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Até ao momento (por enquanto), o impacto da epidemia na África ao sul do Saara não se deve a caos e mortes provenientes do COVID-19, mas às medidas restritivas introduzidas para controlar a infecção.


Massacre, apocalipse e carnificina são agora palavras comuns para descrever o impacto esperado do COVID-19 na África subsaariana. O jornalismo mais actual utiliza esses termos para electrificar os seus leitores. As razões para essas previsões são intuitivas: pobreza, megalópoles feitas de bairros de caniço, alta prevalência de HIV na população, fragilidade dos sistemas sanitários; e é apenas uma parte da lista. A receita para a catástrofe está pronta para ser servida, basta aguardar a chegada do fósforo (o vírus) e observar o fogo: tudo à sua volta irá queimar.


O SARS–CoV–2 responsável pelo COVID-19, a diferença do coronavirus do SARS e MERS, chegou à África subsaariana e agora temos alguns números que nos permitem algumas observações. Desde do dia 13 de Março recolhi do site worldometers.info/coronavirus/ os dados relativos à região africana ao sul do Saara (na qual se inserem também algumas ilhas do Oceano Índico, para além do Madagáscar), Os dados – casos, óbitos e testes realizados para o COVID-19 – foram recolhidos às 7 horas da manhã, hora italiana. A actualização mais recente é de 12.04.2020.

 

 

Os casos de COVID na África subsaariana passaram de 37 para 7.968, os óbitos (que apareceram no dia 22 de Março) passaram de 6 para 179. Transformadas em taxas de incidência e mortalidade específicas e referentes à população subcontinental global, aproximadamente de 1 bilhão, são 8 casos por milhão e 0,2 mortes por milhão. As taxas globais de notificações são 228 por milhão e 14 por milhão, respectivamente. O país mais afectado neste momento (Espanha) regista 3.500 e 355 por milhão, respectivamente.

 

A África subsaariana regista abaixo de 1% dos casos registados no mundo: 0,45% dos casos e 0,16% das mortes. A taxa de mortalidade dos casos africanos é estável em torno de 2%. De 27 de Março até hoje, o aumento médio de casos (incluindo óbitos) foi de 370 casos/dia, com flutuações significativas. Dentro do subcontinente, surgiram com maiores notificações os seguintes países que mantiveram a sua posição (levantamento de 12 de Abril):

 

África do Sul = 2.028

 

Camarões = 820

 

Costa do Marfim = 533

 

Níger = 491

 

Burkina Faso = 484

 

Gana = 408

 

… todos os outros registaram menos de 400 casos.

 

Os grupos de óbitos foram localizados da seguinte maneira:

 

Burkina Faso = 27

 

África do Sul = 25

 

RDC (República Democrática do Congo, Congo-Kinshasa) = 20

 

Camarões = 12

 

Níger = 11

 

… todos os outros menos de 10 óbitos.

 

Cerca de 15 países – alguns com grandes faixas populacionais como Uganda e Moçambique – ainda não relataram óbitos.

 

Existe uma conclusão após esta apresentação? Apenas a seguinte: a capacidade destes números de reflectir a tendência real da pandemia na África ao sul do Saara é extremamente duvidosa. Este problema reflecte a fraqueza dos sistemas de informação de quase todo o subcontinente, concretamente a sua baixa cobertura e qualidade. Eles são limitados principalmente – talvez com exepção de África do Sul e, ao que parece, de Gana e Maurícias, pela rede de laboratórios capaz de realizar o teste para o COVID-19, actualmente instalada sobretudo nas capitais (na RDC, 80 milhões de habitantes, o único laboratório encontra-se em Kinshasa e o envio de amostras provenientes das províncias encontra dificuldades insuperáveis; a mesma situação repete-se em todos os grandes países). Os países também são limitados pela disponibilidade de reagentes e pela eficiência dos laboratórios (número de testes realizados por dia). Com estas premissas, a subnotificação está garantida.   

 

O verdadeiro problema é que não temos uma ideia do nível de subnotificação, ou seja, dos casos clínicos reais (incluindo óbitos) nem do número de portadores assintomáticos. Podemos apenas afirmar que, de acordo com os dados oficiais – após um mês de propagação – a pandemia não está na África ao sul do Saara de magnitude comparável àquela vivida em pontos quentes (China, Irão, União Europeia, e EUA). A título de exemplo, os dados do subcontinente em números absolutos (e não em taxas, que são enormemente menores) correspondem a dados de pequenos países como Noruega ou Irlanda, que têm populações em tornos dos 5 milhões de habitantes e encontram-se pouco afectados pela pandemia em relação à média da UE. 

 

A interpretação de tudo isto deve ser procurada em três factores: 

 

  • Grave subnotificação;
  • Desenvolvimento mais lento da epidemia;
  • Menor incidência “real” de óbitos em comparação com outras áreas do planeta, pela mesma duração da epidemia, devido à peculiaridade do contexto africano. 

