 

Ele riu-se às gargalhadas, olhando-me profundamente. Acariciou -  com as duas mãos - o  cajado que será, se calhar, um imprecindível talismã da sua vida. Parecia estar a procura das palavras apropriadas para responder à minha ousadia, como no dia em que Deus fez uma pausa, deixando soar levemente a música dos abudantes rios do maná de Jetro, antes de dizer a Moisés: porquê que não tens que ser tu!

 

Mas quando parou de chover, o homem foi-se embora sem dizer nada, até perder-se na zona dos “Quatro candeeiros”, e não olhou uma única vez para trás!

Cada vez mais, a PGR, Beatriz Buchile, tem se agarrado ao somatório das quantias monetárias desviadas pelos predadores da corrupção em Moçambique para dar uma imagem dos malefícios que o fenómeno causa ao Estado.

 

No seu recente informe à Assembleia da República, ela relevou as cifras relativas ao ano transacto. Para “Carta”, essas cifras são disputáveis, porque não estão consolidadas. Elas foram arregimentadas para o informe na base dum pressuposto errado.

 

A PGR parte do princípio de que todos os casos em seu poder, abertos no passado pelo Ministério Público (MP), vão ser condenados, com sentenças transitadas em julgado. Mas os procedimentos da justiça desmentem esse pressuposto. Ou seja, hipoteticamente, nem todos os acusados pelo MP serão condenados. Logo, as cifras dos prejuízos causados ao Estado pela corrupção no ano passado são falíveis.

 

O pressuposto da PGR radica da sua obsessão condenatória. As acusações interpostas pelo Ministério Público devem ter uma única consequência: a condenação. Este é o “mindset” vigente.

 

Mas a realidade diz o contrário. Raramente um caso de corrupção é iniciado e terminado no mesmo ano. Não só unicamente pela lentidão da investigação, mas também pelos próprios procedimentos da Justiça. É sabido que casos condenados em primeira instância são objecto de recurso, os quais demoram anos a fio. Por outro lado, há condenações em primeiras instâncias cujos recursos obtêm parecer favorável do próprio Ministério Público, como se viu no caso LAM/Executive. O parecer do caso desmontou os pressupostos da condenação, afectado os argumentos da acusação do próprio Ministério Público.

 

Portanto, ao considerar valores do ano anterior, a PGR invalida todo o “modus operandi” da Justiça, agarrando-se, como dissemos, num paradigma errado.

 

O recurso à absolvição do antigo PCA da LAM, José Viegas, insere-se nesse paradigma errado. Assim como a insistência acusatória que levou à condenação de Paulo Zucula e Mateus Zimba. Este caso é um “bluff” de mau gosto da justiça em Moçambique, que revela um Ministério Público desesperado em ver “peixe graúdo” nas grades por corrupção, quando, no caso vertente, esse peixe devia estar fora de uma rede de arrasto que se faz opaca aos ditames da Justiça.

 

É inverosímil! Mateus Zimba recebeu dinheiro limpo da Embraer, como “prémio” da transação Embraer-LAM. Seu papel no negócio foi dúbio, como se provou, mas a condenação por lavagem de dinheiro não faz sentido. Só faria sentido se o Ministério Público tivesse demonstrado que o dinheiro da Embraer era dinheiro sujo...para Zimba poder lavá-lo.

 

Quanto a Paulo Zucula, sua condenação a 10 anos é completamente contraproducente. Ele recebeu pagamentos de Zimba no âmbito de um projecto imobiliário desenvolvido em Vilankulo, que hoje é uma das celebridades turísticas daquela cidade. Tudo feito abertamente. Limpinho...limpinho!

 

É de crer que todos estes três protagonistas de uma Justiça que, às vezes, se apresenta persecutória, como neste caso, sejam absolvidos em superior instância. Se houver justiça limpa! O Supremo ainda tem juízes de elevada integridade. E neles reside essa esperança. (Marcelo Mosse)

sexta-feira, 06 maio 2022 16:39

La famba bicha!

