A semana finda foi marcada por diversos acontecimentos que se despejavam nas páginas da história do nosso País. Em alguns cantos, ouviram-se gritos de socorro, por causa de surtos de raptos à luz do sol, destapados nas artérias da Cidade das Acácias e algumas vindas do exterior. Igualmente, assistiu-se ao interromper e à restrição da livre demonstração das liberdades fundamentais dos homens, uma clara evidência de atropelo à Constituição da República, bem como outros regulamentos jurídicos regionais e mundiais de defesa e celebração dos Direitos Humanos.
Ademais, além do empurrão de um dos mais ilustres causídicos das Dívidas Ocultas, Alexandre Chivale, que defendia o mais especial Agente Secreto da Pérola do Índico, sacudido pela batina e peruca da Magistrada Ana Sheila Marrengula, com o carimbo do martelo do Capitão de punk judicial, das paredes envelhecidas daquele edifício localizado ao longo da Avenida 24 de Julho, que esconde o tormento do povo, ouviam-se algumas vozes engravatadas, pintadas de leite e cremora, que, em plena Casa Magna, destilavam desnecessárias declarações de amor.
Não quero falar das suas atrocidades linguísticas, nem dos processos contrários à formação de palavras, das dissonâncias fonológicas e morfossintácticas do seu falar, ou do desvozeamento das sílabas solteiras que, a cada sessão parlamentar, ecoam dos seus movimentos bilabiais estranhos à oficina da língua. Até que poderíamos entender, se, no mínimo, usassem o seu pobre vocabulário para cozinhar ideias úteis destinadas ao bem do esquecido povo. Antes, quero falar de outros assuntos entornados no tapete especial da Casa Magna, a nossa Assembleia da República!
É verdade que a nossa diva da Literatura Moçambicana, a Paulina Chiziane, merece todo o nosso respeito, mas trocar os problemas do povo, a fome dos desempregados, a escassez dos cuidados hospitalares, a educação malnutrida que nos rodeia, as mortes, os deslocamentos das comunidades e a assistência desumanitária que se vive em Cabo Delgado, bem como as nossas filhas e irmãs Matalanizadas e Ndhlavelizadas, por salvas de palmas cheias de declarações de amor e elogios desprovidos de sensibilidades pelas causas de quem mais merece, é mesmo falta de vergonha!
Aliás, quando ela, e tantos outros nobres Escritores, escrevia os contos e romances a descrever a nossa triste realidade como País, nenhum daqueles Deputados defendia o reconhecimento dos seus escritos, que perfazem as páginas marginalizadas da nossa Literatura Moçambicana, nem do Ministério da Cultura e Turismo se ouviam sussurros de apelos virados para a promoção da cultura nacional representada, democraticamente, nos escritos daquela embondeira da escrita moçambicana, africana e mundialmente traduzida, e lida nos cantos dos quatro pontos cardeais.
Além disso, quando Paulina escrevia os seus rabiscos, aqueles Deputados se enchiam de regalias e saldos volumosos que engrossavam os seus corpos já cansados de desfrutar dos prazeres dos impostos do desgraçado povo, que também serviam para pagar os Escrivães que rabiscavam as páginas dos seus discursos saciados de elogios, porém, desprovidos de educação e sentido de responsabilidade face aos clamores dos corpos cujos dedos lhes colocaram naquelas bancadas.
Duvido, ainda, que aqueles Deputados, declamadores de frases de amor, se sentam, conscientes, em frente às páginas brancas do computador, simplesmente, para as encherem de adjectivos vazios de significados que o povo não as quer ouvir. Outros até chegam a falar de pecados, enquanto os seus discursos estão carregados de revelações pecaminosas, malandra e diabolicamente inspirados, com vista a empurrar, cada vez mais, o cidadão comum à margem da desnutrição educacional.
Aliás, não é que isso é, igualmente, resultado de falta de respeito e consideração pelo povo que os colocou naquelas bancadas de colchões volumosos que os enchem de conforto e sonolência, os quais, como seguimento, recebem respostas de mentes cansadas e desnutridas, que reflectem a sua incapacidade em defender aqueles que realmente precisam do seu apoio.
