Não sei se a RENAMO sabe, mas, desde que o Comité Central da FRELIMO terminou, Filipe Nyusi e o seu partido estão em pré-campanha eleitoral. Não sei se Ossufo Momade já se apercebeu disso. Não sei se os assessores políticos da RENAMO estão a ver isso.
Quer queiramos quer não, Filipe Nyusi está a fazer um trabalho de "limpeza" bastante sério e de alta qualidade, dentro e fora do partido. Agora Nyusi anda com tesoura dele no bolso para inaugurar tudo o que lhe aparecer pela frente. E coisa para inaugurar é o que não falta neste país. Agora Nyusi anda em encontros nas bases, ora com membros do seu partido, ora com jovens alheios. A isto chama-se pré-campanha eleitoral. Uma pré-campanha ao nível de quem está no poder aproveitando as oportunidades que tem como Chefe de Estado em exercício. As vezes a barganhar.
Enquanto isso, Ossufo Momade ainda está no mato a discutir com os seus próprios militares. Não sabe onde começa nem onde termina a sua casa. Não conhece que tipo vassoura deve comprar, pois não sabe que tipo de terreno é o seu. Ossufo Momade ainda não sabe se o soalho da casa que acabou de adquirir é de mosaico ou parquet.
A RENAMO continua a cair na mesma estratégia de distração perpetrada pelo seu adversário em períodos eleitorais. Agora a RENAMO está preocupada em provar que não está em crise, que o seu líder está muito feliz lá no mato onde vive e não fuzilou ninguém. A RENAMO continua a mesma: distraída e distraidora.
Faltam apenas três meses para as derradeiras eleições e Ossufo Momade ainda não mostrou a cara. Ossufo pensa que é Dhlakama. Diz que só vai sair do mato, se as condições de segurança para a sua livre circulação forem criadas. Ele pensa que vai ser emboscado também como Dhlakama. Não sei como é que a RENAMO vai promover a imagem de Ossufo Momade nas bases em tão pouco tempo. É que nem os eleitores tradicionais da RENAMO conhecem está figura.
Talvez seja importante recordar a OPOSIÇÃO toda que este ano vão votar jovens que nas últimas eleições tinham catorze anos. Não conhecem ninguém. Não têm compromissos históricos. Querem conhecer o perfil de quem vão votar. São muito difíceis esses jovens.
Continuem se fazendo de chiques, Nyusi já está na moda. Ele tem noção da sujeira que tem que limpar e antecipou-se. Sabe que a marcha é longa e começou cedo.
- Co'licença!
Então, podemos assumir de uma vez por todas que este truque de cuspir sobre a imagem do adversário faz mesmo parte do marketing político nacional. Que ser Assessor Político de um partido ou candidato, de manhã, e Analista Político "imparcial", a noite, é normal. Que é eticamente aceitável viajar na comitiva do candidato do "governo do dia", como seu estratega, hoje, e ser convidado a falar da vida do candidato da oposição, como cientista político, amanhã.
É que desde os primórdios tempos dos Gê-40 Seniores tenho estado a assistir este fenómeno por aqui - gastar tempo e dinheiro cuspindo sobre a imagem do adversário em forma de análise. Parece que a cena funciona assim: Se não consegue limpar a bota do seu patrão, então suja a bota do adversário. Ou seja, se a bota do boss está tão suja que não dá para limpar, então procure a bota do adversário do seu patrão e cague nela. Se não consegue puxar o saco de quem paga, então encontre o saco do adversário e rasgue.
Podemos, então, apelidar este serviço inovador de "cuspe-botismo". Uma espécie de aplicativo do lambe-botismo moderno exacerbado. Um kiwismo tecnologicamente muito avançado. É como se fosse um Android na escova.
Foi isto que vimos há uns dias numa dessas tê-vês da praça: um "cuspe-bota" que foi à uma televisão, pura e simplesmente, para cuspir ranho-com-escarro ao adversário do patrão. Assim tipo um cientista contratado por um certo partido para fazer análises profundas e promover a sua boa imagem ir a imprensa para "desanalisar" a saúde do partido adversário, num momento em que o seu próprio partido também necessita de análises muito mais profundas, sérias e urgentes. O truque agora é emiscuir-se e desdenhar o adversário. Fofocar boatos com base em rumores.
