Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Carta do Fim do Mundo

quarta-feira, 13 abril 2022 08:19

Abril, Mês da Desintoxicação das Mentes

7 de Abril é o dia da mulher moçambicana. Por isso, escolhi defender a ideia segundo a qual, o mês Abril simboliza, na nossa historicidade moçambicana, o início da luta contra mentes ensombradas pelo machismo (ou masculinidade) e feminismo (ou feminidade) tóxicos. Mas, por razões óbvias e em respeito à data, vou limitar-me ao que este mês representa a luta contra uma masculinidade tóxica.

 

Nascido numa família onde maioritariamente são mulheres, aprendi logo cedo neste meio cultural e tradicional, que nós, irmãos, e homens no geral, temos como missão proteger e cuidar as nossas irmãs, mães, tias e de qualquer mulher. Não é por acaso que, na perspectiva ubuntu, todas as mulheres mais velhas, e em alguns casos as mais novas da família e aldeia, sobrinhas ou netas como exemplos, são chamadas “mãe”. Digo “são” com a consciência de que alguns intelectuais distraídos do meu tempo preferem usar o passado “eram” quando falam do seu meio cultural de origem, esquecendo que passado não é o mesmo que ultrapassado.

 

O que depois, pela sociologia, veio a ser chamado “bastidores”, e, pela ciência política “espaço subalterno” ocupado pelas mulheres nas culturas africanas, era para mim apenas valores tradicionais: respeito e cuidado pelo “sexo fraco”. Esta era uma masculinidade básica, por outra culturalmente originária e não toxicada. Trata-se da masculinidade segundo a qual qualquer “mãe” da aldeia tem por missão educar a todos os filhos. Não sei quem terá dito que uma aldeia africana é composta por dois tipos de pessoas: mulheres e seus filhos e filhas, incluindo em ambos grupos os “ainda-vivos” e “morto-vivos” se falarmos com filósofo queniano John Mbiti.

 

Mas, à medida que eu crescia, ia tropeçando perante um outro tipo de masculinidade. Já no contexto mais amplo da sociedade colonial capitalista, a masculinidade já não aparece sob a mesma forma original e tradicional que aprendi, senão forma “tóxica” – como classifica a filósofa brasileira Djamila Ribeiro. Isto é, segundo esta filósofa, ligada ao músculo, à violência e ao machismo. Enquanto culturalmente original a masculinidade se apresenta em forma de uma educação para assumir o papel social de responsabilidade, protecção e segurança da mulher e família, como sustentava o sage Viegas, a masculinidade tóxica, por seu lado, tomada de uma narrativa da cultura patriarcal-colonial capitalista, empurrava-nos, a assumir comportamentos socialmente sexistas, discriminatórios baseados no género e mesmo violentos. Estes resultavam nocivas para o próprio homem e com consequências graves para a sociedade moçambicana, por esta, durante muito tempo, privar-se do uso da força, inteligência e estética da “capulana”, como afirma a intelectual moçambicana Dulce Passades.

 

Por isso, o 7 de Abril representa o dia em que as mulheres moçambicanas decidiram dizer basta e lutar pela desintoxicação das mentes machistas dos tempos da luta armada pela libertação e, mais tarde, nas estruturas culturais, políticas, sociais e económicas da sociedade.

 

Quais são, então, as armas que as mulheres, representadas e simbolizadas pelo então Destacamento Feminino da Frente de Libertação de Moçambique, teriam usado na sua longa marcha pela desintoxicação das mentes machistas, escondidas sob capa de masculinidade? Elas foram três: a força física, a inteligência (adicionalmente a emocional) e a estética simbolizada na capulana.

 

O primeiro grupo de mulheres que aceitou receber treinos militares para a frente de combate, incluía a Marina Pachinuapa, cuja retórica sucinta e profunda me deixa sempre admirado quando disserta sobre esta data e momentos da nossa história recente. Elas, naquelas circunstâncias, ao aceitarem o que até então se considerava tarefa dos homens, desafiaram a ideia, segundo a qual, pertenciam ao “sexo fraco”, com a qual todos nós, africanos e europeus, crescemos com sendo o “normal”. Aquelas meninas demonstraram que o dito sexo fraco possuía, na verdade, a mesma força física que o companheiro e o camarada detinha, dependendo apenas da capacidade e vontade política de educação e adequado treino.

