Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Blog

Então, podemos assumir de uma vez por todas que este truque de cuspir sobre a imagem do adversário faz mesmo parte do marketing político nacional. Que ser Assessor Político de um partido ou candidato, de manhã, e Analista Político "imparcial", a noite, é normal. Que é eticamente aceitável viajar na comitiva do candidato do "governo do dia", como seu estratega, hoje, e ser convidado a falar da vida do candidato da oposição, como cientista político, amanhã. 

 

É que desde os primórdios tempos dos Gê-40 Seniores tenho estado a assistir este fenómeno por aqui - gastar tempo e dinheiro cuspindo sobre a imagem do adversário em forma de análise. Parece que a cena funciona assim: Se não consegue limpar a bota do seu patrão, então suja a bota do adversário. Ou seja, se a bota do boss está tão suja que não dá para limpar, então procure a bota do adversário do seu patrão e cague nela. Se não consegue puxar o saco de quem paga, então encontre o saco do adversário e rasgue.

 

Podemos, então, apelidar este serviço inovador de "cuspe-botismo". Uma espécie de aplicativo do lambe-botismo moderno exacerbado. Um kiwismo tecnologicamente muito avançado. É como se fosse um Android na escova.  

 

Foi isto que vimos há uns dias numa dessas tê-vês da praça: um "cuspe-bota" que foi à uma televisão, pura e simplesmente, para cuspir ranho-com-escarro ao adversário do patrão. Assim tipo um cientista contratado por um certo partido para fazer análises profundas e promover a sua boa imagem ir a imprensa para "desanalisar" a saúde do partido adversário, num momento em que o seu próprio partido também necessita de análises muito mais profundas, sérias e urgentes. O truque agora é emiscuir-se e desdenhar o adversário. Fofocar boatos com base em rumores. 

 

Parece que o "cuspe-bota" tem de nascer com o cérebro no talhão do intestino grosso. A criatividade destes jovens - quando o assunto é comer mahala - não val'apena... Nem dá para acreditar que o seu DUAT encefálico está correcto. É muita criatividade, gente! 

- Co'licença!

quarta-feira, 12 junho 2019 14:08

A revolta dos beneficiários

Elísio Macamo, sociólogo moçambicano, conta num dos seus livros que numa das aldeias da província de Gaza, uma senhora idosa perguntou – com ares de impaciência – quando é que a independência acabava tal era o estado de precariedade em que se viu metida – e já não vislumbrava saída alguma - desde 1975, o ano da independência do país. A senhora ainda perguntou sobre o que é feito e o impacto dos programas de combate a pobreza do Governo, ONGs e dos doadores em que ela é uma das potenciais beneficiárias. Esta última parte não consta no livro.

 

A pergunta da senhora idosa levou-me a um artigo publicado num dos jornais da praça. Nesse artigo eu contava que um certo amigo das lides do árduo combate contra a pobreza em Moçambique - cuja arena são as unidades hoteleiras e não as agrícolas – confessou o seu medo pela lista de presenças, vulgarmente tratada por lista dos participantes. O pavor é tal que ele já não assina a lista nas conferências em que participa ou até organiza e muito menos participa na sessão da foto de família. Arranja logo algum subterfúgio quando a lista chega às suas mãos quer à entrada, quer já aclimatado para mais uma espinhosa missão no combate a pobreza. 

 

O amigo revelou que a fobia começou depois de um sonho tão real. O sonho Acontece em 2025, o último ano da AGENDA 2025, um documento orientador de longo prazo aprovado pela AR em 2003/4 nos tempos do presidente Chissano. Este documento traça as opções que Moçambique devia seguir rumo ao almejado desenvolvimento. Em outras palavras e no mínimo: um país sem pobreza. 

 

Vamos ao sonho. Numa bela manhã de segunda-feira o país acordou com 11 pessoas assassinadas com requintes de malvadez, sendo uma em cada província, incluindo a Cidade de Maputo, e no hotel mais requintado de cada cidade capital. Foram 11 capitais, 11 hotéis, 11 mortes. Um horror. As vítimas – destacáveis combatentes do debate hoteleiro contra a pobreza – estavam penduradas de cabeça para baixo nos lastros dos sumptuosos candeeiros das principais salas de conferência de cada hotel. Na testa de cada uma das vítimas e na tela de cada sala estavam estampados em letras garrafais e com recurso ao sangue – ainda fresco - das vítimas: “R.B”. 

