Na semana passada, Filipe Nyusi disse uma verdade nua e crua: as redes sociais estão a ser usadas para propalar o boato e a mentira sobre a guerra. E tocou na ferida: meios dão eco a essa vaga manipulação. Mas em face à crítica, metemos a cabeça na areia. E nosso corporativismo, assente em falsas uniões, ao invés de discutir abertamente o problema, barrica-se numa defensiva com fundações de barro.
Nyusi centrou a guerra e o boato vigente sobre suas incidências. Dizia alguém nos anos 90 que na guerra a verdade era a primeira vítima, imagine-se hoje no advento das redes sociais em que qualquer um produz seu noticiário donde quer que esteja. E pior no caso de Moçambique, em que temos jornais digitais registados não sei aonde, que sobrevivem do plágio e da fofoca (sem que ninguém lhes caia cima), da pura invenção, muitas vezes visando figuras inocentes, reclamando para si o epíteto de investigativos, quando não passam de pasquins chantagistas.
Na semana passada, um jornaleco digital inventou que a Etiópia recusara a mediação da Joaquim Chissano alegadamente porque o Governo de Adis considerava o antigo Presidente como sendo um “senhor da guerra”. O jornaleco dizia mundos e fundos sem nexo sobre Chissano. Imagino como terá ficado o homem. Mas a mentira permanece ainda “on line”; quanto mais lida mais visibilidade para o pasquim.
Nyusi tocou numa ferida. A comunicação social e algumas organizações da sociedade civil repudiaram, como se o Presidente tivesse extravasado seus limites e estivesse numa empreitada injusta contra a liberdade de expressão. Mas não! Aliás, jornais e ONGs que usam ferramentas de jornalismo tornaram-se hoje especialistas na manipulação.
E, nalgumas vezes, substituem-se aos tribunais, condenando em primeira instância, numa espécie de jornalismo sumário, sem direito ao contraditório por parte dos visados. Nem a presunção da inocência vale. O caso das “dívidas ocultas” tem mostrado isso. Quanta gente já foi condenada pelos “media” sem nunca terem sido constituídos arguidos pela Justiça. Vimos recentemente aquando da remissão pela PGR do processo autónomo das “Dívidas Ocultas”. Alguém reparou que no exercício de adivinhação de quem constava no processo algumas pessoas, nunca ouvidas em sede de justiça, foram arroladas por jornais e ONGs como suspeitos?
O retrato de Nyusi sobre Media, Redes Sociais e Manipulação com enfoque sobre a guerra pode ser extrapolado para todo o espectro da sociedade. E a melhor resposta de todos seria abraçarmos o debate. Por exemplo, há uma dimensão ética perdida no jornalismo. O que fazer? As redes sociais são um antro de manipulação usada por gente sem rosto, escondido no anonimato. Como regular? Como penalizar o plágio e a calunia na arena digital? Que papel para o muito caladinho Conselho Superior da Comunicação Social (que poderes de regulação com salvaguarda da liberdade de expressão?).
É fácil reagir atacando o Presidente. Mas precisamos de enxergar longe, fora da caixa, e fazer a autocrítica. Vamos debater?