Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
Redacção

Redacção

ExportacaoAcucar051224.jpg

O açúcar exportado por Moçambique no primeiro semestre rendeu 14,7 milhões de dólares (14 milhões de euros), um aumento de 36% face ao mesmo período de 2023, indicam dados do banco central compilados pela Lusa.

 

De acordo com um relatório do Banco de Moçambique sobre a balança de pagamentos nos primeiros seis meses do ano, trata-se de uma forte recuperação de uma das principais culturas agrícolas do país, tendo em conta a queda homóloga de 70,7% registada no primeiro trimestre.

 

"O comportamento das exportações do açúcar foi favorecido pela recuperação da produção e consequente exportação, após os impactos climáticos adversos que afetaram a produção registada em igual período de 2023", lê-se no relatório sobre o desempenho do primeiro semestre, que compara com as vendas de 10,8 milhões de dólares (10,3 milhões de euros) no mesmo período do ano passado.

 

A Lusa noticiou, em agosto, que a produção de açúcar na Açucareira de Mafambisse, na província de Sofala e uma das principais de Moçambique, está em queda, devido aos efeitos combinados das intempéries e das alterações climáticas, segundo a administração.

 

"Estamos a registar baixas na nossa produção de açúcar devido a algumas dificuldades provocadas pelas intempéries registadas nos últimos anos no país", disse, na quinta-feira, aos jornalistas, o diretor da Tongaat Hulett, grupo que detém a Açucareira de Mafambisse, Pascoal Macule.

 

O responsável avançou que, das 75 mil toneladas produzidas anualmente pela firma, esta caiu para 40 mil nos últimos dois anos, criando avultados prejuízos à fábrica. Um outro fator que influenciou na forte quebra de produção foi a perda de cerca de 8.000 hectares de cana sacarina, matéria-prima para a produção de açúcar, devido aos efeitos das alterações climáticas: "Isto em Nhamatanda, devido à seca nos nossos campos e ao fenómeno El Niño."

 

Localizada no posto administrativo de Mafambisse, no distrito do Dondo, em Sofala, a açucareira tem capacidade instalada para produzir 92 mil toneladas de açúcar por ano.

 

A Tongaat Hulett anunciou recentemente uma injeção de 500 milhões de rands (25 milhões de euros) nas açucareiras Mafambisse e Xinavane, ambas em Moçambique e nas quais o grupo sul-africano é acionista maioritário.

 

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.

 

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país. A província de Sofala, no centro do território, tem sido das mais fustigadas pelas tempestades.

 

Já no primeiro trimestre do ano passado, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afetaram mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, segundo dados oficiais do Governo moçambicano. (Lusa)

Manifs0512244.jpg

Cinco pessoas foram assassinadas, três ficaram gravemente feridas e 20 foram detidas, esta quarta-feira, em todo país, no arranque de mais uma onda das manifestações populares, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, em protesto aos resultados das eleições de 09 de Outubro, que apontam para uma vitória da Frelimo e do candidato Daniel Chapo com mais de 70% dos votos.

 

Os dados foram apresentados na noite de ontem pelo porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), Orlando Mudumane, que anunciou ainda a vandalização de 22 escolas secundárias e de cinco esquadras da Polícia, das quais uma da Polícia municipal.

 

Segundo Orlando Mudumane, os óbitos e feridos graves registados nas manifestações de ontem resultaram da “confrontação grave dos autores subversivos com os agentes da Polícia, com a intenção clara de se apoderar das armas de fogo da corporação”.

 

“Quando um indivíduo vai à uma esquadra, procura a todo custo apoderar-se de uma arma de fogo, esse não é manifestante, não sabemos o que quer fazer com a arma de fogo depois de se apoderar do agente da Polícia”, defendeu.

