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quinta-feira, 26 setembro 2019 10:43

Os embrulhados

Houve tempos em que, por estas alturas, estávamos a debater a nossa história e o nosso futuro como nação. No dia 3 de Fevereiro discutiamos sobre os contornos da morte de Eduardo Mondlane; no 25 de Junho, sobre os ganhos da nossa independência; no 25 de Setembro, a génese da luta armada e o título de propriedade do primeiro tiro e por aí fora.

 

Nessa altura haviam jovens jornalistas irreverentes que fizeram história. Jovens que se preocupavam em entender, por exemplo, como é que o primeiro presidente da FRELIMO - doutor Eduardo Chivambo Mondlane - morreu numa explosão de uma encomenda armadilhada (um livro), no seu gabinete de trabalho, sozinho e só; se ele não tinha secretário ou não haviam outros funcionários por perto que pelo menos se feriram na explosão; se o presidente abria pessoalmente as correspondências; e coisas tais.

 

Foi graças a estes jovens "confusos" que o mundo ficou a saber que o camarada Eduardo Mondlane não morreu no seu gabinete, morreu na casa de praia onde vivia a sua secretária. Há uns dois ou três anos, um combatente confessou numa imprensa da praça que no tal fatídico dia ele estava no gabinete a espera do presidente para irem à uma missão. Ou seja, já não há dúvidas que a estorieta do gabinete era ficção.

 

Foi também nesta mesma época de dois mil e picos que jovens historiadores irreverentes começaram a desmentir o Bê-I do partido FRELIMO. Um desses jovens afirmava categoricamente que o partido FRELIMO não era cinquentenário coisíssima nenhuma. O jovem historiador convenceu-nos que, afinal de contas, o partido havia herdado a idade da "Frente" onde nasceu, como um filho que anda com os documentos do pai para "djekar" festas de adultos.

 

Não sei porquê, mas, nessa altura de dois mil e poucos, havia muita irreverência juvenil e intelectual. Aliás, só para que conste, foi nesse tempo que se agudizou o debate sobre a autoria do primeiro tiro, que culminou com a quase-confissão do antigo dono desse mesmo tiro dizendo que também tinha reservas sobre a propriedade do mesmo. E foi assim que a famosa bala ficou órfã.

 

Foram bons tempos aqueles! Temos de agradecer a irreverência daqueles jovens advogados, sociólogos, jornalistas, antropólogos, economistas, médicos, historiadores e mais. Haviam bons e muitos tomates naquela altura. Hoje, nem por isso. Alguns tomates foram colhidos e vendidos em hasta pública.

 

Hoje em dia todos querem ser políticos ou viraram sentinelas de partidos políticos da posição, da oposição, da disposição, da imposição ou da sobreposição. Alguns desses jovens - outrora irreverentes - têm sido vistos embrulhados em mantos encarnados desta vida.

 

Hoje alguns desses jovens especializaram-se em insultos públicos de grande magnitude nas redes sociais. São a própria oposição da irreverência juvenil e intelectual emergente. Foram embrulhados. Foram embrulhados pela história recente deste pedaço de chão com alcunha de bijuteria e depositaram o seu encéfalo numa estante algures na Pereira do Lago até "sine die".

 

Hoje, num dia como 25 de Setembro, estamos a debater a burrice de uma cantora afrodescendente brasileira, enquanto aguardamos ansiosamente para que uma ex-donzela daqui da banda pendure a bandeira do seu país no rabo de novo. Hoje em dia as datas não passam disso mesmo - datas.

 

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terça-feira, 24 setembro 2019 06:34

Não tomarás em vão o nome de Afonso Dhlakama

Parece que está na moda, ultimamente, invocar a memória de Afonso Dhlakama para justificar os fracassos e a desorganização dentro do partido RENAMO. As zangas de comadres na RENAMO terminam com desabafos que encontram no nome de Dhlakama um calmante.

