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Actualizado de Segunda a Sexta

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Redacção

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O representante do sector privado, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), em parceria com o Fundo para a Melhoria do Ambiente de Negócios (FAN) e o Governo, através do Ministério da Indústria e Comércio (MIC), lançou esta segunda-feira (09), em Maputo, o Programa Nacional de Certificação de Empresas na cadeia de fornecimento de produtos, bens e serviços aos grandes projectos no país.

 

Designado “Pronacer”, o projecto tem como principal objectivo capacitar e certificar as Pequenas e Médias Empresas (PME), de modo a assegurar sua participação efectiva e sustentável na cadeia de bens e serviços dos grandes projectos em Moçambique, com enfoque para o subsector de extracção mineira, gás natural e petróleo.

 

Para além de capacitar, o programa visa igualmente tornar a certificação às PME acessível bem como aumentar o número de empresas certificadas no país.

 

De acordo com informações partilhadas no local, o “Pronacer” é um projecto-piloto (2019-2020) que se pretende levar a cabo durante seis anos, abarcando empresas nas mais diversas áreas de actividades.

 

Nessa fase piloto, serão capacitadas 200 empresas em diferentes áreas de actividades, em todo o país, sendo que a certificação será feita com a comparticipação das empresas beneficiárias em 50 por cento do valor total da mesma, através de um processo competitivo e transparente. Finda a fase piloto será feita uma avaliação, visando discutir as boas práticas que devem ser tidas em conta para “Pronacer” 2021-2024.

 

Com esse programa, a CTA e seus parceiros esperam registar um aumento de empresas nacionais que fazem negócio com os grandes projectos; melhorar o conhecimento entre as PME sobre os tipos de certificação requerida para fazer negócios com as multinacionais.

 

Outro resultado que a CTA espera do projecto é criar produtos financeiros que facilitam a certificação às PME, para além do engajamento de parceiros de cooperação na promoção de certificação empresarial em Moçambique.

 

Para além da CTA e FAN, o programa vai ser implementado pelo Governo, especificamente pelo Instituto Nacional de Normalizações e Certificações (INNOQ) e o Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME), instituições tutelas pelo MIC que, para efeitos de certificação, exigirão à empresa interessada o registo legal e comercial completo e de acordo com a legislação vigente; conformidade com as obrigações legal, fiscal e laboral bem como capacidade financeira para comparticipar no custo da certificação, entre outros requisitos. (Evaristo Chilingue)

Durante o ano passado, o valor de produção a preços constantes (quando a produção de cada ano é avaliada aos preços de um determinado ano, seleccionado como ano base, neste caso 2016) do sector dos transportes e comunicações foi de 9.5 por cento em relação ao ano anterior, refere o Boletim Anual de Estatísticas dos Transportes e Comunicações, produzido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

 

Sectorialmente, o documento recentemente publicado pelo INE explica que, em 2018, o ramo das comunicações cresceu em 5.3 por cento. Justifica que o desempenho positivo nesse subsector reflecte o crescimento do uso da telefonia móvel e dos correios.

 

De acordo com o Boletim, o tráfego de passageiros teve um bom desempenho, no seu todo, tendo um crescimento de 9.3 por cento, influenciado por todos os ramos, nomeadamente rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo que cresceram 8.9 por cento, 7.3 por cento, 4.5 por cento e 16 por cento respectivamente.

 

Para a fonte, o crescimento do sector rodoviário deveu-se à aquisição e entrada em operação de novos autocarros para o transporte de passageiros urbanos de modo a fazer face à demanda e da introdução do projecto Metro Bus, que visa a combinação do transporte rodoviário e ferroviário no sistema ferroviário sul.

 

“No ramo Aéreo, [o crescimento] foi devido à entrada de novas companhias a operar nas rotas domésticas como é o caso da Fastjet e da Ethiopian Mozambique Airlines”, lê-se no boletim.

 

Segundo o INE, as estatísticas disponibilizadas no documento em referência têm por base informações de um vasto conjunto de fontes administrativas, designadamente Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC), Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), Aeroportos de Moçambique (ADM), Admiração Nacional de Estradas (ANE), Ministério do Interior de Moçambique (MINT), Instituto Nacional dos Transportes Terrestres (Inatter), Telecomunicações de Moçambique (TDM), Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) bem como os Correios de Moçambique.