 

“É um indivíduo criminoso, subversivo que de tudo fazia para se apoderar do material bélico para protagonizar actos muito mais criminosos que estes e a Polícia viu-se na contingência de defender-se. Fez-se tiros ao ar e as pessoas acharam que tinham mais poder para agredir os agentes da Polícia, o que acabou culminando com a morte destes indivíduos”, explicou o porta-voz da Polícia, sem especificar em que locais foram assassinadas as pessoas.

 

Aos jornalistas, Mudumane disse ainda que, durante à invasão às escolas, os manifestantes saquearam e apoderaram-se de equipamento informático, inviabilizando ainda a realização dos exames finais da 10ª e 12ª classes. Um Tribunal e uma cadeia distrital também foram incendiados.

 

“Foram detidos 20 indivíduos e instaurados os respectivos processos-crimes e remetidos ao Ministério Público para subsequentes trâmites legais e, neste momento, decorrem diligências para neutralização de outros cabecilhas, devidamente identificados por via de imagens e vídeos na posse da corporação”, garantiu o porta-voz da Polícia. (Carta)

PGR_1112_1.jpg

Quando faltam 43 dias para deixar o cargo de Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi faz mais uma mexida “de vulto” no aparelho judiciário. Desta vez, a vítima foi a Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, que se encontrava fora do seu mandato há dois meses.

 

Para o lugar de Beatriz da Consolação Mateus Buchili, que exercia o cargo desde Agosto de 2014 (quando substituiu o juiz Augusto Paulino), o Presidente da República nomeou o procurador Américo Julião Letela, magistrado do Ministério Público com mais de 20 anos de experiência.

 

Américo Letela assume os destinos do Ministério Público, num momento em que o país regista, há mais de 30 dias, manifestações populares em repúdio aos resultados eleitorais, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane, que reclama vitória no escrutínio de 09 de Outubro.

 

As manifestações, consideradas “violentas e subversivas” pelo Governo, já resultaram na morte de pelo menos 67 pessoas, em todo o país, na sua maioria civis, assassinados pela Polícia. Aliás, é convicção da sociedade civil que o Ministério Público deve investigar as atrocidades cometidas pela Polícia e levar os seus responsáveis à barra da justiça.

 

No entanto, até ao momento, o Ministério Público abriu apenas processos-criminais contra os manifestantes (208), entre os quais, Venâncio Mondlane. Foram ainda instaurados dois processos cíveis contra o candidato suportado pelo PODEMOS, nos quais são exigidos mais de 130 milhões de Meticais.

 

As mudanças na liderança da PGR não passam despercebidas em alguns círculos sociais. O advogado Eduardo Guilaze Júnior defende que a nomeação de um Procurador-Geral num período “tão curto” parece “apressada” e “potencialmente manipuladora”.

 

“A mudança numa posição tão crucial não deve ser feita levianamente, especialmente quando se considera a necessidade de estabilidade e continuidade das políticas e acções dentro do sistema de justiça. Essa nomeação, em vez de promover a transparência e a confiança nas instituições, pode ser interpretada como um gesto de desespero que não beneficia o país”, considera o jurista, numa publicação feita na sua conta do Facebook.

 

O novo Procurador-Geral da República iniciou as suas funções de magistrado do Ministério Público, no distrito de Panda, província de Inhambane, como Procurador Distrital, antes de escalar o distrito de Vilanculos.

 

Igualmente, desempenhou o cargo de Procurador-Chefe nas províncias de Cabo Delgado e Tete e de Sub-Procurador-Geral da República, no Tribunal Superior de Recurso da Cidade de Maputo. Ocupou ainda as funções de Procurador-Geral Adjunto, tendo dirigido o Gabinete Central de Combate à Criminalidade Organizada e Transnacional. (Carta)

PascoalRonda041224.jpg

O Governo de Moçambique prometeu esta terça-feira usar “todos os meios à sua disposição” para impedir as manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, defendendo que são ilegais e não cumprem com a lei.

