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Sociedade

Um adágio popular diz que “sem água não há vida”. E a “Carta” testemunhou esse facto na cidade de Nacala-Porto, na província de Nampula. Mulheres e crianças daquele ponto do país “sofrem” dia-a-dia atrás do precioso líquido e, entre as razões elencadas, está o facto de, alegadamente, a população daquele distrito optar sempre na oposição.

 

Durante os últimos dias, “Carta” esteve em Nacala-Porto e, durante uma semana, acompanhou o “drama” a que estão submetidas as mulheres e crianças daquele ponto do país para ter acesso ao líquido precioso.

 

Em Nacala-Porto é comum ver mulheres e crianças, caminhando longas distâncias para ter acesso à água potável. Entretanto, relatos que nos chegam são mais dramáticos. Falam de mulheres que se têm envolvido sexualmente com seguranças de algumas residências com fontenárias, para que possam aceder à água.

 

Rabia Mussagy, nome fictício, contou à nossa reportagem que vivia no bairro Kuissine Ajulo, um bairro dos arredores de Nacala e que não tem acesso à água, desde a sua criação. Rabia Mussagy disse que percorre mais de 10 Km diariamente à procura de água potável, sendo que às vezes deve envolver-se com “guardas” em troca do precioso líquido.

 

Outra mulher, de 19 anos de idade, Amina Rajabo, nome fictício, contou à nossa reportagem que são vários casos, embora ela nunca tenha aceitado submeter-se a tal situação, mas que já era normal naquela urbe as mulheres passarem por aquele constrangimento.

 

Entre os bairros mais críticos que a “Carta” visitou e acompanhou de perto o “drama” que as populações vivem estão: Kuissine Ajulo, Nemeefica, Janga 1 e 2. No bairro Nemeefica, por exemplo, verificamos que a situação é mais crítica, devido à falta de higiene, levando a população a sofrer diversas doenças, como o surto de “tunguiasse”, mais conhecida por “matequenha”, causada por pulgas e que ficam no interior dos dedos do pé, com tom amarelado e com uma ponta-negra.

 

A situação no bairro de Nemeefica é crítica e, embora haja abundância de vários frutos e produtos alimentares, a água é escassa. Em Nacala-Porto é normal encontrar hospitais e unidades sanitárias sem água e com abundância de insectos, devido à falta de água para fazer limpeza.

 

Segundo apurámos, Nacala-Porto tem três subestações de abastecimento de água para 41 bairros existentes, habitados por 225,034 pessoas, de acordo com os dados do último censo populacional de 2017. As fontes contaram-nos que a situação é sensível porque as 50 fontenárias existentes foram todas construídas nas residências de líderes comunitários e administrativos próximos ao partido Frelimo.

 

As fontes garantem ainda que a captação da água que abastece o sistema é feita na Barragem de Nacala, com capacidade actual de 4.0 Milhões de m³ e espera-se que venha a dispor de uma capacidade de 7.5 Milhões de m³. A capacidade máxima de captação é de 250 m3/h.

 

De acordo com o técnico que aceitou falar à nossa reportagem, para além da torre de distribuição R5 que recebe água do R3-R4 por bombagem, através de duas electrobombas tipo NK com caudal e altura nominal de 250 m3/h e 60 m.c.a. respectivamente., a distribuição de água é também feita por gravidade para as zonas baixas (Cidade Baixa), através das estações de bombagem e R1-R2. A extensão total de rede de distribuição é de 106.0 km, variando de diâmetros de 400 a 60 mm em material de abastecimento maioritariamente.

 

Entretanto, conforme apurámos, a situação é crítica porque, alegadamente, 60 por cento da água existente é para irrigação do carvão mineral que é para posterior exportação. O resto dos 40 por cento é para o consumo da população e, devido à centralização das fontenárias na casa da “elite local”, a população acorda e dorme a correr atrás do precioso líquido.

 

No entanto, as autoridades locais não aceitaram tratar dos aspectos constatados pela nossa reportagem e que são sobejamente conhecidos pelas autoridades. (Omardine Omar)

quinta-feira, 05 setembro 2019 06:44

Visita Papal: Maputo com locais mais seguros do mundo

A visita que o Papa Francisco iniciou, na noite desta quarta-feira, à República de Moçambique, naquela que é a segunda visita apostólica ao país, depois da efectuada pelo Papa João Paulo II, em 1988, está a revelar o quão a Polícia da República de Moçambique pode manter a capital do país e outros locais seguros.