 

“O INE apresenta os principais indicadores do sector dos Transportes e Comunicações de 2018, com dados cujas séries cronológicas em geral se iniciam em 2016”, sublinha a autoridade estatística nacional. (Evaristo Chilingue)

O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) diz que o apoio recebido, até ao momento, ainda está muito longe de responder às necessidades dos estragos causados pelos ciclones Idai e Kenneth, que fustigaram as zonas centro e norte do país, em Março e Abril último, respectivamente.

 

A posição foi manifestada, esta terça-feira (10 de Setembro), à imprensa, pela Directora-Geral do INGC, Augusta Maíta, durante o encontro com a representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas, Mami Mizutori, que veio expressar sua solidariedade e reiterar total apoio daquela organização na recuperação e reconstrução da cidade da Beira.

 

“Aquilo que as Nações Unidas têm estado a fazer é continuar a apelar aos parceiros internacionais e aos demais doadores para que não deixem Moçambique para trás e para que continuem a apoiar o país”, disse a Directora-Geral do INGC.

 

Entretanto, Maíta explicou que as áreas como capacitação institucional e melhoria na busca de financiamento para responder a este tipo de desastres são uma das componentes em que as Nações Unidas podem ajudar, pelo que está expectante na concretização desse objectivo.

 

Por seu turno, Mami Mizutori fez saber que ainda nesta quinta-feira irá se deslocar à cidade da Beira para ver in louco os estragos causados pelo ciclone Idai. Na sua visita, explica, vai fazer entrevistas, vídeos e fotos que serão posteriormente apresentados ao mundo inteiro, para que saiba em que situação o nosso país se encontra, actualmente.

 

Mizutori disse ainda que o trabalho que será feito na Beira, nas zonas afectadas pelas calamidades naturais, servirá como destaque na cimeira de climas que será realizada em Nova Iorque dentro deste mês.

 

“Nesta cimeira poderei testemunhar em primeira mão aquilo que terei visto na Beira e vou poder advogar melhor sobre o assunto para ver como é que a comunidade internacional poderá ajudar Moçambique na recuperação das zonas afectadas pelo Idai”, acrescentou Mizutori. (Marta Afonso)

O governo moçambicano, através do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento (MITADER), as organizações da sociedade civil e não-governamentais como o Fundo Mundial da Natureza (WWF-Moçambique) estiveram reunidas, desde segunda-feira (09 de Setembro), para discutir sobre a problemática das mudanças climáticas e desenhar um plano, conforme o recomendado pela Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas de 2015 (COP21), realizada em Paris entre 30 de Novembro a 12 de Dezembro de 2015.

 

Na reunião, que teve lugar em Maputo, entre segunda e terça-feira (09 e 10 de Agosto), Telma Manjate, técnica do departamento de mudanças climáticas a nível do MITADER, afirmou que para a implementação do plano sobre as Contribuições Nacionalmente Determinada (NDC), que já foi aprovado em Dezembro de 2018 e encontra-se a ser melhorado, o país vai precisar de mais de 11 mil milhões de USD.

 

Telma Manjate disse que o plano de acção abrange todas as áreas, porque o impacto negativo das mudanças climáticas abrange a todas as instituições públicas e privadas existentes em Moçambique. Manjate avançou que a implementação do mesmo vai precisar de mais apoios financeiros, porque existem instituições que ainda não definiram quanto vai se precisar.

 

Entretanto, o plano, ora em organização, engloba três áreas, sendo elas mitigação, adopção e aspectos transversais ligadas às mudanças climáticas que, nos últimos anos, têm afectado Moçambique drasticamente, como foi com os ciclones Idai, Kenneth e as secas no sul do país.

 

Relativamente a este aspecto, Rosália Pedro, focal point de género a nível do COP 21, disse estarem a trabalhar para que no plano de acção se observe os aspectos de género, visto que as mulheres e idosos têm sido excluídos no desenho de políticas, no entanto, elas é que sofrem mais com as mudanças climáticas, uma vez que as mesmas praticam agricultura.

 

De salientar que, no plano de acção, estão abrangidas questões ligadas à energia, processos industriais, saúde e florestas porque entendem que o problema das mudanças climáticas deve ser uma missão de todos.