 

O mais estranho é que as pessoas que hoje "desenterram" o general Afonso Dhlakama são figuras proeminentes do partido, até familiares, que muitas vezes tinham oportunidade de privar com ele ainda vivo. São pessoas que tiveram oportunidades soberbas de ouvir, na primeira pessoa e "in loco", os conselhos e a sabedoria do malogrado. São pessoas que hoje deviam estar a exibir muita inteligência herdada do general.

 

De certeza que Afonso Dhlakama terá dito em algum momento que, um dia, ele iria partir para o eterno repouso. E deve ter dito, com certeza, que depois que ele partir os seus familiares que militam na RENAMO serão vistos como simples membros e militantes como tantos outros que se encontram neste vasto Moçambique e fora. Certamente que terá dito que a RENAMO não era uma empresa familiar.

 

Quero eu acreditar que Afonso Dhlakama terá dito aos seus militantes mais próximos, e principalmente aos seus familiares, que a vida era um festival de hipocrisia. Que a vida estava cheia de falsos amigos. Que as pessoas só são leais quando ainda se respira.

 

Afonso Dhlakama era um exímio estratega militar. É certo que ele sabia que nem todos RENAMISTAS eram, de facto, leais à filosofia do partido. Ele sabia que, para uns, o que contava eram os dinheiros e as mordomias que recebiam do partido. Ele sabia - aliás, até dizia vivamente - que na RENAMO haviam gajos que o queriam acotovelar para abocanharem o partido com suas próprias filosofias.

 

Então, fico sem perceber as lamurias que tenho estado a ouvir hoje sobre pessoas que têm vergonha de pronunciar o nome de Afonso Dhlakama. Fico sem entender quando membros influentes da RENAMO dizem "se fosse com Dhlakama, isto não iria acontecer", "se Dhlakama estivesse vivo, não iriam fazer isso connosco", etecetera, etecetera, etecetera.

 

Afinal, essas pessoas não beberam nada de Dhlakama? Não era suposto estarem hoje a dizer "Dhlakama nos ensinou assim" ou "Dhlakama fazia as coisas assim"? Não era suposto o Nhongo ser gerido como Dhlakama o geria? Então, Dhlakama "dele" que dizem que era um grande líder não deixou ensinamentos? Foi-se com toda a sua sabedoria?

 

Se em plena campanha eleitoral já se chamam cobras e lagartos, imagina então, quando ganharem as eleições e terem que formar um governo? Não vão nascer outros Nhongos e Juntas?

 

Invocar hoje a memória de Afonso Dhlakama é pura cobardia. Deixem o general desfrutar do seu mais do que merecido descanso! Se a RENAMO desaparecer, não será por sua culpa. Ele já fez o que devia fazer. Se não passaram apontamentos dos seus ensinamentos, é por culpa vossa. Deixem o velhote curtir a sua eternidade na paz do Senhor! Deixem Dhlakama usufruir o que nunca lhe demos em vida: descanso! Lutem, se esganem, se piquem no olho, se furem os rins, mas não tomem o nome de Afonso Macacho Marceta Dhlakama nas vossas brigas. Não pronunciem em vão o seu nome. Não mencionem o líder nas vossas lamurias.

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sexta-feira, 20 setembro 2019 07:14

Somos puros moralistas convencionais

Se a violência, a chamada xenofobia, que está a acontecer na vizinha África do Sul - em que os donos da terra matam estrangeiros - é veementemente condenável, imagina, então, esta nossa "irmãofobia" - em que irmão mata irmão por causa da cor partidária! Se incendiar loja é um acto vil, imagina, então, casa - onde se vive... onde se dorme! 
 
 
O que vale a pena: matar por causa da fome ou matar por causa do partido? Alguma coisa vale a pena!? 
 
 
Não sei se temos alguma moral de condenarmos a xenofobia. Se temos, não sei até que nível. Tudo o que se pode dizer é que a nossa indignação é convencional. Indignação de ocasião. As vezes para inglês ver. 
 
 
Enquanto tentamos entender os incêndios de Cabo Delgado, vêm os de Quelimane, os de Gaza, os de Manica, os de Sofala, os de Tete, os de Nampula, os de etecetera. Enquanto apelidamos uns de insurgentes ou Al-Shabab, outros são simpatizantes ou militantes. Então, "vale a pena" os vizinhos que são xenófobos. 
 
