É inaceitável que nem Portugal nem a UE consigam fazer pressão suficiente para que o Governo moçambicano, incapaz e alheio ao sofrimento da população, tome medidas eficazes.
Juma Aiuba foi gigante. Gigante na audácia e na fineza da palavra. Os gigantes são esses seres especiais, com um espaço reservado na eternidade. O paraíso, também, carece de criatividade. Se a leitura é o alimento da alma, o esplendor celestial, deve ser um espaço privilegiado para os diferentes géneros literários. Anjos e santos se divertem, agora, um pouco mais com o surgimento inesperado, do Juma. Nenhuma vida, nem presente e muito menos futura, sobreviveria sem humor, desprovida de uma requintada sátira e, muito menos, sem o sorriso maroto e platónico.
Maitololo, seu nome caseiro, viveu como partiu, irreverente, imprevisível e nas alturas. Qual estrela cadente que cruza as nossas pupilas, desaparecendo sem deixar rastos. “Juma”, etimologicamente, significa alguém que nasceu na sexta-feira. O nosso, fez a sua páscoa, também na sexta-feira. Aiuba (Aniba permollis) é um nome tupi guarani, das amazonas, Brasil. Significa árvore gigantesca, com aproximadamente 50 metros, recordando a todos que subindo numa árvore, deveremos descer pelo mesmo tronco. Esta a combinação perfeita que explica um cronista de múltiplas dimensões.
Vezes sem conta, iniciávamos as manhãs lendo seus ousados, interventivos e contundentes textos. O cozinhado de palavras e narrativas que rescreviam a hipocrisia, reconvertiam o descaso e perfumavam esse prazer matinal de uma leitura que fugisse do corriqueiro e banal. Estas crónicas reforçavam a fugacidade dessa crítica metódica, tantas vezes, viciada e respaldada em interesses obscuros. Vivemos carentes e sedentos de olhar para nós próprios, reconhecer o quanto temos sido insensíveis, perversos, egoístas e pouco racionais na nossa normalidade. Surgia, então, Maitololo recordando, através de corajosas, destemidas e humoradas palavras, que tão bem soube recriar, que poderemos fazer um país melhor, mais inclusivo, uma democracia menos frágil, instituições mais fortes e representativas.
A história da literatura e do jornalismo é profícua em exemplos de escritores satíricos. Na verdade, todos nós escondemos uma faceta humorística dentro de nós mesmos. Aldous Huxley e Evelyn Waugh, da Irlanda e Inglaterra, respectivamente, argumentavam que a sátira e o humor são questões que ultrapassam as épocas. A sátira social sempre consistiu em revelar a inconsistência, a incredulidade, a hipocrisia, a crueldade, o cinismo e a indignação. Em períodos mais modernos, Salman Rushdie, foi o rosto marcante da sátira. Este autor dos “Versículos Satânicos” teve de viver refugiado e escondido, para se manter vivo. Tal a força da palavra e o poder da sátira.
Em Moçambique, a literatura revela alguma dificuldade para conviver com a sátira social, na sua plenitude. Os poemas e, de alguma forma, a prosa continuam os veículos subtis que valorizam este género. Eventualmente, existam factores de ordem cultural, linguística, editorial, social ou política, conjugados, que limitam uma sátira mais genuína. A Revista Tempo com jornalistas como Areosa Pena, Filipe Mata e Bartolomeu Tome, ultrapassaram barreiras e se firmaram como os cronistas de referência. Censurados pelo regime colonial, se mantiveram firmes e agraciados pelo projecto libertador.
Mesmo depois da independência, jamais pararam de satirizar, com humor e leveza, modelos e propostas governativas pouco coerentes.
Depois de algum interregno e de um momento de muitas veleidades, novas vozes tentaram seu espaço e traçaram o seu próprio caminho. Juma, foi essa feliz e improvável revelação. Quando lhe perguntavam de onde buscava tanta inspiração, ele era peremptório. Não era ele que se inspirava. Era Moçambique que palmilhava e trilhava pelos sinuosos caminhos da paródia e indignação. Eram as incongruências da corrupção e a maledicência da democracia atípica, da política quotidiana maquiavélica, da insensibilidade do sistema judiciário.
A paródia se constrói com a vida, na seriedade e na adversidade dos factos. O que mais o incomodava e, um pouco aos cidadãos de bom-senso, eram as infundadas justificações para narrar o óbvio, os números problemáticos do registo eleitoral, das arbitrariedades com os contentores que, misteriosamente, desaparecem, a leviandade como se constrói a narrativa de pagamentos duvidosos, enfim, essa espécie de tragicomédia e de uma morte anunciada, para relembrar Gabriel Garcia Márquez.
