Director: Marcelo Mosse

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Co'Licença

segunda-feira, 18 novembro 2019 05:48

O recado de Gaza

"O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons" - Martin Luther King.

 

Na verdade, é por nossa culpa que aqueles 18 jovens estão prezos ilegalmente em Gaza. O alvo somos todos nós. O alvo é a cidadania activa. O alvo é o exercício do direito constitucional. O alvo é a democracia.

 

O Estado sabe que aqueles miúdos nada fizeram de errado. Minto... o Estado sabe que a única coisa que os miúdos fizeram de errado foi terem acreditado no artigo 1 da Constituição da República (A República de Moçambique é um Estado independente, soberano, democrático e de justiça social) e no artigo 3 (A República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem).

 

Por isso, os 18 jovens, mais do que simples presos políticos, são vítimas de uma democracia convencional. Vítimas de um Estado de Direito de ocasião. Vítimas de um pluralismo de expressão para inglês ver. Vítimas de um respeito e de uma garantia dos direitos e liberdades fundamentais de fantochada.

 

A prisão arbitrária dos 18 jovens - dizia - é um recado. Um recado para todos nós. De resto, é assim em Estados autoritários. É assim que os governos autoritários mandam as suas mensagens. É assim que governantes que têm algo a esconder avisam. É assim que "guengues" mandam indirectas.

 

Seja como for, feliz ou infelizmente, nós não vamos desistir deste país. É o único que temos. É nosso "congenitamente" e por direito. Os nossos cordões estão aqui.

 

Preocupa-me este silêncio cúmplice do mundo. Este olhar colaborador da comunidade internacional. Este desdém incentivador da sociedade civil. Esta indiferença da mídia. Porquê?

 

É preciso que saibamos e entendamos, de uma vez por todas, que quem está preso não são apenas aqueles 18 jovens. Quem está preso somos todos nós. É uma prisão de consciência. Esta não é uma guerra contra a Nova Democracia. Não!!! É uma guerra declarada contra a cidadania. Um aviso à navegação. Querem colher os nossos tomates.

 

Soltem os jovens, a mensagem chegou!

 

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sexta-feira, 15 novembro 2019 09:01

É facto, todo o gatuno estará na tabela

É preciso que as pessoas entendam como funciona a tabela de gatunos de Nhangumele. Parece que a descoberta de novos códigos dos mesmos gatunos está a criar muita poeira nas nossas cabeças.
É imperioso explicar, em primeiro lugar, que a tabela de Teo é uma disposição sistemática dos gatunos segundo a sua família de origem, posição na sociedade, quantidade de taco que mamou e carga de estimação que o povo nutre por ele. Por isso, é natural que alguns gatunos criem poeira e sejam esquivos e despercebidos a olho nú. Mas o facto é que a tabela de Teo não falha.
De uma forma geral, assim como Mendeleev, que na sua tabela periódica ordenou na mesma linha (período) os elementos metálicos à esquerda e os não-metálicos à direita, Nhangumele ordenou os gatunos governamentais à esquerda e os não-governamentais à direita. É por isso que a tabela de Teo pode ser usada para deduzir as relações entre a gravidade dos gatunos descobertos, e predizer a gravidade dos novos gatunos ainda não descobertos ou sintetizados. 
Esta tabela é também importante para analisar a postura pública pós-roubo de cada gatuno que pode facilitar a análise da relação entre a postura pública do gatuno depois de roubar e o grau de estimação que o povo tem por ele. Por exemplo, pode-se saber a diferença de estimação popular entre um gatuno que depois do roubo ofereceu carros luxuosos aos seus amigos e casas a prostitutas e um gatuno que abriu machambas de batata e empregou pessoas.
 
