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Redacção

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GNL plataforma minerais min

A concessionária da Área 4 na Bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado, está a preparar uma segunda plataforma flutuante, cópia da primeira e designada Coral Norte para duplicar a extracção de gás ao largo da costa norte de Moçambique, refere um estudo preparatório.

 

“A concessionária da Área 4 propõe como forma mais eficiente de maximizar a recuperação e rentabilização dos recursos de gás da reserva Coral um segundo projecto FLNG”, lê-se no estudo de pré-viabilidade ambiental, citado pela Zitamar.

 

De acordo com a fonte, o investimento previsto é de 7 biliões de USD e vai ainda ser sujeito à aprovação do Governo. Se o cronograma correr como previsto, a plataforma começará a produzir no segundo semestre de 2027, ou seja, poderá arrancar ainda antes dos projectos em terra, que dependem de implicações de segurança devido ao terrorismo em Cabo Delgado.

 

A Coral Norte ficará estacionada 10 quilómetros a Norte da Coral Sul cuja produção arrancou em Novembro, tornando-se no primeiro projecto a tirar proveito das grandes reservas da bacia do Rovuma.

 

A Plataforma Coral Sul FLNG, operada pela empresa italiana Eni, já extrai e liquefaz gás natural desde Outubro de 2022. De lá até Maio último, dados a que “Carta” teve acesso indicam que o Coral Sul já canalizou 34 milhões de USD em receitas aos cofres do Estado.

 

A unidade flutuante de liquefação de gás natural, instalada no alto mar, no norte de Cabo Delgado, tem capacidade para produzir 3.37 MTPA (milhões de toneladas por ano), usando os recursos provenientes do reservatório isolado Coral Sul. O primeiro carregamento de gás natural foi anunciado pelo Presidente da República, a 13 de Novembro de 2022, numa comunicação à nação.

 

O investimento para este projecto é também de 7 biliões de USD, prevendo-se a geração de lucros directos na ordem de 39.1 biliões de USD, dos quais, cerca de 19.3 biliões de USD para o Estado durante 25 anos, resultantes de Impostos (IPP e IRPC), bónus, taxas e da partilha do petróleo-lucro.

 

As concessionárias da Área 4 da Bacia do Rovuma incluem a Mozambique Rovuma Venture (MRV) S.p.A. que é uma Joint Venture co-propriedade da Eni, ExxonMobil e CNODC, com 70% de interesse participativo, a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos E.P. (ENH), a Galp Energia Rovuma B.V. e a KOGAS Moçambique Ltd., todas com 10%. (Carta)

ajuda humanitaria min

O clima, os conflitos armados, os altos preços dos alimentos e as crises económicas pós-COVID-19 causaram insegurança alimentar recorde no Corno da África, com cerca de 60 milhões de pessoas precisando urgentemente de ajuda, alertaram agências humanitárias da ONU.

 

"Estima-se que cerca de cinco milhões de crianças menores de cinco anos enfrentem desnutrição aguda em 2023 na região do Corno de África", diz um comunicado da ONU divulgado na última segunda-feira, citando Liesbeth Aelbrecht, gerente de incidentes ligados à emergência no Corno da África na Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

As agências humanitárias da ONU, em comunicado conjunto, alertaram que as preocupações climáticas são fundamentais para a segurança alimentar nos próximos meses.

 

As previsões globais indicam que as condições do padrão climático El Nino já estão presentes e se fortalecerão durante o resto do ano, o que pode trazer chuvas acima da média durante a estação chuvosa de Outubro a Dezembro nas partes orientais da região, incluindo grande parte do Quénia, a região somali da Etiópia e a Somália.

 

"O El Niño pode reduzir um pouco o risco de inundações em áreas propensas a inundações, como o Sudão do Sul", disse Brenda Lazarus, economista de segurança alimentar e alerta do Escritório Sub-regional da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) para a África Oriental.

 

Segundo dados da ONU, as 60 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave incluem mais de 15 milhões de mulheres em idade reprodutiva, 5,6 milhões de meninas adolescentes e cerca de 1,1 milhão de mulheres grávidas.

