Director: Marcelo Mosse

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Actualizado de Segunda a Sexta

Co'Licença

Não adianta ter o melhor jogador do mundo, se os restantes jogadores só sabem fazer faltas perigosas na sua própria pequena área. Não adianta ter um bom guarda-redes, se os defesas são especialistas em auto-golos. Não adianta ter de volta um Mano Mané, se o resto da equipa nem conhece a cor do seu próprio equipamento. Não adianta ter um novo mister, como o Ossufo, se os jogadores e os adeptos não sabem por que é que estão a jogar e nem sabem em que liga estão a jogar. 


Ainda não entendi o assunto do momento da RENAMO na Beira, mas também não quero entender. Aliás, ninguém é capaz de entender ou fazer entender problemas da RENAMO. Normalmente, coisas da RENAMO não se entendem. Contudo, uma coisa é certa, é triste ver uma RENAMO se autoflagelando, se infligindo sofrimento a si mesma. É triste saber que, quando não tem com quem lutar, a RENAMO luta consigo mesma como um cão com raiva.


É um equívoco a RENAMO pensar que pelo simples facto de ela existir como partido político é suficiente para ter voto. É ingénuo pensar que o facto de o povo estar zangado com a FRELIMO, por causa das dívidas ocultas - por exemplo, é motivo para votar nela. É mentira! A simpatia conquista-se... o voto conquista-se. E o primeiro quesito para conquistar a simpatia e o voto é a organização. 


É impossível acreditar em pessoas que lutam entre si em plena luz do dia. Até nos piores momentos da FRELIMO, o seu mais directo adversário, a RENAMO consegue ser "mais pior". Quando a FRELIMO entra em crise, a RENAMO inventa a sua própria crise. Quando a FRELIMO recua um degrau, a RENAMO pega no elevador e regressa ao res-do-chão. 


Infelizmente, a RENAMO ainda não definiu o seu rumo. A RENAMO só sabe que quer ganhar, mas para quê e como se ganha não sabe. A RENAMO só sabe dizer que quer levar Moçambique a bom porto, mas onde fica e como se chega a esse tal bom porto não sabe. A primeira verdade de um discurso é o orador, dizia um filósofo. 


A RENAMO é aquele mesmo navio velho, com novo piloto e sem bússola. A mesma embarcação à deriva que quer chegar à terra firme graças a fé dos seus tripulantes. 

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sexta-feira, 22 fevereiro 2019 08:30

Procurando sentidos

O Tribunal sul-africano negou liberdade provisória a Manuel Chang porque:


1. Se Chang estiver fora da cadeia, mesmo vivendo numa casa fortemente guarnecida, ele pode fugir. Os advogados de Chang usaram o argumento da doença (diabetes) e do aconchego familiar, mas não funcionou. 


2. Há receio que Chang fuja para Moçambique. Aliás, foi por causa dessa possibilidade (de Chang fugir para Moçambique) que foi questionada a escolha da casa de Malelane, em Mpumalanga, que dista cerca de 50 quilómetros da fronteira. O Tribunal fincou o pé mesmo com proposta de uma outra casa "bem ao lado" tribunal de Kempton Park.


3. Há certeza de que, em Moçambique, Chang goza de proteção do Estado, do Governo e do seu partido (que aqui é tudo mesma coisa). Na verdade, o Tribunal sabe que se Chang estiver em Moçambique (por fuga ou por extradição), nada vai acontecer e não será nem julgado nem condenado. A imunidade e a influência de Chang em Moçambique são visíveis a olho nú. O Tribunal tem "certeza" da inoperância do nosso sistema de justiça.

 
4. Quem mandou prender Chang foram os americanos baseando-se em acordos nesse sentido. Quando os americanos pediram a prisão de Chang não era para ser colocado numa montra e ser assistido, era (e é) para ser extraditado para lá e ser julgado lá, tanto que os outros amigos dele estão lá mesmo nos É-U-Â. 


Estou aqui a tentar encontrar uma razão que justifique a entrega de Chang à Moçambique de bandeja. Que Estado é esse que faz de tudo para que um gatuno perigoso internacional não fuja para a sua casa e volta e meia deixa, assim de mão beijada, o mesmo bandido na mesma casa para onde o mesmo Estado temia que o mesmo gatuno fugisse? Você entendeu? Acredito que não. Eu também não tenho como fazer entender isso. É que, realmente, não tem como se entender uma coisa dessas. Não tem lógica. Não faz sentido.


É que, se os sul-africanos devolverem Chang à Moçambique, a humanidade estará doente. Os Infulenes serão poucos para tanta demanda. E aí os sãos serão, de facto, aqueles que hoje pensamos que roubaram o nosso dinheiro. Afinal, seremos nós os ladrões. Talvez até, muito possivelmente, os vizinhos parem de fumar suruma de vez. 