 

Desde a tarde da última terça-feira que se tem assistido a uma movimentação musculada dos agentes da Polícia, em todas as suas unidades, em algumas arteiras da cidade de Maputo. No início da noite desta terça-feira, a “Carta” testemunhou a presença musculada dos agentes da Polícia nos cruzamentos da Avenida Eduardo Mondlane, com as avenidas Guerra Popular, Filipe Samuel Magaia, Karl Marx, Vladimir Lenine, Amílcar Cabral, Salvador Allende, Tomás Nduda, Mártires da Machava e Julius Nyerere.

 

Fortemente armados, os grupos eram constituídos por agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), Polícia de Protecção, Polícia de Trânsito e da Polícia Municipal. Entretanto, o cenário não se verificava nos restantes cruzamentos da maior avenida do país com as outras, como são os casos das Avenidas Albert Lithuli e da Zâmbia.

 

O cenário de “guerra”, que espantou os citadinos que se encontravam nas paragens à espera dos autocarros, repetiu-se na tarde desta quarta-feira, momentos antes da chegada do Sumo Pontífice, em todas as avenidas que este ia percorrer. Uma “passeata” levada a cabo pela “Carta”, durante a tarde desta quarta-feira, constatou a presença de agentes da Polícia em quase todos os cantos das avenidas por onde o Papa ia passar, um cenário que contrastava com as restantes avenidas da capital.

 

Alguns citadinos iam se mostrando felizes pelo cenário de segurança criado à volta da presença do Papa em Moçambique, mas outros desagradados, alegando que a PRM envidou todos os esforços para manter a segurança do Papa, deixando os cidadãos entregues à sua sorte nos diversos bairros da capital do país. Outros entendem que, se o cenário de “segurança” se mantivesse no dia-a-dia e em todos os cantos da cidade, Maputo seria a cidade mais segura do mundo.

 

Para além da segurança, os agentes da Polícia de Trânsito tem mostrado eficiência na regulação do trânsito, tendo-se assistido esse facto nos momentos que antecederam a chegada do Sumo Pontífice. A Polícia de Trânsito conseguiu regular a movimentação de veículos e peões com alguma eficiência nos cruzamentos e entroncamentos por onde ia passar o Santo Padre, entretanto, o caos se repetia pelas restantes arteiras da capital do país.

 

Refira-se que o protocolo de segurança preparado irá se replicar em todas as artérias da cidade de Maputo, por onde o Santo Padre irá passar durante os três dias da sua peregrinação ao país, assim como nos locais onde irá dirigir os encontros.(A. M.)

Tal como o Ministério da Saúde (MISAU) divulgou as precauções a serem tomadas pelos peregrinos que se farão ao Estádio Nacional do Zimpeto esta sexta-feira para acompanhar a missa a ser dirigida pelo Papa Francisco, o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) também divulgou a previsão meteorologia para a cidade de Maputo durante os três dias da visita do Sumo Pontífice.

 

De acordo com um comunicado partilhado pelo INAM, datado de 03 de Setembro, na próxima sexta-feira, 06 de Setembro, a cidade de Maputo, irá registar uma temperatura amena, no período da manhã, com céu muito nublado, prevendo-se a ocorrência de chuvas fracas locais, sendo que o vento irá soprar de sueste a sudeste moderado e com rajadas fortes (20 a 40 Km/h) no final da noite. Nesse período, a temperatura será de 23°C.

 

Estas condições meteorológicas irão se mantar até o período da tarde, alterando apenas a temperatura que será de 26º C. Nessa altura, o Papa estará a cruzar o Canal de Moçambique em direcção a capital malgaxe, Antananarivo.

 

Para a noite desta quarta-feira, data da chegada do Santo Padre à Moçambique, o INAM prevê um tempo fresco com céu pouco nublado, vento de nordeste moderado, acompanhado de rajadas entre 10 a 40 Km/h e uma temperatura de 24°C.

 

Já para a quinta-feira, dia em que o líder da Igreja Católica irá cumprir a maior parte da sua agenda política e religiosa no país, os serviços meteorológicos preveem, para o período da manhã, tempo fresco, com céu pouco nublado, vento de nordeste a leste fraco a moderado por vezes com rajadas entre 10 a 30 Km/h e uma temperatura de 21° C. Para o período, a previsão é que o tempo esteja quente, mas com céu pouco nublado e vento de nordeste a sueste moderado, com rajadas de 20 a 50 Km/h e a temperatura seja de 32°C. No final do dia, o tempo estará ameno, com céu muito nublado, com possibilidade de ocorrência de chuvas fracas locais, vento de sueste a sudeste moderado e rajadas de 20 a 40Km/h, sendo que a temperatura será de 23°C.