NelsonSaute

Jeremias Nguenha morreu a 4 de Maio de 2007. Passam hoje 15 anos. Provavelmente ainda sejam ouvidas as suas famosíssimas músicas “Vada Voxe” ou “La Famba Bicha”, que são, quanto a mim, um dos mais inventivos diagnósticos da sociedade moçambicana e das suas patologias inultrapassáveis. Permanecem actuais. Actualíssimas. 

 

Era um artista extremamente irreverente e fazia uma arrojada e acerba crítica política e social. Nascera a 19 de Março de 1972, em Inhambane. Cantava em changana. Cantava enérgica e violentamente em changana. Morreu cedo, subscrevendo o anátema moçambicano, com apenas 35 anos. Deixou, no entanto, o seu génio criativo registado nas músicas que compôs e cantou. 

 

Nguenha foi um artista carismático e popularíssimo. Isso devia-se, a meu ver, à sua música poderosa e às suas mensagens certeiras e veementes, mas também à sua imediata identificação com os mais desfavorecidos: a forma de vestir, a forma de se exprimir, a forma de dançar e as suas coreografias. A sua impetuosa denúncia social, sobretudo quando falava da pobreza ou das injustiças sociais, era uma resposta violenta à violência dos que sofriam e sofrem a exclusão, a pobreza e a marginalidade. 

 

Jeremias Nguenha tinha uma portentosa e magnética energia em palco e vê-lo actuar era um momento fortemente impactante. Vestia uniforme militar e tinha o cabelo sempre rapado. Andava com um exemplar da Bíblia. Era um provocador. As suas composições tinham metáforas e imagens virulentas: "obrigam-nos a pentear as nossas carecas” (tradução livre) é um dos seus versos mais profundos. O grande instigador era, antes de tudo, um grande poeta social e um magistral e intrépido cantor e actor. Ele não cantava apenas. Actuava no estrado. Era a voz dos esquecidos, dos desprezados, dos proscritos. 

 

Teve uma aparição fulgurante. As rádios tocavam-no regular e recorrentemente. Quando foi anunciada a sua morte, o choque foi inevitável. Mas parece que é o destino de grande parte dos artistas moçambicanos. Quantos talentos se perderam precocemente neste país? Quando estes (artistas) desaparecem sucede o silêncio e a escuridão sobre os seus percursos e suas vidas. Não são mais evocados, não são estudados, não existem biografias. Sabemos muito dos artistas estrangeiros e cultuamos o efémero entre nós. Pouco sabemos dos nossos melhores. 

 

Aliás, parece que a Pátria se regozija em ignorar os seus melhores intérpretes. Intérpretes num sentido mais extenso – de tradutores de um tempo e de uma sociedade. Como é este imenso e perseverante artista. Um cantor desassombrado e arrebatador. Jeremias Nguenha foi e é um dos melhores intérpretes do nosso destino individual e colectivo. Foi e é um dos maiores tradutores do devir moçambicano. 

 

La famba bicha!

sexta-feira, 06 maio 2022 07:53

As lições que a COVID-19 nos deixa

MoisesMabunda

Pelos dados de (não) contaminação, (não) internamentos e (não) óbitos, que vão sendo reportados nos últimos quatro a seis meses, tanto internamente no país, como internacionalmente, assim como pelas decisões que diferentes Estados vão tomando pelo mundo fora, comumente de relaxamento das medidas (muitas vezes drásticas) anteriormente tomadas, parece claro que a pandemia do coronavírus está em sentido regressivo - cada vez menos contaminações, menos internamentos e menos ocorrência de óbitos; menos pressão social.

