Essas boladas das dívidas ocultas, Odebrecht, Embraer, I-Ene-Esse-Esse e quejandos são novidade para nosoutros. Os Changs, Leões, Setinas, Zuculas, Helenas e filhos&esposas limitada não são de hoje. Estavam mesmo aqui ao lado maracutaiando e comendo a vida com colher grande e sendo aplaudidos.
O pior é que os acólitos do sistema faziam cortinas de ferro na mídia à essas roubalheiras a troco de vinhos e promessas de cargos. Alguns são esses académicos que hoje acordam publicando cartas de indignação extemporâneas.
Dizia eu, os gatunos de amanhã estão hoje na forja sendo esculpidos. Posso garantir que amanhã um ministro vai entrar na "djela" por conta dessa bolada de camiões de transporte de passageiros que foram apresentados na semana passada. Aquilo é bandidagem fria e seca. Só não vê quem não quer. Aquilo não difere das dívidas ocultas. Aquelas carroças não diferem daquelas pranchas de surf adquiridas para pescar atum no mar-alto que hoje desfalecem inertes ali no porto.
Os mesmos acólitos que hoje defendem que aquelas carroçarias são uma grande súbida na vida dos moçambicanos, amanhã estarão envergonhados quando os nomes dos mentores desta iniciativa estiverem em parângonas na imprensa como arguidos. Foi assim com as dívidas ocultas. O grupo que ontem defendia, na imprensa, as boas intenções dos termos de referência daquele negócio, hoje é o primeiro a dizer que o pepino podia ter sido um pouco mais fino.
Não estou a dizer que a população não devia usar estes camiões. Nada disso! Só estou a dizer que colocar uma tomada e internet no "mai-love" não devia ser motivo de júbilo. Não devia ser algo de pompa com ministro a dar a cara. O governo pode dar mais do que isso. O governo pode melhorar as vias de acesso e pode oferecer melhores carros. O governo pode melhorar a mobilidade do cidadão.
Estes camiões são uma vergonha. Não se deve elitizar sofrimento. Nos anos 90 andavamos naquilo e os governantes andavam em Peugeot-504 (que era muito!). Hoje que os governantes andam em últimos gritos de carros com cara de avião o povo não pode ser prendado com apenas uma tomada para carregar celular no mesmo pobre e desconfortante "mai-love". Se se investigar os contornos daquele negócio, vão-se encontrar outros Changs, Nhangumeles, Ndambis, Pearses, Privinvests e companhia.
Aquilo é mafia pura. É uma guengada. É prova de um crime público que vamos testemunhar amanhã. É sempre assim. "Ai-am-telingue-yu!"
- Co'licença!
Já que tem data comemorativa para tudo nesta vida, que tal celebrarmos o dia 29 de Dezembro como o Dia dos Gatunos Moçambicanos? Esta data coincide com o dia da captura do nosso brada Chang na África do Sul no ano passado. Sei lá, é apenas uma ideia. Se não for "naice", podemos deixar. Assim tipo malta dia dos heróis moçambicanos ou dia da mulher moçambicana, antes que esta data seja atribuída a um desses pseudo-acordos de paz ou de cessar fogo que viraram moda nos dias que correm. Eu acho que deviamos celebrar, de alguma forma, a audácia e a aventura desses nossos irmãos. Nossos gatunos de estimação. Legítimos e genuínos. A nossa eterna seleção olímpica de larápios.
Vamos evitar homenagens post mortem, vamos reconhecê-los ainda em vida. Fomos roubados - sim - mas, convenhamos, foi um roubo artístico. Este nível de despudor não se pratica aos montes, não se encontra por aí de qualquer maneira. É preciso valorizarmos isso. São gatunos - sim - mas, diga-se, são gatunos heroicos. Portanto, precisamos de arranjar uma data para o país fazer uma auto-reflexão. Precisamos de fazer uma introspecção sobre o ananás que levamos.
Que dói, dói, mas também temos que reconhecer que foi graças a esses filhos destemidos desta pátria que entramos no Mapa Mundo. Graças a eles, hoje somos assunto no Banco Mundial e no Efe-Eme-I. Somos manchete na Bê-Bê-Cê e na Cê-Ene-Ene. No tribunal de Nova Iorque estamos em voga. Nem os Mambas elevaram tanto a nossa fasquia. Nem Massuko, nem Mutola, nem Ghorwane, nem Malangatana, nem Ungulani, nem Eusébio, nem Mia Couto, nem Marrabenta, nem Craveirinha, nem ninguém e nem nada.
Estes compatriotas merecem uma data especial e uma estátua ali na entrada do Ministério das Finanças. Pode ser uma escultura de um atum fugindo de uma rede furada, ou um pançudo de balalaica exibindo um anzol na mão, sem atum, com cachimbo na boca e aquele sorriso patriótico fosco, ou então um ananás em forma de atum sendo enfiado Moçambique adentro. Que seja em bronze puro, material de primeira.