 

Segundo a ONU, cerca de 360.000 mulheres devem dar à luz nos próximos três meses. As mulheres forçadas a procurar comida para sobreviver "fazem isso às custas de sua própria saúde", afirmou Michael Ebele, consultor humanitário regional do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) para a África Oriental e Austral.

 

A ONU diz que a desnutrição entre mães grávidas coloca os seus filhos ainda não nascidos e lactantes em risco de desnutrição e propaga a desnutrição por todo o ciclo de vida nas comunidades.

 

Mães desnutridas também não são capazes de suportar complicações na gravidez, o que as coloca em risco de perder o filho. O Corno da África inclui a Somália, Etiópia, Eritreia e Djibouti. (ONU)

 

desemprego rsa indice

O rendimento médio mensal na África do Sul apresentou uma queda trimestral de 2,7%, entre Novembro de 2022 e Fevereiro deste ano, passando de R26.002 para R25.304. Em relação ao ano anterior, o rendimento médio mensal aumentou 6,8%. Os dados constam das Estatísticas trimestrais de emprego (QES) divulgadas em Março deste ano.

 

Paralelamente, o emprego total diminuiu 21.000, ou seja, -0,2% em relação ao trimestre anterior, passando de 9.991.000 em Dezembro de 2022 para 9.970.000 em Março de 2023. Isso deveu-se principalmente a reduções no comércio (-36.000 ou  -1,6%), serviços às empresas (-32 000 ou -1,4%), transportes (-2 000 ou -0,5%) e construção (-2 000 ou -0,4%).  No entanto, houve aumentos nos serviços comunitários (41 000 ou 1,5%), mineração (5 000 ou 1,1%), manufatura (4 000 ou 0,3%) e electricidade (1 000 ou 1,8%).

 

O emprego total diminuiu 97 000 ou -1,0% em termos homólogos entre Março de 2022 e Março de 2023.

 

De acordo com o instituto sul-africano de estatísticas (Stats SA), o emprego a tempo parcial aumentou 42 000 ou 3,8% em termos trimestrais, de 1 110 000 em Dezembro de 2022 para 1 152 000 em Março de 2023. Isto deveu-se em grande parte a aumentos nas indústrias de serviços comunitários (46 000 ou 9,7%), serviços empresariais (25 000 ou 12,1%) e transportes (1 000 ou 6,3%).  O sector eléctrico não apresentou variação trimestral.  No entanto, registaram-se quebras nas indústrias de comércio (-22 000 ou -8,6%), construção (-7 000 ou -9,2%) e indústria transformadora (-1 000 ou -1,3%).

 

O mesmo aconteceu com o bónus pago aos funcionários que diminuiu de R22,5 biliões ou -25,2% de R89,5 biliões em Dezembro de 2022 para R66,9 biliões em Março de 2023 devido principalmente a reduções nos serviços comunitários, manufatura, comércio, construção, transporte e electricidade. 

 

Este ambiente pouco animador acontece numa altura em que, a partir de 2030, não haverá novos trabalhadores moçambicanos empregues nas minas ou farmas da África do Sul, segundo alertou recentemente a ministra do Trabalho Margarida Talapa.

 

“Os empregadores das minas, até 2030, vão reduzir o número de trabalhadores [estrangeiros], mas até lá nenhum moçambicano vai perder o emprego”, disse a ministra.

 

O BusinessLIve da África do Sul informou que “espera-se que cerca de 30.000 trabalhadores migrantes estrangeiros tenham deixado a indústria de mineração por atrito natural até 2030, deixando apenas 5.000”.