Não sabemos se haverá uma melhoria na notificação ao longo do tempo, por exemplo, aumentando a disponibilidade dos testes, a rede de laboratórios e a logística. Somente neste caso os dados oficiais começarão a sua lenta marcha para se aproximar da realidade. No entanto, a experiência da UE mostra que, mesmo com sistemas de informação testados, os dados oficiais são controversos devido à baixa padronização. É prudente supor que por muito tempo haverá uma forte lacuna entre os dados oficiais e a situação real da pandemia. Todos os cenários permanecem, abertos, sem uma resposta clara. Não é possível basear esperanças nesses números, mas também não podemos enunciar catástrofes com tranquila serenidade.

 

No entanto existem reflexões que podem ignorar os números.

 

1. A lista de factores de protecção e de factores desfavoráveis para os povos do subcontinente perante o COVID-19 é longa e apenas parcialmente conhecida. Temos a favor: estrutura demográfica caracterizada por uma população jovem menos exposta a formas graves de infecção, a dispersão do território e a baixa mobilidade de uma boa percentagem de habitantes, factores ambientais como temperatura, humidade e radiação UV (possíveis factores) entre outros por enquanto, factores especulativos ou a serem pesquisados, como a constituição genética, imunização cruzada, papel do BCG, etc. Temos contra: a desnutrição ainda generalizada, cerca de 25 milhões de pessoas com HIV+, metade das quais não são tratadas, a fraqueza dos sistemas sanitários, a enorme densidade populacional e as condições de degradação dos bairros de caniço – só se pense na água! Isto sem mencionar os milhões de africanos que vivem em campos de refugiados ou em condições precárias devido a conflitos. Ninguém sabe como essa combinação de factores se apresentará. O número de casos e as mortes nos dirão quando a epidemia se vai tornar visível. Agora não é.

 

2. Convém ter muito cuidado com as previsões apocalípticas. Por duas vezes foram decretadas antecipadamente as últimas palavras para a África subsaariana: por ocasião da crise do SIDA, nas décadas de 80 e 90 e, mais recentemente, por ocasião da crise do Ébola, na África Ocidental. Quem se lembra, sabe que também de fontes oficiais foram espalhados números grosseiros, que não foram confirmados pelos factos. O continente não se desintegrou após ter encarado esses desafios; alguns países realmente mostraram uma capacidade de ressurgimento surpreendente (o caso do Ruanda). No que diz respeito ao SIDA, os números sofreram com o tempo uma diminuição em comparação com as projecções iniciais, talvez ditadas na época por excessivo zelo de advocacia e de indústria de ajuda humanitária. O SIDA continua sendo um fardo imenso para vários países africanos. Porém, cargas mais sérias e muitas vezes mantidas em silêncio para esses mesmos países são a dívida, a corrupção, o conflito armado, o crime organizado internacional, a inadequação das elites e o seu conluio com as multinacionais e os traficantes dos países ricos.

 

3. Numa fase de escuridão sobre o curso da epidemia, não devemos confiar apenas em números oficiais ou em pesquisas epidemiológicas no terreno. Neste momento, não parecem praticáveis, por mais preciosos que sejam. Até o jornalismo – o real – pode trazer elementos úteis. Por exemplo, uma morte por insuficiência respiratória por COVID-19 é um evento muito dramático. Assustador para o paciente e insustentável para os membros da família. Um aumento sensacional de “mortes respiratórias agudas” com as características que vimos na Região Lombardia, da Itália – pense-se no Hospital de Bérgamo – seria imediatamente detectado pela população (vítima) e pela comunicação social. No momento em que escrevia estas notas, não havia notícia de grupos de casos semelhantes, nem mesmo nas megacidades de Lagos, Kinshasa e Luanda. Resta ver se o mesmo raciocínio é válido nas áreas periféricas e rurais, de onde a informação chega com maior dificuldade; ou pode ser ocultada por razões políticas.

 

4. Também devemos recolher informações a partir dos contactos pessoais que mantemos no subcontinente: ocidentais que decidiram ficar e africanos com quem dialogamos na web por amizade e por razões profissionais. Esses são geralmente pessoas que estão no terreno com grandes capacidades de visão e análise, mesmo quando o seu horizonte é limitado aos contextos locais.

 

5. Até ao momento (até quando?), o impacto da epidemia em África ao sul do Saara não se deve a casos e mortes por COVID-19, mas às medidas restritivas introduzidas para controlar a infecção. Estas medidas caíram por cima de uma população que em 30% acorda de manhã diante da incerteza de poder comer ao longo do dia. Neste momento essa população vive sob grande stress, porque de um dia para outro a sua subsistência, a qual requer grande mobilidade, vem a ser questionada mais do que por medo de uma doença desconhecida, pela transmissão insidiosa e que se confunde com as outras. O mal-estar popular é, na verdade, aumentado por esse sentimento de imprecisão do quadro mórbido, pela elevada e aventada mortalidade, que no entanto agora ocorre nos países ricos; bem como pelo repentino alastramento deste problema. O perigo é que esse mal-estar exploda em formas de rebelião diante dos poderes públicos sem credibilidade, levando a formas de convulsões e rupturas sociais muito mais letais que o COVID.

