Os ataques armados que se verificam na província de Cabo Delgado, desde 05 de Outubro de 2017, colocam aquela província “sob risco da «armadilha do conflito», segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização da sociedade civil que se dedica à defesa da transparência, integridade e boa governação.
Segundo o CIP, designa-se “armadilha do conflito” ao círculo vicioso entre conflitos e desempenho económico, em que os conflitos atrasam o crescimento económico e o desenvolvimento, aumentando, por sua vez, a probabilidade da ocorrência de mais conflitos.
Na explicação do CIP, o fenómeno pode ocorrer em Cabo Delgado pelo facto de as populações locais verem “frustradas” as suas “elevadas expectativas” de melhoria de condições de vida, a curto prazo, como resultado dos investimentos de grande envergadura que se prevê que ocorram na província.
“Com a chegada dos mega-projectos a esta província, a população local alimentou um elevado nível de expectativas relativamente à possibilidade de melhoria das condições de vida e, não se sentindo beneficiárias destes projectos, verifica-se insatisfação que, conjugada às precárias condições de vida, torna-os alvos fáceis de recrutar pelos insurgentes, principalmente os jovens”, considera a análise publicada pelo CIP, no passado domingo, no Boletim sobre Anticorrupção, Integridade e Transparência.
Lembre-se que a província de Cabo Delgado possui reservas de gás natural estimadas em 170 trilhões de pés cúbicos, segundo dados do Instituto Nacional de Petróleo, tornando-se, desta forma, uma das maiores reservas de gás natural do mundo. A Total, líder da Área 1, prevê iniciar com a sua produção em 2025, num investimento avaliado em 23 biliões de USD. Com o início da produção, o Estado moçambicano prevê arrecadar receitas fiscais de cerca de 2.1 biliões de USD.
Entretanto, segundo o CIP, a província de Cabo Delgado perdeu cerca de 2 biliões de Mts em receitas fiscais nos primeiros dois anos dos ataques armados, devido à redução da produção e/ou paralisação das actividades nos sectores produtivos que contribuem para a arrecadação de receitas e para o crescimento da economia local, nomeadamente agricultura, pesca, turismo e o comércio em geral.
Para o CIP, o descontentamento generalizado que se verifica naquele ponto do país, conjugado às precárias condições de vida, torna a população “alvo fácil” a recrutar pelo grupo “terrorista”, sob promessas de rendimento ou remuneração.
“Com o conflito, aumenta a pobreza através da destruição e consequente atraso no desenvolvimento e, com a pobreza, a população é mais propensa a aderir ao conflito. A população, ao aderir aos grupos armados, deixa de contribuir para o desenvolvimento local e contribui para a destruição, prolongando o círculo vicioso pobreza-conflito”, defende a organização.
De acordo com a análise, as acções do Governo não têm sido eficazes para garantir a segurança da população e os seus bens e o acesso aos serviços básicos. “Por outro lado, a província regista mais da metade de casos confirmados da Covid-19 em Moçambique e, segundo a população local, há falhas na comunicação por parte do Governo e as comunidades continuam a não observar as medidas de prevenção contra esta doença, particularmente nos distritos afectados pelos ataques. Combinados estes factores cimentam a percepção por parte da população local de abandono pelo Governo”, sublinha fonte.
Para a organização, a recém-criada Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN) deve criar incentivos para a melhoria do ambiente de negócios na província, para atrair mais investimentos e catapultar os já existentes, abrindo possibilidade para a geração de mais emprego e geração de renda para a população local.
“O Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (INEFP), em coordenação com a ADIN, deve criar programas de formação e assistência à procura e enquadramento ao emprego, particularmente para os jovens; as Forças de Defesa e Segurança (FDS) devem engendrar estratégias e esforços eficazes para garantir a segurança e a limitação das mortes e perdas do capital físico (uma das formas pode ser aumentando o efectivo nos diferentes distritos da província); o envolvimento de todas as forças vivas da sociedade a nível nacional, com vista a ver esta situação colmatada. E ainda, a necessidade de intervenção da SADC para reunir esforços e desenhar estratégias para fazer face a estes ataques, sob o risco e a possibilidade deste conflito se alastrar a outros países da região”, recomenda a fonte. (Carta)
O sector da saúde diz ainda não estar preparado para lidar com o aumento de casos de infecção pelo coronavírus no país. A garantia foi dada esta segunda-feira pela Directora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, durante a conferência de imprensa de partilha de dados sobre a evolução da Covid-19 no país e no mundo.