 

O que significa R.B? Quem são? Porquê mataram? Quem são os que foram assassinados? São algumas das questões que dominaram o quotidiano e as reportagens da imprensa. A polícia entrou em acção no encalço dos presumíveis autores com as mesmas questões. Uma equipa composta por diversas especialidades foi formada e, em sete dias, devia apresentar um relatório pormenorizado sobre o crime. No oitavo dia o chefe da equipa de investigação anunciou os resultados numa concorrida conferência de imprensa. 

 

Quais foram as conclusões? A polícia, depois de aturadas investigações nos locais de trabalho dos assassinados, descobriu que em todas as cópias dos relatórios dos seminários/workshops não se encontrava a última página ou um anexo, referente à relação dos nomes, endereços, contactos, local de trabalho e função do pessoal que participou no evento a que cada relatório fazia referência: era a famosa Lista de Participantes em falta. 

 

Um outro dado revelado pela polícia foi um documento, designado confidencial, encontrado num dos hotéis onde ocorreram as mortes. Esse documento inclui uma lista longa, e por província, de nomes de pessoas a abater. A lista estava por ordem regressiva em relação ao número de vezes que cada um terá participado num seminário sobre o combate à pobreza ou que aqui desaguaria. Por coincidência, as 11 vítimas - destacados militantes da sociedade civil e da administração pública na luta contra a pobreza - eram as primeiras nas listas de cada província. 

 

A polícia terminou a conferência de imprensa apelando a calma. E para evitar o pânico generalizado na sociedade e nas famílias dos visados na lista de cidadãos a abater, a polícia informou que não publicaria os nomes mas que começaria a tomar medidas para proteger os alistados. Sobre a sigla “R.B”, a polícia referiu ter apurado que a mesma significa: Revolta dos Beneficiários. O eterno grupo-alvo, incluindo a senhora idosa, do combate contra a pobreza. Uma agenda de barba branca e rija de entidades governamentais e não-governamentais, nacionais e internacionais.

 

-É por isso que eu tremo quando estou diante de uma lista de presenças para assinar. Temo constar da lista da Revolta dos Beneficiários que a polícia descobriu num dos hotéis. O pavor é tanto que chego a sonhar que tive acesso a lista completa. Com estas palavras o amigo terminou o relato da razão da sua fobia. Desde esse dia também passei a ter receio, optando algumas vezes em faltar aos eventos. 

 

P.S: Conto isto porque depois de um longo interregno decidi matar as saudades e fui a um seminário na semana passada. Estava consciente que não iria assinar a lista de presenças e nem fazer parte da foto de família. Logo que cheguei ao local do evento notei que a metodologia continua a mesma. Fui interpelado pelo protocolo para assinar a lista. Felizmente não assinei, graças ao cumprimento efusivo de um outro participante. Não tive a mesma sorte quando já estava sentado. A moça – sempre escolhida a dedo - que me entregou a lista até estranhou a minha hesitação e o jeito trémulo ao assinar. E como sempre, o seminário abriu, decorreu e fechou dentro da normalidade e “gastromicamente” intercalado pelos nutritivos intervalos de café e almoço e no final, já noite, por um soberbo cocktail. Escuso dizer que o epílogo foi bem “à nossa e numa boa maneira”. 

quarta-feira, 12 junho 2019 07:04

Somos nós que NÃO-PODEMOS!

- Ahhh, porque Dinho parou de cantar de repente sem dar explicações enquanto nós ainda gostavamos das suas músicas; 

 

- Ahhh, porque Dinho deu um espetáculo no pavilhão da Maxaquene e não ficou cheio por causa do preço alto do bilhete; 

 

- Ahhh, porque Dinho fez um vídeo-clip com a camisa desabotoada e calções curtos na praia; 

 

- Ahhh, porque Dinho é desafinado; 

 

- Ahhh, porque Dinho fez um vídeo-clip nas dunas;

 

- Ahhh, porque nos vídeos de Dinho apareciam mulheres semi-nuas; 

 

- Ahhh, porque quando Dinho ganhou disco de platina não veio agradecer publicamente; 

 

- Ahhh, porque Dinho não conseguiu gerir a sua própria "leibol";

 

- Ahhh, porque Dinho abriu uma loja de roupa de grife que não dá lucro; 

 

- Ahhh, porque Dinho teve problemas com a Neyma, a nossa diva da marrabenta, e não pediu desculpas publicamente; 

 

- Ahhh, porque Dinho nunca apareceu no "feicibuki" a defender uma ideia, a participar duma manifestação ou campanha de limpeza; 

 

- Ahhh, porque Dinho e PODEMOS não têm expressão; 

 

- Ahhh, porque Dinho etecetera; 

 

- Porque etecetera e; 

 

- Etecetera. 