 

6.  As classes dominantes africanas, também sob forte pressão das elites urbanas (das quais fazem parte), assumiram completamente o modelo do norte do mundo para a gestão das crises, com base em medidas restritivas de intensidade gradual até o chamado bloqueio de nível 4 (África do Sul). Mas não está claro se elas avaliaram devidamente os custos sociais dessa pressão e a capacidade real de impor tudo isso, bem como a capacidade dos governos de ajudar as pessoas pobres que deveriam ficar trancadas nas suas casas aguardando que a tempestade passe. Elas também aceitaram com escasso sentido crítico a “lógica” desse modelo: retardar a progressão da epidemia para não sobrecarregar o sistema sanitário. Mas na África ao sul do Saara não existe nenhum sistema curativo capaz de lidar com uma onda de cheias de insuficiências respiratórias agudas. Como e mais do que na Europa – onde actualmente, por falta de recursos, os pacientes a serem intubados são seleccionados de acordo com as probabilidades de sucesso – qualquer pressão epidêmica terá que ser enfrentada com o atendimento domiciliar sob um regime supervisionado de automedicação. Apenas uma parte dos pacientes se beneficiará de hospitalizações prudentes, causadas por infecções e complicações de grau médio que podem ser tratadas com medidas simples de suporte. Quanto aos casos graves de pneumonia intersticial – não resta mais que o uso explícito de cuidados paliativos (sedação profunda). Não há espaço no subcontinente para a introdução massiva e a curto prazo de ventiladores e assistência respiratória invasiva. Um país como Moçambique, e não é o pior cenário, tem 34 camas de reanimação para mais de 30 milhões de habitantes. A Itália, e é um dos países que enfrenta maior dificuldade na UE, possui cerca de 5.000 para uma população dupla… isto é, possui 73 vezes maior disponibilidade desse recurso. No entanto, os melhores hospitais italianos foram esmagados pela pressão dos casos do COVID.

 

7. Infelizmente, a crise do COVID-19 oferece oportunidades para retrospectivas políticas. Algumas elites africanas – como no nosso hemisfério o Senhor Viktor Orbán – saudaram com júbilo alguns modelos restritivos, porque viram a possibilidade de combinar medidas de saúde pública com a mordaça à oposição e à sociedade civil. Pense-se na questão da “divulgação de notícias falsas”. Em contextos autoritários e de democracia de fachada, é relativamente fácil transformar uma recomendação ético-profissional para os jornalistas com medidas de censura e repressão para pessoas, grupos e movimentos incómodos. E ainda mais para além do âmbito do COVID-19.

 

8. Em vez de impor modelos, é melhor deixar ao povo africano e a aqueles que os representam o caminho para enfrentar – com o pragmatismo, os compromissos, a criatividade e a formidável resiliência que demonstraram noutros momentos – este desafio. O relativo “atraso” de muitas sociedades africanas (maior vínculo com a terra, menor dependência de tecnologia e especialização, etc.) pode ser um ponto forte nesta circunstância. Pelo menos 90% dos cidadãos da UE passariam fome se não houvesse supermercados abertos a algumas centenas de metros de casa, apenas para dar um exemplo. Onde a ajuda é possível em pouco tempo, isso é para melhorar o diagnóstico para entender o que realmente está acontecendo e proteger a equipa local, escassa e preciosa. Se o pessoal sanitário chegar a ser dizimado pela epidemia por mortes e absenteísmo, criar-se-á um círculo vicioso sem retorno. Mais tarde, poder-se-á dar uma ajuda na linha de frente e fortalecer as fileiras daqueles que prestam assistência. Mais do que a ajuda ao nível sanitário, que provavelmente será contratada após a futura recessão, a África ao sul do Saara precisará de ajuda indirecta sob forma de cancelamento de dívidas ou de novas regulamentações comerciais internacionais, que possam proteger a sua capacidade de produção e exportação.

 

9. Finalmente, mesmo com base na experiência italiana, não podemos esquecer a mortalidade indirecta proveniente do COVID-19. Entre nós, tumores, ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais não fizeram greve de protesta por causa da chegada do vírus da cidade de Wuhan. Pelo contrário, eles são encarados em condições mais difíceis e com padrões não aceitáveis noutros tempos, desde a programação dos tempos de realização até aos procedimentos. Muitas vezes, com frustrações e dilemas morais para profissionais da saúde. Na África subsaariana o risco é de que a nova emergência absorva para si mesma todos os tipos de recursos de patologias de alta mortalidade, e – diferentemente do coronavirus – facilmente objecto de tratamento e parcialmente evitáveis: malária, infecções bacterianas, tuberculose, SIDA, patologia obstétrica, doenças evitáveis pela vacinação… Isto significa que qualquer “ajuda” – se e quando pode ser dada com os tempos difíceis à frente – deve ser dirigida para o sistema como um todo e não principalmente para a mão de ferro com o COVID. Esta, pelo menos até quando não irão chegar remédios e vacinas, vamos deixá-lo aos africanos. É bem mais robusta que a nossa.


