Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
Nando Menete

Nando Menete

terça-feira, 21 novembro 2023 20:56

Mandela teria evitado o 11 de Outubro

No filme Invictus  (2009), do cineasta Clint Eastwood, Nelson Mandela, o então recém-eleito presidente da África do Sul em 1994, recorre ao campeonato do mundo de rugby, realizado em 1995, na sua terra e ganho pelo seu país, como uma ferramenta política do seu governo (1994-1999) para promover a reconciliação racial entre brancos e negros no pós-apartheid, evitando assim o agudizar do conflito que, na altura, esteve à beira de uma guerra civil.

 

Por alto, retenho uma das passagens do filme, em que a ala dura do partido de Mandela pressionava-o para que se retirassem os símbolos – como a cor do equipamento - que a selecção sul-africana de rugby usava, pois tais símbolos representavam a era do Apartheid.

 

Mandela defendeu para que assim não fosse, acautelando de que não se podia tirar aos compatriotas brancos o pouco que os restava. Deste pronunciamento, subentende-se a preocupação por consequências imprevisíveis por tal acto. Lembrar que o rugby, o desporto-rei da população branca, é praticado na sua maioria por esta franja da sociedade sul-africana e é um seu símbolo identitário. 

 

Intramuros, e no âmbito dos acontecimentos ligados ao 11 de Outubro, o dia da votação das sextas eleições autárquicas, acirrados com a divulgação dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições, venho pensando neste filme, sobretudo na mensagem de Mandela.

 

Diante dos dados, ora no Conselho Constitucional, penso que Mandela teria feito semelhante intervenção, evitando assim este escaldante calor social que temo que esteja, por estes dias, disfarçado ou em fermentação, se fazendo passar pelo calor natural que também tem abalado o grosso do país.

 

E porque Mandela esteve ausente na resolução de apresentação e divulgação dos resultados, que haja Mandela no acórdão de validação e proclamação mais esperado de sempre.

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

terça-feira, 14 novembro 2023 10:39

Procura-se a cidade das acácias

Por ocasião dos 136 anos de Maputo, a cidade capital de Moçambique, vulgo a cidade das acácias, que foram celebrados no passado dia 10 de Novembro, o Jardim Zoológico de Maputo (JZM) foi um dos locais que mereceu a visita de alguns citadinos maputenses, das cidades e vilas circunvizinhas.

 

Na qualidade de anfitrião acompanhei uma família-viente na visita ao JZM. De regresso, já em casa, foi interessante ouvir a criançada a dar o relatório aos que não foram ao JZM. Em uníssono só se ouvia: “Vimos onde ficava Leão”; “Vimos onde ficavam elefantes”; Vimos onde ficavam girafas”, e por ai mata adentro.  

 

No dia seguinte levei os petizes a conhecerem o centro da cidade. De regresso, eis alguns excertos do reporte: “Vimos onde ficavam as árvores”; “Vimos onde tinha parque das crianças”; “Vimos onde tinha passeios e onde passavam comboios”. 

 

Depois do jantar, e no momento da planificação do programa de visita para o dia seguinte, um dos petizes pergunta: “Tio, amanhã podemos visitar a cidade das acácias?”   

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

 

terça-feira, 07 novembro 2023 14:53

A política de falar no fim do jogo

Numa madrugada de final de semana, caminhava desinteressado com um grupo de amigos quando um pouco depois da esquina das avenidas Eduardo Mondlane e a Tomás Nduda, na direção norte e junto a uma árvore, deparamos, na escuridão, com um casal (comercial) em plena intimidade. Diante da nossa interpelação, o interpelado pediu que o deixássemos acabar o processo, que depois tomaria tempo para se pronunciar.  

 

Na TV, acabo de ouvir algo parecido. Da boca do ex-presidente da República, Joaquim Chissano, ouvi que ele falará sobre o “11 de Outubro” logo que o Conselho Constitucional se pronunciar sobre a validação dos resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições. Uma posição que até que faz jus ao seu estilo de governação presidencial, tendo, por isso, sido apelidado de “deixa-andar”.

