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quarta-feira, 27 outubro 2021 08:50

Declarações de Amor a partir da Assembleia da República

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A semana finda foi marcada por diversos acontecimentos que se despejavam nas páginas da história do nosso País. Em alguns cantos, ouviram-se gritos de socorro, por causa de surtos de raptos à luz do sol, destapados nas artérias da Cidade das Acácias e algumas vindas do exterior. Igualmente, assistiu-se ao interromper e à restrição da livre demonstração das liberdades fundamentais dos homens, uma clara evidência de atropelo à Constituição da República, bem como outros regulamentos jurídicos regionais e mundiais de defesa e celebração dos Direitos Humanos.

 

Ademais, além do empurrão de um dos mais ilustres causídicos das Dívidas Ocultas, Alexandre Chivale, que defendia o mais especial Agente Secreto da Pérola do Índico, sacudido pela batina e peruca da Magistrada Ana Sheila Marrengula, com o carimbo do martelo do Capitão de punk judicial, das paredes envelhecidas daquele edifício localizado ao longo da Avenida 24 de Julho, que esconde o tormento do povo, ouviam-se algumas vozes engravatadas, pintadas de leite e cremora, que, em plena Casa Magna, destilavam desnecessárias declarações de amor.

 

Não quero falar das suas atrocidades linguísticas, nem dos processos contrários à formação de palavras, das dissonâncias fonológicas e morfossintácticas do seu falar, ou do desvozeamento das sílabas solteiras que, a cada sessão parlamentar, ecoam dos seus movimentos bilabiais estranhos à oficina da língua. Até que poderíamos entender, se, no mínimo, usassem o seu pobre vocabulário para cozinhar ideias úteis destinadas ao bem do esquecido povo. Antes, quero falar de outros assuntos entornados no tapete especial da Casa Magna, a nossa Assembleia da República!

 

É verdade que a nossa diva da Literatura Moçambicana, a Paulina Chiziane, merece todo o nosso respeito, mas trocar os problemas do povo, a fome dos desempregados, a escassez dos cuidados hospitalares, a educação malnutrida que nos rodeia, as mortes, os deslocamentos das comunidades e a assistência desumanitária que se vive em Cabo Delgado, bem como as nossas filhas e irmãs Matalanizadas e Ndhlavelizadas, por salvas de palmas cheias de declarações de amor e elogios desprovidos de sensibilidades pelas causas de quem mais merece, é mesmo falta de vergonha!

 

Aliás, quando ela, e tantos outros nobres Escritores, escrevia os contos e romances a descrever a nossa triste realidade como País, nenhum daqueles Deputados defendia o reconhecimento dos seus escritos, que perfazem as páginas marginalizadas da nossa Literatura Moçambicana, nem do Ministério da Cultura e Turismo se ouviam sussurros de apelos virados para a promoção da cultura nacional representada, democraticamente, nos escritos daquela embondeira da escrita moçambicana, africana e mundialmente traduzida, e lida nos cantos dos quatro pontos cardeais.

 

Além disso, quando Paulina escrevia os seus rabiscos, aqueles Deputados se enchiam de regalias e saldos volumosos que engrossavam os seus corpos já cansados de desfrutar dos prazeres dos impostos do desgraçado povo, que também serviam para pagar os Escrivães que rabiscavam as páginas dos seus discursos saciados de elogios, porém, desprovidos de educação e sentido de responsabilidade face aos clamores dos corpos cujos dedos lhes colocaram naquelas bancadas.

 

Duvido, ainda, que aqueles Deputados, declamadores de frases de amor, se sentam, conscientes, em frente às páginas brancas do computador, simplesmente, para as encherem de adjectivos vazios de significados que o povo não as quer ouvir. Outros até chegam a falar de pecados, enquanto os seus discursos estão carregados de revelações pecaminosas, malandra e diabolicamente inspirados, com vista a empurrar, cada vez mais, o cidadão comum à margem da desnutrição educacional.

 

Aliás, não é que isso é, igualmente, resultado de falta de respeito e consideração pelo povo que os colocou naquelas bancadas de colchões volumosos que os enchem de conforto e sonolência, os quais, como seguimento, recebem respostas de mentes cansadas e desnutridas, que reflectem a sua incapacidade em defender aqueles que realmente precisam do seu apoio.