 

“O Governo, através das Forças de Defesa e Segurança [FDS], vai usar todo os meios à sua disposição para assegurar que se possam realizar cerimónias sociais como sejam casamentos, funerais, festas, entre outras incluindo o funcionamento normal das instituições”, declarou o ministro do Interior de Moçambique, Pascoal Ronda, em conferência de imprensa em Maputo.

 

O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou segunda-feira a uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, a partir de hoje, em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08:00 às 16:00 (06:00 às 14:00 em Lisboa).

 

“Todos os bairros em actividade forte”, disse Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, numa intervenção através da sua conta oficial na rede social Facebook, convocando este novo período de contestação de 04 a 11 de dezembro.

 

“Vão-se concentrar nos bairros e nas avenidas principais que atravessam os nossos bairros, – não temos necessidade de fazer grandes deslocações – levantando os nossos cartazes”, disse Venâncio Mondlane.

 

O ministro de Interior Pascoal Ronda defendeu que a intervenção das FDS para conter as manifestações e marchas não deve ser entendida como “uso excessivo de força”, pedindo que seja visto como ato para repor a "ordem, segurança e tranquilidade públicas” com o objetivo de permitir o funcionamento normal das instituições.

 

“Não se deve confundir como uso excessivo de força quando as FDS empregam os seus recursos para a proteção proporcional de infra-estruturas críticas públicas e privadas”, afirmou o governante, insistindo que a ação das forças policiais visa o “cumprimento do dever sagrado” de proteção da pátria.

 

Pascoal Ronda acusou ainda Venâncio Mondlane de convocar manifestações “violentas contra o Estado”, classificando-as de “ilegais e que não cumprem com os requisitos da lei”. “Estes actos contrários à lei e que pela sua gravidade lesam a paz e harmonia social, a ordem e tranquilidade públicas, ao direito de circulação livre de pessoas, ao pleno exercício dos direitos e liberdades dos demais cidadãos, são veementemente repudiadas e condenadas. Tolerância zero a estes atos subversivos de terror”, avisou o governante.

 

“Inclui as manifestações que, embora alegadamente pacíficas, se tornaram violentas e assumem contornos subversivos por comprometerem o exercício de outros direitos fundamentais legais de outros cidadãos aos quais preenchem um tipo legal de crime”, concluiu Pascoal Ronda.

 

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia. Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.

 

Referir que esta é mais uma ameaça proferida pelo Ministro do Interior aos manifestantes que, entretanto, se têm mostrado irredutíveis nos seus objectivos, bloqueando, a cada convocação, estradas e queimando pneus. Ronda, recorde-se, chegou a anunciar, de forma ilegal, a suspensão das manifestações por considera-las “subversivas”, porém, sem sucesso. (Lusa/Carta)

AbinoForquilha011124 (1).jpg
Com quase 24 horas de atraso, relativamente a data e hora inicialmente agendadas, o Presidente do PODEMOS, partido que suporta a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, apresentou, esta terça-feira, a sua proposta de soluções à actual crise pós-eleitoral, caracterizada pelas manifestações populares, em repúdio aos resultados das eleições de 09 de Outubro, que aponta uma vitória da Frelimo e seu candidato com mais de 70% dos votos.
 
Em conferência de imprensa concedida no final da manhã de hoje, Forquilha defendeu que a solução da actual crise política passa, primeiro, por identificar o problema que, na concepção do seu partido, está na "sonegação da democracia e na fraude eleitoral".
 
Segundo Forquilha, é necessário que o Conselho Constitucional confronte as actas e editais entregues pelos partidos políticos com os documentos submetidos pelos órgãos eleitorais e, na impossibilidade de chegar à verdade eleitoral, realizar uma auditoria forense ao processo eleitoral, na qual é preciso responsabilizar, de forma clara, os responsáveis pela fraude.
 
O Presidente do PODEMOS afirma que não se pode invalidar o processo sem que se  avance as razões e muito menos se responsabilizar os autores da fraude. Aliás, o político entende que, resolvendo este problema, é possível cessar-se as manifestações populares, pois, estas foram convocadas em protesto aos resultados das eleições presidenciais, legislativas e provinciais de 09 de Outubro. O político classifica as manifestações como um acto de pressão.
 