A Carta de Moçambique, jornal digital para o qual publicou, reconheceu, em momento oportuno, que o seu projecto jornalístico ganhou espaço e expressão muito por conta de se ter pendurado na sua bagageira. Na realidade, a publicação acomodou-se, confortável, na poltrona da sua irrepreensível imaginação e frontalidade. Juma era uma pessoa corajosa e de perspicaz frieza. Assustava. Quase vaticinávamos um final premeditado e anunciado.
No seu humor, muitas vezes, tão trivial, noutras tão sério, ele será aquele jornalista que morre e sobrevive. Continuará escrevendo a partir das catacumbas. Para quem lê sátiras, o mais difícil seria não pensar em Charlie Hebdo e em tantos outros, que ousam atravessar pelos caminhos do politicamente correcto. Mas, a vida continua esse sopro. Passará algum tempo até que se entenda da natureza do furúnculo que o vitimou. Porém, o importante será saber que cumpriu, como ninguém, o nobre dever de servir à pátria e, no dia da maior celebração islâmica, ele regressou as profundezas das suas origens.
Sócrates dizia, várias vezes, que as pessoas sábias falam de ideias, mas que as pessoas comuns falam de factos e a pessoas, apenas, falam de outras pessoas. Ficaremos com os novos cronistas e que são produto da paródia que experimentamos como pão nosso de cada dia, Armando Nemane, Sérgio Raimundo e tantos outros, cuja intervenção social fará de Moçambique um lugar para todos, sem medos e de plena liberdade.
Neste tempo, intensificamos as leituras que dialogam com a pandemia. Lemos de tudo um pouco. Depois, por questões de sanidade mental, até nos sugerem um desligamento. Outras leituras. Evitar o risco de pânico. As epidemias sempre desempenharam um papel fundamental na história da humanidade. As pandemias deflagraram crises políticas, económicas, destroçaram famílias e sociedades. Os vírus não moldam à história, os seres humanos sim. Os riscos que enfrentamos ultrapassam o vírus e os demónios exacerbados que geram ódio, ignorância, ganância e pânico.
A nossa reacção, em tempos pandémicos, revela desespero e ausência de esperança. Foi assim no passado. Pandemias propagam ódio, sobre tudo e todos, estimulam a ganância, revivem, até, o sentido da ignorância. 2020 foi tenebroso. 2021 se reveste já de memórias apocalípticas. Nos rendemos à resignação. Na nossa ingenuidade e apressada intuição, alimentamos esperanças de melhores dias. A pandemia não muda, nós sim.
Nas últimas leituras, tanto nas de ficção, bem como noutras, exorcizamos os demónios. Rebusquei algum encantando no “Planisfério Moçambicano – Atlas Literário”. Uma espécie de reencontro com o horizonte e suas escritas, citando o José dos Remédios. Um mergulho, em seco, pela literatura, seu cancioneiro e política cultural. Uma viagem fiel pelo acervo das memórias de Nelson Saúte. Essa memorável trajectória que revê clássicos. O libelo contra o esquecimento colectivo e a desmemória. Craveirinha, quase centenário, Noémia de Sousa, Rui Nogar, Eduardo White, Rui Knopfli, Leite de Vasconcelos, Aníbal Aleluia, Albino Magaia, Heliodoro Baptista, Ricardo Rangel, Fanny Mpfumo, Marcelino dos Santos, Calane da Silva, Malangatana e Bertina Lopes. Todos eles celestiais. Escrevem para outros olhares, cantam para outros ouvidos e pintam para os privilegiados.
Como teria sido oportuno exaltar outros escritores, como Adelino Timóteo, Mbate Pedro, Nelson Lineu, Sangare Okapi, Lucílio Manjate, Sara Jona Laisse e tantos outros, que insistimos serem a nova fornalha. Mas, eles são consagrados. Hoje, acrescentaria o cronista-mor da sátira moçambicana, Juma Aiuba. Ele mereceria essa reverência. Os seus textos foram imprescindíveis e os mais lidos nesta pandemia. Juma Aiuba deixara marcas indeléveis no jornalismo moçambicano e no fenómeno das redes sociais.
Ganhei de presente, da minha esposa, “A Promised Land”, de Barack Obama. Soberba e admirável biografia. Obra quase obrigatória. Lançada nos EUA, antes das contraditórias e fleumáticas eleições. Obama se expõe. Valoriza o aprendizado e percurso político. Revela como as lideranças políticas são manipuladas e mantidas reféns de interesses obscuros. Ele retoma os “órfãos da ordem política e economia americana”. O convencional que se converteu em adverso.
Porque se descontentam os jovens, desmotivam os partidários, políticos se banalizaram e perdem credibilidade? “Uma casa dividida não se sustenta”, tal como dizia Abraham Lincoln. Na difícil missão de liderar os povos, nunca como agora, foi tão necessário prestar redobrada atenção aos preteridos.