"Os primeiros 94 elementos da tabela periódica [do russo Dmitri Ivanovic Mendeleev] existem naturalmente, embora alguns sejam encontrados somente em quantidades de trações e foram sintetizados em laboratório antes de serem encontrados na natureza. Elementos com o número atômico de 95 ao 118 foram somente sintetizados em laboratório ou reatores nucleares. Tem sido buscada a síntese de elementos com números atômicos maiores. Vários elementos radionuclídeos sintéticos ou que ocorrem naturalmente também têm sido produzidos em laboratórios" (Wikipédia).
 
Quem não entendeu? Esse tal de "Nuy" ou "Nys" ou "New Gay" ou "New Man" mais dia menos dia vai ter de aparecer. Tem espaço para ele na tabela. Se insistir em se fazer de esperto, será produzido em laboratório. Não é uns a tentarem desenvolver tabelas científicas sérias e outros a tentarem inviabilizar com espertezas.  Está aí o "HoS" ou "Head of State" ou "Papá", que foi sintetizado artificialmente em Brooklyn há dias. 
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quarta-feira, 13 novembro 2019 06:35

Nhongo é vítima

A 13 de Abril de 1981, com 11 anos de idade, Mariano Nhongo Chissingue foi capturado pelos "combatentes pela democracia". Uns meses depois, o puto aprendeu a disparar e virou menino-soldado. 

 

A RENAMO levou a infância de Nhongo. Não jogou a cabra-cega como os outros miúdos da sua idade. Sofreu muito. Combateu muito. Era criança. Cresceu a lutar muito. Tornou-se adolescente. Tornou-se rapaz. Tornou-se homem. Tornou-se Mariano Nhongo Chissingue, o tenente-general da RENAMO. 

 

Veio a paz. Em 1992, no tempo de desmobilização da ONUMOZ, a RENAMO decidiu não desmobilizar o tenente-general Mariano Nhongo. Não lhe foi dada a oportunidade de esquecer o peso da farda e da arma. 

 

Nhongo não teve um bom descanso. Malta dois-mil-e-qualquer-coisa, Nhongo voltou a combater "de novo". Lutou, lutou, lutou. Voltou a matar mais pessoas. Voltou a assaltar mais quartéis. Voltou a furar mais camiões. 

 

Acabou a guerra. Veio uma outra paz. Nhongo continuou fardado e armado. Continuou nas matas. Foi uma rapidinha de paz, tipo na baixa. Começou um outro combate. Nhongo não descansou. Voltou a combater. Voltou a lutar. Voltou a cavar estradas. Sempre nas matas. 

 

Vieram outras pazes e outras guerras da RENAMO. Nhongo - o menino Marito, esteve sempre na dianteira. Nunca descansou. Foi sempre o confiado. Salvou Afonso Dhlakama na emboscada de Zimpinga e esteve no resgate de da Beira. 

 

Era o mais confiado, mas hoje malta Momade não querem saber dele. Aquele ponta-de-lança astuto hoje está sozinho. Hoje dizem que Nhongo é criação da FRELIMO e da imprensa de direita. O braço direito do líder hoje está a ser amputado. Aquele que deu a sua infância, a sua vida e a sua alma à uma causa quando ninguém acreditava nela hoje é o traidor. O justiceiro hoje virou forasteiro. Ninguém lhe dirige a palavra. Passou de bestial à besta. Hoje, Nhongo é um problema simplesmente da FRELIMO e quem deve conversar com ele é unicamente Filipe Nyusi. Quem diria! Pode ser que Nyusi seja o Messias que lhe trará uma reforma condigna e o merecido descanso. 

 

Na RENAMO, Nhongo sofreu muito [mais que Mazamera]. De resto, fazer confusão é o que Nhongo sabe fazer de melhor. Não está a querer destruir bens, mas é o que ele tem para dar. É tudo o que a vida [a RENAMO] lhe ensinou. Nhongo podia ter tido um outro futuro. Podia ter sido uma boa pessoa. Nhongo teve uma educação atrofiada. Não levou tau-tau quando criança. 

 

Na verdade, Nhongo é mais vítima do que vilão. É vítima da própria RENAMO. É vítima da falta de agenda. É vítima do hábito da força. É vítima da política intestinal. 