Para além de identificar o problema, Albino Forquilha defende a definição de princípios de diálogo político que passam, necessariamente, por reconhecer que todos "somos moçambicanos" e que a solução dos problemas passa por "todos nós". Igualmente, é preciso que as soluções não sejam apresentadas para o benefício deste ou daquele partido, mas do país.
 
Forquilha afirma ainda que é preciso identificar os actores relevantes do problema, que são a Frelimo e o Governo, enquanto responsáveis pela fraude, e o PODEMOS e o candidato presidencial Venâncio Mondlane, na qualidade de vítimas. Noutro estágio, explicou, o diálogo deverá incluir outros actores estratégicos, que são os partidos políticos e organizações da sociedade civil, incluindo organizações profissionais.
 
Em relação ao diálogo político entre o Presidente da República e os candidatos presidenciais, cuja primeira ronda falhou na última terça-feira, o Presidente do PODEMOS entende ainda não haver condições para a sua realização, uma vez que ainda não foram extinguidos  os processos que pesam sobre Venâncio Mondlane e muito menos foram dadas as garantias de segurança ao candidato para que este regresse ao país. Aliás, revela já haver "linhas de contactos" para realização do diálogo entre o PR e os candidatos.

Projecto “Mais Emprego” transforma vida económica de mais de 1400 beneficiários em Cabo Delgado.jpg

Orçado em 4.2 milhões de Euros, financiados pela União Europeia e gerido pelo Instituto Camões, o projecto “Mais Emprego” transformou a vida de 1435 beneficiários, nos últimos quatro anos, em Cabo Delgado, uma província devastada pelo terrorismo, desde 2017. A iniciativa é levada a cabo pela Secretaria de Estado da Juventude e Emprego (SEJE).

 

O Projecto foi lançado em 2020 com o objectivo de aumentar as oportunidades económicas da população de Cabo Delgado, particularmente os jovens, contribuindo para a melhoria do acesso ao trabalho decente e do respectivo rendimento.

 

Dos 1435 beneficiários, 937 são jovens, 317 formadores e técnicos de emprego e 181 técnicos e dirigentes das entidades parceiras, 304 estagiários acolhidos por 39 empresas e 149 jovens com kits de apoio ao auto-emprego.

 

Segundo o Embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura, mais de 50% dos jovens abrangidos melhorou o seu rendimento graças à intervenção do Projecto “Mais Emprego”.

 

“Apoiou ainda 35 Pequenas e Médias Empresas (PME) no seu percurso para a certificação de qualidade ISO: 9000, tendo sido concluídas auditorias internas de qualidade e apoiados os processos de candidatura à certificação por entidades competentes de 14 PME”, apontou o Embaixador.

 

Falando na cidade de Maputo, em conferência final dos quatro anos de implementação do Projecto, Moura acrescentou que, enquanto projecto-piloto, o Mais Emprego permitiu, com o seu apoio, o desenvolvimento de novas abordagens e mecanismos, nomeadamente, a instalação da Incubadora de Empreendedorismo Juvenil no Instituto Nacional do Emprego (INEP) em Pemba, do Centro de Excelência de Formação de Formadores da Universidade do Lúrio (UNILÚRIO), dos Gabinetes de Apoio à Inserção na Vida Activa, da Loja do Empreendedor Mais Emprego, da certificação internacional de formadores de soldadura e do Centro de Electrotécnica do Instituto de Formação Profissional e Estudos Laborais Alberto Cassimo.

 

“Estes resultados foram obtidos num contexto marcado permanentemente pelo conflito e pela crise económica provocada pela retração dos mega-projectos que arrastou consigo a maioria das PME que constituíam o tecido empresarial de Cabo Delgado”, lembrou o Embaixador.