Ora, as declarações de amor dos Deputados, também, estenderam-se ao Informe do Provedor da Justiça, o Pai da Legalidade na Pérola do Índico. Contudo, como disse o Deputado Silvério Ronguane, de uma população de 30 milhões, em 1 ano, apenas 477 requerentes recorreram ao Gabinete do Provedor de Justiça (GPJ). Ou seja, o GPJ e os funcionários nele alocados receberam e deram seguimento a 1 processo por dia e, nos dias mais atarefados, 2 processos: “Que boa vida sua, Senhor Provedor da Justiça!” Apesar de esconderem outros detalhes, os números falam!
Por lei, o Provedor de Justiça, com a sua régua de justiça, deve intervir para o bom funcionamento e endireitar todos os arruamentos entorpecidos e manipulados da nossa Administração Pública, em todo o território nacional. Por dia, assistimos a muitos casos de ilegalidades que, desconhecendo os seus motivos, não pousaram nas páginas daquele informe repleto de imagens fotográficas.
Tal como o edifício que se encontra anexo à margem dos prédios da Avenida Julius Nyerere, na área nobre da Cidade das Acácias, o foco do Gabinete do Provedor de Justiça concentra-se na Cidade de Maputo. Assim, os demais Moçambicanos, espalhados pelo País, são deixados à sua sorte, na margem do esquecimento, sem gotas de justiça nem primeiros socorros diante das chagas de injustiça que, diariamente, visitam os seus corpos, sem apoio do órgão que lhes deveria defender. Por isso, o povo continua mergulhado em injustiças e pouco se faz para tirá-lo de lá!
Ademais, como referiu António Muchanga, Deputado que integra o grupo daqueles que são considerados a “ala dos sem amor à pátria” na Assembleia da República, além das fotos de edifícios e viagens pelo mundo, um martelanço de imagens, o informe do Provedor de Justiça, nas suas 63 páginas, é um álbum fotográfico… e, por isso, estava claro que ele veria navio na sua governação.
Além disso, quase tudo que se discute não apenas na Assembleia da República, mas também nas Assembleias Municipais e em diferentes órgãos e instituições deste nosso Estado, revela que nós estamos a brincar de governar. Assim, quando chega a hora de informar ao povo e ao mundo sobre os feitos da nossa governação, também, brincamos de informar. E vê-se, nessas brincadeiras, uma tendência de se recorrer ao temido Segredo de Estado para esconder informações úteis que ajudariam a resolver os caducados problemas que há muito atormentam o povo.
Já era de se esperar. Muitos daqueles senhores nunca foram depósitos de aplausos verdadeiros. Mesmo enquanto crianças, já deixavam transparecer o seu futuro conturbador. Quase todas as crianças da sua idade, na altura, reclamavam dos seus maus comportamentos intelectuais. Não se sabe ao certo, mas eles chegaram ao Parlamento, politicamente constitucional. Tudo por conta da política! E desta vez, eles não só lançavam areia nos olhos dos colegas da Casa Magna, mas, também, pelas suas artimanhas, comprometiam o futuro dos seus irmãos e das novas gerações.
A propósito, como falar da independência dos Tribunais, enquanto as dívidas ocultamente planeadas tiveram o carimbo visível daqueles Deputados, simplesmente, porque queriam defender interesses obscuros resumidos em aprovações de informes descabidos e propostas legislativas que apenas apadrinham as suas cozinhas, os seus bolsos, enchendo-os de prazeres, não apenas nas suas poucas horas de trabalho, mas, sobretudo nos seus abundantes momentos de lazer?
Será que devemos, sempre, produzir elogios aos nossos irmãos, mesmo quando fazem macaquices ao céu aberto, simplesmente porque em nós correm o mesmo líquido partidário? Será que aqueles Deputados escrevem os seus discursos conscientes ou no seu mais elevado estágio de desprezo às necessidades do já empobrecido povo esbofeteado pelos ataques da natureza, dos insurgentes no Cabo queimado e da Covid-19, que asfixia o mais básico direito à vida condiga do povo?