 

Trata-se de um colossal alívio nas nossas mentes, da nossa sociedade e da comunidade mundial em geral, tendo em conta o que se viveu no planeta nos últimos dois anos e meio a três! Nunca nos passara pela cabeça que um dia passaríamos por aquilo que passamos. Melhor, nem tínhamos ideia que tal coisa existisse ou pudesse ser possível no mundo. A nossa geração dos 100 anos de idade - os que têm 110, 100 anos para cá - praticamente não conhece/eu uma verdadeira pandemia como esta que estamos vivenciando, afectando humanos. A gripe espanhola remonta a 1918, cerca de cem anos atrás, tendo tido, segundo relatos, entre 40 a 50 milhões de mortes. Pouco registo tem entre nós em África e particularmente em Moçambique.

 

Na quarta-feira passada, 20 de Abril, foi a vez do Estado moçambicano praticamente relaxar as medidas de segurança que tomara quase desde o início do terror da COVID-19. É, digamos assim, o retomar da vida interrompido em Janeiro/Fevereiro de 2020 que o Presidente Filipe Nyusi proclamou aos moçambicanos, ao levantar o Estado de Calamidade Pública.

 

Não que a terrível doença tenha chegado ao fim, nem pouco mais ou menos! Ninguém autorizado, seja OMS, ou outra instituição especializada com reputação internacional, disse semelhante coisa. Até porque a própria China, a… progenitora da catástrofe, regista numa das suas regiões, estes dias, mais uma onda de ressurgimento da doença, com contaminações crescentes; e na África do Sul há igualmente uma nova espiral de números… esta semana houve relato de mais de quatro mil contaminações num determinado dia. Bastante preocupante ainda!

 

Para trás ficam as muitas más memórias de um pandemônio mundial total. Fica a imensa dor da perda de nossos familiares directos e não directos; a perda de muitos amigos íntimos e não íntimos; a perda de conhecidos e desconhecidos; a perda de vizinhos; a perda de compatriotas, ilustres e não ilustres. Conosco fica, em nossas mãos - e não para trás, esquecido, arquivado - este terrível legado: uma sociedade amputada, meio decapitada, profundamente ferida. Muitas famílias completamente destroçadas, mutiladas; que jamais se reconstituirão da perda de membros queridos. Perdemos uma parte de nós próprios!

 

Não é, esta, nem se pretenda como tal, uma mensagem pós-hecatombe, de consolação depois de uma tragédia. A hecatombe que se abateu sobre nós ainda não pertence ao passado. Amanhã, podemos ser infectados; amanhã, podemos ser encaminhados para uma unidade sanitária. Não devemos, nem podemos e nem estamos autorizados, por enquanto, a considerar esta tragédia como “algo que passou"!

 

Temos, isso sim, que continuar a observar zelosamente todas as medidas que as autoridades de saúde nos recomendam. Observar todas as recomendações que nos deram, dão ou que nos venham a dar. A começar pelas aglomerações sociais.

Evitarmos aglomerações, sobretudo as desnecessárias - mesmo até as necessárias, cerimônias fúnebres, casamentos, aniversários, comemorações e coisas que tais, temos que ver como as fazemos e gerimos. Evitarmos provocar enchentes.

Temos que desafiar o nosso sentido de festa. Para nós, festa é aquela para a qual convidamos todo o mundo, enchente total. Temos que rever esta nossa tradicional forma de fazer festa. Temos igualmente de rever o nosso sentido de ‘colectivo’ - um desafio bastante colossal. É contrário ao espírito da nossa tradição, o comunitarismo. Para nós, a vida é estarmos em colectivo, juntos, bem apertadinhos! Certo. Mas temos que rever. Ou revemos, ou… morremos! Menos sábia é aquela sociedade que não consegue ir-se adaptando às mudanças que a natureza vai impondo.

Temos, igualmente, que tomar como legado algumas das recomendações que temos em mãos. EVITAR O APERTO DE MÃOS! É, também, difícil. Mas é necessário. Muito necessário. Diz o ditado, que nós bem conhecemos, mas olvidamos, que pela boca morre o peixe! O que leva as bactérias à boca não é a própria boca, são as mãos! Muitas vezes, levamos o alimento da mão directamente para a boca e aí… ficamos propensos a sermos contaminados! As mãos! As mãos são a chave de muita coisa: de sucesso, de riqueza, de bem estar; mas também, de insucesso, de fracasso e de… morte!