Agradeço Maurizio Murru, Sandro Colombo, Claudio Beltramello e Marcello Vettorazzi pelas críticas e sugestões, que fiz minhas integrando-as no texto.

 

*Médico-Psiquiatria de Piacenza (Itália), que trabalhou em Moçambique nas décadas de 80 e 90. O texto foi publicado originalmente na revista Salute Internazionale (https://www.saluteinternazionale.info/2020/04/apocalisse-a-sud-del-sahara/).
Os dados estavam actuais até 14 de Abril.

Não houve registo de nenhum caso positivo de infecção pela pandemia do novo coronavírus de domingo para segunda-feira, segundo garantiu, esta segunda-feira, a Directora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, falando em mais uma conferência de imprensa de actualização dos dados sobre a doença no país e no mundo.

 

Segundo Marlene, de domingo para segunda-feira, o Instituto Nacional de Saúde (INS) testou 69 indivíduos e nenhum deles deu positivo, o que manteve em 39, o número total de infectados pela doença no país, sendo que oito são dados como recuperados. No conjunto, as autoridades da saúde já submeteram ao teste 1.110 pessoas suspeitas de ter a doença.

 

Questionado sobre o período de notificação dos pacientes, quando aos resultados dos testes de Covid-19, o Director-adjunto do INS disse: “primeiro, é que estamos no momento de emergência e, nesta situação, os procedimentos precisam ser mais rápidos, porque cada resultado informa uma decisão e, por causa disso, exige-se que sejam utilizados mecanismos mais rápidos e o INS tem estado a trabalhar com as autoridades de saúde locais e o que acontece é que não temos contacto directo com os pacientes e os resultados são enviados por email para esses locais”, explicou. (Marta Afonso)

Já está definido o montante necessário para a execução das acções prioritárias elencadas pelo Governo, no âmbito da resposta e mitigação dos impactos causados pela pandemia da Covid-19, que já infectou 39 pessoas, no território nacional. Segundo o Governo, serão necessários 34 mil milhões de Mts, a serem investidos nas medidas de higiene pessoal e colectiva, campanhas de sensibilização comunitária, soluções alternativas para compensar a interrupção do curso normal dos serviços e/ou actividades sócio-económicas vitais, entre outras.

 

O orçamento foi anunciado esta segunda-feira, em Maputo, durante a sessão do Conselho Coordenador do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), na qual foi apresentado o Plano Multissectorial de Resposta e Mitigação dos Impactos da pandemia Covid-19. O encontro tinha objectivo de discutir a situação de emergência no país.

 

De acordo com o Governo, o montante será aplicado em sete sectores, nomeadamente saúde; transportes e comunicações; cultura e turismo; comunicação social; INGC; agricultura e desenvolvimento rural; e educação e desenvolvimento humano. Destes sectores, o da saúde é que irá consumir mais da metade do valor (17.4 mil milhões de Mts), sendo seguido pelos sectores da agricultura e desenvolvimento rural (15.6 mil milhões Mts) e INGC (858.2 milhões de Mts). O sector da educação irá consumir 67.8 milhões de Mts; a comunicação social necessitará de 26.2 milhões de Mts; a cultura e turismo 19.2 milhões de Mts; e os transportes e comunicações 11.6 milhões de Mts.

 

MISAU com défice de 232.6 milhões de USD

 

No Plano divulgado esta segunda-feira, o Ministério da Saúde (MISAU) revela que, dos mais de 17.4 mil milhões de Mts, 10.2 mil milhões de Mts serão aplicados na aquisição de medicamentos (246.2 milhões de Mts), equipamentos (7.4 mil milhões de Mts) e artigos médicos (1.8 mil milhões de Mts); 3.1 mil milhões de Mts no manejo dos casos; 1.8 mil milhões de Mts no apetrechamento dos laboratórios; 1.8 mil milhões em recursos humanos (pessoal suplementar e subsídios de emergência); 271 milhões de Mts na vigilância; 63 milhões em advocacia, comunicação e envolvimento comunitário; e 30 milhões de Mts nas despesas com água, saneamento e higiene.

 

Entretanto, dos 17.4 mil milhões de Mts, equivalentes a 260.7 milhões de USD, o MISAU só tem disponível 28 milhões de USD, havendo um défice de 232.6 milhões de USD. Porém, foi prometido mais de 73.7 milhões de USD.

