Director: Marcelo Mosse

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quarta-feira, 26 junho 2019 13:50

Parabéns Zandamela ...!

Não é do Zandamela, do mais imponente e reluzente edifício da baixa de Maputo a que me quero referir, o tal que, há tempos, chamou a alguns PCAs de bancos de "lobistas".

 

É do outro Zandamela, o da LAM, o comandante. Zandamela Neves deve ser chope ou é descendência chope. Neves, que parece ser o apelido, o último nome pronunciado por uma aeromoça, por sinal, a chefe de cabine, é uma corruptela. Tal como Monjane é corruptela de Mondlane ou Costa corruptela de Cossa ou ainda Bié corruptela de Mbiyê.

 

Zandamela Neves, simpático, comunicador, devia ser o protótipo de pessoas que, para as alturas, levam vidas que cruzam os céus deste país que, há 44 anos, já é independente.

 

Algum tempo depois do TM 156, da companhia da bandeira, a LAM, rasgar os céus, com destino à capital do Norte, Zandamela fez gosto à retórica. Estar no ar durante horas não deixa de provocar stress. Como diz Gustavo Mavie, um dos jornalistas com maior número de horas de voos, quando o avião sai da pista tudo depende do comandante, mas guiado por Deus.

 

Dos microfones do cockpit veio uma voz meio embargada e trémula, mas que veio reconfortar e transmitir segurança aos passageiros. Naqueles instantes, ninguém se lembrava que estava a 31 mil pés de altitude, tal é a forma doce que nos chegavam aquelas palavras do comandante.

 

Zandamela Neves, em tom humilde, falou dele, falou da carreira dele, mas para mostrar que ele apenas dirige uma equipa que não é chefe, mas um líder. Apresentou todos os membros da tripulação. Era dia 25 de Junho, ontem, terça-feira e a chefe de cabine, completava 14 anos depois de se ter iniciado na carreira.

 

O bom disto é que a relação entre a LAM e os passageiros transcende o lado comercial, afinal somos humanos.

 

A comunicação de Zandamela Neves para os passageiros humaniza a relação daqueles com a LAM. Foi impressionante ouvir Zandamela Neves a dizer que "somos a companhia da bandeira, estamos aqui a trabalhar a meio todas as adversidades". Adversidade é minha palavra. Zandamela disse "dificuldades".

 

Parabéns LAM. Há muitos Zandamelas, na LAM, há muitos Joãos Madureiras, como há vários Neltons Nhantumbos, na LAM. Há muita boa malta na LAM. Jorge Zandamela Neves, de seu nome completo, é um veterano na aviação, com 40 anos de carreira, iniciados em 1979. Este Jorge é um verdadeiro cultor de relações humanas/públicas. Quando o Embraer se imobilizou na placa do Aeroporto de Nampula, logo que o aparelho deu um beijo à pista, ele próprio saltou do cockpit para dizer a todos os passageiros, um por um, com sorriso estampado nos lábios "muito obrigado, boa estadia, esperamos voltar a vê-los, até a próxima".

 

Com a Ethiopian a acossar os serviços da nossa companhia de bandeira, a LAM precisa mesmo de fazer reajustamentos no capítulo das relações humanas e distribuir sorrisos.

 

Ainda há muito pó por sacudir na LAM. É para ontem!

 

A LAM merece todo o nosso carinho.

quarta-feira, 26 junho 2019 06:22

Minha mãe

O que dói é perceber a minha incapacidade de  nunca a ter tratado na dimensão que ela merecia. Fui distraído durante toda a vida e não entendi os inabaláveis fundamentos da minha mãe. Sinto agora, que ela partiu, deixando um enorme vazio em mim, que afinal  esta mulher enchia a minha vida, com todos os exíguos meios à sua mercê. Mas tinha outra arma crucial para todas as lutas:  o imenso coração onde eu, mesmo assim, recusava-me a permanecer para desfrutar do maná inesgotável de amor.