 

Vamos continuar a abstermo-nos de abraços. Abraços efusivos. Também é difícil para a nossa cultura. Mas é uma questão de optarmos: ou aderimos (abstermo-nos de apertar as mãos, abraçar), ou pomos em risco a nossa própria vida. Dizem os experts que o coronavírus veio para ficar!

 

A máscara. Vamos continuar a pôr a máscara. Como disse o Presidente Nyusi, “a máscara não dói”!

 

É o legado que a COVID-19 nos deixa!

NovaOmardino

A ideia era passar férias. Fazer fotos nos Shoppings luxuosos. Filmar uma “live” na torre Burj Khalifa e curtir a noitada. Os dias seguiam agradavelmente, afinal haviam feito uma boa poupança para que aqueles 30 dias naquela importante cidade dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Dubai, fossem memoráveis e inesquecíveis, em termos positivos. Até que numa aliciante noite de festas e luzes supersónicas, um grupo de mulheres que estavam hospedadas comigo, no Howard Johnson Plaza by Wyndham Dubai Deira, convidaram-me para o Doors Freestyle Grill – Steakhouse, onde provaríamos deliciosos pratos locais e estrangeiros.

 

O plano seguiu. Vestidas a rigor. Elegantes dos pés à cabeça. Estávamos vestidas para matar. A sensualidade e a elegância atraíam olhares e alimentavam desejos carnais de homens vestidos em malaias e roupa executiva. Lá estava eu, Maya de Almeida, de 26 anos de idade, nascida em Benguela, Angola, e residente em Coimbra, Portugal. Como jovem empreendedora e influenciadora digital, esperava encontrar em Dubai oportunidades de negócios e abrir novas portas comerciais. O que não sabia é que iria vivenciar algo suis generis que abalaria a minha vida para sempre!

 

Sentadas em direcção à porta de entrada do restaurante, as minhas companheiras de mesa iam lançando o charme e olhares para os homens que por ali entravam. Até que horas depois do convívio, os garçons trazem uma bandeja contendo telemóveis e pedindo que atendêssemos. Doutro lado da linha estava uma voz afável que começou por saudar-me e convidou-me para jantar na sua mansão, alegadamente porque havia ouvido falar de mim e que eu era linda de mais e tinha tudo que ele gostava numa mulher. Espantada, perguntei com quem teria ouvido falar de mim, ao que respondeu: do gerente do hotel onde eu estava hospedada!

 

Admirada pelo retrato fiel que o homem fazia de mim, acabei aceitando o convite e saímos todas juntas. Afinal, enquanto me mostrava preocupada, as outras estavam alegres porque sabiam para onde iam. Já na porta de entrada do restaurante, uma limousine nos aguardava. Entramos no veículo, lentamente e com tudo servido no interior, seguimos em direcção à residência do estranho homem. Chegando lá, fomos recebidas por guarda-costas que, cordialmente, nos levaram, cada uma, numa determinada direcção.

 

Finalmente, encontrei-me com o misterioso homem que, carinhosamente, me chamou pelo meu nome. Mostrou-me algumas fotos e convidou-me a fazermos um passeio pela sua mansão. Já no interior dela, colocou no meu pescoço um fio luxuoso e um relógio de diamantes. Sem rodeios, disse-me que pretendia provar o sabor da minha carne, enquanto dizia isso, um garçom trazia uma bandeja com um cocktail e muito dinheiro em Dólar e Euro – disse que tudo era para mim!

 

Confesso que naquele momento fiquei estupefacta. Nunca havia visto tanto dinheiro assim. Acabei aceitando. De imediato trouxeram uma cadeira de diamantes – toda brilhante. Sentei nela e em seguida fui carregada para um quarto. Chegando lá, o homem pediu-me que tirasse a roupa que eu vestia e ficasse de roupa interior, eis que prontamente o fiz!