 

“Isso alinharia a indústria com os objectivos do governo [sul-africano] no projecto de política nacional de migração laboral, que propõe a introdução de quotas para trabalhadores estrangeiros”, acrescenta a mesma fonte. “O projecto de política, que foi divulgado para consulta pública pelo departamento de emprego e trabalho, foi formulado no contexto da crescente hostilidade (xenofobia) aos estrangeiros, que têm sido cada vez mais culpados pela taxa de desemprego de 35% na África do Sul”

 

Recorde-se que o instituto sul-africano de estatísticas avançou que menos de 10 milhões de pessoas estão empregues na África do Sul numa população de mais de 60 milhões. (Carta⁄ Stats SA) 

max tondela eco

O valor faz parte de um total de pouco mais de 1,5 bilhão de dólares que o Estado deverá reembolsar, este ano, aos serviços de dívida, segundo o Ministro da Economia e Finanças, Max Tonela, que garantiu que o Governo tem condições para cumprir a meta até Dezembro deste ano.

 

O Estado tem uma dívida de 14,4 mil milhões de dólares norte-americanos, sendo 70 por cento externa e 30 por cento interna. Até ao momento, nenhum esclarecimento sobre o estágio actual do endividamento público havia sido dado pelo Estado.

 

Esta terça-feira, em conferência de imprensa para a qual apenas foram convidados jornalistas de órgãos estrangeiros, o Ministro da Economia e Finanças, Max Tonela, deu algumas explicações sobre este e outros assuntos atinentes à economia nacional. O jornal O País teve acesso a uma gravação de áudio, em que o ministro informa que o Estado já pagou cerca de 48 por cento dos encargos da dívida pública projetados para este ano. 

 

“Para este ano, nós temos, do ponto de vista do reembolso do capital e dos juros, quer com a dívida interna, quer com a dívida externa, recursos avaliados em um bilião, quinhentos e setenta e um milhões de dólares americanos e, até este momento, foram já pagos pelo Estado 764 milhões de dólares americanos, cerca de 48 por cento do serviço de dívida pública projectado para este ano e o Governo tem todas as condições para continuar a cumprir”, desvendou o ministro.

 

Segundo o dirigente, tais condições reflectem-se nas decisões tomadas pelo Governo, como a Tabela Salarial Única. “As outras têm a ver com a diversificação de fontes de receitas”, esclareceu Max Tonela.

 

O ministro da Economia e Finanças também explicou porquê a agência de notação financeira Standard and Poors classificou, recentemente, como mais arriscada a posição do país em termos de emissões de dívida comercial em moeda local.

 

Max Tonela justificou que tal se deveu às bases que o estudo tomou. “Houve uma avaliação recente, de rating do país, que se baseou num quadro retroactivo, sobretudo nos primeiros meses do ano, num período em que o impacto da reforma salarial, implementada pelo Estado, no ano passado, era muito elevado do ponto de vista financeiro.”

 

Para resolver esta questão, “o Governo tomou medidas, de forma sucessiva, e mais recentemente, através da revisão da lei que estabeleceu a reforma para assegurar que, a partir de Julho, às contas estejam nos carris, de acordo com as projecções estabelecidas e com o orçamento do ano”.

 

Max Tonela explica que o país poderá receber, em média, 750 milhões de dólares do gás natural por ano, durante 25 anos, e 100 milhões de dólares nos primeiros anos, números que, “de forma escalonada, vão depois crescer para 300/500 até chegar a mais de um bilião por ano”.

 

Segundo Max Tonela, a economia nacional poderá crescer, este ano, 5 por cento, um nível que poderá aumentar para 7 por cento nos próximos dois anos. (Carta)

Mocimboa da Praia vida v1 min

Quase dois anos depois da sua recuperação das mãos dos terroristas, a vila-sede e municipal de Mocímboa da Praia, norte da província de Cabo Delgado, tenta, lentamente, levantar-se do trauma sofrido entre os dias 27 de Julho e 12 de Agosto de 2020, período em que os insurgentes atacaram e ocuparam aquela vila estratégica, tendo permanecido sob sua gestão até Agosto de 2021, mês em que as tropas ruandesas voltaram a içar a bandeira moçambicana.

 

Outrora “pulmão económico” das zonas central e norte da província de Cabo Delgado, agora, a vila municipal de Mocímboa da Praia, que dispõe de um porto de cabotagem e de um aeródromo, transformou-se em “mais uma vila distrital”, sem quaisquer serviços bancários, infra-estruturas sociais básicas e com um comércio ainda “moribundo”.