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quarta-feira, 20 fevereiro 2019 07:02

Advogados fosfóricos

Corvo onde não é conhecido chamam-lhe pato. Pois é, pessoal. Uma coisa é você ser um grande lambe-bota, daqueles reconhecidos na praça, com língua flexível e peluda, que faz o seu trabalho como ninguém, e outra, bem diferente, é você ser chamado a exercer aquela profissão que você tem diploma. Ou seja, uma coisa é você atrapalhar a opinião pública, fazendo-se passar por grande sábio, e outra é você ter que trabalhar mesmo, mostrar o que você aprendeu na escola e na vida. Uma coisa é você andar a cantar por aí que é advogado e outra, bem diferente, é você mostrar com A+Bê que você é advogado de verdade. 


Não é fácil. Enquanto o mundo está roer unhas para saber até onde o seu cliente está metido neste crime financeiro que deixou o país de tanga, você aparece a falar de um pudim contaminado com pesticidas orgânicos fosfóricos que a família dele, por sorte, não comeu. As pessoas querem saber como o seu cliente recebeu as "galinhas" e você fala da irmã dele que foi assassinada pelo marido. O público quer saber onde está o dinheiro que seu cliente roubou e você traz uma conversinha de esconde-esconde que se joga lá no partido que até bem pouco tempo o pai dele era chefe. Isso é burrice ou é mesmo a arte da atrapalhação?


Mas também, em abono da verdade, não se sabe se esses advogados têm mesmo experiência em crimes financeiros. É que malta Krause estavam à altura da coisa. Agora endossar um amigo que trabalha apenas com processos de fofoca, de divórcio, de compra e venda de "Honda-Civic" e de dependências tipo-um na Malhangalene pode não ajudar muito. 


Mas, prontos, seja como for, o que me deixa feliz, neste momento, é aquele gatuno diabético, que alugou uma casa ali na fronteira, mas que não pode viver nela porque está quase a embarcar. Isso é confortante. Esses advogados fosfóricos já não me atrapalham mais. Seriam tristes, se não fossem cómicos. 


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segunda-feira, 18 fevereiro 2019 06:20

Um "Indivíduo" inexaltável

Ahhh, porque vou combater o espírito de deixa-andar. 
Ahhh, porque vou acabar com o cabritismo. 
Ahhh, porque vou erradicar a pobreza absoluta. 
Ahhh, porque vou eliminar o espírito de mão estendida. 
Ahhh, porque a pobreza está nas nossas cabeças. 
Ahhh, porque vou desenvolver o país com jatrofa. 
Ahhh, porque vou melhorar a vida dos moçambicanos com revolução verde. 
Ahhh, porque um aluno uma planta, um líder uma floresta é bom. 
Ahhh, porque com Ematum vamos comer e vender muito peixe de primeira. 
Ahhh, porque com a Proindicus vamos defender a nossa costa.
Ahhh, porque o carro "Madjedje" vai catapultar a nossa indústria automóvel. 
Ahhh, porque o aeroporto de Nacala vai trazer eficiência no tráfego aéreo internacional.
Ahhh, porque com carvão vamos fazer isto, com gás aquilo e com petróleo aquiloutro. 


Ahhh, porque quem não gosta da minha governação é apóstolo da desgraça. 
Ahhh, porque manifestação é coisa da mão externa. 
Ahhh, porque temos que ter auto-estima. 
Ahhh, porque enquanto o cão ladra, a caravana passa. 
Ahhh, porque vou plantar bonecos de Samora em todas as cidades. 
Ahhh, porque o distrito é o polo de desenvolvimento. 
Ahhh, porque os 7 bis vão alavancar o distrito. 
Ahhh, porque reitero o meu comprometimento. 
Ahhh, porque temos que exaltar a pátria. 
Ahhh, porque temos que exaltar Mondlane. 
Ahhh, porque eu exalto a minha pátria. 
Ahhh, porque eu luto pela minha pátria. 
Ahhh, porque vocês também deviam fazer o mesmo. 
Ahhh, porque é a mesma pátria. 
Ahhh, porque a liberdade de imprensa e de expressão que vá a p*ta que a pariu. 
Ahhh, porque a sociedade civil que se f*da.
Ahhh, porque o Cambaza bebe vinho de 70 mil por mês. 
Ahhh, porque o Manhenje comeu tako de fardamento de cinzentinhos. 
Ahhh, porque Munguambe pagou bolsas dos filhos com dinheiro do meu inestimável povo. 


E os papagaios, então... 


Ahhh, porque o filho do tio Emílio é um visionário. 
Ahhh, porque ele é o filho mais querido. 
Ahhh, porque ele conhece a dor do seu povo. 
Ahhh, porque ele está preocupado em melhorar a vida do seu povo. 
Ahhh, porque não se negocia duas vezes com o mesmo bandido. 
Ahhh, porque a compra de armas modernas se justifica.
Ahhh, porque a sua vitória foi retumbante, esmagadora e asfixiante. 
Ahhh, porque ele quer ser lembrado como amigo do povo. 
Ahhh, porque isto, porque aquilo. 
Ahhh, porque etecetera, etecetera.
Ahhh, porque bla, bla, bla. 