O anúncio pelo Ministério Público da abertura de um processo contra o advogado Chivale é o exemplo dúbio de uma justiça supersónica. Na tenda da BO foram vertidas várias situações de eventual branqueamento de capitais, como é o caso do condomínio turco na Matola e de proprietários de casas de câmbios, mas nenhum processo autónomo foi anunciado. O Ministério Público devia evitar este registo persecutório, com cheiro a vingança contra um grupo que abraçara a narrativa de que o julgamento é político, vituperando a seu bel prazer contra a PGR, num jogo de gato e rato sem qualquer interesse para a justiça. Houve indícios de práticas criminais envolvendo muitas figuras. Então, que se actue contra todos.
No passado dia 19 de Outubro, em Portugal, foi gravado no Panteão Nacional (homólogo da nossa Praça de Heróis) o nome do antigo cônsul português em Bordéus (França). Aristides de Sousa Mendes (1885-1954) fora, na altura da II Guerra Mundial, o diplomata que desobedecera o regime de Salazar emitindo, à revelia, milhares de vistos a favor de judeus e de outros em fuga das atrocidades da Alemanha Nazi.
O acto (de consciência) de Aristides Sousa Mendes custou-lhe a expulsão da carreira diplomática e a viver, com a sua família, veementes retaliações a ponto de morrer na miséria. Há quem justifique, e é plausível, que a resposta dada por Salazar fora uma característica do seu regime ditatorial. No mesmo diapasão, é também plausível que o reconhecimento e a homenagem que hoje o Estado português presta ao (desobediente) diplomata e aos seus préstimos sejam uma característica do actual quadro democrático em Portugal.
A que propósito falo disto? A propósito de saber o destino dado a funcionários públicos moçambicanos, e não só, que em circunstâncias análogas as do diplomata Aristides de Sousa Mendes tenham tomado decisões em contramão com as famosas orientações superiores.
É de crer, em jeito de nota de fecho, que no Moçambique pós-independência, mormente no tempo monopartidário, tenham existido, em acto e consequências, “os nossos Aristides de Sousa Mendes” e de que hoje, no quadro da constituição (democrática) de 1990 e seguintes, urge que o Estado os reconheça e homenageie, no mínimo aos mais destacados e exemplares desobedientes. Sob que critérios? É um outro debate.
Quando a Federação Moçambicana de Futebol foi arrastada pelos pés para fora do jogo, com seus dirigentes que passavam a vida soprando apitos de sono nos escritórios como pastores de gado, todas as bolas foram transformadas em berlindes e assim surgiu dessa devastação a Federação Moçambicana de Berlindes. O timbre da nova federação era um berlinde submerso num buraco e um enorme dedo indicador em posição de remate.
Umas das primeiras obras da Federação Moçambicana de Berlindes foi a massificação da nova modalidade; a federação comprou um rebanho de retroescavadoras para abrir buracos que facilitassem a prática da modalidade. E não houve muito trabalho, visto que em todas as regiões do país o que não faltava eram buracos. Na própria sede da federação existência um enorme buraco deixado pela direcção de futebol que servia de campo de treinos das sub-selecções.
A selecção nacional de berlindes treinava em diversos campos bem equipados que temos em todo país, mas a estrada nacional número um era o palco predilecto. Claro que fazia todo sentido ter uma selecção que aproveitasse os buracos do país do que uma federação de futebol que afundasse a selecção em buracos. O Governo apoiou muito a selecção nacional de berlindes: financiou sem medir esforços projectos que ampliassem os buracos do país.
Foi muito curioso ver a federação nacional de berlindes aproveitando-se dos enormes buracos deixados pela federação nacional de futebol para praticar a sua modalidade. A selecção nacional de berlindes ganhava tudo que fosse campeonato mundial, aliás, enquanto a federação nacional de futebol ocupava-se em encher os bolsos de moedas, a outra enchia os buracos dos bolsos com berlindes novos e taças. Se a memória não me falha, a última vez que a selecção de berlindes perdeu num campeonato mundial, a população saiu furiosa à rua armada de alcatrão, ameaçou tapar todos os buracos e assim acabar com a modalidade e todas as derrotas azedas, mas a polícia, no seu exemplar trabalho, interveio, impediu as manifestações e recolheu todas as barras de alcatrão aos seus armazéns. Tapar os buracos da selecção era, sem dúvidas, um enorme insulto ao desporto nacional e ao esforço imensurável do Governo.
