Boa noite, ouvintes da emissão nacional. Bom, não se pode dizer que foi uma grande partida, nem que foi um jogo impróprio para cardíacos. Ouvintes, verdade seja dita, foi um jogo muito desequilibrado, onde os Charlatões tentaram, durante todo o jogo, queimar tempo fazendo jogo sujo, sem nenhum argumento técnico nem táctico. Enquanto isso, os Indignados entraram para a partida com lição muito bem estudada, e fizeram um jogo bastante táctico, mas também, com uma vantagem técnica individual de dar água na boca.
De resto, o resumo deste jogo está nos últimos três minutos, quando o Tomás levanta a bola e faz um cruzamento acrobático para o meio campo do adversário, chamando de escandalosa a jogada dos Charlatões de quererem levar para si cerca de quatro milhões de meticais de integração social... para piorar, num momento crítico como este. Esta jogada do Tomás foi aplaudida pelos adeptos dos Indignados que lotaram o estádio.
Não demorou que o Muchanga fizesse uma entrada faltosa contra o Tomás, que já se tinha livrado da bola. O Muchanga, no seu estilo característico, entrou com tudo contra o Tomás, sob pretexto de que o Tomás não entendia nada de reintegração social dos deputados. O Muchanga dá uma cotovelada ao Tomás e tira a bola do seu meio-campo com argumentos de que o dinheiro de reintegração social do deputado provém do desconto de 13 por cento do salário dos deputados e que no Malawi os deputados têm vivendas e carros novinhos-em-folha pagos pelo povo.
O Maitololo - o trinco dos Indignados, inexperiente que é - tentou amortecer a bola no peito, mas não conseguiu dominar num frente-a-frente com o Galiza - dos Charlatões - que fez um corte lateral com os seus "NOVE PONTOS NOS II’s PARA DESMENTIR A FARSA EM TORNO DOS TAIS 4 MILHÕES PARA “REINTEGRAÇÃO!”.
Já no último minuto da partida, Galiza corre folgadamente pelo corredor central, em direção a baliza contrária, fintando todos os adversários com os seus "nove pontos nos ii's". Depois de muitas fintas e dribles mafiados, Galiza entra na grande área adversaria com os mesmos argumentos do seu colega de equipa, António Muchanga, segundo os quais reintegração é desconto de 13 por cento do salário do deputado durante 5 anos.
Sozinho com o guarda-redes, Galiza perde tempo com papo de que Moçambique "é dos que pior remunera os deputados na região austral de África, em África no geral e no mundo inteiro!" e "há gente que, nas organizações da Sociedade Civil, em empresas públicas, fundações, Institutos públicos ou universidades, recebe 2, 3, 4, 10 vezes mais em relação a um parlamentar deste país e tem 'ma regalias' de bradar os céus!". Como diria o Henrique Ali, Galiza perdeu tempo, e com tempo, perdeu a bola!
Enquanto o Galiza se preparava para o remate que tiraria os Charlatões do zero à zero, surge o Salema num corte fenomenal, sem falta, limpinho, limpinho. Salema desmontou todos os "nove pontos nos ii's" do Galiza com um simples "número 2 do artigo 45 do Estatuto do Deputado, aprovado pela lei número 31/2014, de 30 de Dezembro". Pelos vistos, nem o Muchanga nem o Galiza sabiam desse documento que eles próprios aprovaram.
Depois do grande corte sobre o Galiza, o Salema - jogador experiente e táctica e tecnicamente competente -, fez o remate da vitória a partir da sua grande área (à moda Roberto Carlos). Foi um remate de baliza à baliza. Tanto o Muchanga quanto o Galiza, ficaram estáticos ao apanharem a ventania da bola em direção ao grande golo da partida, e quiçá, o melhor da história deste campeonato.
De resto, a grande fotografia deste jogo é simplesmente o corte e o chapéu artístico do Ericino de Salema sobre o Galiza Júnior, e o estrondoso tiro já no último minuto de compensação. Afinal de contas, os Charlatões estavam a mentir: "o pagamento do subsídio de reintegração não pressupõe quaisquer contribuições".
Contudo, é importante referir que, apesar da vitória dos Indignados nesta partida, assim como noutras, os Charlatões vão levar a taça dos 4 milhões de meticais para casa. Foi sempre assim. Esse é o preço da nossa democracia. Esta democracia é cara, diz a FIFA.