 

De acordo com o documento apresentado ontem, as autoridades da saúde esperam, num período de seis meses, um total de 20 milhões de infectados, no território nacional, sendo que 350 mil estarão hospitalizados (40 mil na Unidade de Cuidados Intensivos).

 

Para atender à demanda, o MISAU espera criar 15 Centros de Isolamento (CI), com um total de três mil camas. Garante que irá criar quatro equipas de 24 profissionais, que irão trabalhar em turnos de oito horas. Refere ainda que por cada quatro camas, na Unidade de Cuidados Intensivos, haverá um médico, enquanto cada enfermeiro só poderá atender até três camas. Ou seja, o MISAU espera alocar 10 mil médicos nas Unidades de Cuidados Intensivos e mais de 13 mil enfermeiros.

 

O MISAU avança ainda que irá contratar mais de 2.000 profissionais de saúde e 2.200 agentes polivalentes elementares de saúde; adquirir duas tendas por cada unidade sanitária, das 1674 unidades sanitárias planificadas para atender casos de Covid-19; instalar tendas comunitárias para triagem; e adquirir duas ambulâncias por província.

 

MADER prepara Fundo de importação de sementes

 

Já o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER) afirma que os 15.6 mil milhões de Mts serão investidos em sete acções prioritárias, nomeadamente, o estabelecimento de um Fundo de importação de sementes (12 mil milhões); Fundo de comercialização (3 mil milhões); compra da semente produzida em Moçambique (540 milhões); subsídio a máscaras aos trabalhadores do sector da agricultura (37.5 milhões); realizar uma avaliação nacional Pós-Covid -19 da situação de situação de segurança alimentar e nutricional dos agregados familiares (35 milhões); distribuição de máscaras aos funcionários do MADER (1.4 milhão); e realizar estudo piloto da situação de segurança alimentar nos agregados familiares das Cidades de Maputo e Matola, face às medidas de prevenção da Covid-19 (100 mil).

 

Por seu turno, o INGC afirma que irá aplicar os 858.2 milhões de Mts em quatro acções prioritárias, a saber: reforçar as medidas de higiene pessoal e colectiva (educação e promoção da lavagem adequada das mãos, desinfecção de superfícies, de barcos, bancos, coletes salva-vidas, corrimões e maçanetas) nos terminais de passageiros, no valor de 541.4 milhões de Mts; garantir assistência alimentar aos grupos vulneráveis e doentes (266.5 milhões); garantir equipamento e meios informáticos audiovisuais para a prossecução da coordenação multissectorial da resposta (48.3 milhões); e intensificar medidas de sensibilização (produção e fixação de cartazes nos autocarros e terminais rodoviários), com 1.9 milhão de Mts. (Carta)

Depois de pouco mais de um mês longe dos holofotes, Eneas Comiche, Presidente do Conselho Autárquico da Cidade de Maputo, falou, esta segunda-feira, pela primeira vez, à imprensa. Na verdade, tratou-se de uma comunicação aos munícipes da capital do país e, para variar, sem espaço para qualquer pergunta, facto que deixou atónitos os jornalistas que acorreram em massa ao Salão Nobre do Conselho Autárquico de Maputo.

 

Visivelmente abatido e com o semblante carregado, Eneas Comiche entrou para o salão acompanhado pela sua esposa, Lúcia Comiche. Para além dos jornalistas, estavam, igualmente, na sala vereadores e os seus assessores.

 

A comunicação veio, em concreto, confirmar o que há muito se sabia. Que ele foi o primeiro cidadão moçambicano infectado pela Covid-19 no território nacional. Para além dele próprio, o edil da capital disse que apenas infectou a sua esposa.

 

“Fico feliz em saber que, para além da minha mulher, não infectei ninguém”, disse Eneas Comiche, que usou as objectivas dos jornalistas para, de forma directa, pedir desculpas à sua esposa por tê-la infectado com Covid-19 e agradecer a sua família pelo apoio e carinho, bem como ao pessoal médico.

 

Mas, mais curioso, mesmo, foram as explicações de Eneas Comiche à volta do seu estado de saúde, desde que foi diagnosticado com Covid-19. Aliás, o Mayor da capital do país tratou logo de deixar claro que ele, assim como a sua esposa estavam já recuperados da Covid-19, conhecida pelo seu elevado grau de letalidade.

 

Deficiente comunicação do MISAU sobre o seu estado de saúde

 

E porque o objectivo central da comunicação era mesmo resgatar a sua honra e o bom nome, Eneas Comiche escolheu o ataque como a melhor estratégia de defesa. E o visado foi o Ministério da Saúde (MISAU).

 

Eneas Comiche disse que, depois de regressar de Londres, Reino Unido (meados de Março), submeteu-se a dois testes para Covid-19. Um primeiro no dia 20 e outro no dia 23 Março último. No entanto, ressalvou que só recebeu os resultados nos dias 26 de Março último, 04 e 06 de Abril corrente.