 

Ora, as declarações de amor dos Deputados, também, estenderam-se ao Informe do Provedor da Justiça, o Pai da Legalidade na Pérola do Índico. Contudo, como disse o Deputado Silvério Ronguane, de uma população de 30 milhões, em 1 ano, apenas 477 requerentes recorreram ao Gabinete do Provedor de Justiça (GPJ). Ou seja, o GPJ e os funcionários nele alocados receberam e deram seguimento a 1 processo por dia e, nos dias mais atarefados, 2 processos: “Que boa vida sua, Senhor Provedor da Justiça!” Apesar de esconderem outros detalhes, os números falam!

 

Por lei, o Provedor de Justiça, com a sua régua de justiça, deve intervir para o bom funcionamento e endireitar todos os arruamentos entorpecidos e manipulados da nossa Administração Pública, em todo o território nacional. Por dia, assistimos a muitos casos de ilegalidades que, desconhecendo os seus motivos, não pousaram nas páginas daquele informe repleto de imagens fotográficas.

 

Tal como o edifício que se encontra anexo à margem dos prédios da Avenida Julius Nyerere, na área nobre da Cidade das Acácias, o foco do Gabinete do Provedor de Justiça concentra-se na Cidade de Maputo. Assim, os demais Moçambicanos, espalhados pelo País, são deixados à sua sorte, na margem do esquecimento, sem gotas de justiça nem primeiros socorros diante das chagas de injustiça que, diariamente, visitam os seus corpos, sem apoio do órgão que lhes deveria defender. Por isso, o povo continua mergulhado em injustiças e pouco se faz para tirá-lo de lá!

 

Ademais, como referiu António Muchanga, Deputado que integra o grupo daqueles que são considerados a “ala dos sem amor à pátria” na Assembleia da República, além das fotos de edifícios e viagens pelo mundo, um martelanço de imagens, o informe do Provedor de Justiça, nas suas 63 páginas, é um álbum fotográfico… e, por isso, estava claro que ele veria navio na sua governação.

 

Além disso, quase tudo que se discute não apenas na Assembleia da República, mas também nas Assembleias Municipais e em diferentes órgãos e instituições deste nosso Estado, revela que nós estamos a brincar de governar. Assim, quando chega a hora de informar ao povo e ao mundo sobre os feitos da nossa governação, também, brincamos de informar. E vê-se, nessas brincadeiras, uma tendência de se recorrer ao temido Segredo de Estado para esconder informações úteis que ajudariam a resolver os caducados problemas que há muito atormentam o povo.

 

Já era de se esperar. Muitos daqueles senhores nunca foram depósitos de aplausos verdadeiros. Mesmo enquanto crianças, já deixavam transparecer o seu futuro conturbador. Quase todas as crianças da sua idade, na altura, reclamavam dos seus maus comportamentos intelectuais. Não se sabe ao certo, mas eles chegaram ao Parlamento, politicamente constitucional. Tudo por conta da política! E desta vez, eles não só lançavam areia nos olhos dos colegas da Casa Magna, mas, também, pelas suas artimanhas, comprometiam o futuro dos seus irmãos e das novas gerações.

 

A propósito, como falar da independência dos Tribunais, enquanto as dívidas ocultamente planeadas tiveram o carimbo visível daqueles Deputados, simplesmente, porque queriam defender interesses obscuros resumidos em aprovações de informes descabidos e propostas legislativas que apenas apadrinham as suas cozinhas, os seus bolsos, enchendo-os de prazeres, não apenas nas suas poucas horas de trabalho, mas, sobretudo nos seus abundantes momentos de lazer?

 

Será que devemos, sempre, produzir elogios aos nossos irmãos, mesmo quando fazem macaquices ao céu aberto, simplesmente porque em nós correm o mesmo líquido partidário? Será que aqueles Deputados escrevem os seus discursos conscientes ou no seu mais elevado estágio de desprezo às necessidades do já empobrecido povo esbofeteado pelos ataques da natureza, dos insurgentes no Cabo queimado e da Covid-19, que asfixia o mais básico direito à vida condiga do povo?

Sir Motors

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