 

Na última década da sua vida, minha mãe já não se locomovia com os seus próprios meios. Era um duro golpe para um ser independente, que acordava nas manhãs antes dos pássaros saírem dos ninhos, para dar o  corpo à terra. Ignorando que aquela entrega sem reserva, levá-la-ia, mais dia, menos dia,  ao ponto de já não poder andar. Danificou completamente a coluna vertebral nesse amanho, e o resultado disso não podia esperar eternamente. Tremeram as manilhas da sua anatomia, e nunca mais se pôs de pé.

 

Naquela posição, sentada para sempre, minha mãe era uma tigresa vencida. Com as patas trazeiras esfrangalhadas nas armadilhas, e uma terrível descompensação nas ancas. Os olhos brilhavam com sede da  paisagem verde, não para atacar as gazelas, mas para enterrar a enxada. No fundo era uma águia que já não podia desafiar as alturas e poisar no topo das montanhas de pedra. As asas foram decepadas pelo próprio uso. Mesmo aqui perto, no mercado que fica à ilharga da nossa casa, onde ia conversar com as amigas, contando histórias de nunca acabar, já não podia ir. Parecia que a escuridão inteira lhe cercava. Sem ninguém para conversar porque eu não percebia que minha mãe precisava de mim. E eu precisava de beber todos os dias.

 

Ela partiu usando  praticamente os meus braços  como rampa, no movimento de levantá-la todos os dias para o banho, deixando dentro de mim o cheiro dela de mãe. Mas eu não merecia esse privilégio de cuidar de alguém que nunca valorizei. Nunca soube retribuir o amor que sempre me deu, sem querer nada de volta.  Contudo, tranquiliza-me o facto de tudo ter mudado nos últimos três anos da minha mãe,  tempo durante o qual, nós os dois vivemos em amor intenso. Ela chamava-me de pai. Sempre que eu entrasse no seu quarto, olhava para mim e dizia, papá. Aliás o quarto dela fica aqui mesmo, ao lado do meu. Numa pequena casa e um enorme quintal cercado de “espinhosa” sempre podada.

 

Agora que tudo se consumou, mais do que sentir a ausência da Marta, minha inesquecível mãe, e o medo de estar aqui sozinho, tenho a agradável sensação de que ela me vigia. Ela enche a nossa casa e me dá paz em todos os momentos. Obrigado mãe, perdoa-me por tudo o que fiz contra ti, e por todo o amor que nunca te dei.

“As dimensões Meio Ambiente e Desenvolvimento tornam-se úteis quando a cultura é vista como um terreno fértil para identificar e formar parcerias com a comunidade local, através das quais o desenvolvimento ambiental sustentável pode ser alcançado”

Jan Nederveen Pieterse (2001)

 

O ar pesado e escaldante da província de Tete é sentido logo quando aterramos em Chingodzi. Saindo do aeroporto, do nosso lado esquerdo, a marca vegetal é definida pela grandeza do embondeiro que se ergue e protege os fanáticos do futebol. Esta terra, considerada mística, é caracterizada por suas quantidades robustas de recursos minerais esgotáveis – como o carvão mineral – que atraiu os impulsionadores das políticas do desenvolvimento.

 

Mas não é das potencialidades dos recursos naturais – que ocorrem em Tete e por todo este conjunto de bacias hidrográficas que caracterizam a zona centro e norte – que pretendemos reflectir. É sim daquele mais velho – conhecido por Mfumo, dependendo da língua – que é considerado um repositório de “conhecimento cultural”. Prezado como veia transmissora entre a comunidade e a Terra. Até aqui, podemos considerar o “conhecimento cultural” como um intercessor entre a Sociedade e a Terra. Esta união não poderá ser analisada como uma relação de mera (co)existência; podemos sim, considerá-la como uma (retro)alimentação que pode ser expressa pela existência da Terra – e os seus recursos naturais – na construção das Sociedades e, este último o Mfumo, como o conservador da Terra, onde o “conhecimento cultural” é tido como mediador desta triangulação. 