 

Como poderíamos continuar a chamar fraca à uma mulher que carregava material e alimentos à cabeça e nas suas costas por longas distâncias? A propósito, mesmo hoje, quando se trata de deslocar-se das zonas afectadas pelas guerras no Centro e no Norte, para zonas mais seguras devido aos desastres naturais, a mulher demonstra a mesma força. Esta teoria de sexo fraco, demonstraram as mulheres do Destacamento na prática, era, de facto, uma grande aberração, uma grande narrativa enganosa. Na verdade foi criada no quadro de uma sociedade patriarcal tóxica machista – refiro-me à sociedade colonial – e projectada às tradições africanas como se fosse um comportamento natural, não desviante para o dito negro.

 

O facto de as mulheres se terem mostrado mais fortes no carregamento do n´tolo à cabeça (os homens, por natureza, usam mais os braços) serve-me de uma ponte simbólica para a segunda “arma” de luta feminina contra a masculinidade tóxica – e inteligência. Também nos foi imputada a ideia que ela é a menos inteligente que o homem. Daí que não se lhe tenham sido desde reservado papéis de liderança na família e na direcção política. Numa sociedade que se organiza de forma de luta e competição, e não por cooperação, para a conquista de lugares na estrutura do poder, interessava construir uma narrativa de uma mulher menos inteligente. No entanto, a experiência que fomos tendo enquanto sociedade política moçambicana em crescimento – e aqui refiro-me à criação da OMM, das Ligas Femininas dos partidos políticos, dos gabinetes e associações femininas operárias e camponesas, funcionárias públicas, fóruns mulheres parlamentares, grupos de pesquisas sobre o gênero, o seu desempenho na educação, no ensino superior em particular, etc. – a mulher moçambicana tem demonstrado uma dupla vantagem.

 

Pois, ela não apenas demonstra possuir uma inteligência “normal” e igual ao homem em termos de percepção, entendimento, ciência e acção, como sobretudo e adicionalmente, a inteligência emocional. E esta lhe dá vantagens competitivas em relação ao homem em lidar com situações de crises familiares, de guerra, calamidades, deslocamentos forçados, tensões sociais, crises institucionais, etc. O seu amor e carinho naturalizado coloca freios à tendência masculina, também naturalizada, do uso da força e violência brutas. Ela nos convida sempre a um “segundo olhar”, antes do uso da força. Nos recorda sempre ao “o que diria a nossa mãe”, antes de enveredarmos pelo caminho violento. Porém, não devemos naturalizar esta característica emocional feminina. Devemos perceber que ela foi conquistada a partir do seu lugar de resistência contra a masculinidade tóxica tradicional e machista das sociedades tanto europeias como africanas.

 

Durante muito tempo, o mundo e as sociedades, desviados pela masculinidade tóxica, perderam a oportunidade de se deixarem aconselhar por esta inteligência emocional. Até porque o sucesso do que chamamos hoje inteligência artificial, aproveita-se muito da inteligência emocional da mulher. Por isso, podemos dizer que, em certa medida, o mês Abril, simboliza, com a inclusão da inteligência emocional, para além da sua inteligência natural, um grau acrescentado na humanização nas várias frentes do movimento de libertação moçambicano. E também das lutas que ainda travamos para o desenvolvimento, sobretudo pela reconciliação. A não inclusão e consideração da mulher moçambicana em todas estas frentes, seria declarar uma derrota antecipada. O respeitar a “mãe” da aldeia, deve transformar-se em “ouvir” e “seguir” a voz feminina e no feminino. Este aconselhamento naturalizado feminino deve transformar-se num dos elementos fundacionais de uma ética de reconciliação com o Outro, algo muito ausente na nossa (des)convivência política, sobretudo no período das eleições, no parlamento e afins.

 

A terceira “arma” de Abril contra a masculinidade tóxica – a estética – me parece ter sido a mais forte, embora até agora com menos narrativas feministas moçambicanas. A masculinidade tóxica olha para a mulher com sexismo e na perspectiva do sexo belo. A Marina Pachinuapa, numa palestra na Universidade Pedagógica de Maputo, relativamente ao papel do Destacamento Feminino, denunciava o que alguns homens integrantes do movimento de libertação, em particular os progenitores, chamaram por “mulheres desviadas”. Consideravam estes que, indo as jovens participar nos treinos militares ao lado do homem, seriam consideradas “mulheres de má vida”, temendo, sobretudo os pais, elas depois não serem aptas depois para construir um lar “normal”.