 

No entanto, quem viu o cenário desolador que caracterizava o distrito em Agosto de 2021, após a sua recuperação das mãos dos terroristas, entende que a vila está, aos poucos, a reerguer-se e acredita que a mesma voltará a ser o principal centro comercial e logístico da zona norte de Cabo Delgado.

 

É que, após a sua recuperação das mãos dos terroristas, a vila de Mocímboa da Praia estava com quase todos os edifícios destruídos, não tinha energia eléctrica, água potável, serviços básicos de saúde e de educação e população: tinha apenas 73 “habitantes civis” e mais de três centenas de militares, entre moçambicanos e ruandeses. Hoje, já há energia eléctrica, o sistema de telecomunicações está totalmente restabelecido, tal como os serviços de saúde, educação e de distribuição de água. O transporte de passageiros e mercadoria e o comércio também voltaram a operar, tal como o Porto voltou a receber navios.

 

Abdala Hamaia é um dos comerciantes locais de Mocímboa da Praia, que voltou a abrir a sua loja, depois de esta ter sido destruída pelos terroristas. Conta, aliás, que a sua loja foi saqueada e queimada pelos terroristas, pelo que, neste momento, realiza suas actividades em instalações emprestadas, enquanto junta dinheiro para recuperar o seu antigo estabelecimento.

 

Em entrevista à “Carta”, Hamaia revela ter regressado a Mocímboa da Praia em Setembro do ano passado (2022), por entender já haver condições de segurança. “Vim por várias vezes visitar Mocímboa, depois de o Governo ter dito que a vila tinha sido recuperada, mas só em Setembro [de 2022, um ano depois da recuperação da vila] é que decidi voltar. Tinha receio de novos ataques”, explica.

 

No entanto, garante a fonte, os terroristas nunca ousaram realizar qualquer ataque desde que voltou à sua terra natal. Afirma que a vila está segura e que a vida tende a voltar à normalidade, embora não se tenha esquecido do passado: “perdi familiares e amigos naqueles ataques. Alguns foram mortos, outros foram raptados”.

 

Dedicando-se à venda de quase tudo, desde vestuário a electrodomésticos, Abdala Hamaia revela que o comércio, naquele ponto do país, perdeu o seu brilho. “As pessoas estão sem dinheiro, grande parte está desempregada, por isso tem sido difícil fazer negócio”, sublinha, frisando que até a actividade agrícola continua “hibernada”, apesar dos incentivos do Governo.

 

“Muita gente continua a depender da comida distribuída pelo PMA [Programa Mundial da Alimentação], porque ainda tem medo de voltar às machambas, porque é lá onde muitas pessoas eram raptadas e algumas assassinadas”.

 

O Governo distrital garante que pelo menos 120 mil pessoas já regressaram à vila-sede distrital de Mocímboa da Praia, entre as quais, funcionários e agentes do Estado, com destaque para os do sector da educação. Aliás, o Administrador do Distrito, Sérgio Domingos Cipriano, garante que a Escola Secundária local já está a leccionar nos três períodos lectivos do dia (de manhã, à tarde e de noite), no entanto, sublinha haver escolas que ainda não reabriram, sobretudo nas aldeias do interior do distrito.

 

Sérgio Cipriano afirma que todos os serviços públicos retomaram as suas actividades, com a excepção da Autoridade Tributária de Moçambique e do Balcão de Atendimento Único. Sublinha que as infra-estruturas, que ainda continuam destruídas, incluindo os edifícios do Governo Distrital e do Conselho Municipal, continuam a principal dificuldade enfrentada pelo Estado para a reposição, na totalidade, dos seus serviços.

 

Aliás, devido à lenta recuperação dos edifícios públicos destruídos pelos terroristas, os serviços de saúde funcionam nas instalações do Centro de Formação de Saúde de Mocímboa da Praia.

 

O Governante nega que o distrito tenha bolsas de fome, porém, assume que parte da população continua dependente de apoios, sobretudo depois de ter enfrentado uma estiagem que afectou a cultura do milho.