 

Refira-se que Moçambique faz parte de um leque de 10 países africanos signatários da Convenção de Nairobi que ainda não incluíram a questão do carbono azul nas suas contribuições determinadas, e a nível global apenas 28 incluíram o carbono azul nos NDC através de medidas de mitigação e 59 através de medidas de adaptação. (Omardine Omar)

A Associação dos Madeireiros de Nampula (ASMANA), através do seu presidente Domingos Caetano, em entrevista à “Carta”, na cidade de Nampula, disse que as reformas implementadas pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) não criaram nenhum incentivo para os “operadores honestos” e que todas as promessas dadas pelo governo, no que concerne à sustentabilidade daqueles que vivem através dos recursos florestais não foram cumpridas.  

 

Domingos Caetano disse que o sentimento de todos os madeireiros honestos, a nível do país, é de frustração e dívidas, porque alguns investiram no negócio, mas o mesmo não teve nenhum retorno.

 

O dirigente, que falava em nome de todos os membros da ASMANA, avançou que numa das visitas a Nampula, o Presidente da República, Filipe Nyusi, prometeu que encontrariam uma solução para a sobrevivência dos madeireiros, abrindo espaço para a produção de carteiras, através da madeira explorada por eles, entretanto, “até aqui, nem água vem e nem água vai”, porque toda a produção foi alocada para a Luxoflex, firma em que a filha do Presidente da República, Cláudia Nyusi, é accionista.

 

Caetano contou ainda que os madeireiros chegaram a produzir 180 carteiras, tendo oferecido algumas escolas do distrito de Murrupula, na presença do PR. Na altura, foram garantidos que fariam parte do processo de produção e distribuição, mas tudo morreu pela “boca”.

 

Na entrevista concedida ao nosso jornal, no passado dia 28 de Agosto, o representante da ASMANA reconheceu que as reformas diminuíram a frequência de furtivos maiores, embora hoje haja alguns menores que, usando veículos de pequeno porte, conseguem tirar certas espécies para produção de certos bens como portas, cadeiras e muito mais.

 

Domingos Caetano disse também que o negócio de madeira, nos últimos cinco anos, esteve muito abaixo, embora se tenham afastado os “furtivos de cavalo” e ficaram os de bicicletas, Canter e Range Rover.

 

Caetano disse que, em 2017, se acordou que haveria uma bolsa de venda de madeira com algumas firmas chinesas, mas de lá para cá nada aconteceu. Questionou a proveniência da madeira das serrações que foram incumbidas de produzir as 48 mil carteiras, porque na sua óptica, a madeira da “operação tronco” em Nampula já não existe.

 

Acrescentando, Domingos Caetano revelou que no início da “Operação Tronco” assinaram um memorando com o MITADER, através do Ministro Celso Correia e o Fundo Nacional Desenvolvimento Sustentável (FNDS), para passarem a receber um valor que iria permitir desenvolver certos projectos como forma de desencorajar a venda de madeira para chineses, o que até ao momento não aconteceu.

 

Concluindo, o representante disse que a nível nacional os madeireiros honestos sentem-se frustrados, devido à exclusão nos incentivos da famigerada “operação tronco”. (Omardine Omar)

“Ossufo Momade, presidente da Renamo, é quem está a ordenar os ataques”. Foi com estas palavras que o Presidente da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, o Major General Mariano Nhongo, reagiu, na tarde desta terça-feira, quando instado a se pronunciar sobre os ataques a alvos civis na região centro do país.

 

Em conversa telefónica com “Carta”, no final da tarde de ontem, Nhongo disse não ter dúvidas de que Ossufo Momade, Presidente da Renamo, é quem está a orquestrar e ordenar os ataques naquele ponto do país, isto porque o presidente da Renamo, na sua óptica, é um “traidor”.

 

Nhongo avançou que não havia qualquer possibilidade de ser a Junta Militar da Renamo a autora moral e material dos ataques porque, até hoje, está comprometida em encontrar, em conjunto com o Governo, uma solução para o que chamou de “verdadeiro braço armado da Renamo”. Nisto, disse ao nosso jornal que na próxima segunda-feira (16) vai enviar uma carta, usando os canais apropriados, para o Governo de Filipe Nyusi, na qual estarão vertidas aquelas que são as principais preocupações do grupo.  