 
Existe alguma explicação para isso!? Até parece que o tal dia 15 de Outubro é último dia das nossas vidas. Esquecemo-nos que depois virão outros quinzes de outros Outubros e outros de não-de-Outubros. Esquecemo-nos que virão outros quinzes de outros Outubros, dias de aniversário da mana Veró, do tio Sualei, da cunha Lili, da vó Saquina, do vizinho Amisse, que pereceram nas sinzas das suas habitações de pau-à-pique algures. Esquecemo-nos que virá o 16 de Outubro, o dia em que todos vamos celebrar o embarque do Chang. Todos abraçados como irmãos porque o Chang é de todos nós. 
 
 
Não sei se ainda temos moral suficiente para nos indignarmos, ou nos indignamos a toa. 
 
 
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quarta-feira, 18 setembro 2019 06:23

Roubar em inglês

Agora já estou a ficar muito preocupado com a qualidade dos nossos gatunos. Parece que não sabem roubar quando estão a nos representar no estrangeiro. Pode ser impressão minha, mas parece que os gatunos que enviamos como diplomatas não sabem roubar em inglês. 

 

Está provado que fora do país os nossos gatunos não roubam bem. Temos gatunos condenados por terem surrupiado oito milhões de meticais. Ahhhhh!!! Kê-kê-isso?! Mas você ir à Rússia para roubar oito paus mesmo!? Hummmmm!!! Precisa viajar para conseguir isso!? Precisa sentir tanto frio para ter isso na conta!? Aquela dos Estados Unidos só encaixou 440 mil euros e foi presa. Isso é quanto alguns concidadãos conseguiram só por serem amigos dos gatunos. 

 

Excelências, estão-anús-envergonhar. Parem com isso! Malta Chang encaixaram milhões de dólares andando nestas avenidas e respirando o mesmo ar que nós. Malta Cetina também. 

 

Organizem-se, Excelências! Ir ao estrangeiro para roubar meia-dúzia de milhões de Meticais num quinquénio é manchar o nome do país. Não é isso que ensinamos. Isso põe em causa a nossa imagem e podemos cair no "ranking". O país não pode investir e depositar a sua confiança em alguém que não tem competência para roubar moçambicanamente. Xê!!! Até o puto Nhangus, que nem é diplomata, nos representaria melhor no estrangeiro. Até uma secretária particular mostrou competência. 

 

Definitivamente, para os nossos gatunos, no estrangeiro não é para roubar, é só para ser preso. Não está a ser fácil roubar em inglês. Um curso de inglês para diplomatas-gatunos é urgente. Deve-se ensinar como se faz "vai um" em inglês. Não basta saber "gudi-moning", "hau-are-yu" e "ai-emi-faini", tem que saber também "it-iz-goingui-uani-in-mai-poket" (para quem não sabia, é assim que se diz 'vai um' em inglês). 

 

Urge purificar as fileiras. Não podemos continuar com gatunos burros na nossa diplomacia. Um embaixador que não sabe subtrair no idioma do país em que vive não val'apena. O embaixador é o nosso legítimo representante no estrangeiro e tem que zelar pelo bom nome do país. As suas acções são patrioticamente representativas. Um diplomata que se preze sabe roubar em inglês. 

 

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segunda-feira, 16 setembro 2019 06:44

É exagero... Agora querem matar a tia Inês!?

Hoje, esta madrugada, recebi uma mensagem do Manuel de Araújo, cabeça de lista da RENAMO para Governador da província da Zambézia, dizendo que incendiaram a casa da sua mãe, no bairro de Coalane, em Quelimane. Não acreditei. Mas também, Mano Mané não é de brincar com esse tipo de coisas. Então, querem matar a tia Inês, a minha eterna professora!

 

Eu costumo dizer que estamos a insistir em chamar de democracia a uma ditadura no seu estado mais avançado. Na verdade, uma ditadura eleita. Um sistema em que, em cada cinco anos, você sai de casa e vai à urna para "escolher" o seu próprio assassino. Para piorar, há quem insiste em dizer que estamos em paz.