 

“Entregamos kits de pesca aos pescadores, como forma de alavancar a vida da população. A Total também está a prometer-nos alguns insumos e a nossa vontade é de ver se podemos ter alguns tractores para produzirmos o arroz”, detalha.

 

Enquanto isso…

palma vida v1 min 

A vila-sede do distrito de Palma mostra já ter superado as feridas causadas pelo ataque terrorista ocorrido no dia 24 de Março de 2021. Diferentemente da vila municipal de Mocímboa da Praia, que ainda tenta oxigenar-se, com o comércio e a movimentação de pessoas ainda a se mostrarem tímidos, em Palma respira-se um novo ar: o cenário de destruição e terror que caraterizava a vila, em Abril de 2021, foi substituído por um panorama de alegria, numa imagem que recorda os tempos da prospecção e pesquisa dos hidrocarbonetos.

 

Enquanto em Mocímboa da Praia há muitos estabelecimentos comerciais ainda por reabilitar, em Palma, grande parte já foi reabilitada e aberta para o público. As bermas da principal rua da vila estão inundadas de jovens, adultos e idosos, assim como de mulheres e homens, que vendem diversos bens e serviços, com destaque para os produtos alimentares e serviços de táxi moto.

 

Alguns estabelecimentos hoteleiros, como o Hotel Amarula, local onde pelo menos 12 cidadãos estrangeiros foram assassinados pelos terroristas no fatídico dia 24 de Março de 2020, e a Pensão Wivo, que se localiza à entrada da vila, já reabriram, porém, ainda sem negócio.

 

“Ainda estamos a gatinhar. Não temos recebido muitos clientes. Os únicos que nos visitam são religiosos e o Governo. Ainda não temos negócio”, explica Rita Lucas, Gestora do Hotel Amarula, revelando que, devido a esse facto, teve de reduzir o número de trabalhadores, dos anteriores 93 para os actuais 36.

 

Já Ismail Saíde, que vende produtos de higiene na vila-sede do distrito de Palma, conta que a vila está segura e que não se regista quaisquer ataques terroristas desde que as tropas moçambicana e ruandesa tomaram, por completo, o controlo da vila. Garante ainda que o seu negócio tem fluído, embora os produtos estejam relativamente caros, devido aos custos de transporte, pois são adquiridos nas cidades de Pemba e Nampula.

 

O mesmo cenário é descrito por Ali Hassane, que presta serviços de moto táxi naquela vila. Garante que Palma está segura e que não ouve qualquer som de tiros desde que os ruandeses chegaram àquela vila. Diz ainda não haver problemas de fome, pois as pessoas conseguem ir à machamba, assim como à pesca.

 

Um oficial superior das Forças Armadas de Defesa de Moçambique disse à “Carta” que a vila de Palma tem tido maior movimento de pessoas e bens que a de Mocímboa da Praia. Contou, aliás, que aos fins-de-semana os jovens se têm divertido sem quaisquer restrições, tal como faziam antes da intensificação dos ataques terroristas.

 

O cenário de regresso à normalidade no distrito de Palma verifica-se também na Península de Afungi, centro das operações ligadas aos projectos de gás natural na província de Cabo Delgado, onde decorrem diversas obras de engenharia, o que alimenta expectativas de um possível regresso da TotalEnergies àquele local ainda este ano.

 

O calar das armas, no distrito costeiro de Palma, é igualmente relatado nas localidades de Mute e Quissengue, porém, com a fome a retirar a paz da população. Silvestre Saudjandja, Chefe da Localidade de Mute, afirma que cerca de 95 por cento da população já regressou às suas casas, mas queixa-se de fome, porque grande parte ainda não regressou às actividades agrícolas.

 

Mesma estória é contada por Hassane Ali, que reside na Localidade de Quissengue. Diz que a fome é o principal problema enfrentado pela população, uma vez que também não retomou as actividades agrícolas.

 

Médico tradicional, encontrámos Hassane na vila-sede do distrito de Mocímboa da Praia à espera de transporte que o levasse à sede do Posto Administrativo de Olumbe, distrito de Palma, de onde partiria para a sede da Localidade de Quissengue, seu destino final. Disse à “Carta” que o trajecto de Mocímboa da Praia a Olumbe está seguro, tal como o de Olumbe a Quissengue.