- Co'licença!
"No Malawi, o deputado vive numa cidadela parlamentar. No dia que o deputado toma posse, recebe chaves da casa mobilada e tudo, e tem um carro zero quilómetros" - António Muchanga, deputado da Assembleia da República pela bancada da RENAMO há mais de não-sei-quantas-legislaturas.
Por acaso, o Muchanga fez alguma pesquisa que concluiu que o povo malawiano está muito satisfeito com este modelo de representação? Os malawianos dão esses benefícios aos deputados em detrimento de bons salários, hospitais e escolas para eles de bom grado? Os malawianos morrem de amores pelos seus deputados?
Com que então, o deputado António Muchanga, um cidadão aparentemente bastante informado, viajado, experiente, exigente, competente, profundo, magniloquente, comunicativo, retórico, influente, abrangente, impulsivo, famoso, original, criativo, pitoresco, autêntico, genuíno, real, verdadeiro, extraordinário, galhardo, prepotente, importante, graúdo, atuante, dominante, excessivo, desmedido, conhecido, reconhecido, e todos restantes qualificadores graúdos e benzidos, foi encontrar no Malawi a melhor qualidade de política parlamentar?! Quanta decepção, amigo Muchanga! Quanta decepção, meu Deus! Se decepção fosse líquida, eu já estaria afogado e morto. Possas!!!
Muchanga foi buscar do parlamento malawiano o exemplo que mais lhe convém. Esquivou-se de referir, por exemplo, que no Malawi os políticos estão a descontar os seus salários para ajudar o governo a combater a pandemia da Covid-19.
Xeee!!! São essas referências que queria levar para o governado da província de Maputo?! É esse o modelo que queria usar como referência na qualidade de governador provincial?! Na sua posição, acha mesmo que deve lançar essas respostas face a indignação do povo?! São esses argumentos que deve buscar?!
Perceba-se (!), eu, particularmente, não estou contra os 4 milhões de meticais que cada deputado vai receber, tanto que já estava a ficar convencido com a justificativa segundo a qual esse dinheiro de reintegração é descontado do salário do deputado durante a legislatura. Confesso que com mais argumentos eu iria cair nela, mas a referência aos deputados do Malawi que tem casa e carro zero quilómetros me deu náuseas.
Hoje tive certeza que, afinal, decepção não mata. Mas, também, tive a maior certeza que o povo de Maputo não perdeu nada, muito pelo contrário... livrou-se. Deus escreve recto em linhas tortas! Aquele Muchanga cuja prisão comoveu o povo, aquele cujo cerco à sua casa indignou o povo, afinal de contas, acha que o que o povo lhe paga é pouco. Além do salário que o povo sofridamente lhe dá, quer casa no condomínio e Lamborghini novinho em folha. Aquele Muchanga pelo qual o povo entregou o peito às balas para ser o seu governador se tivesse ganho quereria mais mordomias e benefícios.
Coitado! Muchanga devia ter chumbado quatro vezes na décima classe. Talvez assim tivesse ampliado o seu horizonte em História e Geografia. Talvez tivesse aprendido que o estômago não é o único órgão do corpo humano. Talvez até tivesse estudado que, às vezes, é preciso fechar a boca para ser poeta.
Allah seja louvado!
- Co'licença!
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons" (Martin Luther King), - principalmente, dos que fingem ser bons.
Muitas pessoas me perguntam onde arranjo tanta inspiração para falar ou para escrever. A minha resposta tem sido uma e única: neste país ninguém precisa de inspiração para falar ou escrever, o próprio país já inspira a qualquer um. Nós estamos a viver num ambiente inspirador, num país inspirador. Neste país não falta assunto para falar ou escrever. Só não fala ou não escreve quem não quer, quem não gosta.
Por exemplo, podíamos falar sobre o porta-voz da Polícia que convocou a imprensa para dizer que as Efe-Dê-Esse estão em prontidão combativa e reforçadas para fazer incursões contra os insurgentes em Cabo Delgado. A propósito dessa conferência de imprensa, gostaria de endereçar a minha admiração àqueles jornalistas que participam de eventos onde se falam esse tipo de piadas e não dão uma gargalhada sequer. É que eu teria caído na sala de tanto rir. Eu não consigo congelar piadas para rir mais logo. Eu havia de rir ali naquela sala até me expulsarem.