“Não estamos preparados para um aumento de infecções. É por isso que a estratégia do Ministério da Saúde, aprovada pelo Governo, é que nos concentremos na prevenção, porque, pela história da Covid-19, nenhum país conseguiu dar resposta a um grande número de doentes”, explicou.
Por isso, a fonte disse estar bastante preocupada com o aumento de número de casos no país, pois, o seu sector tem vindo a trabalhar na difusão de mensagens de prevenção. Entretanto, afirmou que as unidades sanitárias têm condições para dar resposta, porém, não têm capacidade para atender uma grande avalanche.
Assim sendo, Rosa Marlene disse ainda que o sector da saúde lança um apelo neste momento para que as pessoas continuem a difundir as mensagens de prevenção porque são a única forma de conter a contaminação no país. (Marta Afonso)
Sessenta e cinco dias depois do registo do primeiro caso pelo novo coronavírus, Moçambique contabiliza o seu primeiro óbito devido à pandemia. Nesta segunda-feira, o Ministério da Saúde (MISAU) anunciou que o primeiro óbito de Covid-19, no território nacional, é uma adolescente de 13 anos de idade, que já estava nos radares das autoridades da saúde por padecer de outras doenças crónicas e o seu último internamento teve lugar há cerca de três meses.
Segundo a Directora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, a vítima mortal foi levada ao hospital, pela última vez, no passado dia 20 de Maio para o controlo e foi nesse momento em que os profissionais da saúde detectaram febre e tosse na mesma, tendo sido submetida ao teste de Covid-19, o qual deu positivo.
“A amostra foi colhida no dia 20 de Maio, na cidade de Nampula, e foi testada no dia 24 do mês corrente no Instituto Nacional de Saúde, cujo resultado foi anunciado esta segunda-feira, depois do óbito do paciente, porque a amostra estava ainda em processamento”, revelou a fonte.
Marlene afirmou que, de domingo para segunda-feira, o MISAU diagnosticou mais 15 pessoas infectadas com o novo coronavírus, que resultaram de 331 suspeitos, totalizando 209 casos, dos quais 58% são crianças menores de 14 anos de idade. As amostras resultam todas da vigilância activa no sector público e privado.
Descrevendo os novos casos, Marlene disse tratar-se de cidadãos moçambicanos com idades compreendidas entre cinco a 24 anos de idade, sendo 13 do sexo masculino e dois feminino. Cinco são assintomáticos e 10 apresentam sintomas leves a moderados, pelo que todos se encontram em isolamento domiciliar.
Na interacção com a imprensa, Marlene revelou ainda a recuperação de mais 20 pessoas, todas da Península de Afungi, distrito de Palma, província de Cabo Delgado. Os recém-recuperados são do sexo masculino, com faixa etária entre 25 e 60 anos de idade, sendo que apenas oito é que são moçambicanos. Assim, o país já conta com 71 pessoas recuperadas da Covid-19, pelo que continua com 137 casos activos. (Marta Afonso)
O Governo de Filipe Nyusi volta, esta semana, à Assembleia da República (AR) para prestar esclarecimentos aos deputados. Trata-se da Sessão de Perguntas ao Governo, em que, tal como demanda o regimento da AR, cada bancada formula e endereça ao Executivo um total de cinco questões do domínio político, económico e social.
Ao todo, o Executivo recebeu das três bancadas que compõe o órgão, nomeadamente, a Frelimo, Renamo e o Movimento Democráticos de Moçambique (MDM), um total de quinze questões. Ataques armados nas regiões centro e norte e o intricado e pouco consensual assunto das propinas nas escolas e universidades públicas (regime pós-laboral) e privadas, nos mais variados níveis são, para já, o prato forte.
As bancadas do MDM e da Frelimo exigem que o Governo detalhe sobre acções, tendo em vista a devolução da tranquilidade à população das províncias de Cabo Delgado, Manica e Sofala.