 

"Je suis Nhongo". Não gosto do que ele faz, mas, ao mesmo tempo, sinto pena dele, mas também não gosto como a RENAMO está a tratar este assunto. Infelizmente, de uma pessoa que não teve infância, que cresceu na floresta e que apenas foi ensinada a disparar e a saquear por tudo e por nada não podemos esperar grandes virtudes. 

 

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quarta-feira, 06 novembro 2019 06:13

A tabela de Nhangumele

Eu insisto: Nhangumele é um génio. Não sei o que falta para tirarmos aquele miúdo da "djela" e condecorarmos o gajo como o clímax da inteligência moçambicana. Não sei de que estamos a espera. Só depois de ouvirmos que o puto Teo já tem uma estátua numa universidade de Nova Iorque é que vamo-nos preocupar em entender a sua obra. 

 

Veja: depois de vários estudos científicos, em 2017, a Pê-Gê-Ere concluiu que devia codificar os gatunos do relatório da Kroll para que fossem melhor percebidos. O que a Buchili e sua equipa de cientistas não sabia era de que o puto Teo já havia codificado os mesmos gatunos há uns bons anos "atrás". Malta 2012-2013, o puto Teo já chamava Guebas de "HoS" ou "Head of State". Poxa!!! Mas que toque de genialidade!!! 

 

Eu não aguento com esse jovem. O zénite da sua prodigiosidade foi o "Chopstick". "Chopstick" são aqueles palitos que os chineses usam para comer. E como o Chang é de origem chinesa, o nome caiu-lhe como uma luva. Agora me diz se tem dois Nhangumeles neste mundo? 

 

Na tabela de gatunos de Nhangumele tem Ros, tem Isalt, tem Dê-Gê, tem Prof, tem Eug, etecetera. Diferentemente do abecedário da Buchili, que não tem critério nenhum, os acrónimos de Nhangumele se encaixam perfeitamente nas pessoas e nas suas funções no calote. 

 

Assim como o químico Dmitri Mendeleev, que em 1869 já previa, na tabela periódica, lacunas para elementos químicos que ainda não tinham sido descobertos, a tabela de gatunos de Nhangumele também tem gatunos que ainda estão por descobrir. Um desses gatunos é um tal de "Nuy". Tudo o que se sabe é que "Nuy" é um gatuno que não era gatuno, mas que passou a ser gatuno a partir de 2014 quando ascendeu à uma posição de relevo no governo. 

 

A tabela de Teo, como também pode ser chamada, tem espaços para elementos compostos, ou seja, conjunto de gatunos aglutinados em organizações económicas, sociais ou políticas que tenham mamado o tako das dívidas ocultas. Há espaço para todo tipo e feitio de gatuno cujo "valor atómico" ainda não é conhecido. Tal como o Gálio e o Germánio (elementos químicos cujas propriedades foram descobertas mais tarde), o "Nuy" e demais larápios também serão descobertos na devida oportunidade. 

 

A tabela de Nhangumele já existia mesmo antes da chegada da Kroll e antes da encriptação da Buchili. A tabela de Teo é antiga, só que não sabíamos. Devíamos decretar o próximo ano - 2020 - como o Ano Nhangumele, em homenagem à sua generosa e patriótica contribuição para a nomenclatura do nosso tabuleiro de gatunos de estimação e para a nossa estupidificação colectiva. Que o ministro da ciência e tecnologia fique atento a essas invenções! Que a Pê-Gê-Ere ajude a preencher as lacunas da tabela deste grande cientista! Cada ciência tem o seu começo. 

 

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quarta-feira, 30 outubro 2019 06:09

A patética falta de tomates do sheik Abdul Carimo

Quando o Presidente da Cê-Ene-É, sheik Abdul Carimo, diz que não pode dizer que as eleições foram livres, justas e transparentes porque reconhece que houve irregularidades, o que quer dizer exactamente? Juro que não entendi. Quando ele diz que vai deixar esse refrão para o Cê-Cê, é para a opinião pública pensar o quê? Por que é que não faz isso por escrito e declara nulos os resultados de uma vez por todas, então? O que o impede? Qual é o medo? 