Parece que o "cuspe-bota" tem de nascer com o cérebro no talhão do intestino grosso. A criatividade destes jovens - quando o assunto é comer mahala - não val'apena... Nem dá para acreditar que o seu DUAT encefálico está correcto. É muita criatividade, gente!
- Co'licença!
- Ahhh, porque Dinho parou de cantar de repente sem dar explicações enquanto nós ainda gostavamos das suas músicas;
- Ahhh, porque Dinho deu um espetáculo no pavilhão da Maxaquene e não ficou cheio por causa do preço alto do bilhete;
- Ahhh, porque Dinho fez um vídeo-clip com a camisa desabotoada e calções curtos na praia;
- Ahhh, porque Dinho é desafinado;
- Ahhh, porque Dinho fez um vídeo-clip nas dunas;
- Ahhh, porque nos vídeos de Dinho apareciam mulheres semi-nuas;
- Ahhh, porque quando Dinho ganhou disco de platina não veio agradecer publicamente;
- Ahhh, porque Dinho não conseguiu gerir a sua própria "leibol";
- Ahhh, porque Dinho abriu uma loja de roupa de grife que não dá lucro;
- Ahhh, porque Dinho teve problemas com a Neyma, a nossa diva da marrabenta, e não pediu desculpas publicamente;
- Ahhh, porque Dinho nunca apareceu no "feicibuki" a defender uma ideia, a participar duma manifestação ou campanha de limpeza;
- Ahhh, porque Dinho e PODEMOS não têm expressão;
- Ahhh, porque Dinho etecetera;
- Porque etecetera e;
- Etecetera.
POR ISSO MESMO, quem deve se candidatar é o "Indivíduo-Quê", aquele do relatório codificado da Kroll.
- Ai sim?! Mas por quê?
- Ahhh, porque esse tem capital político.
O problema não é o Dinho-Eks-Esse. O problema somos nós que pensamos que PODEMOS mudar sem fazer diferente. Não é o Dinho que precisa de capital político para se candidatar, somos nós que precisamos desse famigerado "capital político" para sermos cidadãos. Somos nós que NÃO-PODEMOS!
- Co'licença!
Estamos a viver num país de apelidos. Todos nós já fomos mapeados. Existem apelidos destinados a serem empresários ("de sucesso") e políticos e outros amaldiçoados a serem pobres para toda a vida. Há uma nova linhagem de apelidos sortudos a serem puxa-sacos.
O problema de Dinho-Eks-Esse foi ter levado à política nacional um apelido estranho: Mendonça. Ou seja, o problema não é o Dinho. O problema somos nós. Nascemos assim. Fomos formatados a colocar cada apelido no seu ramo e Mendonça não é para a política.
Um Mendonça não é presidenciavel. Presidenciavel é Machel. É Machungo. É Chissano. É Guebuza. É Mucumbi. É Sumbana. É Pachinuapa. Não é por acaso que somos estrangeiros no nosso próprio país. É que não somos os donos disto. Os donos são os presidenciaveis congênitos. Os que já nasceram com capital político. Os que podem fazer e desfazer a seu bel-prazer. Os que podem roubar e andar impunes. Os que podem ficar ricos sem motivo.
Seriamente falando, se Dinho-Eks-Esse fosse filho de Chipande não receberia tantas farpas. Se a notícia fosse "Dinho já se inscreveu no curso de canto e afinação vocal do professor Mahel" íamos dizer que era o esperado. É normal! Infelizmente, a democracia ainda tem um longo caminho por aqui.
- Co'licença!
Independentemente de quem seja o progenitor da iniciativa de tirar o cota Gamito do Cê-Cê, ela é bem-vinda. Não interessa se o que pesou foi mesmo a idade ou a sua consciência, mas a verdade é que a saída do camarada Gamito é bom para ele próprio, para a sua família, para o cidadão-comum, enfim, para todos. Não há alma que aguente tamanha sujeira! A cara-de-pau tem limites!