A amiga e colunista da Folha de São Paulo, Cláudia Costin, lá no Atlântico, interrompeu as minhas leituras, recomendando a imperiosa necessidade de ler o artigo “O Crepúsculo da Democracia” (Twilight of democracy) de Anne Applebaum. Esta jornalista americana descreve o réveillon, de 1999, na Polónia e a virada do milénio. Anteviu um milénio sem harmonia, pouco salutar, e com tendências invertidas. O mundo mudaria para o pior.
Anne Applebaum antecipou, com perspicácia, as tendências do neoliberalismo, o resvalar das instituições democráticas mundiais, o surgimento da distopia, que seria expressa em regimes populistas, sistemas políticos polarizados e sociedades intolerantes. A pandemia política já havia chegado muito antes dessa catástrofe humanitária. Vivemos algo que ela designou por “o apelo sedutor do autoritarismo”.
Estes novos tempos parece oferecem, de forma indiscriminada, saídas simplistas e mágicas, para problemas tão complexos. Estes tempos ainda mantém discursos que contradizem a práxis. Autoritarismos com números assustadores, lealdades e parcerias que se sobrepõem ao conhecimento.
Nesta senda outra das obras que sugiro, seria o último livro do consagrado historiador israelita Yuval Noah Harari: “Notas soltas sobre a pandemia”. Yuval Noah acredita que na batalha contra o coronavírus faltam líderes a humanidade. Desaconselha o descarregar de culpas à globalização, as restrições de toda a espécie, incluindo as viagens. Se opõe de forma frenética a “desglobalização do mundo” e ao isolacionismo prolongado. O antídoto para a pandemia, refere, não será a segregação, mas a cooperação. Descreve como as anteriores pandemias surgiram. Como elas ceifaram mais vidas que qualquer guerra.
Continuo, no entanto, sedento de livros e relatos sobre como numa situação de impossibilidade de funcionamento normal das escolas, poderíamos improvisar aulas ao ar livre e deixarmos as crianças aprender. Soluções tecnológicas, no nosso caso, são paliativas. Música para adormecer quem vive de insónias. Procuro soluções e formas de reduzir esse quadro da profunda desigualdade educacional, decorrente da Covid-19.
As leituras destas novas normalidades precisam de descartar saídas simplistas ou mágicas, para problemas tão complexos. Discursos que contradizem a práxis. Leituras que nos façam compreender os descalabros. Os demónios das lealdades e alienadas alianças.
Estes são tempos que deixaram de ser assintomáticos. Exigem criatividade na reestruturação socioeconómica, inovação na resiliência, novas abordagens estruturantes para alcançar uma sociedade de justiça social, uma economia diversificada e sem pobreza. Buscamos pragmatismo, firmeza e posturas motivacionais. Como diz o provérbio, com êxito ou não, o importante é que cada um, no final, possa dizer, “fiz o que pude”.
Nestes tempos de leituras pandémicas, uma vénia muito especial a classe médica. A alma mais forte e melhor constituída é aquela que não se deixa envaidecer com os sucessos, nem abater com a infelicidade. Vocês são os nossos heróis. (X)
Num documento1publicado recentemente pelo Centro de Integridade Pública (CIP), em que são apresentados os argumentos da defesa da Privinvest no tribunal de Londres, é possível verificar que uma das novidades apresentadas é que o então Presidente da República, Armando Guebuza, tinha conhecimento dos pagamentos de milhões de dólares efectuados por aquela empresa aos membros do seu Governo e a pessoas do seu círculo, incluindo ao seu filho, Armando Ndambi Guebuza.
O documento revela que a Privinvest efectuou pagamentos de cerca de 7 milhões de dólares a Manuel Chang, então Ministro das Finanças¸ e um milhão de dólares a Filipe Nyusi, na altura candidato da Frelimo à presidência da República.
Era expectável¸ e até previsível¸ que esse cenário acontecesse. Num contexto como o moçambicano, a imunidade alcança-se através de alianças estratégicas com os indivíduos “certos” que possam garantir a segurança física, dos bens patrimoniais, os direitos contratuais e até constitucionais. Afinal de contas, “apesar de o cabrito comer aonde está amarrado” – ditado popular- é sempre melhor não comer sozinho.
O então Presidente da República, Armando Guebuza, não podia dançar sozinho este tango. Era necessário que arrastasse consigo pessoas da sua confiança e não só. Pessoas que pudessem¸ num futuro a curto ou médio, garantir que este assunto fosse abafado, não por temerem a ele – Guebuza - porque já não teria o poder de outrora, mas sim porque¸ defendendo Armando Guebuza, significaria defenderem-se a eles próprios.