 

É que quem organiza e zela pela qualidade de todo o processo eleitoral é a Cê-Ene-É. Quem deve evitar e mitigar as irregularidades é a Cê-Ene-É. Ou seja, é a Cê-Ene-É quem fiscaliza as eleições. É a Cê-Ene-É quem deve fazer cumprir a ética. Aliás, é por causa disso que assumiu como sua meta e missão a liberdade, a justiça e a transparência. Quer dizer, se as eleições não forem livres, justas e transparentes, o trabalho da Cê-Ene-É foi um fiasco. O discurso de ontem foi um atestado de incompetência limpinho limpinho. Merece uma demissão colegial massiva. 

 

"Por eleições livres, justas e transparentes" não é um simples slogan como "vodacom, vamos?" ou "eu sou daki" ou "frango nacional é melhor". Não! Mais do que um slogan é uma meta institucional. É missão. É visão. É valor. É compromisso. É filosofia. É tudo o que a Cê-Ene-É tem para vender. Se não existir isso, então, a Cê-Ene-É pode (o termo é "deve") fechar as portas. Já não tem produto para vender. Não tem mais nada para oferecer. Acabou. Faliu. 

 

"Por eleições livres, justas e transparentes" não é marca do Cê-Cê. Não é o Cê-Cê que carrega, em primeira instância, esta responsabilidade. Esta é responsabilidade primária e primordial do organizador das eleições. Se fizermos um exercício básico de subtração como: 

 

Resultado eleitoral - Livres - Justas - Transparentes = Zero eleição. 

 

Isto é, do "resultado eleitoral" , se se subtrair "a liberdade", "a justiça" e "a transparência", não vai sobrar nada de eleição. É como se não tivesse ocorrido eleição nenhuma. É igual a "zero eleição". É matemática básica elementar. 

 

Eleições livres, justas e transparentes é o produto final que se espera que o órgão de gestão eleitoral entregue ao povo. Não são os votos válidos, não são os votos nulos, nem as abstenções que contam. Não! O que, de facto, conta é o "livres, justas e trasparentes". Sem isso a Cê-Ene-É é um elefante branco. É uma associação criminosa para delinquir de forma continuada. Uma quadrilha. Uma gangue. Neste caso, o sheik Abdul Carimo estaria a declarar nulas as eleições, mas já com as malas feitas. Ele e a sua equipa. Não pode dizer que as eleições não foram livres, justas e transparentes enquanto entrega o dossier ao Cê-Cê, com aquele sorriso oco de ladrão do bairro quando entra na igreja. É burla por defraudação. Também abuso de confiança. 

 

É um autêntico contrassenso dizer que o escrutínio que a Cê-Ene-É organizou foi repleto de irregularidades e, por isso, não pode ser considerado nem livre, nem justo e nem transparente, mas o Cê-Cê pode validar e proclamar os resultados. Não soa bem. É cobardia. É muita pornografia. Se o próprio "dono" do processo reconhece que o seu trabalho não atingiu as metas planificadas, é para o "outro" fazer o quê? É o mesmo que comprar peixe podre e entregar o cozinheiro e ainda ficar a espera que o cozinheiro faça milagres e o peixe não provoque diarreia. 

 

"Conditio sine qua non" para a legitimação de eleições é o reconhecimento da existência de liberdade, de justiça e de transparência por parte dos principais actores, particularmente do  órgão gestor. Em situações normais de temperatura e pressão, o Cê-Cê devia mandar aquele molho de papel para a sanita. O que o sheik disse foi: "eis aqui um monte de lixo, vocês que digam ao povo que é adubo". 