 

Hoje, a tia Inês está a pagar o preço de ser mãe de um cidadão que acredita na mudança. De ser mãe de um jovem que as pessoas acreditam que ele é a solução. O preço de ter transmitido ao seu filho o seu carisma. A boa educação. A humildade. O bom carácter.

 

Querem matar a tia Inês por ser a mãe do mensageiro. Aquele mensageiro que carrega e se identifica com a mensagem do povo. O seu povo. Um povo que ele está disposto a dar o peito às balas. Aquele mensageiro que deixa qualquer tirano sem sono. A propósito do sono: está cada vez mais claro que Mano Mané tira sono de um certo grupo de "Indivíduos".

 

Mas é assim: mesmo que matem a nossa professora, este "muana-mutxuabo" - puto humilde e carismático - não deixará de ser o mensageiro de todos "ana-atxuabo". Nada vai mudar isso. E não pensem que isso é política. Não! Manuel de Araújo já era amado antes mesmo de ser político. As pessoas já o admiravam. Prova disso está aí. O puto é estrela onde quer que vá e com qualquer partido. Um fenómeno que devia ser estudado.

 

Sobre a mãe do Mano Mané, não tenho tinta suficiente para falar dela. Quem conhece a sua trajectória de vida e do seu falecido marido sabe do que falo. Estes senhores são heróis não só dos seus filhos, mas de muitos jovens. A professora Inês é minha heroína também. E quero desde já desejar-lhe longa vida de muita saúde e alegria. Viva para curtir o seus filhos, netos e bisnetos! Apenas tema a Deus. É somente Ele que guarda os nossos destinos.

 

Para vocês que pensam que tudo começa e termina na política, desejo-vos uma longa curta vida. Que tudo não corra como desejam! Que o diabo continue vos abençoando com muita burrice!

 

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quinta-feira, 12 setembro 2019 06:09

Acho que preciso de uma catequese eleitoral

Confesso que não estou a perceber nada desta campanha eleitoral em curso. Não estou a perceber a estratégia que está sendo usada pelos partidos e candidatos. Só vejo pessoas andando de um lado para o outro com muito barulho à mistura sem nada de substancial.

 

Tenho que admitir que o meu nível de ignorância sobre campanha eleitoral está cada vez mais a subir. Não entendo como é que uma caravana ou um show de Mista-Bau e sua mulher e amigos, por exemplo, podem me convencer a votar no manifesto de um certo partido. Ainda não encontrei a relação entre o quadradinho da Liloca e o futuro do país.

 

Não estou a dizer que os modelos de propaganda eleitoral adoptados pelos partidos políticos e candidatos não sejam funcionais. Nada disso! Só estou a dizer que eu é que sou um gajo confuso. Por exemplo, não percebo como é que numa campanha porta-a-porta é possível convencer um eleitor em 5 minutos de conversa. O que é que de tão mágico se fala nesses minutinhos que fazem um gajo mudar de ideia?

 

Uma capulana e uma camisete estampadas com aquele sorriso administrativo do futuro presidente. Uma dose frango com batatas fritas e uma Coca-Cola. Uma bandeira e um cartaz do partido. Uma música e um nhecula-nhecula. Um campeonato de futebol com alcunha do candidato e um showmício. Um festival de promessas e sonhos mal sonhados. A cada promessa, um monte aplausos. 

 

No "feici", uma foto e uma legenda trivial. Um post e um comentário militante. Num mural, um apelo de voto a favor de um certo candidato porque o antigo líder do partido desse candidato - já falecido - tem filhos bonitos, e uma foto do Billal - o Obama. Noutro, jovens embrulhados em mantos de cetim encarnado e uma etiqueta da infalibilidade da certeza do seu voto. 

 

Não! Assim comigo não vai dar! Provavelmente eu esteja a precisar mesmo de uma campanha eleitoral só para mim. Talvez um comité central acampado no meu quintal durante 45 dias explicando cada vírgula do seu manifesto eleitoral. Uma catequese eleitoral. Sei lá, mas assim como está não vai pegar! 

 

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