 

Hoje, aquele Mfumo e a sua comunidade local foram “trinchados” para dar lugar a corrida pelos recursos naturais que defraudaram por completo todas dinâmicas e estruturas sociais que ainda permanecem em construção nos espaços rurais de muitos estados africanos. Além disso, a implementação dos projectos de mineração assumem o controle e contribuem para a transformação das relações entre as comunidades e as zonas de afluência cultural. Pelo que, não sei se seria utópico considerá-lo como uma figura indispensável na sociedade.

 

A questão que se coloca, todavia, é a seguinte: até que ponto o Mfumo, que outrora tinha legitimidade junto da sua comunidade, pode ser visto como um repositório do conhecimento sobre “questões ambientais”? É que, na narrativa do “modelo participativo”, ele (Mfumo) ganhou um campo no contexto do desenvolvimento, baralhando a lógica de quem o nomeia e, igualmente, de quem o considere legítimo representante da comunidade. Agora ele não precisa somente de herdar o poder. Pressupõe-se que saiba ler e escrever, forçando a que os novos líderes locais, cujos poderes foram diluídos com o “trinchamento”, sejam vistos como resultado da atração pelos novos modelos de vida urbana nas zonas rurais, nomeadamente entre os grupos mais jovens. Sendo o Mfumo ainda considerado o repositório do “conhecimento cultural” e tido como mediador dessa triangulação que envolve a Sociedade e a Terra, há que questionar sobre as razões que terão levado a uma deterioração do grau de confiança entre a comunidade local e os seus novos líderes.  

 

É preciso reconhecer que as estruturas sociais das comunidades locais procuram sempre obedecer uma lógica dos desafios do desenvolvimento a qual estamos expostos. Mas a mesma lógica (por nós defendida) vira-se contra nós (frutos desse “trinchamento”) quando o ganho da política de expropriação dos recursos naturais não beneficiam as comunidades locais (enquanto verdadeiros guardiões e produtores dos recursos naturais), dando primazia aos detentores do capital e do poder. Esta prática criou, por exemplo, na terra dos embondeiros uma ânsia nas novas formas de participação e mobilização popular nas comunidades locais onde ocorrem a exploração dos recursos minerais.

 

Neste sentido, a reflexão aqui apresentada sobre o “trinchamento” das comunidades locais e as questões ambientais procura mostrar a pertinência daquele repositório de “conhecimento cultural” que pode ser usado como um recurso para potenciar instrumentalmente as políticas de desenvolvimento. Isso porque, na prática, é indiscutível que o “Mfumo” goza de um papel chave nos espaços produtivos dos recursos naturais nas comunidades locais e na nossa relação com a terra. 

Recordei e conto o episódio abaixo - verídico e passado há duas décadas - a propósito dos festejos pelo anúncio de 25 biliões de dólares americanos e a renda de dois “bis” anuais, a partir de 2025, resultantes do investimento da Anadarko na exploração do gás da Bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado. 

 

A festa de aniversário prometia. Dos que se deslocaram – comitivas de Maputo, Xai-Xai e Chocwe - fui o último – vindo da capital - a chegar à vila da Macia, província de Gaza. A partida não foi difícil constatar que as marcações ao dito sexo fraco já haviam sido feitas e para uns com antecedência postal. Estava frio e a medida que a madrugada caía exigia maior celeridade às intenções (implícitas) de cada um. Entre os convivas, o Adão e o Neco, procedentes de Maputo, acabaram os protagonistas da festa.

 

O Adão, da “terra do carvão”, saiu da capital com a ferramenta agitada tal era o desejo de estar com a dama com quem trocava cartas de amor e sonhos de uma Lua-de-mel nas margens do rio Zambeze. A sua missão: Chegar, triunfar e regressar com a dama. O Neco, da “terra da boa gente” e auto-intitulado “o charmoso”, trocou o conteúdo local por uma repentina presença americana em trabalho social por aquelas bandas. Ele jurou que cumpriria a sua (nova) missão: Mergulhar pelo Mississippi abaixo. 