 

Mas será fome?! Conheci o sheik Abdul Carimo por aí malta 2004 quando eu era estudante-bolseiro da Ú-É-Eme. Eu gostava de ouvir as suas palestras (bayan) das sextas-feiras na mesquita Muhamad (S.A.W.), em Maputo. Sempre o achei um homem inteligente e com tomates gigantescos e múltiplos debaixo daquela sotaina árabe. Calmo e sereno. Nunca me pareceu um "maulana" esfomeado como aquele jovem que não sabe fazer subtração básica de "17 - 8 = ?". Que decepção!

 

Agora só resta saber o que é que o sheik Abdul Carimo está a espera para se demitir, já que ele próprio reconhece publicamente não tem competência para organizar eleições livres, justas e transparentes, que é tudo o que se espera dele. A um homem não se lhe devia permitir escassear tomates daquela maneira. O sheik está a exagerar. Assim também não dá. Vamos brincar - sim, mas com limites. Tá bom!? 

 

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segunda-feira, 28 outubro 2019 06:20

A culpa é do sistema eleitoral

Eu acho que, em condições normais, cada actor do processo eleitoral tem as suas tarefas e, por isso, as suas responsabilidades. As tarefas são tão distintas que não se misturam e nem se confundem.

 

Aos órgãos de gestão eleitoral - no nosso caso, a Cê-Ene-É e o STAE - por exemplo, cabe-lhes a tarefa de gerir todo o processo. São eles que organizam e monitoram as eleições. São eles que devem garantir a qualidade e a ética no processo. Dito mais barato, é dever deles evitarem fraudes.

 

Os candidatos e os partidos políticos são simples concorrentes. A sua responsabilidade no processo é de legalizar a sua candidatura, como manda a lei, promover o seu manifesto eleitoral e mobilizar simpatizantes. Ou seja, vender o seu peixe para conquistar votos.

 

A tarefa dos eleitores é legalizarem o seu direito de votar junto dos órgãos de gestão eleitoral, ouvirem os manifestos eleitorais dos partidos políticos, ajudarem - de livre e espontânea vontade - os seus partidos a promoverem os seus manifestos eleitorais e, no dia da votação, escolherem o candidato e/ou o partido que quiserem.

 

A Polícia tem o dever de garantir a ordem e tranquilidade ao processo. Quando a segurança está em causa, a Polícia é accionada pelos órgãos de gestão eleitoral locais no sentido de normalizar a situação.

 

Quando os candidatos ou partidos políticos notarem uma violação ou ilícito eleitoral grave, levam o caso aos tribunais locais existentes. Os tribunais julgam o caso - sem pressão interna ou externa - segundo a lei.

 

O Conselho Constitucional tem a última palavra sobre o processo. Dependendo da informação factual que tem, o Cê-Cê pode validar ou não os resultados apurados pelos órgãos de gestão eleitoral.

 

E os observadores eleitorais, qual é o seu papel? Resposta: observar, e ponto final. Observação eleitoral é observação mesmo, no verdadeiro sentido da palavra. O trabalho de um observador eleitoral (a sociedade civil) é como o de uma câmera de vigilância que se coloca no portão de uma residência. Cabe a câmera observar e gravar tudo o que acontece dentro do ângulo e direcção em que ela foi montada. Querendo, o proprietário pode ver o vídeo do que aconteceu no seu portão nas últimas 24 horas. E a câmera vai mostrar quem entrou e quem saiu, com "quem" ou "o quê" entrou e saiu e a que horas. O vídeo vai mostrar um ladrão a envadir o portão e a tirar televisores de dentro, mas não vai pegar o ladrão porque não é sua responsabilidade. Se o proprietário quiser pegar ladrões, compra um bulldog ou contrata malta Dgi-Fô-Esse.

 

Então, não é responsabilidade do observador eleitoral pegar e algemar pessoas que cometem crimes ou ilícitos eleitorais. Cabe-lhe relatar o que viu ou ouviu com factos. Querendo ou dependendo da gravidade e veracidade dos factos, os órgãos de gestão eleitoral ou o Conselho Constitucional pode usar essa informação para sustentar as suas decisões.