Afinal, tudo não passava de colóquio flácido para acalentar bovino. Hoje o homem está aí todo bilionário, com cara de rico-coitado, fugindo de si mesmo, desconfiando da própria sombra, se assustando com o próprio peido, com toda a parentada à boca do xilindró e, para piorar, com o país a travar com jantes de segunda-mão. Definitivamente, não dá para se exaltar uma pessoa assim. É inexaltável. 


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sexta-feira, 15 fevereiro 2019 07:05

O presente que queremos

Olha, o que aconteceu ontem é normal. Dia dos namorados é assim mesmo. Uns preferem oferecer a lua; outros, embrulhar o mundo; há quem ache mais romântico catar as estrelas; há quem goste de oferecer rosas ou bebidas e há quem se contente com "eu te amo". Não há nada de estranho nisso. É o dia do amor. As pessoas querem expressar os seus sentimentos à pessoa que amam e neste São Valentim não podia ser diferente. 



Há indivíduos que gostam de oferecer ou receber presentes estranhos e impossíveis como esses que têm a coragem de oferecer a lua mesmo sabendo que ela [a lua] é de todos. Pode ser estranho para uns, mas há quem goste desse tipo de presentes. Neste São Valentim, uma madame entendeu que devia surpreender o namorado oferecendo quase meia dúzia dos nossos gatunos. Aqueles daquela coleção. Aquela nossa relíquia. 



Assim, o amor está no ar lá em casa. Exaltaram o cupido. É normal. É assim mesmo quando chega esse dia, mas já passou. O dia dos namorados foi ontem. Ontem qualquer loucura era válida: paixão é assim mesmo. 



Hoje é outro dia e estamos "bizis" com o Chang. Queremos saber se Chang sai ou se fica na "djela-house". Queremos saber se Chang será extraditado ou resgatado. Estamos impacientes. Esses gatuninhos que vocês embrulharam ontem que guardem lá mesmo onde estão. Continuem a colecionar, podem servir para o dia da mentira. 



O presente que queremos está na África do Sul, e o nosso desejo é guardá-lo no cofre do primo Trump, com a ajuda da dona Elivera. Por isso, não atrapalhem a doutora. Nada de palhaçadas! Brincadeira tem hora. Hoje é dia 15. 



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terça-feira, 12 fevereiro 2019 06:55

Exaltemos a viagem do Chang

Ahhh, porque Emerson esteve de férias no Brasil e visitou lugares paradisíacos e fantásticos em Angra dos Reis e Arraial do Cabo. Ahhh, porque Samito foi intimado pelo partido e há pretensão de ser expulso da Frelimo. Ahhh, porque o Benfica ganhou dez à zero, mas não viu "gueme" na "Txhampion". Ahhh, porque membros da Renamo, em Sofala, contestam as recentes nomeações de Ossufo Momade. Ahhh, porque Pacheco já disse que Diamantino Miranda não pode trabalhar em Moçambique. Ahhh, porque etecetera, etecetera. 



Exaltemos a viagem do Chang, irmãos. Exaltemos a viagem do Chang e lutemos pela sua viagem. 



Não percamos o foco, irmãos. Samito e Momade que resolvam as suas sinucas lá nos seus partidos. O Emerson que vá à Disney se quiser. O mister Diamantino que vá treinar a décima-quinta divisão de honra de sei-lá-onde e que ganhe prémios. O Benfica que ganhe mais jogos por dois dígitos à zero e que venda os seus jogadores ao Real Madrid. Mas, faxavor, exaltemos a viagem do Chang às Américas. 



Enquanto estamos aqui entretidos, o gatuno vai saindo do xilindró de mansinho e, quando acordarmos, o gajo já estará numa wella em Tchumeni-Dois a tomar chá de moringa com limão em jejum, nas manhãs, enquanto se prepara para ir à reunião do Comité Central, ao mesmo tempo que espera ser nomeado assessor de um ministro qualquer. 



Coisa por coisa. Assunto por assunto. Foco. Estejamos atentos às novas manobras, dia 15 está perto. Agora dizem que não precisam da casa da fronteira, mas pode viver em Joannesburg na casa de uns "bradas" e daqui a nada vão dizer que pode viver na dependência tipo-três de Zuma. Foco, pessoal. Se aquele gatuno for resgatado, perdemos a pescaria toda. Não nos esqueçamos que na sua tribo aquele gatuno é afilhado do rei. É menino. 




Esse apetite de pagar caução é "quali"!? Esse interesse de pagar muito dinheiro para sair sabendo que uns dias depois será exportado, hummm... eu não entendo. 



Estejamos atentos. Exaltemos a viagem do nosso ladrão. Eu exalto a viagem do Chang. Eu luto pela viagem do Chang. Você também devia fazer o mesmo. É o mesmo Chang. O Samito tem a mãe dele. O Benfica tem os seus adeptos. A Renamo tem os seus membros. Nós não temos ninguém, nem na nossa própria justiça podemos confiar. Se não ficarmos atentos, vão nos dar "djoló". 



- Co'licença!

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