Gatunagem epopeica não é para qualquer povo. Somos o único país no mundo com um acervo de pilantras codificados em ordem alfabética. Então valorizemos o que é originalmente nosso.
Enfim, está lançado o debate. A proposta está na mesa: 29 de Dezembro - Dia dos Gatunos Moçambicanos. Um feriado nacional. O povo merece. Será aquele dia em que cada moçambicano estará no seu cantinho, bem lúcido, perguntando-se a si mesmo como os gajos ousaram tal desfaçatez. Tipo, não usaram vaselina, ao menos, porquê?
- Co'licença!
Hoje é mais um daqueles dias em que se assina mais um daqueles habituais acordos de paz efectiva, fim das hostilidades militares, cessar fogo e afins. Iremos todos jubilar de alegria e amanhã passa. Depois vamos fazer uma nova lei eleitoral, vamos pôr uma vírgula na Constituição, vamos sentar num tronco em Satungira, vamos tirar mais uma foto abraçados com aquele sorriso administrativo e, por fim, vamos assinar mais acordo de paz efectiva. E vamos acreditar que a tal paz é mais efectiva que as outras. Vamos dizer também que desta vez é de vez.
Com um pouco de azar, o nosso calendário não terá mais espaço para comemorar nada mais que seja útil. Com esta moda de hoje em dia de se comemorar dia da cerveja, da prostituta, do idiota, do parvo, da rabuda, do zamwamwa, do invejoso, etecetera, já não haverá mais dia para trabalhar a vontade.
Mais do que assinar mais um acordo, talvez fosse importante saber o que deu errado com os anteriores acordos e aprender com eles. Se o problema dos anteriores acordos foi o seu cumprimento, então estamos perante mais um fracasso apriorístico. O problema de cumprimento não afecta apenas os acordos de paz ou de fim de hostilidades militares ou de cessar fogo. Nós temos problemas sérios em cumprir com a nossa palavra. A violação desses acordos é apenas a ponta do "aiciberg". Nós nem respeitamos a nossa própria Constituição da República.
Nós temos problemas sérios em cumprir. Aliás, é por causa disso que hoje estamos endividados até à goela e estamos a nos apontar um ao outro. Foi por não ter-se respeitado a lei que um grupinho de concidadãos foi buscar dinheiro à revelia do órgão competente. E foi também por causa da falta de seriedade com responsabilidades atribuídas que um grupinho de infelizes introduziu esta dívida no orçamento do Estado.
Se os acordos têm fracassado por falta de seriedade no seu cumprimento, então, hoje é só para passar o dia. Será mais um tratado fracassado. O problema, por acaso, nem são os acordos, somos nós. O problema é ético.
- Co'licença!
Neste país quando se fala de "amnistia" é para soldados da RENAMO e "indulto" para prisioneiros. Não me lembro de outro cidadão que tenha sido perdoado a não ser, talvez, aquele gatuno-fosfórico que anda por aqui dando aulas gratuitas de exaltação patriótica.
Se fôssemos um país sério, o Presidente Filipe Nyusi já devia ter sido distinguido com um prémio literário qualquer. Aqueles poemas que o Presidente Filipe Nyusi anda a ler no Parlamento merecem algum reconhecimento. Não podemos desprezar o esforço do nosso compatriota desta maneira. Podemos estar perante um Craveirinha e sem nos darmos conta.
Não é fácil falar duas horas sem dizer nada. Não é fácil chamar alguém de "zamwamwa" e o gajo ainda aplaudir. Não é fácil retratar o sofrimento de um povo de forma tão romântica e poética.
Nyusi consegue dizer que não está a fazer nada sem se ofender a ele próprio. Aliás, ele diz isso de forma tão lírica que ele próprio acaba acreditando que está a fazer alguma coisa. Nyusi acredita que de estado da nação "estável" para "firme" e de "firme" para "resiliente" há uma grande súbida. Acredita ele que entre "encorajador" e "merecedor de confiança" é há um grande avanço.
Nyusi proporcionou-nos um mandato poético. Um mandato em que os gatunos e o Judiciário foram tratados com muita figura de estilo. Um mandato em que a pobreza é irónica e a pobreza é sempre uma metafora. Um mandato em que uns vivem no presente e outros, no futuro, onde leões comem mandioca.
Enfim, para Nyusi, o país é poético.
Se o "Indivíduo" que provocou deliberadamente o calote diz que sente que "há muita poeira, uma espontânea e outra, provocada", imagina então malta nós que fomos apanhados de surpresa. Se ele que o filho recebeu 50 milhões de dólares vê poeira nisto tudo, imagina então malta nós que não vimos nenhuma folha.