Mas, também podíamos falar sobre os mais de 50 milhões de meticais que o Estado irá oferecer aos 250 deputados para a sua "penosa" reintegração social. Confesso que este assunto já não me cria nenhuma indignação pelo nível de imbecilidade que carrega. Acho que os meus anticorpos acabaram criando resistência e imunidade a esse tipo de asnice. Este assunto, quanto a mim, já ultrapassou os níveis de idiotice eticamente permitidos.
Agora, em relação a este assunto, o que me deixa indignado mesmo é a unanimidade da casa. O consenso da família. O que me deixa perplexo é a concordância da nossa oposição parlamentar. Quando o debate é sobre benesses dos deputados, os argumentos da oposição escasseiam. A verborreia desaparece. A retórica se atrofia. Fica-se num mutismo triunfante de bradar os céus.
É muito triste isso! Onde estão aqueles "Messias" da RENAMO e do Eme-Dê-Eme que ano após ano chumbam os orçamentos do Estado por não reflectirem os reais problemas do povo?! Esses 50 milhões de meticais para reintegração dos deputados refletem os reais problemas do povo?! Os quatro milhões de meticais que cada deputado vai receber estão alinhados com os objectivos de desenvolvimento da população?!
Para ser sincero, eu estou preocupado com esse profetismo político dos partidos da oposição. Preocupa-me essa política de dízimo. Não se difere dos Onórios desta vida que desaparecem quando chega o momento de provarem a profecia. A RENAMO e o Eme-Dê-Eme tentam fazer entender que são diferentes da FRELIMO, mas, na verdade, não passam de sósias um do outro. São tão iguais e vulgares como rãs em tempo de chuva. São muito famintos. São muito cobardes e hipócritas. Por essas e outras coisas, dou graças às Deus por esses "profetas" não estarem no poder. Pior ainda quando sinto na pele os efeitos Tocova e Vahanle. Uma autêntica vergonha! A mim não enganam!
Sinceramente, eu esperava que malta Muchanga, Bismarque, Venâncio, Sousa, e companhia - que nos habituaram com o seu evangelho político - ligassem o seu microfone para dizer "meus senhores, vamos evitar coisas de vergonha aqui! Como é que vamos gastar 4 milhões para cada deputado num momento como este? Vamos deixar isso para o governo comprar ventiladores e cloroquina para aqueles nossos irmãos que não têm condições de ir ao ICOR. Na minha língua, há um ditado que diz isto e aquilo...". Ou será que alguém falou alguma coisa sobre isso e eu não ouvi!
- Co'licença!
Se for verdade que, de facto, o edil de Maputo, Eneas Comiche, é o primeiro caso curado da Covid-19, então, estamos perante um caso muito estranho que só pode ser explicado pela Ametramo. Só quem assistiu o filme "o estranho caso de Benjamim" vai entender o que está a acontecer.
"O estranho caso de Benjamim" é um filme-drama lançado em 2008, baseado no conto homónimo do escritor Scott Fitzgerald, de 1921. Escrito por Eric Roth e dirigido por David Fincher, o filme foi interpretado por Brad Pitt e Cate Blanchett e conta a história da vida de Benjamin Button, um homem que, com o passar dos anos, vai se rejuvenescendo, enquanto a sua parceira envelhece. Isto é, a vida de Joaquim Button decorria de forma regressiva, do fim para o princípio. Só para começar, ele nasceu com 80 anos. Este filme recebeu 13 nomeações ao Óscar, incluindo "Melhor Filme".
Dizia, se for verdade que Eneas Comiche é o primeiro doente curado da Covid-19 em Moçambique, então, temos aqui também um "estranho caso", onde, pela primeira vez na vida real, estamos a viver com uma pessoa cuja vida é vivida de forma regressiva. Pela primeira vez, temos um curado que nunca foi tratado, porque nunca esteve internado, porque nunca adoeceu. Um indivíduo que, primeiro, é curado e, depois, se infecta.
Tudo o que se sabe até hoje é que, no Palácio da capital, quem está doente é a Primeira Dama. Aliás, que pode até ser paranóia dela, uma vez que ela não recebeu os resultados dos exames médicos realizados no dia 23 de Março juntamente com o seu marido. Portanto, o seu marido (o edil) está a espera de dois resultados dos testes feitos nos dias 19 e 23.
