O escritor, poeta e jornalista Nelson Saute desabafou recentemente sobre a síndrome do no nosso esquecimento colectivo de factos e pessoas marcantes da nossa história mais recente, esquecidos no baú do laxismo, nunca lembrados em jeito de homenagem, até para benefício dos mais jovens.
Ele tem vindo a fazer um belíssimo trabalho, num voluntarismo sem paralelo, uma certa arqueologia de personagens marcantes da nossa cultura. O desabafo fê-lo no seu texto recente, que nos recordou a vida e obra do jornalista e poeta Gulamo Khan, que morreu assassinado com o Presidente Samora Machel no atentado ao Tupolev em Nbuzine, em 1986.
Há dias, devo ter lido aqui um desses lençóis de lírica e linguagem rasca do Milton
Soshangane Waka Waka Machele elogiando o Nelson por sua magnífica empreitada. Foi a propósito de mais um artigo do escritor, lembrando os 15 anos da morte de Jeremias Ngwenga, o cantor de La Famba Bicha.
O anátema da desatenção, do desapreço e da nossa endémica negligência, como escreve o Nelson, não só tem a ver com um passado histórico recente, mas com o presente destes dias. Parece que vivemos numa clausura enfeitiçada por uma indiferença cruel.
O assassinato de uma jornalista da Al Jazeera, Shireen Abu Akleh, pelo regime racista de Israel, foi totalmente ignorado em Moçambique, à excepção de um artigo no mediaFax. Todo o mundo repudiou a barbárie assassina de Telavive mas de Moçambique nem um pio. Nosso Sindicato de Jornalistas ficou calado, assim como o Misa. É a arte da desmemória do presente. E da dessolidariedade. Vivemos tempos estranhos...