A modalidade dos berlindes nos buracos cresceu; o Governo não parava de inaugurar mais buracos em todo país, a bandeira de Moçambique, pelo dom dos buracos e dos movimentos dos dedos, era erguida em todo mundo e há quem viajava para o país para conhecer os buracos onde eram formados os melhores do planeta. A federação moçambicana de futebol nunca mais fez falta; os estádios foram transformados em mercados, os camiões de batatas e cebolas invadiram o Estádio Nacional de Zimpeto, as plantações de alface e couve galgaram, como trepadeiras, as bancadas do Estádio da Machava e assim o desporto cresceu.
A selecção nacional de berlindes usava luvas, fazia jogos amigáveis nos luxuosos buracos de Burundi, Eritreia e Malawi, testava as penalidades com os dedos nos buracos oficiais dos mistérios e sempre usava as redes das balizas da antiga federação moçambicana de futebol para pescar mais vitórias em campeonatos mundiais. Os campeonatos mundiais aconteciam no nosso país, pois a FIFA dos berlindes rendia-se e curvava-se à excelente conservação que fazíamos das nossas covas. Nunca fomos reprovados por falta de covas excelentes.
Quando a Federação Moçambicana de Futebol foi arrastada pelos pés para fora do jogo, com seus dirigentes, os berlindes ganharam espaço e todos pusemo-nos a gritar as taças que nos qualificavam para os buracos das nossas satisfações. E assim fomos conhecidos como o país dos berlindes e dos buracos.
Com a crise keynesiana, no passado século XX, que advogava um Estado interventivo na economia sempre que fosse necessário, visando evitar a retracção económica e garantir o pleno emprego, os países socialistas de economias periféricas (e não só) abriram-se ao financiamento às suas economias e, consequentemente, ao sector da Educação. Isso pressupôs que, entre as reformas feitas, no âmbito dos acordos com as instituições dos Bretton Woods (FMI e BANCO MUNDIAL), o estado deixaria de financiar a Educação, ficando somente com a função regulatória, passando a tarefa de injecção pecuniária maioritária ao privado. O privado, por sua vez, passaria “implicitamente” a definir o que deve ou não ser leccionado. É aqui onde toda a “desgraça” começa. Perdeu-se o controlo total e completo sobre a gestão educativa sectorial em benefício de um financiamento que colocou o país na actual alienação gravosa.
Ganhou o neoliberalismo e o comunismo, embora não seja integralmente melhor, foi enterrado para sempre. Vale a pena lembrar que os actuais ultraneoliberais herdaram a veia capitalista outrora criticada por Karl Marx e Antonio Gramsci, por terem fomentado um tipo de Educação que perpetua desigualdades de classes - formar a classe baixa para o fazer - apenas para servir o mercado (trabalhando) e formar a classe alta para o saber - capaz de conferir liberdade intelectual (pensar sem alienação) com a possibilidade de gerir as classes perenemente subordinadas.
Abro parênteses para frisar que, quanto a mim, a questão não reside no combate ao neoliberalismo, tão pouco advogo a retoma ao comunismo, mas defendo a restruturação dos pressupostos de ambos. Dito de outro modo, primo pelo hibridismo - a coabitação pacífica entre os valores vitais do comunismo e do neoliberalismo capazes de existir sem colisão à favor da humanização. Do que há na memória colectiva, alguns exemplos a ter em conta são dos países escandinavos. Tudo que seja inerente à humanização não colide. Por exemplo, se os dispositivos mediáticos como são os casos da Televisão, plataformas digitais, etc. são produtos do neoliberalismo, que se usem para libertar o indivíduo e não os ter como aparelhos ideológicos que alienam este indivíduo subalterno. Idem para as igrejas que não devem firmar-se por aparelhos ideológicos alienatórios – mas este não é o âmago da minha questão – releguemos para outro momento e voltemos à minha negação sobre o tipo de Educação que perpetua desigualdades de classes - formar a classe baixa para o fazer - apenas para servir o mercado (trabalhando submissamente) e formar a classe alta para o saber capaz de conferir liberdade intelectual (pensar sem alienação e decidir por si sobre seu próprio destino) – algo que os habilita a gerir as classes perenemente subordinadas.