 

Na conferência, alguns jovens beneficiários contaram as experiências colhidas com o Projecto “Mais Emprego”. É o caso da Maissa Rasse, residente em Pemba, proprietária da Serralharia Bila, formada em pintura de construção civil e soldadura. “Eu aprendi que para ter sucesso é preciso lutar, é preciso ser segura e dedicada. Aprendi também como conduzir um negócio, como gerir o dinheiro de forma adequada. Precisamos ser muito atentas e sérias, principalmente nós as mulheres”, disse Rasse, que se beneficiou também de um kit de soldadura.

 

Dos beneficiários falou também Ivan Baptista, jovem de 24 anos, formado em Higiene e Segurança no Trabalho, bem como Informática e Gestão de Pequenos Negócios. “Participei no concurso de ideias de negócios porque já tinha interesse no empreendedorismo. Eu queria algo diferente e não trabalhar para alguém”, contou. Com o Projecto, o jovem conseguiu abrir a IT Transportes e Serviços. Conta com algumas motorizadas, das quais, quatro para táxi e as restantes para entregas de encomendas”, contou o empreendedor. Com o negócio, diz conseguir um lucro mensal de 30 mil Meticais.

 

No seu discurso de ocasião, o Secretário de Estado da Juventude e Emprego, Oswaldo Petersburgo, disse que é preciso acarinhar, encorajar e apoiar aqueles que com foco e determinação promovem o bem. “Vocês são exemplo de resiliência e inspiração. Espero que mais jovens se inspirem verdadeiramente em vós para lutarem pelo bem de Moçambique”, disse Petersburgo, dirigindo-se aos beneficiários.

 

O evento contou com o Embaixador da União Europeia em Moçambique, Antonino Maggiore, que igualmente se mostrou feliz pelos resultados do Projecto. Ao que “Carta” apurou no local, a União Europeia e parceiros estão a terminar conversações para o alargamento do orçamento para cerca de nove milhões de Euros, bem como para extensão do projecto a Nampula, província onde os terroristas recrutam jovens para as suas fileiras. Ainda não há data para o anúncio e arranque da segunda fase do Projecto “Mais Emprego”. (Evaristo Chilingue)

manistacoes031224.jpg

Pelo menos 76 pessoas morreram e outras 240 ficaram feridas por baleamento em Moçambique em 41 dias manifestações de contestação dos resultados eleitorais, indicou ontem a Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.

 

Segundo o relatório divulgado por aquela plataforma de monitorização eleitoral, que aponta dados de 21 de outubro a 01 de dezembro, há ainda registo de “mais de 1.700 feridos por causas diversas”, em todo o país, nestas manifestações e uma estimativa de “mais de 3.000 detenções”.

 

O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou ontem uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, a partir de quarta-feira, em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08:00 às 16:00.

 

“Todos os bairros em atividade forte”, disse Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, numa intervenção através da sua conta oficial na rede social Facebook, convocando este novo período de contestação de 04 a 11 de dezembro.

 

“Vão-se concentrar nos bairros e nas avenidas principais que atravessam os nossos bairros, - não temos necessidade de fazer grandes deslocações - levantando os nossos cartazes”, disse Venâncio Mondlane.

 

Tal como aconteceu de 27 a 29 de novembro, o candidato presidencial pede que as viaturas parem de circular das 08:00 às 15:30 locais (menos duas horas em Lisboa), seguindo-se então 30 minutos para se entoar os hinos de Moçambique e de África nas ruas.

 

“Vamo-nos manifestar de forma ininterrupta, sem descanso. Vão ser sete dias cheios (…). Todas as viaturas, tudo o que se move, fica parado”, insistiu, pedindo aos automobilistas para colarem cartazes de contestação nas viaturas que circulem até às 08:00 e depois das 16:00.

 

Na mesma intervenção, em que pediu o fecho de portas de várias instituições oficiais, exigiu ainda que as portagens sejam “encerradas” durante esta semana e aconselhou à suspensão de voos para o país.

