Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

Co'Licença

A Justiça moçambicana decidiu extraditar Tanveer Ahmed para os Estados Unidos da América. Tanveer Ahmed é um cidadão paquistanês preso em Moçambique por posse de droga e procurado pelos americanos por tráfico de drogas pesadas. Quando os gringos pediram o seu bandido, nós entregámo-lo sem cerimónias.

 

- O palácio do Governador de Nampula (residência oficial), Victor Borges, tinha muitos ratos e cobras;

 

- Então, o Gabinete do Governador decide fazer uma "Carta de Compromisso e de Cadastro" (que não foi assinada pelo próprio Chefe do Gabinete) a um hotel de luxo e caro da cidade para alojar o governante e sua família num período não especificado garantindo que o próprio Gabinete do Governador (portanto, o Estado através do erário público) pagaria todas as despesas de alojamento e alimentação dos seus inquilinos mediante apresentação da factura; 

 

- Daí que, o governador, sua esposa e seus dois filhos carregaram nas suas "xi-djumbas" e foram viver para o hotel; 

 

- Enquanto isso, decorriam obras de reabilitação do palácio para eliminar malta Jerry e as "sineiques" invasoras; 

 

- Acontece que, trinta dias depois, o exílio da família palaciana virou notícia e motivo de piada, chacota, zombaria e crítica da opinião pública;

 

- Sendo assim, os palacianos decidiram pegar de volta nas suas "xi-djumbas" e regressaram ao palácio ainda em obras finais; 

 

- Foi daí, então, que, no dia seguinte, o governador convocou uma conferência de imprensa para informar, em primeira mão, que o valor da factura (de cerca de um milhão e trezentos e cinquenta mil meticais) referentes as despesas de alojamento e alimentação do período do exílio e o valor da outra factura referente às obras de reabilitação do palácio sairiam do seu bolso, ou seja, que o Victor Borges, ele próprio, iria recorrer a um financiamento bancário para pagar as despesas. 

 

Nesta estória algo não bate certo. Escapa-nos uma peça. Nunca vi nem ouvi sobre alguém que pede financiamento bancário para pagar dormida e reabilitação de um palácio (depois de ter dormido e depois das obras terem iniciado). É muito estranho! 

 

Eu diria que tentaram tramar o cota. O antigo Ministro da Justiça, Abdurremane Lino de Almeida, caiu neste tipo de ciladas: despesas que parecem pequenas, decisões levianas e tufa. Parece-me que tentaram montar um ramo seco para Borges sentar. A sorte do Borges é ser humilde e granjear simpatias da opinião pública. Borges conseguiu romantizar este conto patético e saiu-se lindamente. 

 

É ano eleitoral este: haverá eleição de governadores. Todo cuidado é pouco! 

 

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segunda-feira, 13 maio 2019 08:33

Fuga do palácio do Norte: curiosidades ingênuas

Assim que o governador de Nampula fugiu do palácio, por causa de ratos, e refugiou-se no Hotel Plaza como fica a sua segurança? Será que vão interditar a passagem no passeio do lado do hotel? É que normalmente não é permitido andar no passeio do palácio por questões de segurança. Ou seja, em Nampula o governador tem o seu passeio privado. 



Espero sinceramente que esta estadia no hotel faça perceber que ninguém quer matar o governador. E se houver, não fará a partir do passeio. O governador vai perceber que pode dormir, sonhar, e fazer-tudo, sem interferência de ninguém. 



Outra curiosidade interessante é o serviço protocolar. Aqueles carros com sirenes vão continuar? É que o Hotel Plaza, a actual residência do governador, fica na varanda do gabinete dele. Ou seja, ali nem dá para entrar no carro. 



Última curiosidade: o governo da província de Nampula não tem uma casa protocolar que pudesse acolher o governador nesta situação pontual de fuga? Aquelas casas ditas "presidência" não podem acolher o governador por uns dias? Ou seja, não havia outra opção? 



Se está moda de exilar-se nos hotéis pegar, sei não! Estão a imaginar o governador, o secretário de estado, o secretário permanente, o edil, o director, o vereador, etecetera, alojados em hotéis por causa de ratos ou mosquitos ou mesmo calor? 



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quarta-feira, 08 maio 2019 06:23

Os verdadeiros heróis não precisam de criptas

Em relação ao velho e sempre pertinente debate sobre o reconhecimento da heroicidade de Afonso Dhlakama pelo Estado moçambicano, eu tenho a dizer o seguinte:

 

O que Dhlakama precisa não é ser herói nem estar na cripta. O que Dhlakama precisa não é ter nome numa avenida ou numa praça. O que Dhlakama precisa não é ser aclamado na Assembleia da República, a mesma assembleia que aclamou as dívidas escondidas - coisa que ele odiou até a sua morte. 

 

O que Dhlakama precisa é de ser seguido por aqueles que o admiram e admiram a sua obra. O que Dhlakama precisa é que a sua obra seja valorizada, reconhecida, difundida e imortalizada por aqueles que o consideram herói. 

 

A heroicidade genuína não depende de consagrações públicas nem de medalhas. A heroicidade genuína não depende de aclamações nem de lápides na cripta. A heroicidade genuína não depende de reconhecimentos do papel.