A província de Cabo Delgado, lembre-se, é palco, desde Outubro de 2017, de ataques armados, protagonizados por indivíduos “desconhecidos” e cujas reais motivações, até hoje, não foram tornadas públicas. O grupo, que o Governo chama de terroristas, tem atacado alvos civis e militares. Estima-se que, desde Outubro de 2017 a esta parte, pouco mais de 1000 pessoas perderam a vida em consequência dos ataques armados e várias infra-estruturas, entre públicas e privadas, ficaram total e parcialmente destruídas.
Na região centro do país, concretamente nas províncias de Manica e Sofala, está, segundo a Polícia da República de Moçambique (PRM), a auto-intitulada junta militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo, que tem visado alvos civis e unidades policiais.
O grupo, que se diz dissidente da Renamo, argui atacar autocarro de transporte de passageiros e viaturas de transporte de mercadoria diversa precisamente porque não concorda com a actual liderança da Renamo, que tem à cabeça Ossufo Momade, a quem o acusa de estar a trair os ideais de Afonso Dhlakama, falecido presidente daquela formação político-partidária.
A bancada da “perdiz” quer que o Executivo apresente as estratégias para evitar que o sector da educação colapse, visto que, actualmente, assiste-se a uma bandalheira com as instituições de ensino a violarem os contratos previamente celebrados com os estudantes, numa clara alusão as aulas à distância, quando deviam ser presenciais.
As aulas estão, lembre-se, suspensas na sequência da declaração do Estado de Emergência em Abril passado no contexto da prevenção e combate à pandemia da Covid-19 que, esgotados os primeiros 30 dias, foi prorrogado por igual período, estando o término da vigência previsto para 30 de Maio corrente.
A par das “chorudas” propinas, está, igualmente, no centro da discórdia as fichas de apoio, as aulas através de plataformas digitais, rádio e televisão, num contexto em que a esmagadora maioria dos cidadãos moçambicanos não têm acesso a energia eléctrica, internet televisão, sobretudo de sinal fechado.
O elevado custo da energia eléctrica, água, bem como a questão da Covid-19 são outros tópicos que as bancadas esperam explicações detalhadas do Governo de Filipe Nyusi, isto no que respeita às acções, tendo em vista à mitigação do seu impacto para os cidadãos.
Aliás, é igualmente de salientar a questão dos raptos, um negócio altamente lucrativo em resultado das avultadas somas que se pagam nos resgates e que os órgãos de justiça têm-se revelado cada vez mais incapazes de conter este fenómeno, bem como o cabal esclarecimento dos casos registados. (Carta)
A consultora Economist Intelligence Unit (EIU) considerou ontem que a decisão do Conselho Constitucional relativamente à nulidade das dívidas da MAM e ProIndicus dificulta o acesso de Moçambique e da ENH aos mercados financeiros internacionais.
“A decisão pode complicar o acesso de Moçambique a financiamento externo”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.
Num comentário à recente decisão do Conselho Constitucional sobre a nulidade dos empréstimos contraídos pelas empresas públicas Mozambique Asset Management e ProIndicus, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas dizem que “a decisão judicial declara nulos os empréstimos organizados pelo Credit Suisse e pelo VTB, e pode dar mais peso aos esforços do governo para desafiar a validade das garantias estatais dadas aos empréstimos”.
O Governo tem afirmado que o Estado só vai pagar parte dos empréstimos, e o restante será da responsabilidade das empresas, lembram os analistas da Economist, acrescentando que “o Credit Suisse e o VTB têm argumentado que o governo moçambicano é responsável pelos pagamentos”.
Para a unidade de análise da Economist, o endividamento de 1,5 mil milhões de dólares para financiar a participação de 15% da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos na Área 1 pode ser, assim, mais difícil, mas “o recente colapso na atividade económica e na confiança dos investidores deve adiar estes esforços”.
O Conselho Constitucional de Moçambique considerou nulos todos os atos relativos aos empréstimos contraídos pelo Estado para as empresas Proindicus e MAM, segundo um acórdão divulgado a 12 de maio, relacionado com o caso das dívidas ocultas.