 

“Pelo facto de nós estarmos a organizar o nosso país, manifestando a nível nacional, gostaríamos que se suspendessem - é uma recomendação, porque não vamos ter festas [Natal e passagem de ano], não há festas felizes quando um povo está triste, assassinado, preso (…) -, solicitar, que durante esta semana se suspendessem os voos de e para Moçambique”, disse o candidato, pedindo igualmente a paragem de toda a atividade escolar.

 

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.

 

Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional. (Lusa)

COLERA-19 (1).jpg

Os escritórios da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) no distrito de Mogovolas, na província de Nampula, foram alvo de ataque, na última sexta-feira (29), por parte da população, resultando em vários danos. A situação forçou a paralisação das actividades.

 

Mais uma vez, a desinformação sobre a cólera foi a principal causa da destruição. Os atacantes acusam os funcionários da MSF de alegadamente estarem a propagar micróbios que causam a cólera, que assola aquela região de Nampula.

 

Uma fonte revelou à "Carta" que, antes do ataque aos escritórios da organização, os populares haviam deixado uma carta na qual alertavam que, caso as mortes por cólera não cessassem, as instalações e os contentores alocados para serviços de cirurgia seriam destruídos.

 

A mesma fonte acrescentou que, nos últimos dias, as autoridades têm enfrentado dificuldades para manter uma boa convivência com a população. Recentemente, os operadores de táxi-mota de uma praça local se recusaram a manter um encontro com o administrador local.

 

A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula confirmou a destruição dos escritórios da MSF, resultante da desinformação sobre a origem da cólera, propalada por indivíduos ainda desconhecidos. A porta-voz da PRM, Rosa Chaúque, confirmou o ataque às instalações da organização Médicos Sem Fronteiras.

 

“Um grupo de indivíduos desconhecidos invadiu as residências dos Médicos Sem Fronteiras, munido de bombas caseiras e instrumentos contundentes. Amarraram o guarda do local, incendiaram um veículo e uma motorizada e subtraíram um telemóvel, alegadamente por estes estarem a distribuir medicamentos contra a cólera naquele distrito”, disse em conferência de imprensa esta segunda-feira (2), na cidade de Nampula.

 

A fonte garantiu que "decorrem, neste momento, diligências para a neutralização dos autores deste acto. Refira-se que o distrito de Mogovolas é o único que, neste momento, regista casos de cólera ao nível da província de Nampula, com sete óbitos confirmados até ao momento. (Carta)

Parte das escolas da província de Maputo não realizou provas.jpg

Os professores prometeram e cumpriram com o boicote aos exames, especialmente na província de Maputo. "Carta" contabilizou cerca de nove escolas, onde os alunos foram retirados das salas de aula pelos professores, sob a alegação de que o Governo não pagou as horas extras em atraso, que se verifica desde 2022.

 

A paralisação dos exames aconteceu em várias escolas secundárias, tais como da Liberdade, de Matlemele, da Matola, Malagatana Nguenha, Eng. Filipe Nyusi, Nelson Mandela, do Bili, da Massaca e Unidade 2, todas na província de Maputo.

 

“Já bebemos água o suficiente, inclusive tivemos várias reuniões com as direcções provinciais e com o próprio Governo, sendo que nenhuma conversa surtiu efeito. Todos os dias só fazem promessas que nunca cumprem”, disseram os professores da Escola Secundária Eng. Filipe Nyusi que, por sinal, foram os primeiros a contactar a Redacção da “Carta” na manhã desta segunda-feira, informando que estavam a mandar embora os alunos porque o Governo não cumpriu com a sua promessa.

 

Na Escola Secundária Unidade 2, por exemplo, a direcção da escola deu batas aos vizinhos, que tiveram de pular o muro para controlar o único exame de português que foi realizado, enquanto os professores se manifestavam do lado de fora, exigindo pagamento das horas extras. "Não estamos a pedir nenhum favor, estamos a exigir aquilo que são os nossos direitos e não vamos entrar nas salas de aula enquanto não formos pagos", afirmaram os professores.