 

“Recebi três resultados positivos, sendo dois em meu nome e um em nome da minha mulher, Lúcia Maria Comiche – (i) o primeiro enviado por email do INS (Instituto Nacional de Saúde) de 26.03.2020, às 17:20h e em formato físico no dia 06.04.2020, cuja colheita foi feita no dia 20.03.2020; (ii) o segundo positivo para Covid-19, recebi por email no dia 04.04.2020, às 14:58h, cuja colheita foi feita no dia 23.03.2020; no dia 06.04.2020 recebi, em formato físico do INS, o resultado positivo relativo à minha mulher, cuja colheita foi feita no dia 23.03.20 enviado novamente por email do INS, recebido no dia 11.04.2020, às 14:58h”, começou por explicar Comiche.

 

Entretanto, as autoridades da saúde anunciaram o primeiro caso de Covid-19 em território nacional no passado dia 22 de Março, depois do Presidente da República, Filipe Nyusi, ter falado, pela primeira vez, à Nação sobre a pandemia, onde, inclusivamente, anunciou o encerramento de escolas e a suspensão de vistos de entrada. Sobre o primeiro caso, as autoridades de saúde avançaram, à data, que se tratava de um cidadão de nacionalidade moçambicana com mais de 75 anos de idade que acusou positivo, depois de ter regressado de Londres, Reino Unido, em meados de Março último.

 

No dia 24 de Março, ou seja, dois dias depois, as autoridades da saúde vieram novamente a público anunciar que o cidadão de mais de 75 anos havia infectado uma mulher de mais de 70 anos, que fazia parte do grupo de 23 contactos com quem o cidadão manteve contacto directo, quando regressou de Londres.

 

Entretanto, ainda na noite do dia 24 de Março, uma ligação telefónica a um canal privado de televisão da praça, praticamente, gelou uma Nação inteira. Do outro lado da linha, estava Lúcia Comiche, esposa de Eneas Comiche, confirmando ser a mulher de mais de 70 anos diagnosticada com Covid-19, anunciada pelas autoridades de saúde.

 

Em meio à onda, por um lado, de reconhecimento ao nobre gesto de Lúcia Comiche por ter publicamente assumido que estava infectada pela Covid-19, e, por outro, condenando o silêncio do cidadão de mais de 75 anos, que, na verdade, era Eneas Comiche, o cerco praticamente havia-se fechado.

 

Aliás, importa de realçar que, no dia 23 de Março, um dia antes de Lúcia Comiche “pôr a boca no trombone” (expressão brasileira que significa denunciar ou revelar algo que não está certo), a edilidade, em contra relógio, por via de uma nota de imprensa, fez saber que Eneas Comiche entrara em quarentena domiciliária voluntária no dia 19 de Março passado.

 

A nota era em resposta às informações que apontavam que o edil de Maputo regressara de um país com casos de Covid-19 e, ainda assim, não se submetera a quarentena domiciliária. Logo após regressar de Londres, Comiche manteve encontros com funcionários do Município de Maputo e também com altos quadros do partido Frelimo e do Estado moçambicano.

 

Eneas Comiche, sabe-se, regressou de Londres no passado dia 11 de Março, onde participara da Cimeira sobre Água e Clima e fechou projectos de desenvolvimento e melhoramento de infra-estruturas do município e do Grande Maputo, no valor de 50 milhões de dólares.

 

Entretanto, em comunicado datado de 27 de Março último, Eneas Comiche avançara que ainda não havia recebido o resultado dos testes à Covid-19, a que ele e sua esposa foram submetidos. Na altura da comunicação, Comiche encontrava-se em bateria de exames no Instituto do Coração.

 

No entanto, importa realçar que, sobre o timing para disponibilização dos resultados do teste da Covid-19, Rosa Marlene, directora Nacional de Saúde Pública, disse, à data, que os mesmos eram disponibilizados em 24 horas.

 

Internamento para tratamento

 

Embora sem precisar as datas, Eneas Comiche avançou que logo que tomou conhecimento do seu estado (infectado pela Covid-19), imediatamente, procurou tratamento médico. Recebeu, tal como disse, cuidados médicos no Instituto do Coração (ICOR), em regime de internamento. Já a sua esposa, anotou Comiche, foi assistida em regime de isolamento domiciliário.

 

“Face a esta situação, submeti-me, de imediato, ao tratamento médico recomendado, tendo eu ficado internado no Instituto do Coração e a minha mulher em isolamento domiciliário”, disse Comiche.

 

“Eu e a minha mulher estamos recuperados”

 

Um outro momento alto da comunicação do edil de Maputo foi quando este anunciou que ele, bem como a sua esposa já estavam recuperados da doença. Comiche encheu os pulmões de ar e anunciou que ele e sua esposa já estavam recuperados e que eram, na verdade, os dois primeiros casos de doentes recuperados, anunciados pelas autoridades sanitárias.