 

O Major Geral defende com “unhas” e “dentes” que Ossufo Momade é responsável pelos ataques por este ser, tal como disse, um “traidor” e que está a proceder naqueles moldes para que a responsabilidade seja imputada à Junta Militar, isto porque ela se opõe de forma aberta e frontal à sua liderança.

 

Nhongo disse que Ossufo Momade não só traiu a Renamo como também os entendimentos que o líder histórico do partido, Afonso Dhlakama, conseguiu estabelecer com o actual Presidente da República, Filipe Nyusi, no âmbito do diálogo político e hoje está a atentar contra um acordo de paz que ele próprio rubricou.

 

Até ao momento foram registados três ataques e o denominador comum é que os autores ainda não foram identificados. O primeiro ocorreu na noite de 1 de Agosto passado no posto administrativo de Nhamadzi, norte da Gorongosa, em que uma pessoa foi baleada no braço. O segundo ocorreu em meados do mesmo mês (Agosto) e foi visada uma ambulância que transportava membros da Frelimo que viajavam da Gorongosa ao norte de Marínguè. O mais recente é datado de 4 de Setembro corrente, quando quatro veículos foram alvos de disparos nas proximidades do Rio Púnguè, na fronteira entre os distritos da Gorongosa e Nhamatanda, na província de Sofala.

 

“A junta militar não está a atacar a população. Nós não queremos guerra. Nós queremos viver em paz. São os homens de Ossufo Momade. O Ossufo é que está a criar essa confusão para as pessoas pensarem que é a Junta Militar que está a atacar. Sr, jornalista, Ossufo é um traidor. Traiu a Renamo e os consensos que o presidente Dhlakama alcançou com Filipe Nyusi”, atirou Nhongo.

 

Mariano Nhongo contou ao nosso jornal que após a realização da conferência, em que foi indigitado por unanimidade e aclamação presidente da auto-proclamada Junta Militar da Renamo não vive os melhores dias. Diz que ele (Nhongo) e seus apoiantes estão sendo caçados pelos homens leais a Ossufo Momade. Neste momento, tal como disse, encontra-se na região de Piro, na Gorongosa.

 

“Ossufo Momade mandou seus homens para me matar. O Fumo foi sequestrado pelos homens de Ossufo. Ele está a perseguir as pessoas”, atirou Nhongo. (Ilódio Bata)

A consultora Bloomberg Intelligence considera que o banco Credit Suisse deverá pagar menos de 75 milhões de dólares (69 milhões de euros) no caso das dívidas ocultas de Moçambique porque os antigos banqueiros declararam-se culpados nos tribunais norte-americanos.

 

"A declaração de culpados em Maio, Julho e, mais recentemente, a 6 de Setembro aumenta a probabilidade de o banco incorrer em penalizações, que deverão totalizar menos de 75 milhões de dólares, tendo por base as declarações do banco, segundo as quais reteve apenas 23 milhões (20,8 milhões de euros) em taxas pelos negócios", escrevem os analistas numa nota enviada aos investidores, e a que a Lusa teve acesso.

 

O valor de 75 milhões demonstra uma forte revisão em baixa face aos cerca de 300 milhões (272 milhões de euros) que a Bloomberg Intelligence estimava, em Janeiro, que o Credit Suisse pudesse ter de pagar.

 

"Apesar de a acusação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos admitir que os banqueiros contornaram os controlos internos do banco, a má conduta dos indivíduos ainda pode ser imputada ao Credit Suisse porque os banqueiros agiram alegadamente no âmbito do seu emprego no Credit Suisse", escreviam em Janeiro os analistas que apoiam também a agência de informação financeira Bloomberg.

 

"Estimamos um acordo potencial com as autoridades norte-americanas de 100 a 300 milhões de dólares", vincavam então os analistas.

 

Para estes analistas, os banqueiros Andrew Pearse, Surjan Singh e Detelina Subeva tiveram "a intenção, pelo menos parcialmente, de beneficiar o banco para que trabalhavam", pelo que as autoridades "podem também procurar perseguir o Credit Suisse por violação das regras de investimento nos mercados financeiros e falhanço de parar a alegada má conduta apesar da existência de 'bandeiras vermelhas'".

 

O banco, sublinham, "fica mal na fotografia", apesar de não ter sido acusado, "porque tem exposição e faz lembrar o problema de mil milhões de dólares do Goldman Sachs, mas em menor escala".