 

Estes dois casos, lembram o que um dia dissera o então e falecido presidente norte-americano, Ronald Reagan, sobre a política e a prostituição: "… a política é a segunda profissão mais antiga, e eu percebi nos últimos anos que ela tem uma grande semelhança com a primeira

 

Nos dois casos, o “deixa-andar” e o “deixa-…”, e diante de flagrantes acontecimentos na esfera pública, a semelhança da resposta é gritante: ambos -os interpelados - remetem os respectivos pronunciamentos para o fim do jogo.

 

“A política, Seu Dirceu!”. Já ensinara o perfeito Odorico Paraguaçu, da novela brasileira “O Bem-Amado”, quando questionado - pelo seu secretário, Dirceu Borboleta - sobre a ética e a moral das suas ações.

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

quinta-feira, 02 novembro 2023 12:10

Sons do Cockpit

Em jeito de homenagem ao Comandante Abel Chambal (1962-2023)

 

Em 1992, quando da assinatura do acordo de paz, uma outra paz – a paz da alma – já habitava nos corações de familiares e amigos, em festas e casas de pasto da cidade, e não só, com o singelo contributo de Abel da Conceição Chambal, El Comandante.  

 

No cockpit do DC-10 ou de um Boeing da companhia de bandeira, no regresso de mais uma jornada no exterior, cada uma das suas aterragens, as “manteigadas” conforme, carinhosamente, as tratava, eram também aterragens de paz. Uma paz que vinha com uma chique estampa de uma loja de música, algures pelo mundo fora.

 

Há dias, uma manhã de domingo, as notícias do seu estado de saúde não eram as melhores, a prece fora como ele ensinara: ouvindo música. Foram perto de três horas intensas de “Sons do Cockpit” culminadas num repentino silêncio, por conta de uma possível reclamação da vizinhança.   

 

Não tardara. A porta bate. Era a vizinha, totalmente tomada e com a alma preenchida de saudades de boa música. “Toca outra vez, vizinho”. Do som do pedido, a confissão de que se rendera aos sons que, no fundo, vinham do cockpit sob as rédeas do Comandante Abel Chambal.  

 

Ainda há dias, um grupo de amigos, com génese fraterna nos “Sons do Cockpit”, combinara arranjar um momento com o Abel Chambal. Na verdade, um pretexto para reconhecer quem trouxera a única, a efectiva e definitiva paz - a “ Paz da Alma” – simbolizada na eterna assinatura das capas dos seus CD’s: a indelével Benta&Abel.

 

Das últimas lembranças, fora as do quotidiano de proximidade, a da sua preocupação com a mãe pátria, de que tanto amava e dera por ela, incluindo intervenções críticas sobre o seu rumo, ora turbulento, quanto fora, também, os seus últimos dias em leito hospitalar.  

 

No corpo da mensagem de que “Perdemos o Abel” na noite do dia 29 de Outubro, uma ténue marca de água da decolagem de um vôo com destino ao reino dos céus e com a inscrição de baptismo: “Paz da Alma”.

 

Hoje, na cadência de “Sons do Cockpit”, o aceno derradeiro para a aeronave “Paz da Alma”, que parte para o além, sob as rédeas do seu eterno Comandante, Abel da Conceição Chambal, o piloto-mor do bom ouvido musical de muitos, dentre próximos, distantes e anónimos, que, seguramente, perdurará na descendência de cada um.

 

Saravá, Abel Chambal!

 

Nando Menete

 

Maputo, 02 de Novembro de 2023

 

Nota: Abel da Conceição Chambal (1962-2023), Piloto, fora um Comandante por excelência e cumpriu com 12.300 horas de vôo e cerca de 6500 aterragens.

terça-feira, 31 outubro 2023 09:39

Fale agora ou cale-se para sempre!

“Fale agora ou cale-se para sempre!”. Depois que o conservador lera esta frase, o fotógrafo da cerimónia nupcial decidira fazer umas fotos do lado oposto e frontal para os convidados. E enquanto caminhava, o que parecia apenas o som da batida dos seus sapatos era também o da batida cardíaca do noivo, que para se manter com algum aprumo tivera que segurar, com as duas mãos, a mesa do conservador.

 

No dia da leitura dos resultados eleitorais de 11 de Outubro esperava que o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), que por ser religioso e da igreja em que esta frase fora cunhada, introduzisse a mesma na leitura dos resultados, perguntando: “Alguém dos presentes, que nos assiste ou que nos ouve, terá alguma razão contra os resultados anunciados, fale agora ou cale-se para sempre!”

