Por estas alturas, por aí malta 2010 e 2015, o líder já tinha dado a ordem: não vamos tomar posse! E ficava aquele suspense dos filmes de "cou-boi". Olhares tímidos e de desconfiança.
Na concorrência, ensaiava-se a etiqueta da cerimônia. Preparavam-se as xícaras para servir a posse. Degustavam-se os aperitivos.
No dia "Dê", a concorrência tomava a sua posse com muito açúcar. Doce e cremosa. Com pompa e circunstância. Sobremesa, um pudim as vezes fosfórico. Palitava-se atum. Falava-se de boladas. Tudo a condizer.
Enquanto isso, do oponente, apenas murmúrios e ranger de dentes. Formavam-se grupos que clandestinamente iam "bebendo" a posse a revelia do líder. Sim, eles não tomavam posse, bebiam. Pois, tomar não é beber. Toma-se com estilo. Com pompa e circunstância. Com elegância. Toma-se com hino e aplausos. Beber, bebe-se sem regra. Bebe-se a olhar para os lados. Bebe-se "manera-manera". Bebe-se escondido. Toma-se quente, bebe-se frio.
Desta vez, apenas um silêncio lúgubre. Ninguém quer ouvir falar da possibilidade de boicotar a refeição. Ficam nervosos só de ouvir tal ideia. Muita avidez. Bastante impaciência. Maningue ansiedade. Muita democracia.
Tudo indica que desta vez será uma tomada de posse misturada e conjunta. Todos vão se sentar à mesma mesa e vão tomar posse ainda quente. Isso é muito bom. As coisas mudaram. Não sei se é organização ou desorganização. Só sei dizer que é democracia. Democracia tem dessas coisas. É normal. Hoje não é ontem.
- Co'licença!
PERGUNTA: se Chang for condenado pelo tribunal de Nova Iorque, será descontado da pena o tempo que ele ficou preso na África do Sul? Ou seja, se for condenado a 40 anos de prisão lá, poderá cumprir apenas 39, tendo em conta que estes vizinhos xenófobos enclausuraram-no durante um ano?
Se os entendidos na matéria disserem que SIM, eu paro por aqui. Mas, se a resposta for NEGATIVA, então posso dizer que o "chinês" se ferrou. Diria que o tipo fez-se de Chico-esperto e deu-se mal. Diria que gastou um ano da sua vida numa cela sem nenhum "valor" para a sua equação de vida. Se tiver uma pena de 40 anos em Brooklin, vai acabar por cumprir literalmente 41.
Diria que, se não fosse excesso de malandrice naquela cabeça, quando foi capturado no ano passado, devia ter dito logo: "levem-me aos 'esteitis' agora antes de perdermos tempo aqui". O gajo chegava lá, apanhava uns pequenos e suaves chambocos na bunda (próprios de gente xique), confessava umas coisinhas, condenavam o gajo a uns quarenta aninhos de "djela" e, prontos, acabava com isso.
Mas não, preferiu ouvir ideias dos seus amigos que estão fora (por enquanto) e fez-se de teimoso. Ora eu não quero ir à Nova Iorque, ora eu tenho diabetes, ora eu tenho uma casa perto da fronteira, ora meus colegas de cela fumam suruma, ora eu sou inocente, ora eu quero voltar a Moçambique, ora a mana Veró já relaxou minha imunidade, ora eu tenho advogados nervosos, ora eu vou morrer, ora isto, ora aquilo. Preferiu acreditar no tão desejado e prometido resgate. Mais uma vez preferiu acreditar na malandrice. Resultado: perdeu um ano inteiro a brincar nos calabouços.
Seria caso para dizer que por causa de maus conselhos e casmurrice, o homem perdeu 365 dias a brincar com o corrimão duma "djela-hauze" pra cima e pra baixo sem nenhum benefício. Preferiu ficar numa cadeia a gastar dinheiro e tempo. Perdeu um ano de vida numa prisão que não conta para nada.
E para piorar, o Chang poderá entrar nos Estados Unidos numa altura em que todo o americano estará nervoso por causa da situação no Golfo. Onde Trump estará preocupado em fabricar bombas e granadas. Onde todos estarão preocupados com terroristas do que com bandidinhos do terceiro mundo. Com um pouco de azar, o iluminado Juíz pode confundir o seu processo com o de um terrorista iraniano e aplicá-lo uma prisão de 300 anos em Guantánamo, com uma bacela de cinco minutos de cadeira eléctrica por semana.