 

“Não temos tido problemas de ataques. É possível sair de Olumbe para Quissengue às 18:00 horas sem problemas”, garante a fonte, revelando que regressou à sua casa em Março deste ano, depois de se ter refugiado, primeiro, na vila de Palma, em 2019, e depois na Ilha de Vamizi, em 2021.

 

Regresso da população é nosso termómetro para medir a estabilidade – Cristóvão Chume

 

Segundo o Ministro da Defesa Nacional, Major-General Cristóvão Chume, cerca de 68 por cento da população já regressou ao distrito de Mocímboa da Praia e quase 80 por cento já voltou ao distrito de Palma. Aliás, garante que a vila de Palma tem mais população, hoje, que antes do ataque de 24 de Março de 2021. Assegura também que a circulação é feita sem grandes restrições nos dois distritos, facto que se comprova com o tipo e qualidade de produtos comercializados nas duas vilas distritais.

 

“As únicas restrições que eles têm é por imposição cautelosa das Forças de Defesa e Segurança que não pretendem deixar que as populações tenham movimento a qualquer hora do dia, até que nós achemos que, eventualmente, temos 100 por cento de segurança na estrada que liga Mocímboa da Praia a outros pontos do país”, defende Chume, que visitou as duas vilas na passada segunda-feira.

 

O governante explica que o termómetro usado pelo Executivo para medir a estabilidade nos distritos de Mocímboa da Praia e Palma é a quantidade de pessoas que regressam àquela região do país, pois, “não há outra maneira de nós avaliarmos se a zona é segura ou não, se ela não tiver população”.

 

“Vamos continuar a edificar melhores soluções de segurança que têm sido seguidas até aqui, que é negar o acesso dos terroristas às zonas onde, neste momento, habita a população”, acrescenta Cristóvão Chume, reafirmando as palavras do Presidente do Ruanda, Paul Kagame, segundo as quais 80 por cento do terrorismo já foi erradicado na província de Cabo Delgado.

 

“Mas há outros 20 por cento que são os mais importantes: que é, por exemplo, a reconstrução da vila do distrito de Mocímboa da Praia; o regresso de todos os serviços básicos providos pelo Estado. Se nós conseguirmos fornecer esses serviços, poderemos dizer que alcançamos, na totalidade, os objectivos”, defendeu.

 

Referir que, durante a visita aos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, Cristóvão Chume foi confrontado com problemas de emprego, de falta de água potável e energia eléctrica em algumas regiões, assim como da falta de documentos de identificação civil. (Abílio Maolela, em Mocímboa da Praia e Palma)

alice albright

“Teremos, em Moçambique, o mais avançado e inovador Compacto que a MCC alguma vez financiou em todo o mundo, em termos de adopção de uma abordagem inteligente ao clima”, Alice Albright, Presidente da MCC.

O Conselho de Administração da agência norte-americana Millennium Challenge Corporation (MCC) aprovou hoje, 28 de Junho, por unanimidade, em Washington D.C., a capital dos Estados Unidos da América (EUA), um financiamento de 500 milhões de dólares norte-americanos para a implementação do Compacto II em Moçambique, que terá como enfoque a província da Zambézia, cobrindo três áreas, nomeadamente Conectividade e Transporte Rural; Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Costeiro; e Promoção de Investimento na Agricultura Comercial.

 

A Presidente da MCC, Alice Albright, disse, no contexto da confirmação do acima referido montante para o Compacto II, que “teremos, em Moçambique, o mais avançado e inovador Compacto que a MCC alguma vez financiou em todo o mundo, em termos de adopção de uma abordagem inteligente ao clima, cujo cerne será a combinação de uma infraestrutura de transporte resiliente, oportunidades no contexto da economia verde e azul e reformas institucionais, legais e de políticas públicas que possam garantir um crescimento económico mais efectivo e de longo prazo”.