 

O Mayor de Maputo disse que a sua companheira recebeu dois resultados negativos no dia 11 de Abril corrente, sendo um do Instituto Nacional de Saúde (INS) e outro do ICOR, enviado por um laboratório sul-africano.

 

No que respeita a sua situação, Comiche disse que recebeu três resultados negativos “(i) o primeiro do INS, de 04.04.2020, cuja colheita foi feita no dia 02.04.2020; (ii) o segundo do INS, para SARS COVID-19, recebido por email do ICOR, de 07.04.2020, cuja colheita foi feita no dia 04.04.2020 e no mesmo dia 07.04.2020 recebi, através do ICOR; e (iii) o terceiro resultado negativo para SARS-COV-2 PCR, enviado por um laboratório sul-africano”.    

    

“Não é correcto sermos tratados como números”

 

E porque o MISAU não lhe deixou boas memórias voltou a merecer novamente realce na longa comunicação do edil de Maputo.

 

Eneas Comiche dirigiu-se a esta entidade nos seguintes termos: “apelo às estruturas do Ministério da Saúde para um tratamento com qualidade e mais humanizado aos infectados ou afectados pelo Covid-19. Não é correcto sermos tratados como números. Mais X infectados, dos quais Y recuperados, sem informação directa ao interessado e sem uma palavra de aconselhamento. O cidadão testado à Covid-19 tem o direito de ser informado, em primeira mão, dos resultados dos testes realizados”.

 

Em jeito de fecho, Eneas Comiche, em virtude de já estar recuperado, fez saber que vai regressar ao trabalho e com a mesma energia e determinação para o exercício das funções que lhe foram confiadas pelos munícipes de Maputo. (Ilódio Bata)

Os portos moçambicanos e angolanos podem ser um motor para aliviar os impactos da pandemia do novo coronavírus na África Austral, considera a Directora regional do Programa Mundial de Alimentação (PMA) para África Austral e Oceano Índico, Lola Castro.

 

Em entrevista à ONU News, agência de informação das Nações Unidas, Castro apontou os portos de Maputo, Beira e Luanda (Angola) como “importantes para toda a região da África Austral”, neste momento em que o mundo tenta lutar contra a pandemia da Covid-19, sublinhando a necessidade de os mesmos manterem-se abertos.

 

Refira-se que os portos moçambicanos e angolanos são porta de entrada da mercadoria de alguns países do hinterland, com destaque para Malawi, Zâmbia, Zimbabwe e República Democrática do Congo. Todos os países da região austral estão com fronteiras encerradas, no quadro das medidas de prevenção contra o novo coronavírus, que já infectou mais de 2 milhões de pessoas, em todo o mundo, das quais mais de 150 mil já foram declarados óbitos.

 

“A operação na África Austral, neste momento, estava dedicada à alimentação das pessoas atingidas pela seca e também por aqueles ciclones que atingiram Moçambique, como o Idai e o Kenneth, no ano passado. Neste momento, estamos a trabalhar de uma maneira diferente devido à Covid-19. Quando chega à nossa região, a Covid-19 afecta aquelas pessoas que são exactamente vítimas de insegurança alimentar. Tanto nas zonas rurais como nas zonas urbanas”, defendeu a fonte.

 

De acordo com a ONU News, com a transmissão activa do vírus, há grupos que têm merecido atenção, incluindo pacientes de outras enfermidades. Acrescenta ainda haver populações que enfrentam a desnutrição e que foram obrigadas a se movimentar de áreas de origem ou que estão a passar fome, devido ao aumento dos preços dos alimentos, perdas de gado e crescente desemprego.

 

“Especialmente, temos visto, também em Angola, como os refugiados no norte do país têm tido muitos problemas para continuar a sua repatriação para a República Democrática do Congo. Desta maneira, estamos a ver que a Covid-19 está a afectar de uma maneira muito grande países como Moçambique e Angola nesta região”. (Carta)

Apesar da supremacia aérea total, da mobilidade em terra, excelentes comunicações e acesso a equipamento sofisticado - incluindo drones - mercenários russos no Norte de Moçambique acabaram se retirando face a uma terrível força jihadista com raízes somalis. 

 

Um relatório confidencial de um alto funcionário das Nações Unidas que já trabalhou no Afeganistão, no Sudão do Sul e do Norte, no Iemen e noutros países, apontou que a presença dos homens no norte de Moçambique, chamados de Estado Islâmico, é apenas um degrau antes de se tornar totalmente activo no Sul da África.

 

Ele disse que este movimento radical já tem uma forte presença e isso inclui bases de treino militar. O grupo de mercenários russos Wagner empreendeu numerosas acções contra os insurgentes entrincheirados na selva, mas sem sucesso. 