 

Por momentos um corte de energia junta as mulheres de um lado e os homens doutro. O Adão estava agastado e impaciente com a sua dama das águas do Limpopo. O seu requerimento ainda não tinha sido deferido. Ela alegava que eles precisavam de tempo, pois era a primeira vez que se viam, embora a correspondência postal fosse longínqua. O Neco, na mesma situação em relação ao deferimento, disse que a “state-girl” preferia uma chuva mais miudinha, agreste e ordinária. Um tchim-tchim encerra a reunião improvisada de feedback e o regresso da corrente eléctrica no exacto momento em que ancorava a 6ª garrafa de whisky entre protestos de uma excursão estudantil sem precedentes. 

 

Eram seis horas quando a noite começou a despedir e a festa a despedaçar. A americana recolheu sem ter sido colhida. As outras, trocadas pelo whisky, rumaram ao “room”. Um amigo, Camito, foi sacudido ao tentar – na escuridão do quarto - uma incursão sem pré-aviso. O Acácio, a namorada aniversariante e uma amiga blindada, namorada de outro amigo que não se fez presente, tomaram os respectivos quartos. O Neco, reclamando da provocação biológica e da fala em vão, bateu em retirada. Do Adão, ninguém sabia. O resto prosseguia com mais uma garrafa e “bis” de doses de frango dados pelo gerente da Pensão em reconhecimento exaltado da volumosa capacidade ébria dos “vientes”.

 

O sol já se fazia presente e penetrava entre as grelhas do salão, ameigando os sobreviventes. Para o espanto destes, entre os raios de sol, ressurge o Adão em grande estilo, tal rei do Zambeze. Pergunto pela dama do Limpopo e ele - em pose majestática - tira do bolso do seu velho casaco azul um “Jeito” (preservativo) já sem jeito. E armado em laureado foi rodopiando o salão, exibindo o asqueroso troféu. Leve e jovial disse que desceu para ver o ambiente e saber se o resto do pessoal teve algum sucesso. 

 

De regresso ao seu quarto e enquanto subia a escada o Adão para e faz um giro, ficando em posição frontal com os sobreviventes. Em seguida acena as mãos como quem solicita silêncio para dar a palavra a “sua alteza”. Feita a vontade, finge uma vénia e com ar petulante e aprumo triunfal, declara: Fiquem com os deliciosos “bis” de frango que eu deleitar-me-ei com outro tipo de “bis”! De seguida, volteou e continuou a subir em direcção ao quarto - ausente durante um quarto de hora – e onde, supostamente, a sua dama reestruturava as condições necessárias para o “bis” anunciado publicamente e com pompa. 

  

-Nãooooo! Não! Nãããoooo...! Era o grito de desespero do Adão que de tão sonoro foi ouvido na Praia do Bilene. Num ápice os mais ágeis chegam a zona dos quartos e encontram-no completamente imóvel à entrada do quarto número quatro. Ele não compreendia e muito menos acreditava na roubalheira que acabava de presenciar: O Neco estava em pleno usufruto do que seria o seu difundido “bis”.

 

  • PS (i): Fica o alerta para que o país não se embandeire em arco como fez o Adão. Urge uma gestão e controle eficaz dos recursos do país porque de contrário têm muito Neco à solta - de dentro, fora e juntos - decididos a usufrui-los de forma subtil, clandestina e até violenta. 
  • PS (ii): De regresso a Maputo um dos amigos sugeriu que o Neco seria um bom reforço para os Mambas, Selecção Nacional de Futebol. Entrar nos últimos 15minutos e marcar um golo (ao estilo de morte súbita) não é para todos. 

Isto só pode ser um acto de desespero ou de falta de estratégia de marketing e mobilização política. Apresentar publicamente Carlos Jeque, com pompa e circunstância, como um grande reforço (o regresso esperado) da FRELIMO é subestimar os esforços daqueles militantes abnegados que tem feito de tudo para carregar o partido. É que Carlos Jeque é uma boia furada politicamente. Não dá para se apoiar nele e pensar que está a salvo. 