Nunca é tarde para tomar uma decisão acertada. De resto, como todos sabem, o camarada "demissionário" não tem um currículo de gestão institucional que se orgulhe. Ocupou - sim - posições de fazer inveja a qualquer mortal, mas os resultados das suas decisões foram sempre e cada vez mais desastrosos. Provavelmente, uma luz lhe tenha iluminado e convencido de que a melhor instituição que ele pode gerir sem criar falência é a sua casa mesmo. E eu o congratulo por isso!
Agora, se essa moda de pesos (de idade ou de consciência) pegasse por aqui seria muito bom. Acho que o doutor Gamito podia abrir uma escola onde pudesse ensinar "demissiologia" e convidasse os seus camaradas a se inscreverem. Seria bom se mais dirigentes tivessem a sensibilidade de sentir o peso da sua idade ou da sua consciência. Seria bom se mais governantes soubessem ouvir a voz da idade ou da consciência. Seria bom se mais chefes pudessem reconhecer a quantidade da água turva que metem e dessem um "basta!". Seria bom se mais pessoas descobrissem que o melhor que podem fazer para a sociedade é ficarem em casa a contarem os vincos dos seus sacos. Seria muito bom mesmo!
Dizia, felicito o camarada Gamito pela demissão. Demorada, mas oportuna. Saudades?... Não vamos sentir!
- Co'licença!
Está declaração de nulidade das dívidas ocultas é, na verdade, uma certidão de óbito do nosso Estado de Direito. É a confirmação da autópsia de um corpo decomposto cuja morte ocorreu há cinco anos. É o laudo médico sobre o verdadeiro estado da nação. Devíamos ter vergonha!
Esta declaração da morte encefálica do Estado não é do Cê-Cê, como se diz, é da vida. É a vida passando um atestado de incompetência ao Cê-Cê, em particular, e ao poder judiciário, no geral. Não há outro resultado possível neste momento. Os juízes do Cê-Cê não tinham outra saída senão aceitar a realidade. E a realidade é [foi e sempre será] esta: as dívidas ocultas são ilegais e inconstitucionais, pelo que, o seu peso sobre o Estado deve ser nulo. E ponto final! Mesmo no Marte, no Júpiter ou mesmo na Lua seria assim. Não é uma decisão do livre arbítrio de "Gamito and friends". Não! O Cê-Cê nada fez senão aceitar uma realidade "infugível".
Não vejo mérito algum em alguém dizer que as dívidas ilegais, afinal de contas, são ilegais mesmo. Não vejo motivo de celebração quando alguém diz que este calote da dívida é uma bolada privada. Não precisava levar meia-década para chegar a esta conclusão. Esteve sempre claro. Nem era necessário sujarmos a imagem do país por causa disso. Se o Estado fosse actuante e proativo, estas dívidas nem deviam ser conversa. Seria assunto de malta Chang, Boustani, Subeva, Nhangumele, Ndambi, Bruno, Inês, Ntumuke, Leão e companhia.
Estas dívidas já nasceram ocultas, ilegais e inconstitucionais. Não precisa declarar isso com pompa. Se o legislativo, o judiciário e o executivo tivessem um pouquinho de tino, hoje nem estaríamos a falar mais delas. Nem o barulho da sociedade civil e dos parceiros de cooperação seria necessário. Essas dívidas podiam ter sido um aborto natural sem mazelas para o país.
Assim, talvez o mais importante hoje é saber que poder esta declaração tem sobre a imagem de Moçambique. Ou seja, o que muda daqui em diante? Como é que o mundo vai reagir? Melhora alguma coisa nas nossas relações com o Efe-Eme-I e outros parceiros de cooperação? Quais são os próximos passos? É sério ou é apenas um teatro eleitoralista? Etecetera, etecetera.
Sem sombra de dúvidas, esta é uma vitória alcançada: a vitória do povo contra os Changs desta vida. A vitória do povo contra um sistema corrupto que a todo custo se tenta instalar. Mas, por favor, não devemos saudar aqueles juízes. Aqueles cotas nada fizeram. Eu não rendo com eles! Foram cinco anos de trabalho e um molho de páginas para escrever simplesmente que "nós não vamos pagar as dívidas ocultas!". Ninguém merece! Mas prontos, num país em que as pessoas já não sabem mais chorar, nem a fingir, só podemos exaltar mesmo.
- Co'licença!