E o ministro sul-africano está muito calmo e sem pressa em decidir. Até parece uma indirecta.
- Co'licença!
Gostaríamos de pedir às autoridades que investigam crimes para, desta vez, não investigarem o atentado contra o jornalista Matias de Jesus Júnior. Não vale a pena a maçada. Não adianta. Não queremos que vocês entrem de novo naquela brincadeira de cachorro que procura o seu próprio rabo. Sabemos de antemão que os culpados são "dez-conhecidos" que estão a monte. Um "monte" maior que o Monte Binga, mas que ninguém vê.
Vocês têm muito que fazer. Se desta vez o Matias foi agredido por "aproveitadores" que querem "criar agitação" para "desviar a atenção", como disse o chefe, então, ninguém precisa se preocupar com este casmurro! Não vale a pena abrirem processos, gastarem papel, "tonner" e Credelec por causa de um gajo teimoso. Já entendemos a mensagem: Matias quis levar porrada. Ele sabia que seria raptado e espancado, mas mesmo assim insistiu em falar de corrupção num país limpinho como este sem corrupto nenhum. Insistiu em escrever sobre as dívidas ocultas num país de dirigentes sérios como este onde ninguém deve nada.
Não se preocupem com esse conspirador e mercenário da mão externa! Deve ter sido vítima da sua própria mão externa. Deve ter sido um embaixador qualquer que enviou os seus capangas para cobrarem uma dívida de uma entrevista ou reportagem que ele não publicou.
Não é necessário enviarem agentes da SERNIC para investigarem o caso do Matias, esse traidor! Enviem esses agentes ao centro do país e a Cabo Delgado. Fazem muita falta lá. Se não estivessem ocupados esse tempo todo a investigar casos de malta Cistac, Salema, Machava, Macuane, Pondeca, Amurane, Matavele, etecetera, hoje não teríamos Nhongos nem insurgentes a matarem e a destruírem. Os nossos agentes já teriam exterminado todos esses energúmenos em fracção de segundos. Mas não, andamos a ocupar os nossos profissionais a investigarem esquadrões da morte que todos nós sabemos que não existem. Esquadrões da morte é um delírio colectivo. Estamos a ver fantasmas onde não existem. O que existe aqui são polícias de operações especiais que, as vezes (mas, as vezes mesmo) fazem trabalhos extra-especiais e ultra-secretos. Só isso.
Queríamos também pedir para que aqueles nossos melhores ANAListas de plantão não perdessem tempo de antena com este caso que, na verdade, nem chega a ser caso. É sabido que o puto Matias queria ganhar protagonismo de fim de ano para ser falado. Pagou uns brutamontes no Estrela para lhe espancarem os braços com tacos de baseball e golf. É bem provável até que os tacos sejam do próprio Matias. Ou, então, deve ter sido um grupo de três agiotas que ele está a dever que o emboscaram ali no Alto-Maé.
Os nossos ANAListas estão "bizis" em tomar banhos com folhas de "nangas" de Mambone e do Vale do Zambeze, engomar casacos e comprar celulares de alta tecnologia para não perderem chamadas. Então, não queremos gastar o seu precioso tempo com ANÁLises de tentativas de rapto de miúdos teimosos. Esse é tempo de colher os frutos das ANÁLises do mandato passado. Tempo de saber se valeu a pena raspar a língua.
Dizia, não percam tempo com esse rapaz! Até porque é bem possível que o Matias tenha escorregado ao tentar fazer aquele passo brusco de "Jerusalema". É possível! Também é preciso aferir se o gajo não sofre de depressão ou desilusão amorosa a ponto de querer tirar a própria vida com recurso a auto-espancamento.
Agora - cá entre nós - ó Matias, seu beirense casmurro e confuso! Faça-nos o favor de recuperar logo! Não vamos pedir a Deus que te dê força, coragem, nem inteligência. Isso tu tens de sobra. Rogamos apenas que Deus derrame em ti muita saúde para continuares a servir o teu país. Este país precisa de ti. O povo precisa de ti. Não desista! Quando o inimigo age assim é porque estamos muito perto e no bom caminho. A revolução continua. "Tamu-juntu", irmão! Feliz ano novo!