 

Embora tenha como foco geográfico a província da Zambézia, o Compacto II terá uma dimensão nacional, uma vez que as reformas institucionais, legais e de políticas públicas em perspectiva beneficiarão a todo o país, ao que se acresce o facto de se almejar que os projectos neste momento em fase final de elaboração sejam replicáveis e, por via disso, passíveis de implementação noutros pontos do país, quer com fundos públicos, quer com financiamento externo ou no âmbito de iniciativas do sector privado. 

 

De referir que Moçambique beneficiou, de 2008 a 2013, do Compacto I, que contou com um financiamento, igualmente da MCC, na ordem de 506 milhões de dólares norte-americanos, cobrindo as áreas de água e saneamento, segurança sobre a terra, transporte e agricultura, tendo sido implementado nas províncias de Nampula, Niassa, Cabo Delgado e Zambézia.

 

De referir que a assinatura do Acordo de Financiamento do Compacto II entre os governos de Moçambique e dos EUA, este através da MCC, está prevista para Setembro deste ano, em Washington D.C. (Carta)

graca machel eco mulher

A presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) defende o estabelecimento de iniciativas de inclusão da mulher na economia, à semelhança do que sucede noutras áreas, como na política, em que a representação feminina é expressiva. Graça Machel argumenta que o país deu passos importantes na emancipação das mulheres, mas que a nível económico ela continua secundarizada, sem influência nas decisões de relevo.



Para promover esta nova perspectiva, a activista social lançou, ontem, em Maputo, a conferência anual da FDC Mulheres na Economia, um evento que combinou uma palestra e quatro sessões temáticas, tendo como pano de fundo caminhos e alternativas para acelerar o conjunto de transformações políticas, sociais, culturais e económicas necessárias para o estabelecimento de uma sociedade mais justa e igualitária.

 

Moçambique está no grupo dos três países do continente africano que atingiram a meta de paridade de género no Governo (50% – 50%), num quadro em que o mais aglutinador órgão de soberania, a Assembleia da República, tem 42.2% de membros do sexo feminino. A Assembleia da República e o Conselho Constitucional, dois dos cinco órgãos de soberania do País, são dirigidos por mulheres, sucedendo o mesmo com a Procuradoria Geral da República, o Tribunal Administrativo, o Ministério do Interior e Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.

 

Para Graça Machel, está na hora de virar as atenções para a economia: “da mesma maneira que decidimos juntar todas as vontades nacionais, internacionais e regionais para chegar onde chegamos na esfera política, temos que fazer o mesmo na esfera económica, pois não temos estratégias muito claras que sejam conhecidas, abraçadas, defendidas e protegidas por todos nós’’, vincou.

 

A presidente da FDC disse ainda que a sociedade em geral substima o papel da mulher na economia e recordou a famigerada frase de que a mulher é o rosto da pobreza para a seguir defender uma mudança de narrativa. “Aquela mamã que começou o negócio com uma carrinha de três toneladas de milho, vindo de Manica e Angónia, para alimentar os mercados de Maputo e para todos nós termos a comida que temos, essa mulher para mim é uma campeã. Ela faz a cadeia de valores e participa na economia”, explicou.

 

No campo das soluções, Graça Machel propõe que todos os sectores tenham estratégias, planos e metas de transformar as suas estruturas, instituições e sistemas para ampliar o espaço das mulheres no sector da economia, o que poderá contribuir para a prosperidade global. (Carta)

graca machel mulheres moz rep

A activista social avança que, caso se consiga a promoção da condição da mulher nos sectores mais altos da economia, se espera um grande sucesso naquilo que se pode chamar igualdade e justiça social.

 

Graça Machel falava esta terça-feira (27), em Maputo, durante a conferência das “Mulheres na Economia”, organizada pela Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC). Ela lembrou que alguns sectores têm vindo a esforçar-se na colocação de mulheres em lugares de destaque, na formulação das políticas económicas a nível de gestão e direcção da economia, ao nível do domínio das tecnologias exigidas.