 

Na Escola Secundária da Liberdade, a direcção tentou negociar com os professores, horas antes do início dos exames, mas sem sucesso. Os professores mantiveram-se firmes na sua decisão de não entrar nas salas de aula.

 

No caso da Escola Secundária da Matola, os professores entraram nas salas e dispersaram os alunos, que saíram aos cânticos e ao som de apitos, em apoio à causa da classe. Em Boane, depois de os professores mandarem os alunos da 12ª classe saírem das salas e irem para casa, estes decidiram juntar-se e iniciar uma marcha ao som de “vuvuzelas” e apitos.

 

Quanto à capital do país, apesar do boicote de alguns professores, na maioria das escolas os alunos realizaram os exames normalmente. Vale ressaltar que nesta segunda-feira haviam sido agendados os exames de Português e Biologia para a 10ª e Português e Filosofia para a 12ª classe, mas, em algumas escolas, só foi possível realizar um único exame devido ao boicote.

 

"Carta" soube que alguns funcionários do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), destacados para o terreno para acompanhar a situação de perto, prometeram que o pagamento das horas extras seria efectuado até ao fim do mês corrente. (Carta)

custovidamoz-min_1 (2).jpg

O Banco de Moçambique afirma que os preços vão aumentar até final do ano devido às consequências da tensão pós-eleitoral no país, de acordo com a mais recente previsão, a que a Lusa teve acesso.

 

O relatório de Conjuntura Económica e Perspetivas de Inflação (CEPI) indica que a inflação em Moçambique “manteve-se estável em outubro”, apesar de um ligeiro aumento para 2,68%, mas “as perspetivas de curto prazo apontam para uma aceleração da inflação anual no quarto trimestre de 2024”.

 

“Esta previsão decorre, essencialmente, das restrições no fornecimento de bens e serviços decorrentes da tensão pós-eleitoral”, lê-se no relatório.

 

Acrescenta que o inquérito de novembro aos agentes económicos “aponta para a estabilidade da inflação anual”, em torno de 3,14 % em dezembro, equivalente a 19 pontos base “abaixo das expectativas divulgadas no inquérito anterior”.

 

O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, afirmou, há precisamente um mês, que a instabilidade pós-eleitoral no país não altera as previsões de crescimento - 5,5% segundo o Governo em 2024 -, que já incorporavam essa possibilidade, desde que “se dissipe” no “curto prazo”, o que não aconteceu até agora, com sucessivas paralisações e manifestações, incluindo o encerramento da maior fronteira do país.

 

“Por enquanto, na base daquilo que sabemos hoje, de como esses riscos estão a ocorrer e se está materializando neste momento (…) no entendimento que esse processo, esses riscos, se dissipem no curto prazo, é que essas perspetivas da nossa economia são positivas. Hoje, por enquanto. No entendimento que se dissipe num período razoável, curto”, disse na altura o governador.

 

“É essa a mensagem, porque já estavam incorporados [os riscos pós-eleitorais], na nossa visão, nas nossas perspetivas. Hoje só se estão a realizar. Não são uma coisa nova em que, como tal, temos que ajustar as nossas previsões”, acrescentou Zandamela.

 

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que disse que vai anunciar hoje uma nova vaga de contestação.

 

A anterior, entre 27 e 29 de novembro, levou a nova paralisação da cidade de Maputo, com barricadas de manifestantes por toda a capital, impedindo a circulação.

 

Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional. “As nossas projeções já têm vindo a incorporar esses riscos, essas incertezas”, garantiu o governador do Banco de Moçambique.

 

Esta onda de contestação acontece em Moçambique desde 21 de outubro, com as atividades económicas fortemente condicionadas, com protestos pós-eleitorais que até se alastram ainda à principal fronteira do país, Ressano Garcia, com a África do Sul. (Lusa)

Pág. 7 de 1460