Se Eneas Comiche está curado da Covid-19 (repito, se for ele a pessoa curada), então, dentro de dias, vai circular um comunicado - assinado e estampado com carimbo do Conselho Autárquico de Maputo - a comunicar (passe a redundância) que o edil está a ser tratado no ICOR; mais logo vai circular outro comunicado dando conta que o edil acaba de ser internado; em seguida, um outro a dizer que o edil acusou positivo ao teste de coronavírus; dias depois, um comunicado referindo que o governante decidiu ficar em quarentena domiciliária voluntária; depois um outro dando conta que o edil acaba de regressar de Londres e; finalmente, um comunicado anunciando a viagem de Comiche à Londres. Quer dizer, vamos assistir estranhamente a vida de Comiche de frente para trás.
Esta situação só pode não ser considerada estranha num país onde os governantes pensam que comunicação institucional é brincadeira. Onde se pensa que dirigir um departamento de comunicação é fazer fifias. Onde se entende que trabalhar em comunicação institucional é ser especialista em desmentidos.
Conheço alguns colegas que trabalham em comunicação institucional do Estado cuja principal tarefa é comprar bilhetes de espectáculos do director, acompanhar a esposa do director ao salão, comprar comida de cachorro da filha do director, fazer reservas do director nos "escondinhos", arranjar gajas com "matunas" carnudas para o director, cambiar dólares do director na esquina, encobrir boladas do director, e quejandos. Gajos que só sabem imprimir e circular comunicados de imprensa que nem sabem quem escreveu. Ao fim do dia, o departamento de comunicação institucional acaba se transformando em caixa de ressonância e morgue de desmentidos.
Compatriotas, comunicação é ciência. Tem suas teorias, modelos, métodos, metodologias, abordagens, paradigmas, axiomas, etecetera. Vale a pena não comunicar do que comunicar mal. Uma comunicação incoerente cria uma cadeia de comunicações igualmente incoerentes. A má comunicação persegue. Hoje, a capital do país e o seu edil estão reféns da sua incompetência comunicativa.
- Co'licença!
Se a Lei de Probidade Pública protege o Estado de possíveis conflitos de interesse por parte dos seus gestores, devíamos ter também uma "Lei de Ignorância Pública" que proteja o Povo de exacerbados conflitos de ignorância dos seus governantes. Devíamos ter uma lei que olhasse para a quantidade e qualidade do desconhecimento dos nossos dirigentes.
O conflito de ignorância é quando a estupidez e a descortês podem levar o indivíduo a decisões lunáticas que podem prejudicar a comunidade. Aquele nível em que a ignorância começa a roçar o analfabetismo, como diria um jovem nos tempos em que era na Esse-Tê-Vê onde a gente se via. Quando se perde a humildade. Quando a postura pública vaza.
O mais estranho nisso tudo é que, no ano passado, o governo - de que a ministra hoje faz parte - rendeu homenagem oficialmente ao "mai-love" lançando o "mai-love-EKSSI-PLAZ" como transporte público misto oficial. Então, uma ministra que não conhece "mai-love" - o transporte do povo, de certeza que também não conhece um "badjimburguer" - o alimento do povo.
Afinal, vive "awondi"?! Não domina a cultura geral da zona?! Então, não sabe que temos um físico-nuclear, com experiência na NASA, que subiu de cargo porque descobriu que quem come "tseke" a noite caga côcô mole de manhã?! Não sabe que um ministro da indústria mandou-nos comer mandioca para termos músculos fortes?! Não sabe que frango costuma a ter derivados no Natal?!
Se assim for, é mais do que justo que não saiba da existência de malta Nhangumele, Chang e Boustani! É justo que não sabe que temos um tabuleiro de gatunos de estimação que deve ser protegido! Obviamente que não sabe que temos uma coleção de ladrões codificados. Nem val'apena falar então da tabela de Teo, então! Sem dúvidas também nunca ouviu falar da EMATUM! Dívidas ocultas, então, hummmmm. Nem sabe dizer em que ano estão a viver em Gaza.
Nada, não sabe. Mas quem é o culpado? Nós! Muito nós!
- Co'licença!