Esta parte da desigualdade de classes é a que leva os nossos dirigentes cientes do problema e financeiramente capazes, em Moçambique, a enviarem os seus filhos para estudar no exterior, em escolas cuja qualidade é inquestionável. O fazem para que os seus não sejam parte integrante da massa subalterna no futuro, porque têm consciência plena do paupérrimo sistema educativo alienatório – havendo, todavia, alguns raros excelentes exemplos de superação de ex-subalternos que se firmaram no melhor sentido.
Relativamente aos professores, como referi acima, o comunismo morreu e ganhou o neoliberalismo. Isso significa que em muitos quadrantes do mundo, a elevação do neoliberalismo veio matar os sindicatos dos professores e tantos outros. A morte de tais sindicatos, pelo neoliberalismo, não pressupõe a extinção das instituições de defesa dos direitos das classes dos professores e outros profissionais. Elas continuam existindo, mas com as suas forças inactivas senão castradas. Aliás, quem financia a tais sindicatos são os próprios neoliberais que exercem controlo sobre estes, no âmbito dos seus interesses em manter estagnado todos os organismos que agem em defesa dos interesses das classes mais desfavorecidas. Foi o que aconteceu com a ONP, SNJ, OTM e tantos outros, não foram extintos, existem, mas dentro de uma sonolência mórbida que os coloca na condição inerte.
Não fomos capazes de higienizar o espírito neoliberal que se abateu sobre Moçambique. As manhas do neoliberalismo conduziram-nos a um estágio mórbido na nossa Educação, quer em termos sindicais aos professores, quer sob ponto de vista de alienação aos educandos, empurrados a serem otários inocentes e permanentes escravos de um mercado cujos mentores e seguidores devotam-se para o manter, ignorando todas as insensibilidades contra a condição humana. Somos insensíveis e alheios às preocupações do professor, e à sorte do aluno, quando o colocamos a leccionar, por exemplo, uma disciplina prática sem laboratório e o cobramos resultados. Somos insensíveis aos professores pesquisadores quando cobramos artigos científicos e afirmamos estar sem verba para financiar uma investigação, entretanto conseguimos colocar chamussas e castanhas por cima de uma mesa para entreter os estômagos dos gestores educativos numa reunião de rotina. Somos insensíveis ao aluno quando o obrigamos a participar numa aula virtual, sujeita à avaliação, mesmo sabendo que o Censo moçambicano 2017 informa-nos que 52% têm acesso ao telemóvel em Moçambique e somente 7% têm acesso à internet, sendo 8.9% com acesso ao computador. Somos insensíveis quando tomamos decisão de avançar com pacotes educativos aprovados mesmo sabendo que as nossas utopias de formação colidem com estes números sobre a realidade do país. Somos insensíveis quando as grandes decisões tomadas não são em função dos resultados de investigação, mas apenas políticos. Somos coadjuvantes da qualidade educativa que os neoliberais “impõem” às massas subalternas.
Se, para os capitalistas, a Educação das massas deve ser de baixa qualidade e formar somente para o mercado, tais sindicatos não vão vincar porque o sistema educativo mundial que foi pensado pela classe dominante é o de manter, através da própria Educação, a distinção entre essas duas classes (dominante e dominada proletária). Portanto a ideia de cindicalizar o sector da Educação em Moçambique é boa, mas, para que não seja uma ideia romântica, precisamos estar bem cientes da magnitude do problema, de modo a estarmos melhor preparados (sem emoção) para jorrar muito sangue porque o assunto é estrutural, sistemático e de dimensão universal. É por causa de tudo isto e mais alguma coisa que tenho dito: “ser professor não é apenas uma profissão, é mais do que isso, é uma MISSÃO cuja meta revela quão árdua foi a trajetória”.