 

Lembrar que o Ministério da Saúde, nos cartazes sobre dicas de saúde que tem vindo a partilhar, no âmbito da visita do Papa, recomenda os peregrinos a não levarem objectos perfurantes ao Estádio Nacional do Zimpeto, entre eles, guarda-chuvas ou sombrinhas. (Marta Afonso)

A Ministra da Saúde, Nazira Abdula, revelou que, em Moçambique, por cada 1000 nados vivos, 30 morrem por ano nos primeiros 28 dias de vida e 4,6 milhões morrem em África antes de completar os cinco anos de idade, devido a problemas pré-natais, durante o parto e pós-parto, como também por práticas costumeiras pouco apropriadas.

 

Falando na abertura da Vª Conferência Nacional de Pediatria, realizada esta terça-feira (03 de Setembro), em Maputo, organizada pelo Ministério da Saúde (MISAU), que decorre sob o lema “Pediatria na sua diversidade rumo ao futuro”, Abdula disse que o acompanhamento da gravidez e parto, por pessoal de saúde qualificado e responsável, é de importância vital para se poder detectar, tratar ou referir atempadamente qualquer complicação que possa ocorrer durante a gravidez, evitando assim tanto a morte da mulher ou um parto pré-termo.

 

Na sua dissertação, a Ministra referiu que não se pode perder de vista que existe um número ainda significativo de partos que ocorrem ao nível comunitário e que entre os neonatos (criança recém nascida) que morrem um número significativo acontece nas residências.

 

Entretanto, a titular da pasta da Saúde disse ainda que estes dados remetem também a uma reflexão sobre como abordar a questão do parto pré-termo e prematuridade ao nível da comunidade, isto é, como envolver a comunidade na resolução deste problema.

 

“As estratégias para a Redução da Mortalidade em Prematuros incluem a melhoria dos Cuidados Obstétricos e Pré-natais para detecção precoce dos factores de risco, bem como a promoção dos cuidados básicos ao recém-nascido e o envolvimento comunitário na prestação contínua de cuidados”, explicou a Ministra.

 

Dados do MISAU apontam que só em 2018 a taxa de natimortalidade situou-se em cerca de 14 para cada 1000 nascimentos e as províncias com alta taxa de natimortalidade (nascidos mortos) foram Niassa 20, Cabo Delgado 18 e Cidade de Maputo 21. Para todo o país, registou-se 1.089.401 nados vivos, 15.189 nasceram mortos.

 

Por outro lado, as principais causas de morte em crianças antes de completar cinco anos, apontadas pelo Ministério da Saúde, são a Malária com 16.2 por cento, HIV-Sida 12.4, infecções respiratórias com 12.2 entre outras doenças. (Marta Afonso)

Enquanto a maioria dos cidadãos defende que a vinda do Papa Francisco a Moçambique trará paz e reconciliação nacional, o Bispo da Igreja Anglicana, Carlos Matsinhe, defende que a almejada reconciliação da família moçambicana não virá com o Líder da Igreja Católica, mas sim com o povo moçambicano, que tem a obrigação de se reconciliar e fazer a própria paz. Segundo Dom Carlos Matsinhe, o Sumo Pontífice apenas deve ser visto como um “padrinho”, que vem reforçar os feitos do povo moçambicano.

 

“Acredito que a visita do Papa é uma bênção e traz consigo uma mensagem de paz e esperança. Tê-lo numa altura em que estamos a consolidar a paz é mais uma valia, sendo ele um apelo de Deus para que Moçambique se pacifique e se reconcilie. Porém, cabe ao povo moçambicano fazer a paz e reconciliação”, disse o Bispo à “Carta”, falando em torno da visita do Sumo Pontífice ao país, entre os dias 04 e 06 de Setembro próximo.

 

A opinião é também partilhada por um religioso da Igreja Presbiteriana de Moçambique (IPM), uma das maiores igrejas protestantes do país. O religioso entende que a visita não pode ser encarada como a vinda de um santo, pois, “só há um, que é o próprio Deus”. Tal como Matsinhe, este religioso defende que o Papa não trará paz aos moçambicanos, pois, esta deverá ser obra exclusiva dos moçambicanos.

 

O Papa Francisco chega a Maputo na noite da próxima quarta-feira para uma visita de três dias à República de Moçambique, onde para além de dirigir uma missa a ter lugar na manhã de sexta-feira, no Estádio Nacional do Zimpeto, irá manter encontros com o Chefe de Estado, Filipe Nyusi, e com jovens de diferentes congregações religiosas do país.