 

O jornalista reporta os acontecimentos que estão a acontecer durante o processo mediante as evidências que tem. O jornalista fala dos factos ao público. Se vir alguém a cometer um ilícito eleitoral, ele pode filmar ou fotografar ou sei-lá para em seguida reportar ao seu público como tudo aconteceu. Também não cabe ao jornalista algemar ladrões de voto. Quem faz isso é a Polícia.

 

Se for a reparar com alguma atenção, vai notar que em Moçambique tudo e todos se misturam. Em nome da DESCONFIANÇA - sublinhe-se "desconfiança" - está tudo um caos. Todos querem gerir o processo, todos querem fazer campanha, todos querem julgar, todos querem algemar, todos querem observar e todos querem reportar. Ou seja, todos estão em todo o lado. Todos querem fazer tudo.

 

A FRELIMO, a RENAMO, o Eme-Dê-Eme, a Pê-Ere-Eme, a sociedade civil, os jornalistas, os juízes, os padres, os pastores, os sheiks, os bispos, etecetera, etecetera, estão todos na Cê-Ene-É a gerirem os processos eleitorais. Em nome da DESCONFIANÇA, todas as equipas enviaram alguém à FIFA para ver as coisas de perto e evitar batotas. Em nome da DESCONFIANÇA, as duas equipas em campo têm seus homens na equipa de arbitragem em campo e na equipa do vídeo árbitro.

 

Hoje em dia já não se entende quando se diz Comissão Nacional de Eleições. Já não se sabe a quem se refere. É que a Cê-Ene-É são todos. Dizer que a Cê-Ene-É orquestrou a fraude é dar um tiro no próprio pé. Culpar a Cê-Ene-É é culpar-se a si mesmo.

 

A culpa é do sistema eleitoral que é obsoleto. Este sistema eleitoral não serve para nada. Um sistema eleitoral onde todos os concorrentes gerem não é sustentável. Um sistema eleitoral assim torna-se cada dia mais suspeito. Um sistema eleitoral assim é uma autêntica farsa. Ela própria é uma fraude. Ninguém pode alegar falta de transparência nas decisões da Cê-Ene-É ou do Cê-Cê porque todos estão lá.

 

A cada pleito temos uma nova lei eleitoral que só serve para enfiar mais membros ou na Cê-Ene-É ou no Cê-Cê e etecetera. Ninguém tem a coragem de debater o sistema eleitoral em si. O nosso sistema eleitoral é uma vaca leiteira. É uma estrutura montada para acalentar estômagos partidários. Uma geringonça criada pela FRELIMO e alimentada pela RENAMO para acomodar as suas panças e fazerem das eleições um teatro mal ensaiado. 

 

Não me espantarei, se na próxima lei eleitoral a RENAMO proponha a colocação dos seus membros na Rádio Moçambique, na Televisão de Moçambique e no jornal Notícias.

 

Mesmo que os resultados sejam invalidados pelo Cê-Cê e a eleição seja repetida, não vai mudar nada. O problema não é o Abdul Carimo, não é Nyusi, não é Ossufo, não é a Polícia, não são os Eme-Eme-Vês, não são os observadores nem jornalistas. O problema é o sistema eleitoral no seu todo. Não é funcional. É um sistema de tacho.

 

Para a credibilização do processo eleitoral é imperioso que o sistema seja profissionalizado. É claro que a FRELIMO não está "bizi" com isso, mas também a RENAMO não quer discutir o assunto. Neste quinquénio a RENAMO se preocupou em discutir apenas a descentralização, ou seja, a eleição de governadores, e nos próximos 5 anos estará entretida com a eleição de administradores distritais. Com este sistema eleitoral obsoleto isso não vai mudar nada. A FRELIMO continuará com as suas retumbâncias eleitorais. É ela que tem mais padrinhos na cozinha.

 

Espero ter sido entendido.

 

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