 

Ainda recentemente, tenho reparado que, quando uma mulher é nomeada ministra, administradora, ou para um outro cargo público, o sexismo volta à carga. Os camera men, apesar do respeito que tenho por eles, não escapam, muitas vezes a este impulso sexista: mostram a “corpo” inteiro no pequeno ecrã, começando dos pés à cabeça, sugerindo motivos adicionais para a sua nomeação, que não tenham sido a sua formação, capacidade e inteligência. A tal pergunta não falta – por que “outros” motivos ela teria sido nomeada? Teremos que combater esta “mulher boleia” do homem, pela mulher-competência.

 

“Mas não se enganem” – diria o historiador Carlos Machili – “a qualidade vem da quantidade; querendo dizer com isso da inclusão”. Pois, não existe o númeno sem o número.

 

Defendo que, enquanto sociedade moçambicana, encontramo-nos num ponto de inflexão de confundirmos a beleza com o sexismo: as cores, a elegância, a graça, enfim a estética, com a qual as mulheres moçambicanas emprestam a nossa vida pública, cultural, política e institucional não se deve reduzir ao sexo belo. A mulher africana impôs, nas últimas décadas, uma estética própria. E a mulher moçambicana tem somado vitórias nesta luta contra a toxidade machista. A mulher está a conduzir, por via da estética africana simbolizada aqui pela capulana, repetindo Passades, a revolução mais inteligente de todos os tempos na história da humanidade.

 

Para o caso de Moçambique, para mim, Abril simboliza o início formal da luta contra o sexismo e pela desintoxicação da mente machista. Pois, a maior revolução foi normatização desta imagem: uma mulher com um lenço na cabeça e com uma arma nas mãos. Não uma arma para matar, mas para libertar a terra e libertar-se do machismo. O lenço e a capulana, proibidos no tempo colonial e nos primeiros momentos do fervor revolucionário, passaram a hoje a embelezar qualquer espaço público. Uma conquista e vitória feminina sobre o sexismo e masculinidade tóxica despercebida, cuja a “arma” fundamental foi a estética do belo.

 

Não tenho a certeza se aquelas meninas do Destacamento Feminino foram admitidas a levarem os lenços na cabeça para os treinos militares – perguntarei isso à “mamã” Marina Pachinuapa um dia. Todavia, tenho certeza que, quando esta veio falar aos intelectuais da universidade sobre suas lutas, trajava um lenço que condizia com o vestido de capulana. O triunfo da revolução estética feminina – a mais inteligente revolução a que já testemunhei nestes últimos tempos da nossa historicidade. E considerem-se vitoriosas, porque a  juventude moçambicana, sejam rapazes ou raparigas, continua a revolução estética africana hoje, seja por via de penteados afros, seja nos diferentes Mozambique Fashion Weeks, somente para dar alguns exemplos.

 

Naturalmente que haverá assuntos menos vitoriosos nestas narrativas de lutas feministas moçambicanas. É o caso, por exemplo, a inclusão do papel das diversas “ligas femininas” e de outras mulheres revolucionárias do “outro lado”, como o caso da Joana Simeão, por exemplo. Estas deveriam sair das notas-de-roda-pé a que se encontram destinados na nossa narrativa oficializada, para o texto principal da nossa historicidade colectiva. Mas fico, por hoje, pela celebração do símbolo da desintoxicação.

 

Viva Abril, mês em que, para nós moçambicanas moçambicanos, iniciou a revolução feminina contra a masculinidade tóxica. E ainda bem que há cada vez mais homens que embarcam nesta batalha, “ao lado”, como tratou de frisar Mariza Mendonça no dia 7 de Abril.

terça-feira, 05 abril 2022 07:50

Um terror chamado viagem a Inhambane

quarta-feira, 23 março 2022 08:21

É preciso ser cara de pau mesmo!

Se todos nós percebemos bem, um “porta-voz” da oitava secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM), ao impedir a cobertura noticiosa em directo do julgamento do caso “Helena Taipo”, a decorrer na Katembe, em Maputo, evocou alto e bom tom que, cito de memória, os réus gozam da presunção de inocência; e por isso as sessões de discussão, produção de provas e julgamento não podiam ser transmitidas pela comunicação social.

 

Tão somente isso: se as sessões estivessem a ser transmitidas em directo, estar-se-ia a violar o sacrossanto direito de “presunção de inocência dos réus”!, na óptica do diligente oficial.

 

Quid juris? - como eles próprios, os juristas, costumam redarguir! De quê é que estamos a falar de facto e de júri? Não passa um único segundo depois que vimos ao vivo tudo o que se passava na “tenda das revelações”, diariamente, hora a hora, minuto a minuto e segundo a segundo! Durante seis longos meses - de 23 de Agosto de 2021 a 10 de Março de 2022. Em Dezembro, praticamente só se trabalhou dez dias! Aliás, o tal julgamento ainda não terminou… falta a leitura do veredicto final.