 

O valor de 100 a 300 milhões de dólares é encontrado somando as taxas e comissões, que o banco Credit Suisse teria de devolver, às penalizações em que pode incorrer se a Justiça norte-americana decidir ir atrás do banco suíço, dizia a Bloomberg Intelligence em Janeiro.

 

Desde então, os três banqueiros assumiram ter agido em nome próprio e declararam-se culpados perante a Justiça norte-americana, que investiga uma fraude de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros) relativamente a empréstimos a duas empresas públicas moçambicanas. (Lusa)

Três pessoas morreram e outras duas ficaram feridas, em resultado de dois ataques ocorridos na passada segunda-feira, nas regiões de Nguri e Olumbe, nos distritos de Muidumbe e Palma, respectivamente.

 

As três vítimas mortais foram registadas em Nguri, distrito de Muidumbe e, segundo as fontes, as mesmas perderam a vida, quando regressavam das suas machambas, tendo sido emboscadas pelos atacantes. À “Carta”, as mesmas fontes contam que outra pessoa, que integrava o grupo, conseguiu escapar, tendo participado o caso na aldeia Miangalewa.

 

“Carta” foi informada ainda que, na região de Olumbe, no distrito de Palma, duas pessoas contraíram ferimentos a tiros e outra é tida como desaparecida. Os dois ataques tiveram lugar na passada segunda-feira e são atribuídos ao grupo insurgente que aterroriza aquela província, desde Outubro de 2017.

 

Refira-se que os ataques que se verificam naquela província do norte do país já causaram cerca de três centenas de mortos, entre civis, militares e membros dos grupos insurgentes, para além da destruição do património público e privado. (Carta)

Foram necessárias quase duas semanas e pressão da sociedade civil para que o Presidente da República reagisse em torno dos ataques xenófobos que se verificam na vizinha República da África do Sul, há mais de 10 dias.

 

A partir do distrito de Alto Molócuè, província da Zambézia, onde se encontra a fazer campanha eleitoral, Filipe Nyusi dirigiu-se à nação moçambicana para condenar os actos e apelar aos moçambicanos residentes naquele país a não se envolver em violência e muito menos retaliar.

 

Na sua curta mensagem, lida em seis minutos e transmitida em directo pelo canal privado STV, o Chefe de Estado disse que o Governo de Cyril Ramaphosa deve restaurar a segurança e estabilidade no país, porque a violência contra os estrangeiros é um atentado à Declaração Universal dos Direitos Humanos e à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

 

Diferentemente dos outros países africanos, como Nigéria e Tanzânia, que tomaram medidas tidas como de retaliação face à inércia do governo sul-africano, nomeadamente a retirada das suas missões diplomáticas e corte de ligações aéreas entre Dar-es-Salam e Joanesburgo, Filipe Nyusi não fez referência a nenhuma medida “sancionatória” aos “irmãos” sul-africanos, tendo garantido apenas apoio aos moçambicanos que manifestem o desejo de regressar ao país.

 

A reacção do Chefe de Estado moçambicano surge depois de vigorosos apelos da sociedade civil em torno do real posicionamento do Estado moçambicano face aos acontecimentos que se verificam naquele país, desde o primeiro fim-de-semana de Setembro, que já provocaram a morte de mais de 12 pessoas, entre elas um estrangeiro, cuja nacionalidade não foi revelada.

 

Nesta terça-feira, Geraldo Saranga, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MINEC), revelou que a violência já afectou cerca de 500 moçambicanos e que perto de 400 cidadãos nacionais residentes naquele país manifestaram interesse em regressar ao país, num processo de repatriamento voluntário.

 

O Governo prevê que até quarta-feira haverá condições para receber as vítimas de xenofobia e um centro de trânsito foi criado no distrito de Moamba, província de Maputo, com infra-estruturas, água e produtos de higiene.

 

Lembre-se que a Confederação das Associações Económicas de Moçambique disse, semana finda, que a situação tem provocado prejuízos para os transportadores moçambicanos, cuja média diária é de um milhão de dólares americanos para os transportadores de mercadoria e de três milhões de dólares, quando se inclui os transportes de passageiros.