 

Assim não foi. E se assim tivesse sido? Certamente que o vice-presidente da CNE teria sido o primeiro a levantar a mão, avaliando o seu pronunciamento à imprensa logo após a leitura dos resultados oficiais. E qual teria sido o acolhimento caso ele tivesse tido tal oportunidade?

 

Na cerimónia do casamento acima, a pergunta também fora feita amiúde pelos presentes e ninguém sabia que procedimentos seriam tomados caso tivesse aparecido um protestante, pois, até então, ninguém tivera presenciado. Por hipótese aventara-se a possibilidade de que todas as questões eram ultrapassadas antes da cerimónia, mantendo-se a pergunta por mero costume e sem consequências, incluindo as de ordem legal.

 

No contexto da divulgação dos resultados oficiais a possibilidade de que todas as questões seriam ultrapassadas antes da cerimónia de divulgação não cola e nem decola, e tal decorre, ao que parece, da promiscuidade entre os nubentes/jogadores e o conservador/árbitro da peleja.     

 

Ainda assim, ou talvez por isso, a sociedade está a responder ao “Fale agora ou cale-se para sempre!” como atestam os protestos dos protagonistas directos, sobretudo dos que se sentem lesados, e também de diferentes figuras públicas, organizações sociais e de diferentes instituições que se posicionam sobre os acontecimentos em torno destas eleições.

 

Por outro lado, e na senda da mesma pergunta, a sociedade questiona o profundo silêncio ensurdecedor de determinadas personalidades e de instituições de relevo que a luz das suas responsabilidades com a ética e a moral públicas, e independentemente das respectivas posições ou filiações partidárias, já deviam ter vindo a público

 

Por ora, e do ponto de vista formal, a sociedade aguarda pelo punho do Conselho Constitucional em sede da deliberação sobre a validação dos resultados anunciados pela CNE. Até lá, e tal como o momento de suspense ao som da batida dos passos do fotógrafo nupcial, soam alto o da batida do coração de toda a nação moçambicana que firme segura a mesa do conservador face a um potencial AVC.    

 

Ainda por ora, lembrar Fidel Castro, o falecido líder revolucionário cubano, que no decurso de um seu julgamento, na sequência da sua participação numa tentativa de insurreição, culmina a sua própria defesa com a frase “A História me absolverá”.

 

E para fechar: o que fará a História aos que no país, em contramão com as suas responsabilidades no espaço público, se calam diante dos preocupantes acontecimentos em torno das eleições autárquicas de 11 de Outubro de 2023.  

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

terça-feira, 24 outubro 2023 12:16

Adenda póstuma a um pedido de Kalungano

Em finais de 2006 e Janeiro de 2007 tiveram lugar duas reuniões solicitadas por Marcelino dos Santos (1929-2020), falecido político e fundador da Frelimo, o poeta Kalungano, em que participei com outros pares, todos na qualidade de organizadores do Fórum Social Moçambicano (FSMoç) cuja primeira edição decorrera em Outubro de 2006 e a segunda, e última, em Outubro de 2007.

 

Nas duas reuniões, Marcelino dos Santos trazia a documentação de referência do FSMoç repleta de anotações e com parágrafos sublinhados a cores, que demonstravam que a lera. Em nota prévia, Marcelino dos Santos elogiara a organização da documentação e a qualidade do seu conteúdo, e ainda confessara que a mesma tinha o espírito dos estatutos da fundação da Frelimo.  

 

Chamo a terreiro estas reuniões por conta de um pedido de Kalungano que hoje, diante do “11 de Outubro”, não como data eleitoral, mas enquanto um turbulento fenómeno social e político, tal um rio aos solavancos e a alta velocidade - com o seu ponto a montante por definir e o a jusante uma incerteza - tenho a dimensão de tal pedido.

 

O pedido: Marcelino dos Santos rogou aos seus convidados que levassem o debate para o seu partido e que promovessem neste o espírito, a abordagem e os temas do FSMoç. Segundo Marcelino dos Santos, o partido já carecia. Em suma: um pedido de resgate.

 

Em recente conversa sobre o “11 de Outubro” com um outro participante das citadas reuniões ficou assente de que na altura do SOS do mais velho não se tivera a profundeza da dimensão do pedido e talvez por isso sem o devido seguimento.