- Co'licença!
"Não há duas RENAMO's, há só uma RENAMO (...) A Junta Militar é responsabilidade da RENAMO e não do governo (...) A RENAMO perdeu uma grande oportunidade de dialogar com Nhongo quando o Presidente da RENAMO, Ossufo Momade, ainda vivia na Serra da Gorongosa (...) Porque, no fim de tudo, o que sai fora é a RENAMO" - Manuel Bissopo, antigo Secretário-Geral da RENAMO.
Quando se começou a falar de Nhongos e não-Nhongos, eu escrevi algo parecido com isso que o Bissopo disse. Era antes das eleições. Eu dizia que se a RENAMO "nhanhalar" Nhongo para o governo e para presidente Filipe Nyusi, quem perdia era a própria RENAMO. Cada tiro disparado, cada pessoa alvejada, cada bem destruído pela Junta Militar, sujava a imagem e o bom-nome da RENAMO. Era a RENAMO que se dividia.
Mesmo que a Junta Militar tenha sido obra do governo da FRELIMO - como se alega - Ossufo Momade perdeu uma soberba oportunidade de mostrar o seu lado diplomático, pacificador e reconciliador, por um lado, e de exibir a sua autoridade militar, por outro. Ossufo Momade perdeu a única chance que tinha de mostrar aos moçambicanos de que com ele estavam seguros.
Hoje é o último dia do ano 2019. O que me preocupa, como cidadão amante da democracia, é saber que vamos entrar no novo ano, no novo mandato e na nova década, com uma RENAMO mais confusa que "pombonica" na machambas de arroz. Um segundo maior partido moçambicano desorganizado e sem muito futuro à vista. Uma força política incapaz de proporcionar o equilíbrio necessário no jogo democrático. Uma RENAMO muito abaixo da altura da FRELIMO. Isso me entristece maningue.
A pergunta que sempre me faço é a seguinte: o que é que aqueles galácticos académicos e intelectuais estão a fazer na RENAMO, se não conseguem assessorar melhor o seu presidente e, muito menos, melhorar a performance do seu partido? O que fazem ali aquelas estrelas todas?
O meu professor, Eduardo Namburete - exímio comunicador - não é capaz de melhorar a comunicação da RENAMO? O Venâncio Mondlane - competente orador - não pode assessorar o presidente? O Muhamad Yassine, o Alberto Ferreira, a Ivone Soares, a Maria Angelina Enoque - pessoas com excelente retórica - não podem organizar uma melhor comunicação para o seu partido? Como é que deixam o partido convidar jornalistas para uma conversa desnutrida e sem sal? Como é que, em momentos cruciais como este, a RENAMO não tenha assunto e, se tem, não o explora devidamente? A RENAMO não pode contratar grandes jogares para descer de divisão. Algo de certo está a dar errado.
Tenho vindo a dizer: a RENAMO deve sentar para debater e debater-se sem evasivas nem subterfúgios. Deve chamar os bois pelos próprios nomes. Deve identificar as suas feridas e pôr o dedo nelas. Deve fazer uma introspecção seria e profunda. Dialoguem com o vosso irmão Mariano Nhongo.
Para mim, a conferência de imprensa foi dada por Bissopo. Teve assunto e comunicou excelentemente. Falou sem papas na língua o que muitos renamistas gostariam de falar. E eu que pensava que o antigo Secretário-Geral não tinha tomates... afinal era medo de entornar o tacho. Agora que não tem tacho a perder, os tomates amadureceram. É vez vez.
Mas, enfim, são coisas da política que só os políticos entendem. Enquanto isso, vamos assistindo a um processo de mitose e meiose de uma RENAMO que já foi uníssona e bonançosa. Esperemos para ver até onde vai!
BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO A TODOS!
- Co'licença!
A minha figura deste ano, 2019, sou EU. Isso mesmo: eu! Eu que tenho aguentado ao coito seco dos neocolonialistas desta pátria. Eu que tenho insistido em me manter vivo para manter viva a esperança dos que de mim dependem. Eu que tenho conseguido, não sei como, pôr o pão, mesmo seco, na mesa. Eu que, apesar de tudo, tenho colocado a minha família em primeiro lugar. Eu que, mesmo sem dinheiro, estou a pagar uma dívida que não conheço. Eu que vivo em paz na guerra. Eu que consigo sorrir quando devia chorar. Eu que persisto quando devia desistir.