*Circle Langa
Comunicólogo e Pedagogo
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Moçambique é um território com muitas novidades, bem como centenas de Grandes Chefes. Porém, o que não nos havia sido dito, em público, é que muitos Grandes Chefes da Pérola do Índico são autores de postulados e teorias, nunca antes estudados nas salas de aulas das nossas desgastadas, muitas delas internadas, Escolas e Universidades espalhadas em todo o País.
Contudo, nestes dias, a partir da mais falada tenda do País, a tenda das revelações, localizada na Cadeia de Máxima Segurança desprovida de segurança, passamos a receber aulas gratuitas sobre os Postulados negacionistas de defesa e a Teoria dos Martelos, descascados em martelanços, ora pequenos, ora grandes, sejam pretos-brancos, sejam coloridos, quer nacionais, quer chineses.
No início das audições, quem não ficou colado às telinhas de TVs ou dos smartphones, queimando energia e os poucos megabytes que tinha, para acompanhar ao mais mediático julgamento económico de Moçambique – o Caso de Querela sobre as Dívidas Ocultas?
Assim, em poucos dias, duas personagens, quase por todos desconhecidas no País e no mundo, ganharam estatuto de modelos de justiça e de luta contra a corrupção. Pelo que, não faltaram elogios nem aplausos, escoltados de choros alegres e palmas de alívio de cidadãos desesperados e com bolsos furados gotejando migalhas de miseráveis esperanças.
Em seguida, vieram os Arguidos, os quais, após definido o Código Penal em uso naquele processo, transformaram-se em Réus. Com a audição de Mutota, passamos a saber que os nossos Grandes Chefes, também, são agricultores com machambas desconhecidas, nas quais, em pleno século 21, desperdiçam milhares de dólares sem planos claros de retorno – um SUSTENTA insustentável!
À entrada triunfal de Nhangumele, foi-nos referido que o projecto que levou à contracção dos 2.2 biliões de dólares foi esculpido por artistas secretos, com técnicas mágicas, provenientes de um planeta ainda por se descobrir e, caso aquele plano funcionasse, estaríamos seguros como nação. Ele disse não estar interessado em devolver parte das moedas que nos levaram à vala comum.
Quando chegou a vez do réu mais mimado da Pérola do Índico, entendemos que Jean Boustani, lá dos Emirados Árabes, estava enganado ao chamar de Cinderela um indivíduo que teve a coragem de espalhar perfumes de arrogância e malcriadez, bem como desrespeitar a todos Moçambicanos, pois, segundo ele, além de não ter memória de elefante, como ovelha inofensiva conduzida ao matadouro, foi injustamente empurrado nas dívidas publicitadas para atacar a sua família real.
Veio o seu amigo de infância, que, também, apesar de não constar da árvore genealógica da família real, transpirou chuvas venenosas de prazeres de insubordinação à justiça associadas ao seu problema de memória de curta metragem. Apesar de ele ser elefante em esquemas (i)mobiliários e monetários, afirmou não ter qualidades daquele animal em vias de extinção.
Igualmente, vieram outros Réus e Rés, que reclamaram sofrer injustiças e perseguições do guardião da legalidade no País. Alguns mais grosseiros que outros e outros produtores de respeito e obrigados em larga escala. Algumas até cuspiram verdades face aos apelos de sensibilidade do Tribunal e outras se revelaram autênticas artistas e costureiras de esquemas milionários.
Nisto, corriam as audições em sede de Tribunal. O alarme soou e chegou a vez do Chefe dos Agentes Secretos nacionais. Em contramão a todas as nossas expectativas, o rei da selva revelou, estrategicamente, desconhecer o pelouro que dirigia, despossuir abertamente a memória de um elefante, nem saber os contornos do projecto que, segundo eles, havia sido esboçado para nos proteger. Insólito! Era o primeiro leão sem juba, que disse ter potência inferior a algumas hienas e alguns abutres que pastavam e alimentavam-se nas relvas daquele pátio nas tendas da B.O.