 

POR ISSO MESMO, quem deve se candidatar é o "Indivíduo-Quê", aquele do relatório codificado da Kroll.

 

- Ai sim?! Mas por quê? 

 

- Ahhh, porque esse tem capital político. 

 

O problema não é o Dinho-Eks-Esse. O problema somos nós que pensamos que PODEMOS mudar sem fazer diferente. Não é o Dinho que precisa de capital político para se candidatar, somos nós que precisamos desse famigerado "capital político" para sermos cidadãos. Somos nós que NÃO-PODEMOS!

 

- Co'licença!

 

 

Relativamente a notícia publicada pelo vosso jornal, na edição da segunda-feira (10 de Junho), segundo a qual ”Funcionários denunciam apartheid na Universidade Joaquim Chissano”, analisando profundamente os argumentos ali arrolados e, com devido respeito por opinião contrária, partilho o seguinte entendimento. Fica mais uma vez provado que, o que esta em causa, na naquela Instituição Pública de Ensino Superior, não tem que ver, nem com a falta de capacidade para dirigir a Universidade Joaquim Chissano, de forma “sábia e humilde” e, nem com falta de “capacidade de liderança”, por parte do  Reitor, Professor Doutor José Magode, como se pretende transluzir. Não precisa de inteligência destacada para ver que, as justificações apresentadas, são vazias, infundadas e subversivas à ciência. Elas não são academicamente éticas. Ora vejamos:

 

  1. Introduzir novos cursos num país e contar com docentes estrangeiros na coordenação científica (sempre que não haja capacidade nacional) é normal, aceitável e desejável numa instituição nova (que transita de Instituto Superior para Universidade), sobretudo quando os cursos são ministrado na perspectiva de capacitação institucional, (para que futuramente, a instituição venha a oferecer os mesmos cursos de forma autónoma).  Numa instituição pública de Ensino Superior, não creio que seja desejável advogar que, novos cursos, na sua fase embrionária e, sobretudo contando com professores estrangeiros, devem a prior gerar receitas/lucros. Não se trata de negócio. Trata-se de formar graduados com capacidade de dar resposta às necessidades das instituições moçambicanas.
  2. Relativamente as escolhas para os cargos de direcção e, atribuição de bolsas, um Reitor, percebendo que, a instituição que dirige, precisa de planificadores de verdade, aqueles que terão a certeza e o arrojo de que, empenhados, a instituição será mais próspera e não andará entre avanços e recuos, tem as suas “liberdades” na escolha conforme critérios de conveniência, oportunidade e justiça, próprios da autoridade.
  3. Como académicos de longa estrada (tal como sugere a carta), não devia parecer constituir novidade para os contestatários que, o Presidente da República de Moçambique, goza do poder discricionário, de nomear, “quem quer que seja”, para o cargo de Reitor, de uma Universidade Pública, não ignorando, naturalmente, os limites estabelecidos em lei. Portanto, na nomeação do Reitor e Vice-Reitor, respectivamente, daquela Universidade, o Presidente, não tinha a obrigação de consultar, nada, aos autores da referida missiva.
  4. Igualmente, não há problema nem ilegalidade, em que um Reitor leccione em todos os graus académicos da instituição que dirige, sempre que não falte capacidade intelectual para tal.  É muito bom que o Reitor leccione a todos os níveis (Licenciatura, Mestrado e Doutoramento). Assim, o Reitor mantém um permanente contacto, com os estudantes, e tem uma fotografia geral da qualidade e realidade académica, dos cursos, na instituição que sabiamente dirige.
terça-feira, 11 junho 2019 09:33

E se Dinho fosse filho de Chipande?!

Estamos a viver num país de apelidos. Todos nós já fomos mapeados. Existem apelidos destinados a serem empresários ("de sucesso") e políticos e outros amaldiçoados a serem pobres para toda a vida. Há uma nova linhagem de apelidos sortudos a serem puxa-sacos. 

 

O problema de Dinho-Eks-Esse foi ter levado à política nacional um apelido estranho: Mendonça. Ou seja, o problema não é o Dinho. O problema somos nós. Nascemos assim. Fomos formatados a colocar cada apelido no seu ramo e Mendonça não é para a política. 