A minha outra figura deste ano, 2019, é a MINHA FAMÍLIA: esposa e filhos. Eles que mesmo vendo que não dou o que devia não me julgam. Eles que vêem vitórias nos meus fracassos. Eles que, apesar dos almoços, jantares, compras, passeios, férias e sorvetes adiados, não se importam. Eles que me aceitam assim como sou, faça chuva faça sol. Eles que são o meu porto seguro. Eles que, mesmo assistindo a violência com que a burguesia me penetra por trás, me chamam de chefe de família.
A outra minha figura deste ano, 2019, é VOCÊ. Você que, como eu, se mantem firme, apesar de tudo. Você que também está a pagar uma dívida que não viu. Você que também está f*dido, aliás está sendo f*dido sem Vaseline continuamente. Você que também paga água, mas não toma banho e morre de sede. Você que também paga energia, mas vive no escuro. Você que também está a espera do tão prometido atum. Você que também é apenas um número de uma estatística mecanicamente distorcida.
Você é a minha figura, sim. Você que também tem um filho na 10ª classe, mas não sabe ler nem escrever. Você que também perdeu um ente querido por falta de paracetamol. Você que também sente que o seu voto foi roubado. Você que também tem uma conta naquele banco com rácio de solvabilidade negativo. Você que também está a disfrutar desta meia-paz. Você que também tem medo de estar frente-a-frente com os Nhongos e com os insurgentes. Você que também, a qualquer momento, pode morrer de uma morte patrocinada. Você que também não sabe quanto nem quando vai receber o décimo terceiro. Você que está aí sonhando com um futuro risonho porque confundiu pirilampo com luz no fundo do túnel.
Você é a figura deste 2019. Sim, você que também reclama trabalhando, critica trabalhando. Você que também não tem padrinhos na Tabela de Nhangumele. Você que também torce para que o "Chopstick" vá. Você que também era o apóstolo da desgraça e, hoje, é a própria desgraça do apóstolo. Você que também passou de resiliente a firme. Você que também não se revê neste estado da nação convenientemente inflacionado.
Enfim, nós somos os heróis desta história. Nós somos as nossas próprias figuras deste ano. E nós somos as figuras que num ano muito próximo vão mudar a História. Palmas pra nós!
- Co'licença!
* Reeditado de "As minhas figuras do ano" de 2016.
"O ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas revelou que parte dos trinta barcos da controversa Empresa Moçambicana de Atum [EMATUM] já estão a operar. (...) Entretanto, Agostinho Mondlane declinou avançar o número dos barcos que supostamente já pescam atum nas águas moçambicanas." (O País, 26/12/2019).
Isto é procurar ser falado a todo custo. Quando você descobre que o mandato está no fim e você nada fez, mas precisa de aparecer para ser convocado de novo. Quando você descobre que andou apagado durante todo o mandato e precisa de falar uma m*rda qualquer para ser recordado. Quando você descobre que fez um autogolo e precisa de, pelo menos, provocar um pênalti no minuto noventa a ver se vai ao prolongamento.
Desespero total. Quer ser conversa da hora-de-ponta. Quando você descobre que, em apenas uma semana, "Jerusalema" foi mais falado do que você em cinco anos. Quando você descobre que o Presidente da República conhece mais o puto Dércio-dos-casamentos do que você que dirige um pelouro nevrálgico do Estado.
A melhor maneira de reagir a este tipo de pronunciamentos do senhor ministro é contratar aquele eclesiástico fanfarrão para lhe mandar um grande "futseka" com megafone. Mas como estamos na semana natalina, só podemos desejar que o senhor ministro se empanturre com o primeiro lote desta pescaria.
Tenha muita fartura de atum, hoje e sempre! Coma atum ao mata-bicho, ao almoço, ao jantar, à sobremesa, ao lanche. Tenha atum na merenda, no piquenique, no petisco, no aperitivo. Que o seu guardanapo seja de pele de atum seco. Palitar, que seja com espinhos de atum frito. Escove os dentes com guelras de atum cru. Não se esqueça de enviar uma marmita cheia desta iguaria ao "Chopstick" para levar na viagem.
Agora, faxavor, deixe-nos em paz! Brincadeira tem limite, principalmente quando é de péssimo gosto.
- Co'licença!