Além disso, o rei da selva fez-nos saber que ele era um eterno apaixonado pela sua leoa, que não parava de interceder e enviar pingos de orações em favor da vida do casal, a fim de proteger a sua imagem, malandramente manchada pela falta de atenção aos detalhes de transações bancárias planificadas, esculpidas e monitoradas pelos Agentes Secretos liderados pelo leão, que não parava de rugir diante do Tribunal e de todos que acompanhavam as sessões de julgamento.
Aliás, quase todos estávamos acostumados em ouvir vários postulados negacionistas, a saber, postulado não me recordo, postulado não vou responder, postulado já respondi ontem, postulado está consignado em acta, postulado do silêncio, entre outros misturados com caril de malcriadez.
Por conseguinte, quando todos pensávamos que havia chegado a hora de ouvir grandes revelações do espião mais esperado de Moçambique, em sede da tenda das revelações, fomos brindados não apenas com postulados negacionistas de defesa, mas com uma teoria nunca antes ouvida, que diariamente gotejava em série, a Teoria dos Martelos de um Grande Chefe.
Aliás, não era a primeira novidade: assistiu-se e ouviu-se, naquela tenda, desfiles abertos de gatos, que procuravam devorar anexos, volumes e folhas daquele processo, mas o Juiz, sem investigar ou mandar averiguar, concedeu cobertura plena aos gatos. Não demorou, aqueles animais domésticos, que dominavam as coordenadas das tendas da B.O, passaram, às mesmas horas, no final do dia, a cortar energia em meio às audições. Porém, mesmo assim, os gatos tiveram mimos.
Assim, para chamar à atenção da sua presença ignorada, os gatos ganharam a coragem, afiaram os seus dentes e mastigaram algumas folhas com provas acusatórias contra o Grande Chefe. Era um recado-ataque claro e aberto dos gatos apessoados para alertar a todos, a fim de que não fossem mais ignorados, pois, eles estavam a sofrer injustiças e eram publicitados nas tendas da B.O.
Estava a ficar claro, diante de todos, que os Postulados dos Réus e a Teoria dos Martelos do Grande Chefe faziam parte de uma estratégia malandra para abandonar a tenda da B.O com aplausos escoltados de elogios que os conduziria a caminho de casa. Aliás, os golpes de saudação do Grande Chefe, à entrada e saída do Tribunal, eram truques mafiosos para comprar a atenção dos telespectadores e internautas. Afinal, os filmes de inteligência e espionagem, que assistimos, já nos haviam alertado que um Agente Secreto ou Espião nunca fala a verdade, mesmo quando escoltado de chuvas de espancamento ou arrancados ambos olhos. Mas aquele não era o caso!
Após quebrar o recorde do seu antigo Chefe, outro Grande Chefe, cuja chefatura lhe persegue até no Língamo, sua actual residência preventiva, o Grande Chefe das três empresas do calote das Dívidas Ocultas começou a conjugar a sua teoria, aos pedaços, aos quais designou por martelanços. Todas as provas lançadas pelo Ministério Público, para o Grande Chefe, eram resultado de marteladas que se transformavam em martelanços preparados sem mestria.
Com a sua Teoria dos Martelos, o Grande Chefe começou, até, a fazer piadas e enervar o Tribunal e a todos, já que em sede de Tribunal, televisionado ao vivo, não era possível receber presentes em punhos de raiva que se acumulavam nos sujeitos para quem ele se dirigia, zombadamente.
Portanto, superando a intervenção de outros Réus, o Grande Chefe, a cada audição, em julgamento na tenda da B.O, desfilando manguais de esperteza e conjunto de postulados, abrindo livros com páginas repletas de inteligência e teorias parasitas, buzinava bem alto e raspava o chão, sacudindo a poeira e o barulho nos olhos e ouvidos do povo, para se escapar das acusações que pesavam contra si. Assim, a cada postulado e teoria, cementava mais ainda a miséria dos seus compatriotas!