 

Refira-se que a violência que se vive na África do Sul afectou também a selecção sul-africana de futebol que tinha agendado um jogo amigável com a selecção zambiana para o passado dia 07 de Setembro. A Federação Zambiana de Futebol comunicou o cancelamento do jogo, devido aos ataques “xenófobos” e, como recurso, os “Bafana Bafana” convidaram a selecção do Madagáscar que, dois dias depois de ter aceitado o convite, declinou, invocando as mesmas razões. (Carta)

Em Abril do corrente ano, o ciclone Kenneth entrou pela costa da província de Cabo Delgado, na parte norte de Moçambique e abateu a casa da Laura Cossa (nome fictício) na vila de Macomia.

 

Laura, que tem 38 anos, é mãe de quatro filhos, vive com o marido e o filho mais novo, entretanto, a jovem vive com HIV/SIDA e três dos seus filhos também são seropositivos. A preocupação em refazer sua casa e procurar o que comer fez com que a família abandonasse os tratamentos antirretrovirais.

 

Esta é uma das várias estórias que se contam das zonas afectadas pelos ciclones Idai e Kenneth. De acordo com informações disponíveis no site oficial da ONU News, grande parte dos locais fustigados pelos dois ciclones, apontam que houve uma redução de 50 por cento no número de acompanhamento e o número de pessoas em tratamento também caiu para mais da metade.

 

site indica que, um mês depois do ciclone Kenneth, Laura e sua família receberam a visita de Melita Baka, activista comunitária de uma iniciativa apoiada pela ONU e a Fundação Ariel Glase contra o Sida Pediátrico.

 

A activista comunitária faz um acompanhamento da Laura e dos seus filhos, há vários anos. Quando ela chegou, Laura explicou-lhe que não estava tomando a medicação porque tinha perdido o cartão de identificação hospitalar e que, neste momento, está mais preocupada em tentar sobreviver.

 

“Nós tivemos muitas dificuldades no campo porque, para muitos pacientes, a prioridade era procurar alimentação e abrigo, não o tratamento, então tivemos de andar de casa em casa. Muitos mudaram de residência, alguns reiniciaram, mas outros não”, explicou Melita, citada pela ONU.

 

Mesmo antes dos desastres naturais, o Programa Mundial de Alimentação (PMA) estimava que 80 por cento dos moçambicanos não conseguiam ter uma dieta adequada. Em Julho, a agência informou que 1,9 milhão de afectados pelos ciclones estão em risco de ter falta de comida se não existir ajuda internacional urgente.

 

Segundo a directora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/SIDA, Onusida, em Moçambique, Eva Kiwango, o país “tem uma epidemia generalizada de HIV.” Segundo os últimos dados da agência, 2,2 milhões de pessoas em todo o país vivem com o vírus, o que representa mais de 7,4 por cento da população.

 

Em 2018, aconteceram cerca de 150 mil novas infecções e 54 mil mortes, o que provocou uma descida na esperança média de vida para 53,7 anos. Eva Kiwango diz: “o maior desafio é fechar a torneira das novas infecções, com uma aposta muito forte na prevenção.”

 

Em Macomia, Laura descobriu que vivia com o vírus há apenas quatro anos. A moçambicana foi mãe aos 13 anos. Em 2015, dois dos seus filhos adultos receberam um diagnóstico positivo e ela decidiu fazer o teste. O filho mais novo já tinha sido contaminado durante a gravidez ou parto. Entretanto, em Moçambique, o vírus já deixou 1,1 milhão de crianças órfãs.

 

O Estado moçambicano oferece os medicamentos antivirais, mas mesmo assim existem dificuldades na sua implementação. Apenas 56 por cento das pessoas com diagnóstico positivo tomam os medicamentos. A taxa é ligeiramente mais alta entre as crianças, cerca de 60 por cento. Somente 68 por cento das pessoas que iniciam o tratamento continuam seguindo o plano um ano depois.

 

Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que irá demorar cinco anos a recuperar toda a infra-estrutura de saúde danificada. Durante os dois ciclones, 113 unidades sanitárias foram parcial ou totalmente danificadas, incluindo equipamentos, mobiliário, medicamentos essenciais e produtos.

 

A coordenadora residente da ONU no país, Myrta Kaulard, diz: “durante um desastre natural, as pessoas mais vulneráveis sofrem sempre os piores impactos.” Segundo ela, “estas pessoas podem ser alguém com deficiência, idosos, pessoas mais novas ou doentes”, como as pessoas que vivem com HIV/SIDA. (Marta Afonso)