Este país não é normal! Quer dizer, você investe toda a sua vida, todas as suas qualificações académicas e competências técnicas na carreira de gatunagem e, anos mais tarde, começa a receber o reconhecimento nacional e internacional, a ponto de ser convidado a viver nos Estados Unidos, e do nada aparece um "doutor" a desmerecer os atributos que você conseguiu com muito esforço. Vão dizer que você não merece ser gatuno e que o título e o convite para Nova Iorque são ilegais. Até vão ao extremo de te rotularem de inocente. Chegam a dizer que você é tão inocente mas tão inocente como um bebé do berçário. Isso ofende.

Irmãos, aquele "chinês" já foi o super ministro deste país, já teve o respeito de todos, já foi tratado por "sua excelência", "excelentíssimo", "doutor", "ilustre", e coisas do género. As pessoas o tratavam dessa maneira porque era assim que ele queria ser tratado e era assim que as pessoas o viam. A partir do momento que ele decidiu investir na ciência da pilantragem, ele escolheu ser tratado por pilantra, e é assim que deve ser tratado. E se for tratado de outra maneira ele pode ficar ofendido. Pode não gostar. Então não entendo porque razão indivíduos crescidos e aparentemente idóneos têm se esforçado em tirar-lhe esse rótulo de gatuno. Se ele quis ser gatuno deixem-no ser na concórdia.

O que leva um advogado a engasgar-se em teorias e argumentos para tirar o título de alguém? O que é que eu ganharia, por exemplo, em dizer de pés juntos que Messi não não é futebolista, é músico. Imagina Messi que tanto se tem esforçado em ser o melhor jogador do mundo e você aparece do nada para dizer "senhoras e senhores, o melhor rapper desse ano é Lionel Messi". Imagina. Põe-se no lugar dele.

Então, deixem esses gatunos serem gatunos em paz. Não é fácil. É muita engenharia. Roubar bilhões e bilhões de dólares não é fácil quanto parece. Não é para qualquer um. Imagina só o exercício para desviar esse dinheiro todo? É preciso muita aritmética, trigonometria, equação quadrática, seno-cosseno, tangente-cotangente e muitos noves-fôra para colocar essa mola toda no bolso. Não podemos desmerecer esse esforço dos nossos irmãos.

Poxa! O excesso de sabichões nesta pérola já começa a embaraçar. Todos querem exibir que marraram maningue. Já não deixam você se gabar dos estereótipos que merecidamente conquistou. Já não deixam você ser o que sempre sonhou. Já não se pode ser gatuno em paz. Até parece inveja.

- Co'licença!

Publicado em 14-12-2018

*Desde a primeira edição de Carta, em 22 de Novembro de 2018, o cronista Juma Aiuba impregnava nestas páginas o doce sabor da sua escrita. Sua morte abrupta foi um tremendo golpe. Para tentar manter sua voz viva, Carta decidiu reeditar semanalmente uma das suas crónicas. Seu perfume permanecerá vivo!

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