“O Conselho Constitucional declara a nulidade dos atos relativos aos empréstimos contraídos pelas empresas Proindicus e Mozambique Asset Management (MAM) e das garantias soberanas conferidas pelo Governo, em 2013 e 2014, respetivamente, com todas as consequências legais”, lê-se no documento.
A decisão é idêntica à que já havia sido tomada em junho de 2019 quando o órgão foi chamado a deliberar sobre o empréstimo à Ematum.
No conjunto, as verbas usadas em nome das três empresas públicas moçambicanas (Ematum, MAM e Proindicus) totalizam os 2,2 mil milhões de dólares do escândalo das dívidas ocultas, ainda sob investigação judicial – e com EUA e Moçambique a disputar na África do Sul a extradição do antigo ministro das Finanças Manuel Chang. (Lusa)
Os munícipes da vila de Marrupa, na província do Niassa, viveram momentos de pânico, na noite do passado sábado, depois de alguns membros da Polícia da República de Moçambique (PRM), naquele ponto do país, terem recorrido às armas para fazer cumprir as medidas decretadas durante o período de Estado de Emergência.
A situação criou pânico naquela vila autárquica, uma vez que, em Fevereiro deste ano, um grupo armado atacou uma aldeia, localizada no vizinho distrito de Mecula. O distrito de Marrupa faz limite com o distrito de Mecula, a norte e, a este, com os distritos de Mueda e Balama, da província de Cabo Delgado.
No ataque à aldeia de Mecula, os homens armados queimaram residências e, numa perseguição policial, oito deles foram abatidos pela corporação. Entretanto, em Marrupa, a situação terá sido diferente: a PRM é que disparou para o ar para que os munícipes daquele ponto do país cumprissem o Decreto Presidencial, que estabelece o Estado de Emergência no país.
“Carta” soube que a situação não só aconteceu no distrito de Marrupa, como também na cidade de Lichinga, capital provincial do Niassa, onde a PRM teve de recorrer às balas para ordenar os cidadãos muçulmanos a observarem as medidas de prevenção do novo coronavírus, que já infectou 209 e causou um óbito. (Carta)
O Relatório da Execução do “reconduzido” Orçamento do Estado de 2019, no período de Janeiro a Março de 2020, revela que o Governo gastou mais do que cobrou em receitas para o Estado. No documento, a que “Carta” teve acesso, consta que o Executivo cobrou 54.631,9 milhões de Meticais, de receitas ao Estado (contra 49,153.7 milhões de Meticais de igual período de 2019), equivalentes a 21,8% da previsão anual.
Todavia, o Relatório mostra que as despesas totais realizadas pelo Governo atingiram um montante de 68.177,1 milhões de Meticais, correspondente a 19,7% do Orçamento anual e 13.545,2 milhões acima do que o Executivo colectou em receitas.
“Para a cobertura do défice, o Estado teve de recorrer ao financiamento interno e externo nos valores de 9.352,4 e 6.755,6 milhões de Meticais, correspondentes a 48,1% e 8,9%, respectivamente. Os recursos mobilizados no período totalizaram o montante de 76.014,7 milhões de Meticais, tendo sido realizadas despesas no valor de 68.177,1 milhões de Meticais resultando numa variação de saldos no montante de 7.837,7 milhões de Meticais”, lê-se no informe.
Dos 54.631,9 milhões de Meticais em receitas, o Relatório de Execução do Orçamento do Estado, no período de Janeiro a Março de 2020, relata que os Impostos sobre o Rendimento tiveram uma cobrança de 21.679,7 milhões de Meticais, equivalentes a 21,3% da previsão anual e a um crescimento de 27,5% em termos nominais.
Por sua vez, o Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC) teve uma cobrança de 11.107,3 milhões de Meticais, correspondente a 17,2% da previsão anual e a um crescimento de 41,7%.
No Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRPS), a fonte refere que foram cobrados 10.468,7 milhões de Meticais, equivalentes a 28,6% da meta anual e a um crescimento nominal de 15,3% em relação a igual período do ano transacto, justificado pelo constante controlo das retenções na fonte e das entregas às Direcções de Área Fiscal, feitas pelas empresas e pela função.
