Director: Marcelo Mosse

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Actualizado de Segunda a Sexta

Co'Licença

sexta-feira, 11 janeiro 2019 05:20

Nós não somos burros!

Depois da liberdade frustrada do nosso gatuno diplomático e imune na diáspora, estamos a vibrar de felicidade. Estamos a rir a toa. Se existe espírito natalício, então, é isto, fizemos ponte. Pelo menos vincou a vontade popular. Mas quem não está a gramar mesmo deve ser a Procuradoria e o Tribunal Administrativo com as suas resmas de arguidos. Do tipo: essa alegria toda por causa de um gatuno?! E nós com dezoito e dezasseis arguidos ninguém diz nada?! Como assim? Se nós temos mais arguidos do que os nossos vizinhos! De facto, não estão a perceber mais nada. 

 

Então, antes que isso termine em confusão, é imperioso explicar àqueles nossos irmãos de toga e sotaina preta o seguinte: NÓS NÃO SOMOS BURROS! E nunca fomos! Não estamos contra ninguém... Apenas contra a impunidade. E não estamos a favor de ninguém... Apenas a favor da justiça. Para nós, um bandido na cela é "muito melhor" que dezasseis na rua. Um gatuno acusado é "muito melhor" que dezoito num comunicado. Os gringos têm apenas um gatuno na mão (a bater sumo de maracujá, enquanto aguarda pelo visto), e vocês têm dezasseis e mais dezoito a voarem. O NOSSO gatuno já está no xilindró, e os vossos estão nas suas casas, nos bares, nas praias, nos gabinetes, nas piscinas, na baixa-a-noite, nas massagistas, no Glória, etecetera. 

 

Antes que nos acusem de tráfico de felicidade, eis os motivos da nossa alegria: ACÇÃO. Antes de dizerem que a nossa alegria não pagou imposto na fronteira de Ressano, entendam-nos. Não é em vão que hoje somos todos mukheristas e estamos a importar esta alegria contagiante até com excesso de bagagem. Sempre que possível, iremos buscar alegria onde houver tomates. 

 

Ontem, era a Procuradoria que tinha dezoito arguidos, hoje é o Tribunal Administrativo que tem 16, mas que são os mesmos. Um único Estado, duas listas com os mesmos suspeitos, nenhum acusado. Aliás, os próprios arguidos nem sabem são arguidos. De longe dá para ver que não vai dar em nada. Será uma montanha que vai parir um rato. 

 

Organizem-se! Organizem bem a peça! Para prender gatuno não precisa de muito bla, bla. NÓS NÃO SOMOS BURROS! Se pensam que somos, enganam-se. 

 

- Co'licença! 

Meu irmão, antes de surrupiar algo deve-se informar suficientemente sobre o que é ser gatuno. Deve-se informar melhor sobre as condições de ser gatuno, particularmente sobre como honrar o nome "gatuno". Ora, acabo de saber agorinha mesmo que os advogados do nosso brada reclamaram à Juíza sobre o estado da cela do seu cliente. Alegam eles que o nosso brada está numa cela deplorável. Dizem que dorme com mais de vinte colegas, que são muito indisciplinados e até fumam gandja na cela. E eu cá com o meu umbigo: E daí!? Qual é a novidade aí!? E ainda disseram que o seu cliente teve que subornar o chefe da cela para não ser agredido. Ora essa! Isso é o normal das cadeias. Temos visto nos filmes. E já que vai à Nova Iorque, é melhor ir-se habituando; afinal, dinheiro é o que não falta. 

 

 Eu acho que o camarada deputado está a brincar de ser gatuno, sabe! Afinal, pensava que ia dormir como, com quem e onde? Pensava que gatuno quando é apanhado vai dormir no Glória ou no Polana ou nas Torres Rani? Assim quando ouve Bê-Ó pensa que é no Humula ou no Plaza? Porquê não pergunta ao primo Cambaza? Assim pensava que ser gatuno é só mamar tako, ostentar o título e ficar numa "wella" para sempre? Ahhhhh... Vamos ser sérios camarada!  Assim o senhor envergonha a classe. 