 

Com o fenómeno “11 de Outubro”, e da conclusão da conversa, a ideia de que urge uma adenda póstuma ao pedido de Kalungano, passando-o para um resgate global da sociedade, pois a carência de que se queixava Kalungano, no seio do seu partido, é transversal a toda sociedade e com sinais claros de que esta caminha, paulatinamente, para um suicídio colectivo.  

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

 

PS: Um exemplo para o resgate global encontra suporte na campanha das eleições de 11 de Outubro onde foi notório o défice de ideias, tendo apenas servido para a divulgação da Constituição da República, sobretudo a parte referente aos direitos dos cidadãos.

quinta-feira, 19 outubro 2023 15:09

Os profetas do 11 de Outubro

Os anúncios sucessivos dos resultados intermédios das eleições autárquicas de 11 de Outubro pariram uma corrente de profetas que inundaram as artérias autárquicas, e não só, da terra da Pérola do Índico.

 

Certamente que o leitor já se terá cruzado, ou sido interpelado, por meios tecnológicos, com um ou mais “Profetas do 11 de Outubro”. O teor, e de consenso, da profecia: todos já, previamente, sabiam quais seriam os resultados das eleições e tudo o que aconteceria depois, incluindo as decisões dos tribunais e o “bit” do momento. 

 

Faz pouco tempo um dos profetas ligou-me a reclamar a vitória do seu vaticínio: “Eu sempre te disse que desta vez seria diferente. O povo está cansado. Não me destes ouvidos”. Outro dia, um outro profeta também lembrou-me algo parecido, concluindo: “Nada que eu não tivesse previsto”.

 

Tenho outros exemplos de vaticínios dos “Profetas do 11 de Outubro”, mas deixo os parágrafos seguintes para o leitor elencar os da sua órbitra de amizades. Depois volto para fechar.

 

Em jeito de desfecho, e para efeitos de prevenção, espero que os “Profetas do 11 de Outubro” já tenham a decisão e o rumo dos acontecimentos quando o Conselho Constitucional deliberar sobre a validação destas polémicas eleições. Em caso de curiosidade, o leitor que pergunte a um ou mais “Profetas do 11 de Outubro” da sua órbitra de amizade. Eu farei o mesmo.

Os dias que correm no contexto das polémicas incidências dos eventos do dia da votação autárquica e do próprio processo anterior, lembram-me um episódio familiar que achei interessante partilhar com os leitores.

 

O episódio ocorre no decurso da avalanche do regresso de nossos compatriotas da então República Democrática Alemã (RDA). Nesse êxodo veio uma familiar que dias depois recebeu, na Matola, a minha visita e a de um primo. No final da visita ela pediu-nos que trocássemos o dinheiro que trazia. A moeda (Marcos) era da vizinha Alemanha Federal (RFA). Prontamente aceitamos.

 

Um ou dois dias depois, eu e o meu primo fomos ao Banco de Moçambique para fazer o câmbio. Se a memória não me falha, este Banco era o único local onde se podia fazer o câmbio de moedas estrangeiras que não fossem o dólar ou o rand. A expectativa da familiar era de que a troca rondaria por ai dois mil meticais. Para o nosso espanto, o caixa do Banco entrega-nos doze mil meticais.  Uma enorme diferença.

 

E agora? O que fazer? Entregar apenas os expectáveis dois mil meticais? Entregar um pouco mais?  Entregar a totalidade?

 

Em caso de entrega de apenas os dois mil expectáveis, a nossa consciência lembrava-nos da possibilidade da prima vir a descobrir e não seria assim tão difícil porque eram tantos regressados, incluindo de outros familiares e que em algum momento trocariam informação sobre o câmbio.

 

O mesmo raciocínio para o caso de entrega de um pouco mais do valor, aventando-se até que fosse a metade do valor recebido do Banco. Mas esta hipótese também inquietava, pois iria estimular desconfianças da prima.  

 

A decisão foi a de entregar o valor total recebido do Banco e levar para ela evidências que comprovassem a transação. Não me lembro de algum recibo ou uma nota comprovativa do Banco. Lembro-me é de termos procurado o jornal Notícias do dia da transação e de extrair a página onde constava o câmbio do dia.

 

Depois de reunida a evidência o valor foi solenemente entregue. Em suma: um acto livre, justo e transparente. Tão simples quanto isso.