Desde as descobertas das dívidas ocultas até aos mais recentes desenvolvimentos deste caso, Filipe Nyusi tem tido uma actuação hesitante e titubeante. Duas hipóteses podem ser lançadas:
A segunda hipótese parece ser a mais provável. Pode não ter resistido ao dinheiro fácil. Juntou-se à festa e dançou tango onde os mestres da orquestra eram Armando Guebuza e Iskandar Safa. Recebeu as migalhas, mas que foram suficientes para lançar um enorme descrédito à sua imagem de actual Chefe de Estado.
Até que seja transitado em julgado, Nyusi, tal como todo e qualquer cidadão num estado de direito, tem direito a presunção de inocência. E oxalá que ele consiga provar que o é.
Agora, mais uma vez, os olhos da sociedade vão-se virar para a reactiva PGR, a ver o que ela irá fazer com mais este capítulo dos detalhes sórdidos daquele que é¸ até hoje¸ considerado o maior escândalo de corrupção em Moçambique.
Fiquemos atentos aos próximos capítulos!
Mais um ciclone atravessa o nosso país, afectando, directamente, as províncias do centro, em particular, Sofala, Manica e Zambézia. Ainda nem sequer nos refizemos das anteriores tempestades de 2019, como foram os casos do Idai e Kenneth e, mais recentemente, do ciclone Chalane, e teremos de lidar com os efeitos nefastos do Eloise. Estes são momentos perturbadores, preocupantes, duros e, até, demasiado violentos. Precisamos de força, coragem e muita fé para enfrentar estas crises e manter acesa a chama da esperança. Temos de continuar fortes e resilientes, e saber erguer a cabeça, em todos os momentos.
Chegado ao mês de Dezembro, as emoções elevam-se, as mensagens multiplicam-se, os governos, empresas, instituições, comunidades, famílias e indivíduos fazem uma introspeção do ano que está prestes a desaparecer e/ou prestamos contas a quem de direito se for o caso.
Procuramos justificar as promessas não cumpridas, lamentar e/ou pedir desculpas pelos factos inadequados, etc.
Sempre foi assim?
Sim, as sociedades mais antigas, desde que há registos há 4600 anos - Babilónicos, Maias, Hindus e Chineses - tiveram comportamentos semelhantes.
É a natureza humana reagindo ao sentimento de perda. Esta é a razão, conforme os Livros Sagrados, a importância do calendário – Termos consciência da maior riqueza que temos – o TEMPO.
Tempo é o único factor irrecuperável, tudo o resto se perde, se ganha. O tempo não é dinheiro como disseram os ingleses (time is Money) – TEMPO É VIDA.
Será que se justificam esses sentimentos e emoções?
Não sei, mas melhor do que eu, o leitor vai decidir depois de ler os factos históricos que se seguem:
Se formos ao detalhe vamos perceber que nenhum calendário mudava o ano no final de Dezembro. Nos lunares, a data não é fixa, depende do nascimento da lua nova e, mesmo dentro do mesmo sistema lunar ou solar, havia discrepâncias no número de dias por ano que, por sua vez, não eram uniformes. Alguns calendários tinham 10 meses por ano, outros 18 meses com 20 dias por mês, por cada ano, etc.
Apesar de serem factos históricos importantes, “se soubermos de onde viemos, saberemos para onde vamos”, a pergunta que você deve querer fazer é: e então?
A razão desta missiva tem a ver com:
Então, você que deve querer ir às compras ou socializar, quer saber quanto mais rápido possível, fazer o quê?
Não há dois casos iguais – esta é uma prova de que Deus existe, para quem tem fé.
A primeira recomendação sensata que podemos partilhar é que nas datas relevantes devemos aproveitar para reflectir, recapitular, identificar os factores positivos e naturalmente os menos positivos, corrigir os que considerarmos necessários, assumir a responsabilidade – esta é sempre sua. Somos dotados de consciência, livre arbítrio (cada um faz as suas escolhas).
Enquanto não assumirmos a responsabilidade pessoal, a porta de entrada rumo ao sucesso, felicidade, criatividade e até da saúde não estará disponível.
Faça como diz Confúcio – Chame os nomes pelos próprios nomes – em outras palavras, não se engane a si próprio, tipo:
Nós seres humanos somos dotados de capacidades sem limites – é outra prova da existência de Deus, capazes de trazer a solução de qualquer problema, não importa o grau da sua complexidade, dizem os Livros Sagrados (já que estamos na época natalícia para uns) que “Deus não dá nenhum peso a alguém sem que lhe dê forças para carregar”.
O estimado leitor deve estar a dizer, calma aí, então porque é que eu e muitos não conseguimos solução dos nossos problemas?
Porque nos enganamos a nós próprios! Como?
Vou repetir quatro ensinamentos pilares de qualquer resolução rumo à felicidade:
Desejo-vos uma boa reflexão.
A Luta continua!
A Camal