 

Vimos ali na “tenda das revelações” tudo o que havia para ver na vida. Tristezas, não tristezas, choros, agonias, desesperos, aflições… tudo! Vimos todos os modelos de cabelo de Ângela Leão, os vestes e calçados de outro mundo do Ndambi, os chapéus do ACR, os fatos de Moda de Sidónio, as sonecas do Nhangumele, Mutola e quase todos os outros. Vimos todos isto.

 

E vimos porquê? Justamente porque o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo permitiu que víssemos! Permitiu que o julgamento fosse transmitido em directo pela comunicação social. O mesmo Tribunal Judicial da Cidade de Maputo que, na voz daquele cidadão, nos veio, segunda-feira, dizer que a transmissão viola o princípio de “presunção de inocência”! Quid júris?

 

Significa isto, então, que o TJCM, ele próprio, estava a violar este princípio quando permitiu que se transmitisse em directo o julgamento? Estava a violar o princípio da presunção de inocência quando permitiu a transmissão do julgamento do caso Carlos Cardoso e do BCM? Onde está a consistência? Então todos os réus envolvidos em todos os casos cujos julgamentos foram transmitidos em directo podem… pedir justiça e ressarcimento ao… TRIBUNAL JUDICIAL DA CIDADE DE MAPUTO… pela violação do seu direito de presunção de inocência? Podem?

 

Sabemos e compreendemos que os juízes são soberanos. Mas sabemos e compreendemos também que os juízes agem em estreita obediência à lei. Agora, digam-nos: qual é esta lei que muda de cor tipo camaleão… numa situação, permite transmissão em directo e noutras situações não permite? Qual é essa lei? Havendo-a, que todos os juízes a observem!… Ou cada juiz tem a sua lei e a vai exibindo e usando à medida das suas conveniências?…

 

Mas, deixando a matéria de direito de lado e indo à matéria dos autos: olhando para o objecto dos dois julgamentos, o da “tenda das revelações” e o da “Helena Taipo”, bem, bem, bem… qual é o que não merecia transmissão em directo? Não é aquele em que informações sensíveis do Estado foram expostas mundialmente? O armamento que se pretendia adquirir, como, a finalidade, etc., etc…. Não era este julgamento que devia ter sido “escondido”? Não o foi.

 

Agora, um caso em que os réus são acusados de se terem apoderado de dinheiro dos mineiros… o que é que há de segredo de Estado que é preciso preservar, esconder? A figura de uma ex ministra? Convenhamos!

 

Por último. Há um equívoco muito grande para com a essência da comunicação social. O trabalho da comunicação social é levar ao conhecimento dos membros da sociedade os actos que ocorrem nessa mesma sociedade. A comunicação social não realiza altos, não acusa ninguém, procura tão somente reportar o que acontece na sociedade. Quem realiza actos são os actores sociais, quem acusa são os ofendidos e o Ministério Público. Reportar isto é violar o princípio de presunção de inocência de alguém? Reportar a sessão de julgamento é violar o princípio de presunção de inocência de alguém?

 

Ademais. Quando alguém é nomeado ministro e a comunicação social reporta e transmite a sua tomada de posse, aí está tudo bem! Não há violação de nada… Só quando reporta a sessão de discussão, produção de provas e de julgamento é que já está a violar a presunção de inocência? Todo o acto praticado por uma figura pública é de interesse público!

 

Ou então, não seja figura pública!

 

ME Mabunda

terça-feira, 15 março 2022 12:46

MEDIOCRIDADE

terça-feira, 08 março 2022 13:10

Um regresso a Maqueze!

Quando não se passa nada! Não se passou literalmente nada um ano depois!

 

Em Maio do ano passado,  juntamente com a minha família e a de um amigo, Sitoe, desloquei-me a Maqueze para participar numa missa de passagem de seis meses da morte de um amigo, Jossias Gabriel Mathe, Deus o guarde devidamente. Uma viagem que tinha tudo para ser muito prazerosa, doce, romântica; mas, como relatei em crônica na altura, acabou estragada somente porque… estávamos desavisados de que não se atravessava no Alto Changane, a via estava (ainda está) interrompida pelas águas. Idos de Maputo, precisamente às 7:45, estávamos na margem sul do rio Changane, do lado da “vila”, prestes a seguir para Maqueze! Estávamos há 20 minutos do destino. Quase focinhávamos as águas… Tivemos que voltar até Chibuto, uma hora e tal de condução… dar a volta, seguir até Mohambe, cerca de 25 quilómetros, depois desviar, mais umas duas horas de estrada de terra batida, escorregadia, esburacada, traiçoeira e algo perigosa.  No lugar de chegar ao destino à hora e em condições desejadas, bem dispostos, acabámos por chegar atrasados, cansados e sem o ânimo necessário para estar presente em cerimônias públicas.