 

Decorrente deste episódio, e voltando ao assunto do dia, entendo no fundo de que o que está em causa nas eleições do passado dia 11 de Outubro de 2023, as sextas autárquicas em Moçambique, é o próprio slogan/lema, pilar ou mesmo a visão oficial das eleições em Moçambique, nomeadamente: “Por Eleições Livres, Justas e Transparentes”  

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

terça-feira, 10 outubro 2023 08:28

Quem conta os votos?

Tenho acompanhado a recomendação da oposição ao poder dominante para que os seus potenciais eleitores votem e que fiquem, no local, de vigia no momento da contagem dos votos. Uma recomendação que encontra eco numa fala que é atribuída a Joseph Stalin, líder soviético, a saber: "Quem vota e como vota não conta nada; o que conta os votos é que realmente importa".

 

Será a melhor estratégia? Não sei. Lembrar que na sala de aulas, em dia de teste ou exame, existem também vigias e nem por isso um impedimento para a ocorrência de fraude académica.

 

E tomando o exemplo da vigia em dia de teste ou exame, recordo-me de um meu professor que depois de ficar meia hora na sala, optava por sair e avisava antes que seria por apenas quinze minutos. De regresso a maioria já estava por finalizar as respostas, mesmo os que não tinham ainda respondido a nenhuma pergunta antes da sua saída. Com este professor era sempre assim.

 

Há uma semana cruzei-me com o dito professor - há década e meia que não o via - e soube dele que a saída por quinze minutos era a metodologia que encontrara para que os seus alunos estudassem e que ele tivesse bons resultados.

 

Segundo o admirável professor, o acto de o estudante preparar a cábula e a certeza de que terá uma oportunidade para usá-la durante o teste/exame produzia efeitos tremendos na melhoria da performance dos alunos e a dele. Desta experiência, uma outra máxima: “A vitória prepara-se, a vitória organiza -se”.

 

Não foi Stalin quem disse esta máxima, mas acredito que tenha sido da combinação desta máxima com a do Stalin em que o meu professor, por acaso formado na então União Soviética, tivera a divina inspiração metodológica para os seus bons resultados. Dito isto: quem conta os votos? “É quem prepara e organiza a vitória”, responderia o meu professor.       

 

Nando Menete publica às segundas-feiras

segunda-feira, 02 outubro 2023 14:06

A propósito da campanha eleitoral

Tenho seguido a campanha eleitoral em curso, particularmente a que ocorre nas autarquias da área metropolitana de Maputo. Por ora, e já passa uma semana de campanha, o que me ressalta mais são duas observações.

 

A primeira: o incómodo generalizado provocado pelo lixo estético por conta da colagem de cartazes, sobretudo em locais inapropriados. A segunda: até agora os concorrentes já prometeram de tudo menos cerveja. Por acaso faz algum sentido, tendo fé de que não se promete um dado adquirido.

 

Sobre a primeira observação, cito, em jeito de amostra do incómodo, o que duas crianças de onze e nove anos disseram na manhã do primeiro dia de campanha: “Meu deus a que horas sujaram a cidade? Oxalá que quem tenha feito isto seja também rápido a limpar”. Em seguida, a outra criança acrescentaria: “O importante é que quem tenha feito isso não suje nunca a cidade”.

 

No que tange (risos) a segunda observação, a de que nesta campanha tudo está a ser prometido menos cerveja, não será de admirar se alguém concluir que a avaliar a quantidade holística das promessas, este país (simbolizado pelas autarquias em pleito) não existe. Caso exista, provavelmente seja no quadro dos efeitos do que não se promete.

 

Seguramente que num país nestas condições o mais provável, depois da data de votação, é a ocorrência de uma amnésia total e completa quer por parte dos que prometem quer por parte dos prometidos. Na verdade, a urna do voto, que deveria simbolizar o pacto entre eles, acaba por ser o túmulo das promessas.  

 

Para a posteridade, e desta vez com alguma serventia – a do tipo o crime deixa sempre rastos - fica o lixo estético a sinalizar responsabilidades, cabendo aos (com)prometidos agir. Mas lá está: alguém sóbrio nessa altura?  Ou caberá aos petizes citados? Se sim, ainda ter-se-á que aguardar por alguns pleitos eleitorais. 

 

Nando Menete publica às segundas-feiras.

Pág. 5 de 23