 

Convocar uma conferência de imprensa pomposa, com presença do Secretário-Geral do partido, para exibir o regresso de Carlos Jeque como um acto triunfal de um grande militante ferrenho, demonstra claramente um grande desespero para um partido bem estruturado como é a FRELIMO. Carlos Jeque pode - sim - regressar ao partido, mas no máximo devia ser recebido pelo Secretário da Célula do seu bairro sem nenhuma pompa. Não é pelo facto dele ter feito poemas românticos ao falecido líder da RENAMO e seu partido nas últimas eleições de 2014, mas pelo facto de a opinião pública já ter descoberto que Carlos Jeque está numa tentativa de mediar um eterno conflito entre o seu cérebro e o seu estômago, onde, infelizmente, o seu estômago leva uma vantagem basquetebolística a zero. E está vitória retumbante, esmagadora e asfixiante do seu órgão digestivo sobre a sua massa encefálica o deixa, muitas vezes, numa situação de mendigo político e profissional. Ou seja, ele se confunde na hora de decidir. 

 

Nada contra o Carlos Jeque pessoalmente, mas eu acho que a FRELIMO é grande e madura bastante para ver nele uma ajuda valiosa. Carlos Jeque é um cidadão que já mostrou ser politicamente muito instável e, por isso, de pouca confiança. Zanga com muita facilidade e é muito emocionado. Eu disse isso em 2014 quando a RENAMO também fez pompas com o seu apoio que ele próprio chamou de "um acto consciente e patriótico". Foi um apoio que em nada serviu a RENAMO. Carlos Jeque deu a cara e bazou aos seus aposentos e ficou a espera que lhe fosse dado um charuto já aceso e uma taça de vinho cheia. Foi daí que Afonso Dhlakama descobriu que aquele rapaz é muito "fazido". É bolada de gato por lebre. 

 

Hoje Carlos Jeque não é valor acrescentado em nenhum partido. Não é nenhuma mais-valia. Não estou a ver o que Carlos Jeque pode fazer neste momento que acrescente valor à robusta máquina da FRELIMO. Num momento crucial como este, um reforço tem de mobilizar simpatias ao clube e Carlos Jeque não mobiliza ninguém. Uma aquisição que merece pompa é aquela que pode mobilizar novos adeptos e consolidar os antigos, assim como a Juventus fez ao contratar Cristiano Ronaldo: levou alguns adeptos do Real consigo. Carlos Jeque não convence a si próprio e na hora de votar a mão estremece. 

 

Não dá para confiar num gajo que zanga e corre para apoiar a oposição só porque foi destituído de um cargo público. Não dá para confiar num indivíduo que acha que a cara dele num partido é suficiente para trazer votos sem trabalhar. Esse tipo de aquisições pouco estratégicas que a FRELIMO tem estado a fazer nos últimos tempos pode desmoralizar os verdadeiros membros, militantes e simpatizantes e pode afugentar os futuros entusiastas. Dá a impressão de ser um clube de fracassados ou um hospício. 

 

Muito provavelmente, o Tocova tem melhor capital político para mobilizar simpatias do que Carlos Jeque. Este último parece mesmo gonazololo fora do prazo e mal conservado. O máximo que pode fazer é dar uma boa diarreia. Confiar no Carlos Jeque numa hora dessas é o mesmo que abraçar um saco de pedras no Titanic.  

- Co'licença!

quinta-feira, 20 junho 2019 06:35

*As partes ocultas do Orçamento de Estado*

Hoje desadormeci com sequelas da comparência numa das badaladas casas de pasto da “cidade dos urinóis nas acácias” por ocasião comemorativa (e antecipada) de mais uma data da (in)dependência da Pérola do Índico. Um momento que serviu para rever amigos e botar a conversa em dia. O que acontece com as conclusões destas conversas é matéria restrita a cada um dos amigos. 