 

Tudo por conta de uma ponteca que tarda uma eternidade em aparecer entre a “vila” de Alto Changane e Maqueze, apesar de, num passado não muito distante, ter havido fundos para tal e algum material de construção ter chegado mesmo a ser descarregado no local. Alguma pedra foi concentrada ali perto da margem, ainda que, hoje por hoje, não tenha uma única pedrinha de amostra.

 

Este ano, há uns dias, com os mesmos acompanhantes, lá me fiz de novo a Maqueze.

 

Encontrei um outro Maqueze. Está a desenvolver-se, a tornar-se vila. Mau grado a desurbanização que graça. Definitivamente, não estamos a conseguir erguer bairros, aldeamentos e mesmo vilas bem urbanizadas, ruas bem organizadas, bem estruturadas. Nada, não conseguimos. Falta alinhamento, ruas e ruelas bem desenhadas, atalhoamento padronizado, conforme e profissional. Nada. Maqueze, como muitos agregados pelo país fora, está a crescer desordenadamente! Mas está a crescer. Muitas construções à vista; palácios até. Água, já há um sistema de abastecimento. Energia, está em curso a construção de uma mini-central fotovoltaica. O futuro parece muito promissor!

 

Desta vez, ia a uma festa de aniversário de um amigo. Não era um aniversário qualquer, aniversário de uma figura emblemática, quase com a idade de pai: Amós Stefane Mahanjane! O embaixador Amós Mahanjane. Esse mesmo. Figura com espaço nobre na História de Moçambique, antigo combatente, representante do país no estrangeiro! Oficialmente, fazia 76 anos de idade; mas, de facto e de verdade, fez 82 primaveras! Uma boa idade, maior para aquilo que a sua compostura física aparenta - ainda com ar jovial. Uma figura muito afável, bondosa, de grande coração, ajudadora do outro, sempre preocupada com os outros.

 

Foram muitas palmas para o mano Amós, tantos eram os convidados presentes, entre familiares, amigos e conhecidos. Palmas, ovações e aplausos muito merecidos. Uma festa muito bonita. Simples, mas bonita! Muitas mensagens apresentadas. Muitas homenagens. Muitas vénias. Muitas ofertas. Muita alegria. Sem muito protocolo ou complicações, todo aquele que entendesse, dava o seu depoimento sobre o aniversariante. Depois, muita confraternização regada de abundante canhû e tanta comida. Só terminou noite adentro, com muita música, de uma banda local e de DJ, concurso de dança e canto improvisados. Foi muito bonito.

 

Depois, o fim. Chegou a vez de pegar a estrada. De novo, o calvário e a volta a dar. De Maqueze a Chibuto, são perto de 80 quilômetros, via Alto Changane. No entanto, via Mohambe, são cerca de 120 quilômetros!... setenta e tal dos quais em terra batida. Uma via escorregadia, esburacada, de terra falsa. Mas houve mundos e fundos para se reabilitar esta via e pô-la em condições melhores. Mas nada se passou. Dinheiro foi para o bolso do empreiteiro, a S. Construções; e nada de sério aconteceu que beneficiasse os utentes da via, os maquezenses, nhlanganinenses, etc., etc.

 

Foram 11.260.951,31 (onze milhões, duzentos e sessenta mil novecentos e cinquenta e um meticais e trinta e um centavos)! Isso mesmo! Onze milhões e duzentos e sessenta mil para um troço de 54 quilômetros! Apenas 54. Houve areiazinha aqui, uma pedrada ali… mais nada!

 

Termino como terminei a outra crônica a que fiz referência, de Maio de 2021. ATÉ QUANDO O SOFRIMENTO DOS COMPATRIOTAS MAQUEZENSES/NHLANGANINENSES? NÃO SÃO ELES MOÇAMBICANOS? NÃO MERECEM UMA PONTECA ALI [NO ALTO CHANGANE, PARA FACILITAR A VIDA DELES?] NÃO MERECEM?

 

Estou curioso em ouvir a música que se vai tocar para conquistar os votos daqueles concidadãos para os próximos pleitos!

 

ME Mabunda

(Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)

 

 

Pág. 16 de 38