 

Ademais, as condições que o senhor encontrou aí são das melhores. Fique sabendo que o senhor está a ser muito bem tratado. O senhor é um Lord por aí. Isso chama-se reclamar de bucho cheio. Pois fique sabendo que se fosse aqui em Muahivire, o senhor já estaria com hematomas e muito mais parecido com um chinês de verdade. Se tivessem te deixado na Munhava, hoje estaríamos no sétimo dia de eterna saudade, paz à sua alma. Será que esse tempo todo que estava a orquestrar a fraude nunca ouviu falar de superlotação das cadeias cá da zona ou de prisioneiros que morrem asfixiados? Não exagera também né, mano!  Para terminar: vinte prisioneiros numa cela é moleza; indisciplinados na cadeia é normal (afinal, cadeia é exactamente para esse tipo de pessoas) e fumar na cela não é nada (aliás, fumar suruma é legal aí na África do Sul... Imagina, então, na cadeia). Deixa de ser chiliquento, camarada! Ou o senhor é gatuno ou é um bom samaritano. Se é gatuno, então age como tal! Respeite a vossa ética e deontologia, faxavor! 

terça-feira, 08 janeiro 2019 17:14

O que sobrou do Chang?

As imagens do nosso ex-ministro e deputado camarada Manuel Chang que me foram chegando, ontem, do Kempton Magistrate Court, em Kempton Park, Joannesburg, África do Sul, são de uma pena arrepiante. Confesso que fiquei, em algum momento, comovido. Afinal sou humano. 

 

Por falar em humano, o Chang que vi ontem não tinha atingido o estatuto de pessoa, muito menos de humano. Era simplesmente de um Chang biológico. Um organismo vivo que pertence a nossa espécie. Aquilo que o vulgo chama "ser vivo". Um espécimen de raça humana. Uma amostra de células vivas. Um amontoado de carnes e ossos envolto em tecidos. 

 

Há uns dias, Manuel Chang era Manuel Chang. Pessoa. Ser humano. Super-ministro. Candidato à Presidente da Efe-Eme-Efe. Intelectual. Deputado. Camarada. Quadro. Compatriota. Senhor. Doutor. Excelência. Excelentíssimo. Digníssimo. Prezado. Respeitado. Um homem. Um ser moral e consciente, com arbítrio próprio. Uma grande personalidade. 

 

Hoje tudo desmoronou. Uma carreira profissional e política de fazer inveja caíram perante uma ambição inconsequente. É difícil de compreender. O homem enfiou centenas e milhares de hospitais, escolas, bibliotecas, pontes, quilómetros de estradas, medicamentos, livros, furos de água, latrinas, etecetera, na sua conta. 

 

E, hoje, o que sobrou dele? Um monte cheio de nada. Esteja ele cá ou lá, preso ou livre, extraditado ou não, Chang nunca será o mesmo. Não irá a tempo de recuperar "a pessoa" que ele construiu em mais de 60 anos de vida. O Chang que vi ontem, as calças lhe caem. O casaco nem parece dele. O Rolex treme. Este Chang não é o mesmo. Não é o "nosso". Este perdeu a alma. Empalideceu. Um aborto ambulante.

 

Mas, enfim, diria Robert Musil, "uma pessoa faz o que é, e se torna o que faz".

 

- Co'licença! 

As últimas notícias dando conta da existência de mais cinco moçambicanos envolvidos na escandaleira das dívidas ocultas é uma oportunidade soberba que o governo norte-americano acaba de nos dar para tirarmos uma nova foto. Esta é uma chance única para fazermos nova pose para sairmos na foto sorridentes, nem que seja aquele sorriso administrativo. É a nossa última chance de sairmos bem na fotografia. Digo isso porque os nomes dos tais cinco compatriotas, COM CERTEZA, estão no relatório ORIGINAL, não encriptado, que a Kroll entregou a Pé-Gê-Ere. Ou seja, a nossa Justiça conhece quem são essas pessoas e também sabe que mais dia menos dia vão acabar nas malhas do Efe-Bê-I. Portanto, essa é a melhor brecha para mudarmos o cenário. É que, se não fizermos, alguém fará. Pelo menos mostrarmos também que aqui, por mais que você tenha higiene "Indivudual", dinheiro não se lava. 