 

Desta vez – na conversa - uma parte considerável dos presentes, e a propósito de uma discussão sobre as “dívidas ocultas”, tinha em comum o facto de terem participado numa sessão de formação - nos anos 2009/10 - sob o tema: “As partes Ocultas do Orçamento de Estado”. A ideia fundamental da formação consistia em dotar os participantes do necessário arcaboiço técnico para descortinar - no Orçamento de Estado (OE) - itens secretos (qualquer semelhança com “a nossa secreta” é mera coincidência) que à primeira vista não são detectáveis. Algo do tipo “gungu, apanhei-te” das saudosas brincadeiras de infância. 

 

O principal resultado da formação foi o estabelecimento de uma brigada de activistas-observadores do OE determinada a detectar movimentos estranhos dentro e arredores do OE, uma vez que este havia passado a centralizar a divisão do Bolo Nacional e cada vez mais com (dis)sabor estrangeiro. E face a tudo o que se sabe sobre o dossier das “dívidas ocultas” - durante o debate - os membros desta brigada foram sumariamente vaiados acusados de falta de brio e entrega no exercício da magna e soberana tarefa. A discussão não desaguou em pancadaria graças ao elevado nível de urbanidade e a tradicional troca acalorada de ideias no seio da sociedade civil, uma característica que se recomenda. 

 

Dentre os que vaiavam havia um estratega de assuntos de defesa orçamental que não poupou críticas ao desempenho da brigada. Não obstante, esclareceu que a brigada foi traída pela geografia e a proximidade geopolítica inter-institucional do local onde se localiza as instalações do OE. Argumentou que o facto do foco da terminologia do assunto da operação – “pescas-guerra-negócios-banco-mar”- encontrar-se dentro do perímetro do último anel de segurança do “Palácio dos Arcos”, o “Bunker” do OE, na baixa da capital do país, confundiu os códigos do sistema de controle montado pela brigada de activistas-observadores

 

Em sua defesa, a brigada justificou que tal proximidade é um facto e seria contornada. Assim não sucedeu porque a razão-mor foi a manifesta incompetência técnica e regimental que não permitiu agir e nem reagir, atendendo que i) os módulos do curso sobre as partes ocultas do OE não abarcaram matérias relacionadas com a detecção de movimentos ilegais, prévios e a posterior, e ii) nos termos da acusação da PGR, o destino íntimo dos valores de parte da dívida escapa a esfera da jurisdição da brigada.

 

Os motivos arrolados, entre vários de bradar aos copos e prontamente honrados pelo garçon ”… aqui nessa mesa de bar/…no bar todo o mundo é igual/Meu caso é mais um é banal/Mas preste atenção por favor/…/Quero tomar todas/Vou me embriagar/…/Se eu pegar no sono/Me deite no chão/…” que minha grande esperança deixou em pedaços minha soberania. Quando acabei de cantar todo o mundo, em deleite colérico, gritou uníssono: O que fazer, Reginando? Antes de responder o bar fechou. 

 

No acerto das contas, sempre problemáticas, ficou no ar e por fonte reputada que um consórcio tripartido (Doadores, Governo e Sociedade Civil, incluindo o Sector Privado) decidiu e realizou um seminário de planificação de estratégias, concluindo que era necessário mais uma formação para acompanhar o actual contexto e as “ameaças” decorrentes dos propalados biliões do gás que engordarão o OE num futuro próximo.  

 

Os Termos de Referência já foram elaborados, faltando a contratação de uma firma de consultoria a fim de ministrar um curso intensivo subordinado ao tema “As partes Íntimas do Orçamento de Estado” cuja finalidade é a formação de uma brigada de analistas-patrulha do OE. Esta brigada será devidamente apetrechada, incluindo dispositivos de gás lacrimogénio para rechaçar o olfacto dos apóstolos domésticos pelos biliões do gás do Bolo Nacional que terá cada vez menos (dis)sabor estrangeiro a partir de 2025.  

 

PS (i): Oxalá a firma de consultoria não seja a ferragem da esquina e contratada por ajuste oculto de natureza íntima.  

 

PS (ii): Se a brigada de analistas-patrulha não trouxer resultados é recomendável que o país aposte no que de melhor sabe fazer e comece a lucrar pelo mundo com a troca experiências e consultorias sobre “As Partes Carnudas do Orçamento de Estado”