 

Tendo em conta que 55 por cento da população cristã moçambicana pertence às igrejas protestantes, a Comissão Interministerial para Grandes Eventos Nacionais e Internacionais garante estar a envolver todas as congregações religiosas para a organização da segunda visita apostólica ao nosso país, depois da do Papa João Paulo II, em 1988.

 

Entretanto, questionado pela “Carta” sobre o nível de envolvimento da sua confissão religiosa na preparação desta visita, Matsinhe revelou não ter recebido convite oficial para participar do acto, sobretudo o encontro da juventude com o Sumo Pontífice, porém, garante: “faremo-nos presentes até onde for possível porque estamos sempre abertos para apoiar”.

 

Mesma situação é descrita pelo religioso da IPM que garante também não terem recebido nenhum convite oficial para a participação da sua juventude no encontro a ter lugar na tarde da próxima quinta-feira.

 

Entretanto, a Coordenadora-geral da Comissão Interministerial para Grandes Eventos Nacionais e Internacionais, Vitória Diogo, assegura que as diferentes congregações religiosas do país foram convidadas, através do Conselho Cristão de Moçambique, órgão que integra todas as igrejas cristãs registadas no país.

 

Por seu turno, o representante da Igreja Católica na Comissão, Dom António Juliasse, garantiu que, até esta segunda-feira (02 de Setembro), os convites seriam enviados às Igrejas Protestantes.

 

Padre Couto entende que visita do Papa é especial ao país

 

Por seu turno, o padre católico Filipe Couto entende que a visita do Papa é especial porque não vem apenas por causa da comunidade católica, mas sim do povo moçambicano, pois, quer vê-lo a viver em paz. Por isso, o antigo Reitor da Universidade Eduardo Mondlane defende não haver problema em o Sumo Pontífice visitar o país em período eleitoral, tal como critica maior parte da sociedade. Afirma que seja ou não no período eleitoral, o importante é que o Papa “deve visitar o país e que coisas boas vão acontecer”. “Entretanto, se o povo quiser criticar é livre disso, o bom é que ele venha”, sublinhou Couto.

 

Quem também partilha desta visão é Saíde Abibo, do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, que defende que a vinda do Chefe de Estado do Vaticano a Moçambique ultrapassa as dimensões da Igreja Católica, pelo que requer o envolvimento de todos.

 

“Não podemos fazer uma ligação da vinda do Papa com questões eleitorais, porque não vejo nenhuma relação entre os dois momentos, tendo em conta que este ano ocorreram vários fenómenos, como os ciclones que fustigaram parte do país”, explicou a fonte. (Marta Afonso)

segunda-feira, 02 setembro 2019 16:35

Ossufo Momade entra na campanha eleitoral

O líder e candidato à presidência da república pelo principal partido de oposição de Moçambique, o ex-movimento rebelde Renamo, Ossufo Momade, regressou de uma viagem ao exterior na manhã desta segunda-feira e imediatamente lançou sua campanha eleitoral, com um desfile de carros pelas ruas de Maputo e da cidade adjacente de Matola.

 

Milhares de membros e apoiantes da Renamo cumprimentaram Momade no Aeroporto Internacional de Maputo e juntaram-se a ele no canto do slogan “A Vitória é Certa!” – um slogan que foi usado pela primeira vez décadas atrás pelo movimento de libertação angola, o MPLA.

 

Durante o lento desfile pelas duas cidades, Momade parou para abordar a multidão e prometer melhores condições de vida, se a Renamo vencer as eleições gerais programadas para 15 de outubro. Entre as promessas, destacam-se o emprego e a habitação para jovens moçambicanos, a educação gratuita até a décima-classe e o combate à corrupção.

 

"Quero trabalhar para o desenvolvimento dos moçambicanos", declarou Momade. “Somente a Renamo melhorará a sua situação. Nós vamos mudar o sistema educacional. Os alunos da quarta-classe devem ser capazes de ler e escrever”. "Queremos que os moçambicanos sejam tratados com dignidade quando vão a um hospital", continuou. “Queremos remédios nos hospitais. Estamos a prometer o bem-estar para todos os moçambicanos”. Perguntado se ele não foi ofuscado pela imagem do seu antecessor, o falecido líder, Afonso Dhlakama, Momade disse: “O presidente Dhlakama era um líder carismático, e eu nunca serei Afonso Dhlakama. Eu continuo os objetivos do meu presidente”. 

 

Momade disse que visitou as três províncias do norte de Nampula, Cabo Delgado e Niassa, pouco antes do início oficial da campanha eleitoral, e notou que “o público continuou a comparecer aos meus comícios, o que mostra que eles estão com a Renamo”, declarou Momade. (AIM)