quinta-feira, 03 janeiro 2019 05:04

Ja nem dá para ser gatuno em paz

Moçambicano é maningue complicado. Nos últimos tempos têm estado a brotar sabichões neste país que nem te deixam ser bandido a vontade. Não permitem que o ladrão usufrua do seu próprio título de ladrão em paz. Já nem dá para ser gatuno tranquilamente. Aqui é fácil você ser jornalista, analista, músico, pastor, padre, sheik, até profeta, mas experimenta ser gatuno. Virão os "donos da verdade" dizer que isso é mentira, que isso é ilegal.

quarta-feira, 02 janeiro 2019 04:44

Aulas gratuitas de prender gatunos

Olha, pessoal, em vez de estarmos aqui a gastarmos os nossos conhecimentos jurídicos e diplomáticos com debates do tipo "o gatuno soberano devia ser julgado cá" (quando, na realidade, temos consciência da carestia de tomates no nosso mercado judiciário), devíamos é sugerir que o governo envie uma equipa de alto nível à África do Sul para pedir humildemente o vídeo do circuito de vigilância do aeroporto internacional OR Thambo que mostra como os nossos vizinhos-cunhados prenderam aquele nosso brada. Portanto, a equipa receberia o filme num flash e voltaria à casa no mesmo dia. Isso seria muito mais valioso para nós como Estado. 



Com esse filme (desculpa, mas eu acho que é um filme mesmo: é que estou a imaginar um polícia a dar um pontapé na cara de um ex-ministro e deputado numa sala de embarque cheio de gente). Dizia então, com esse filme, teríamos umas aulas gratuitas de como se emitem e como se cumprem mandados judiciais e como se prendem gatunos de colarinho branco. Aprenderíamos que ladrão é ladrão em qualquer lugar do mundo, seja ele gordo ou magro, claro ou escuro, alto ou baixo, velho ou jovem, rico ou pobre.



Aqui em casa estamos a precisar desse tipo de curta metragem para umas pequenas lições que mostram que ladrão pode-se prender em qualquer lugar: em casa do gajo, no restaurante, no bar, no aeroporto, na putaria, na padaria, na discô, no iate, na circular, na É-Ene-Um ou Quatro, em Tchumene, na "Somachild", na Costa do Sol, no Triunfo, na Munhava, em Namicopo, e por aí além. Seria uma solidariedade diplomática de louvar no âmbito das nossas boas relações. 



Esse filme seria o hino da Pé-Gê-Ere para aprenderem que ladrão trata-se pelo próprio nome sem códigos. Teríamos também esse filme no currículo do curso de direito, da academia policial e do centro de formação jurídica e judiciária. O filme seria igualmente obrigatório nos treinos da UIR e da SERNIC. Seria também disponibilizada uma cópia para cada juiz. Talvez assim saberíamos, de uma vez por todas, que para prender gatuno precisamos apenas de cumprir a lei. Ter um mandado judicial e partir para a acção sem evasivas nem subterfúgios. Saberíamos que ao gatuno não se pergunta quando, onde e como quer ser preso... Que não se liga para gatuno para saber se gostaria de ir ao tribunal neste verão ou no inverno próximo.



Esse filme faz-nos muita falta aqui. Passaríamos na Tê-Vê-Eme umas tantas vezes por dia até que todos moçambicanos saibam que prender gatuno não custa nada: é só encontrar o gajo, dar-lhe uma rasteira, amarrar o gajo com arame, dar-lhe uma cotovelada, dar-lhe um remate no traseiro, o gajo cair na carroçaria do carro e bazar. Saberíamos que porrada é para gatuno, e não para o povo que reclama da subida do pão. De resto, temos de inculcar nas cabeças desses nossos irmãos que não se prende gatuno via Eme-Pesa nem via ordens superiores... Que não existe gatuno diplomático nem imune... E que lugar de gatuno é na "djela-hause".


- Co'licença!

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