Das despesas avaliadas em 68.177,1 milhões de Meticais, correspondente a 19,7% do Orçamento anual, o relatório reporta que as Despesas de Funcionamento atingiram 50.713,3 milhões de Meticais, 6.030,5 milhões de Meticais em Despesas de Investimento e 11.433,2 milhões de Meticais, em Operações Financeiras correspondentes a 25,8%, 5,6% e 27,5%, do Orçamento respectivamente.
“As Despesas de Funcionamento absorveram o equivalente a 74,4% das despesas totais, as Despesas de Investimento 8,9%, sendo 3,9% na componente Interna e 5,0% na componente Externa e as Operações Financeiras 17,0%. A distribuição territorial das despesas mostra que os órgãos e instituições de âmbito central absorveram o equivalente a 63,2% da despesa total, tendo os de âmbito distrital, provincial e autárquico, absorvido o equivalente a 24,1%, 11,6 e 1,1%, respectivamente”, lê-se no relatório.
Desagregando, a fonte mostra que as despesas com o Pessoal tiveram uma realização de 33.229,3 milhões de Meticais, correspondente a 29,4% do Orçamento anual, tendo os Salários e Remunerações alcançado uma realização equivalente a 29,9% e as Demais Despesas com o Pessoal 19,6%. Em contrapartida, o documento que temos vindo a citar diz que, em comparação com igual período do exercício económico anterior, este ano, as Despesas com o Pessoal registaram um crescimento de 9,9% em termos reais, sendo que os Salários e Remunerações registaram um crescimento de 10,1% e as Demais Despesas com o Pessoal 3,5%.
“O crescimento registado na rubrica de despesas com o pessoal explica-se pela introdução de diversos Actos Administrativos (novas fixações, actualizações, promoções, progressões e mudanças de carreira ocorridos no segundo semestre de 2019 cujo impacto se reflecte nas folhas de salário do corrente ano e de outros Actos Administrativos que não tinham sido previstos no respectivo exercício”, explica o informe do Governo.
Do relatório, consta ainda que os Bens e Serviços absorveram o montante de 3.940,2 milhões de Meticais, equivalente a 15,1% da Dotação anual e a um decréscimo de 1,5% em termos reais, relativamente a igual período do exercício económico anterior, o que se justifica pela realização das despesas com base no princípio duodecimal. (Evaristo Chilingue)
No passado dia 19 de Maio, as autoridades da Saúde anunciaram a morte de um paciente que havia sido testado positivamente para o Covid 19. Mas essa morte, frisaram, não foi causa directa do Covid 19. O paciente tinha outras patologias. A sociedade torceu o nariz. Se tinha outras patalogias porquê foi mencionado no contexto da informação estatística do Covid 19?, questionou-se. A opinião pública geral pareceu confusa, lançando logo seu olhar de desconfiança ao Ministério da Saúde.
Ontem, a Dra Rosa Marlene anunciou o primeiro óbito pelo Covid 19 em Moçambique. Uma criança de 13 anos de idade, de Nampula, que tinha também outras patologias. As autoridades frisaram que, apesar de diversa patologia, a criança morreu mesmo devido à doença pandémica, tanto mais que mostrara sintomatologia objectiva: tosse e febres.
A opinião pública torceu novamente o nariz, desconfiando da informação oficial. Aqui, a desconfiança teve honras de uma informação anónima, circulada nas redes sociais, que reza assim: “a tal criança, que perdeu a vida em Nampula, estava há quase 3 meses hospitalizada e a causa da morte foi anemia/leucemia (???)”.
Muita gente não compreendeu a razão por que o MISAU fez uma correlação causal da morte da criança com o Covid 19. E no caso anterior, descartou qualquer associação. Esta desconfiança é um sinal de alerta para a Saúde, sobretudo agora que estamos entrando para a chamada transmissão comunitária. O desafio de comunicar assertivamente é maior. É preciso também alguma dose de pedagogia. O pior que pode acontecer nesta fase é as autoridades de Saúde perderem a confiança da opinião pública, colocando em risco todos os seus esforços de public awareness. Há, pois, uma grande batalha de comunicação.