 

“Nós estamos no século 21, agora fala-se da economia digital, como é que vamos colocar a mulher na economia digital, como é que vamos transformar esse estigma de que o rosto da pobreza é o rosto de uma mulher e trazermos os exemplos mais inspiradores de que as mulheres são líderes nas suas famílias, nas pequenas empresas mesmo no sector informal”, defendeu a activista social.

 

“Nós vamos ao Zimpeto hoje e quem traz o milho de Manica, Tete são mulheres que têm camiões cavalos e começaram de pequenas quantidades em camionetas e hoje trazem toneladas. Aquelas mulheres são exemplo concreto do que é fazer funcionar a cadeia de valor. Porque saem do agricultor pequeno, entram no mercado formal e alimentam uma cidade inteira. Então, nós queremos demonstrar que a mulher não é apenas o rosto da pobreza, é aquela capacidade de decidir, de participar, de audácia, de entrar em terrenos difíceis, mas com persistência e resiliência”.

 

Para a activista, a mulher precisa ser estimulada para liderar. “Nós queremos estimular a força da própria mulher para liderar, assim como liderou na esfera política, liderar na esfera económica também. Segundo, que haja em todos os sectores estratégias e planos concretos de como nós vamos colocar a mulher nos vários segmentos para ela estar em condições de influenciar políticas e contribuir para alterar, transformar as estruturas, as instituições e os sistemas que ainda a impedem de exercer em pleno os seus direitos na área da economia”.

 

“Queremos insistir na área da economia para que a mulher tenha posse dos recursos de uma maneira significativa no mercado e mudar as mentalidades”. (Marta Afonso)

terrorismo cb v min

Depois de terem interdito o transporte de grandes quantidades de géneros alimentícios destinados à venda nas aldeias da zona costeira do distrito de Macomia, em Cabo Delgado, como forma de impedir que os terroristas reforcem a sua logística alimentar, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) anunciaram nova proibição.

 

A nova interdição abrange as próprias viaturas, que não devem transportar passageiros nem mercadorias. Por enquanto, só são autorizados motociclistas, ciclistas e peões, todos sujeitos à revista minuciosa.

 

Fontes disseram à "Carta" que a medida entrou em vigor na última quinta-feira, 22 de Junho, sendo que os carros de transporte semi-colectivo de passageiros, vulgo "chapa-cem", estão imobilizados, alguns com respectiva mercadoria, esperando autorização. A medida está a criar constrangimentos aos transportadores e comerciantes, que estavam animados com a retoma do comércio em Mucojo e Quiterajo.

 

Acrescentaram que, com a medida, o mercado da vila sede já se ressente da falta de pescado, com destaque para o peixe. Entretanto, regista-se igualmente falta de géneros alimentícios nos principais centros onde foi reassentada a população regressada, nomeadamente Pangane e Pequeué. As duas regiões dependem de produtos ou alimentos que os pequenos operadores adquirem na sede do distrito.

 

Segundo fontes, os comerciantes foram proibidos de adquirir grandes quantidades de produtos alimentares pelo facto de, na semana passada, os terroristas terem feito compras volumosas em várias bancas nas comunidades de Pangane, Milamba, Pequeué e Ingoane. (Carta)

desemprego rsa

Menos de 10 milhões de pessoas estão empregadas na África do Sul numa população de mais de 60 milhões, de acordo com os mais recentes dados divulgados pelo Instituto sul-africano de Estatísticas (Stats SA).

 

Os dados sobre as estatísticas trimestrais mostram que o emprego na indústria de serviços comunitários diminuiu 100 mil postos de trabalho, seguidos pelos serviços, as empresas que viram uma diminuição de quinze mil postos de trabalho. Situação idêntica registou-se na indústria de construção que reportou uma queda de 13 mil postos de trabalho e com tendência a aumentar.

 

O Stats AS também destacou a vulnerabilidade dos jovens no mercado de trabalho, com um aumento de 241 mil desempregados totalizando 4,9 milhões.

 

O Nedbank, um dos principais bancos sul-africanos, afirmou que o emprego total ainda se encontra abaixo dos níveis anteriores à pandemia da Covid-19, mas que pelo menos está a registar uma tendência de subida. (Stats SA)

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