 

Quem, de facto, acredita (no seu íntimo) que Afonso Dhlakama é seu herói, então que siga os seus ideais. Que valorize e imortalize a sua obra. Que ressuscite o Dhlakama que mora dentro de si e seja ele o próprio Dhlakama. Dhlakama não é herói de todos. Aliás, não existem heróis de todos. Dhlakama é herói de quem o admira. Heroicidade não se força... não é necessário. 

 

Os verdadeiros heróis não precisam nem de criptas, nem de continências, nem de hinos, nem de passos de camaleão, nem de trombetas, nem de mensagens, nem de hossanas. Os verdadeiros heróis precisam - isso sim - de se alojarem no peito dos seus discípulos para viverem eternamente. 

 

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Cerca de duzentos membros do Cê-Cê do maior partido da república do... do... do coiso... deixa pra lá, estiveram reunidos durante três dias, com o objectivo de discutir os tomates do puto Samito. Na verdade, os tomates do puto não estavam na agenda da reunião, mas acabaram tomando a maior parte dos discursos de abertura. Por serem maduros e grandes e por estarem no devido lugar, os tomates do Samito - que também é membro deste órgão do partido - têm sido alvo de muita conversa e crítica por parte de alguns membros. 

 

"Desde 1986 que não víamos tomates assim. É por isso que a maior parte de nós não sabe cozinhar com esse tipo de tomates. Esses tomates são muito bons para caril e salada, só que não estamos habituadas a usar. Já não há no mercado nacional. São raros esses tomates" - lê-se no discurso da ala feminina. 

 

Por sua vez, os combatentes atacaram o proprietário dos tomates. "É uma afronta um miúdo desses ter tomates assim. Até mesmo nós os mais velhos nunca tivemos tomates desse tipo. Esses tomates são muito perigosos. Durante a guerra de libertação eliminamos todos. Fazem parte das hortícolas reaccionárias. Não vamos tolerar" -  disseram. 

 

Os jovens do partido (os que legitimamente deviam produzir e promover tomates como os de Samito para o consumo interno, mas não o fazem) queixaram-se da falta de exemplos e incentivos dos mais velhos. Por não estarem acostumados a ver jovens como eles com bons tomates, acusaram o puto Samito de indisciplina. "Nenhum jovem deve ter tomates mais grandes, maduros e bem colocados do que os outros. A qualidade dos tomates deve ser igual" - frisaram acrescentado que era suposto que esses tomates estivessem guardados em Gôndola. 

 

Enquanto isso, o chefe-máximo fala de colisão, digo coesão. Segundo ele, os "tomaticultores" devem estar unidos para uma única causa: vencer a próxima safra agrícola. 

 

Analistas políticos entrevistados pela nossa reportagem suspeitam que Samito tenha herdado os tomates do pai. 

 

MM, nosso correspondente no terreno. 

 

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segunda-feira, 29 abril 2019 07:33

Mexer, meu irmão, veja o que você fez!

Enquanto estamos todos empenhados em mostrar ao mundo que somos um povo de gatunos, o nosso irmão Edson André Sitoe, ou simplesmente Mexer, vem estragar tudo. Neste fim-de-semana Mexer contrariou todo o nosso esforço. Mexer marcou um golo importante (de empate) que praticamente garantiu à sua equipa a conquista da taça da França, um certame bastante mediatizado. E isso foi suficiente para todo o mundo falar bem de nós, contrariando todo o nosso trabalho que é de promovermos a quantidade e a qualidade dos nossos gatunos além-fronteiras. 

 

É que parecia estar muito bem claro para todos nós que a ideia era fazermos de tudo para mostrarmos ao mundo inteiro que somos uma nação de gatunos, simplesmente. Que aqui todo gajo, desde atleta, presidente, músico, ministro, embaixadora, professor, Pê-Cê-A, etecetera, deve pura e simplesmente surrupiar bens públicos que estiverem onde a sua mão conseguir alcançar de modo a mantermos a nossa imagem. Pensei que este objectivo comum tivesse sido entendido, mas, pelos vistos, não. 

 

Mexer, meu irmão, veja o que você fez! Agora as pessoas já sabem que moçambicano sabe jogar futebol. Já sabem que moçambicano pode ser decisivo numa partida daquele nível. Já sabem que moçambicano pode fazer coisas boas. Veja só, irmão! Veja só o retrocesso! Ora, o que vamos fazer com os gatunos que andamos a formar nesse tempo todo? O que vamos fazer com a marca que lançamos? Vai com calma, irmão! Se for marcar, que não seja um golo decisivo. Não estrague a bolada. 

 

Talvez haja uma saída. Quem sabe, se prendermos aquele "Indivíduo" dentro desta semana as coisas mudem a nosso favor! Talvez assim as pessoas voltem a confiar na qualidade dos nossos gatunos outra vez. Não podemos deixar que esse miúdo estrague o trabalho de toda uma nação: criar gatunos para exportação. Se quisermos que a nossa pilantragem seja reconhecida mundialmente (como temos mostrado até agora) devemos todos fazer as coisas nesse sentido. Todos, sem excepção. 

 

- Co'licença!

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