 

Um Mendonça não é presidenciavel. Presidenciavel é Machel. É Machungo. É Chissano. É Guebuza. É Mucumbi. É Sumbana. É Pachinuapa. Não é por acaso que somos estrangeiros no nosso próprio país. É que não somos os donos disto. Os donos são os presidenciaveis congênitos. Os que já nasceram com capital político. Os que podem fazer e desfazer a seu bel-prazer. Os que podem roubar e andar impunes. Os que podem ficar ricos sem motivo. 

 

Seriamente falando, se Dinho-Eks-Esse fosse filho de Chipande não receberia tantas farpas. Se a notícia fosse "Dinho já se inscreveu no curso de canto e afinação vocal do professor Mahel" íamos dizer que era o esperado. É normal! Infelizmente, a democracia ainda tem um longo caminho por aqui. 

- Co'licença!

terça-feira, 11 junho 2019 05:46

A fasquia de Guebuza é muito alta

Em 2005  publiquei no jornal “Notícias” um artigo em que entrevistava o escritor Daniel da Costa, o qual mostrava sérias dúvidas quanto as metas de governação  traçadas por Armando Guebuza, então Presidente da República. Da Costa dizia taxativamente isso: a fasquia de Armando Guebuza é muito alta. Porque, no seu entender, as promessas que fazia eram demasiadas para serem cumpridas.  Algumas delas eram irreais. E eu, atento, não fiz mais nada senão  “puxar” as palavras do meu interlocutor e usá-las como título, sem a certeza de que “aquilo” passaria após o crivo dos chefes de Redacção e do próprio director editorial.

 

Depois de entregar ao meu chefe  o texto da entrevista, fui para casa esperar. Ansioso em que amanhecesse para ler o jornal e ver se “eles” terão “mexido” na minha prosa. E o mais provável, nas minhas contas, é que o título – pelo menos o título -  fosse rejeitado. Tanto mais que o “Notícias” representa uma espécie de porta-voz oficioso do governo. Portanto, se passasse seria um milagre. Mas o que eu próprio não sabia, é que já estava escrito que naquele dia iria celebrar  a publicação de um dos melhores textos que escrevi no jornal Notícias durante sete anos. Intensos.

 

Cheguei à Redacção muito satisfeito porque já me tinham trelefonado a informar que o artigo saíu com aquele título. Tremi  porque eu era a ponte que transmitia os pensamentos de um homem com visão. Porém o que eu ignorava é que para “esfaquear” a minha alegria, muito grande, estava o director editorial à minha espera. Arfando. Quer dizer, das hostes do Partido Frelimo tinha chegado uma chamada telefónica a perguntar como é  que se tinha deixado passar aquele título. O director entrou em pânico. Em desespero porque “aquilo” poderia lhe custar o “tacho”. Talvez pior do que isso.

 

Mandou-me chamar ao seu gabinete  logo que soube da minha presença na Redacção. Fui tranquilo, e logo à entrada, sem quaisquer cerimónias, recebeu-me com um palavreado baixo: você está a “mexer com as minhas partes mais sensíveis”. E eu fiquei sem saber quais eram as tais  “partes mais sensíveis” a que ele se referia. Não me deixou sentar, muito menos permitiu-me o uso da palavra. Levantou-se várias vezes da cadeira com vontade de me “grampear”, mas  eu amedrontei-lhe com a minha serenidade.

 

Escorraçou-me como se eu fosse um canino, vadio, mas antes de eu cumprir as suas ordens, mostrei-lhe um sorriso de desprezo, e dei-lhe costas. Nenhum dos chefes de Redacção – eram dois -, nem sub-chefes de Redacção – também eram dois – perceberam que o título que eu colocara no meu artigo era tão elevado e sério e verdadeiro, que poderia provocar tremores imprevisíveis dentro do Partido Frelimo, com consequências para aqueles que foram colocados para dirigir o jornal com muita atenção.

 

Fartei-me de rir depois de ter saído do gabinete do director. E nesse dia tive motivos mais do que suficientes para comemorar com os meus amigos, alguns deles dentro da própria Redacção. Aliás, são eles que hoje abordam-me, com gozo, passados quase quinze anos, para dizer que eu tinha razão. Que a profecia de Daniel da Costa era de uma pessoa que vê longe, encavalitado nos ombros da própria sabedoria. Quer dizer, Guebuza prometeu-nos içar muitas bandeiras à bem de todos, e hoje, se lhe exigirmos os resultados de tudo que falou nos seus discursos, vai ter, com certeza, algumas dificuldades para nos apresentar.