 

Sem me aperceber, vejo um homem com alguns instrumentos de açoitamento nas mãos. Sem pedir, pegou-me com muita força e colocou-me uma coleira no pescoço e puxou-me pelas costas. Mordeu um mamilo e introduziu-me cinco dedos na vagina. Enquanto eu gritava por nunca ter passado por uma experiência do género, não sabia que aquilo era apenas o aquecimento para o que estava por vir!

 

- De repente, o homem pega num dispositivo e clica. Para a minha surpresa, por detrás da cama, havia uma parede falsa e estavam lá 10 homens, dois adolescentes e três cachorros pretos e enormes. Questionei-lhe o que era aquilo, ao que respondeu que a noite ainda era miúda! Pedi para que me deixasse sair e todos se riram. Algemaram-me os braços e as pernas. Puxaram as correntes a uma altura que combinava com a cintura deles e começaram a “bichar-me”!

 

Enquanto um penetrava agressivamente na vagina, o outro regava-me com champanhe e outros filmavam o acto. Depois de todos gozarem sobre mim de todos os cantos e usando objectos e eu já sem forças, deram-me de beber um cocktail estranho e açoitaram-me. Em seguida, obrigaram-me a ajoelhar, mesmo sem forças para mais, passaram um líquido no ânus e começou a vez dos adolescentes – todos sem camisinha! Depois vieram os cachorros, não aguentei. Caguei-me, levaram as minhas fezes e obrigaram-me a ingerir!

 

Já sem forças. Todos urinaram sobre mim. Desmaiei. Quando acordei estava num Iate, com mulheres, todas nuas e sujas. Do lado de fora, estavam homens abraçados com outras mulheres, como se tudo estivesse bem connosco. A viagem era para um outro local e, naquele momento, pensei em atirar-me pelo mar, mas não tinha como e questionava-me porquê estava a passar por aquilo, se eu não havia pedido!

 

Enquanto chorava e sofria de dor, as outras moças se questionavam quanto havia ganho por tudo que viveram nas mãos daqueles homens. O iate atracou e lá estavam os mesmos homens, se comportando como se nada tivesse acontecido. Tiraram-nos do iate. Veio um homem com uma mangueira e começou a despejar água sobre nós. Terminado o acto, atiraram toalhas e entregaram para cada uma mala com notas em USD e Euro.

 

Retiraram-nos daquele espaço e na mesma limusine levaram-nos ao hotel. Estranhamente, estávamos vestidas com roupas caras que escondiam a humilhação por que passamos. E, embora para algumas, aquilo fosse algo habitual, para mim era um símbolo de auto-negação da minha essência e um grande desrespeito sobre o meu ser!

 

Por tudo que vivi naquela noite, percebi que aquela vida luxuosa que por lá se vive escondia diversas sujidades sociais e síndromes de psicopatia que homens ricos de países como os EAU vivem, o que a roupa supostamente religiosa ou cultural esconde. Percebi o tamanho da falsidade que as pessoas vivem. Jurei naquele momento nunca mais pisar Dubai ou qualquer outro país com características idênticas.

 

Ultimamente, quando vejo este escândalo a ser bastante referenciado nas redes sociais e televisões, fico rezando para que minha imagem não apareça nos vídeos, pois afectaria bastante a minha autoestima e a reputação da minha família. 

 

Acreditem que, desde que voltei daquelas férias em Dubai em 2018, nunca mais consegui envolver-me com qualquer homem, até mesmo com o meu então namorado. Passei a ver todos os homens como porcos e demónios. Percebi que o mundo está cheio de doentes, mas no meio desta minha solidão tento acordar deste pesadelo que hoje se chama Dubai Porta Potty e espero que algo seja feito para que outras mulheres não passem pelo que vivi em Dubai, porque as cicatrizes ainda são visíveis no meu corpo!

 

PS: Nome fictício. Texto de imaginação e escrito com base nos episódios do escândalo Dubai Porta Potty.