A cinco dias do término do Estado de Emergência, decretado a 30 de Março e prorrogado a 29 de Abril, Moçambique regista o maior número de casos de infecção pela pandemia do novo coronavírus em apenas 24 horas. De sábado para domingo, revelaram as autoridades da saúde, o país diagnosticou 26 casos positivos de Covid-19, depois de terem submetido ao teste um total de 516 suspeitos, um número também recorde de testes no país.
Segundo a Directora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, os 26 casos resultam da vigilância activa, do rastreio de rotina nas unidades sanitárias e da “retestagem” de alguns casos, no Acampamento da Total, na Península de Afungi, distrito de Palma, província de Cabo Delgado.
Assim, dos novos infectados, afirmou a fonte, 24 são moçambicanos, um sul-africano e um norte-americano, todos com idades entre 15 a 44 anos, sendo que sete são do sexo feminino e 19 do sexo masculino. Dos novos casos, 22 estão na província de Cabo Delgado (dois em Palma, oito no Acampamento de Afungi e 11 na cidade de Pemba), três na província de Nampula e um na província de Maputo. Nove são assintomáticos e os restantes apresentam sintomas leves a moderados.
Com o registo de mais 26 casos de infecção pela Covid-19, o país passa a contar com 194 casos, dos quais 168 de transmissão local e 26 importados. Deste número, 51 pessoas já são tidas como recuperadas, havendo assim 143 casos activos.
Falando em mais uma conferência de imprensa de actualização de dados sobre a Covid-19 no país e no mundo, Marlene revelou ainda que o país conta com mais um caso de internamento, sendo que o indivíduo internado é moçambicano, com idade compreendida entre 34 e 44 anos, e encontra-se no Hospital Provincial de Inhambane. À sua entrada, garante a fonte, o cidadão tinha insuficiência respiratória aguda.
Segundo o Director do Instituto Nacional de Saúde (INS), Ilesh Jane, o país está a entrar numa semana bastante complicada, devido ao número de infecções registado logo no primeiro dia da semana epidemiológica. (Marta Afonso)
A Inspecção-Geral dos Recursos Minerais e Energia (IGREME) diz ter desmantelado, em 2019, uma entidade que viciava o peso de botijas de gás de cozinha da Petrogás, revelou semana finda, à “Carta”, o Inspector-Geral no Ministério dos Recursos Minerais e Energia, Obete Matine.
A viciação de botijas, lembre-se, tornou-se pública em princípios do ano passado e a Petrogás e Petrogalp eram as indiciadas. Todavia, segundo Matine, apenas as botijas da Petrogás (cor verde) é que eram mal enchidas e essa adulteração era feita por uma entidade localizada na província de Inhambane.
“Nós trabalhamos no ano passado com a Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE) e bloqueamos uma linha de produção ilegal em Inhambane. Havia pessoas que faziam enchimento ilegalmente e colocavam o produto a circular no mercado. Parecia da Petrogás, mas de facto não tinha sido a Petrogás a fazer o enchimento”, disse Matine, sem precisar o nome.
Para além de desmantelar a linha de enchimento, o nosso interlocutor acrescentou que a Inspecção que dirige retirou, do mercado, todas as botijas viciadas.
Em relação à Petrogalp, que também foi mencionada, o nosso entrevistado disse que a IGREME, junto da INAE, também fez um trabalho de vistoria do processo de enchimento das botijas “e concluímos que estava tudo bem, mas ao nível da Petrogalp havia problema de falta de selos (que comprovam autenticidade do gás existente) nas botijas. Apuramos que estava relacionado a dificuldades que a empresa registava na importação de selos, mas esse problema já foi ultrapassado”.
Ainda no contexto da denúncia em questão, o Inspector-Geral dos Recursos Minerais e Energia lembrou que, para além da adulteração do peso, o que afectava em grande medida o consumidor, principalmente as famílias, os clientes reclamavam ainda o facto de as botijas estarem sujas. Matine garantiu que todas as distribuidoras foram recomendadas a lavá-las.
Importa referir que, com a chegada do inverno, altura em que se verifica maior consumo/procura do gás de cozinha, um factor que pode levar à viciação do peso das botijas, a IGREME diz-se atenta a qualquer irregularidade e incentiva a denúncia por parte dos consumidores. (Evaristo Chilingue)