 

Mais complicado ainda foi saber quantos homens são, como conseguem a logística, incluindo armamento e como são capazes de trazer armas - possivelmente incluindo pequenas armas portáteis para ataques aéreos para dentro do país (provavelmente através da Tanzânia) - e como se explica a presença de estrangeiros dentro das suas fileiras. Além disso, não está devidamente explicada a origem da insurgência e como consegue enfrentar o exército moçambicano.

 

Mais ainda, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique operando na região - largamente constituídas por soldados do Sul - são vistas com suspeita pela população da tribo makonde.

 

Há relatos segundo os quais as FADM são mesmo vistas com uma alguma hostilidade. 

 

Da mesma forma, os mercenários russos foram vistos como 'estrangeiros' com intuito de subjugar os nativos à semelhança do que aconteceu com a dominação colonial portuguesa.

 

De acordo com várias fontes em Pemba, mercenários da Wagner foram mortos em emboscadas em Macomia e Muidumbe, não obstante a diplomacia russa ter alegado que não teve conhecimento das baixas. 

 

 

Na fase inicial, as FADM realizaram operações aéreas e terrestres contra bases de insurgentes empurrando-os para o interior, mas os insurgentes retaliaram, lançando ataques contra bases das forças militares, resultando em dezenas de baixas de ambos lados.

 

Com a chegada dos mercenários russos a Moçambique, aumentaram as investidas contra os insurgentes como se fosse uma provocação ao ninho de vespas.

 

Mas antes, o comando mercenário havia alertado o governo de Maputo que as condições no Norte eram "insustentáveis", embora uma fonte credível na África do Sul tenha indicado que houve sérias diferenças entre a estrutura de comando do Grupo Wagner e as FADM na região.

 

Curiosamente, o governo de Moçambique e os russos fizeram pronunciamentos diferentes sobre o papel do Grupo Wagner. Por exemplo, o ministério da Defesa de Moçambique declarou que não sabia de nada sobre o assunto. Contactado pela Carta de Moçambique, o porta-voz do ministério, Custódio Massingue, disse que é uma "novidade" saber que o país recebeu apoio militar russo apesar dos enormes carregamentos de armas e helicópteros que haviam chegado a Nacala por via marítima e aérea.

 

Seja como for, as tensões entre os mercenários do Grupo Wagner e as Forças após várias operações militares Armadas de Defesa de Moçambique e após operações fracassadas também pesaram naquilo que era o objectivo inicial. Consequentemente, as patrulhas no mato foram interrompidas e foi relatado em Pemba, Nacala e noutros pontos do Norte que, aparentemente, houve uma quebra de confiança entre os homens de Moscovo e as FADM. 

 

Não é mais um segredo que o Grupo Wagner considera as Forças Armadas de Defesa de Moçambique não apenas inadequadas, mas mal treinadas, ineficientes e desmotivadas. "Eles simplesmente não estão à altura da tarefa em questão", disse um observador que passou algum tempo na região. Parte do problema que só surgiu recentemente foi o facto de muitos soldados moçambicanos terem tido problemas para serem pagos. 

 

O dinheiro havia sido despachado para o Norte, mas muitas vezes parecia estar nos bolsos dos oficiais ou retido num canto qualquer do país, a 1.000 milhas da capital. Logo depois, todo o contingente do Grupo Wagner - junto com todos os seus meios aéreos - retirou-se do Norte de Moçambique e retornou à sua sede regional em Nacala, uma grande base aérea ao Norte da Beira, onde a força havia desembarcado originalmente. Seguiu-se o raio de segurança montado por toda a área pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

Jornalistas que cobrem a insurgência ou que tentam entrar na área são frequentemente presos e no terreno já foram reportados casos em que não são apenas as forças de segurança de Moçambique que ameaçam alguém que se aproxima do teatro das operações.

 

A cidade de Nacala, a sede da força mercenária em Moçambique, é uma das maiores do Norte e enquanto ainda funcionava como sede operacional, foram daí despachados os russos para três quartéis militares, nomeadamente, em Macomia e Mueda na província de Cabo Delgado.

 

De acordo com John Gartner, um ex-agente das forças especiais da Rodésia e chefe da OAM International - uma empresa militar privada (PMC) que originalmente havia licitado o contrato de segurança, mas perdeu a favor do Grupo Wagner - o exército moçambicano não foi o único culpado; os russos também estavam totalmente "fora de hipótese" no teatro das operações, "apesar de dominar completamente o espaço aéreo", disse ele a um colega.

 

Antes e depois da chegada do Grupo Wagner à África Oriental, o veterano aviador mercenário africano Neall Ellis disse que duvidava que os russos fossem capazes de lidar com o ambiente hostil de Moçambique, no qual os vôos são frequentemente afectados pelo clima, más comunicações e falta de logística básica como combustível, que deve ser transportado por terra numa região onde as emboscadas são frequentes. 

 

A força mercenária russa chegou com muitos equipamentos militares avançados, incluindo helicópteros, drones e veículos de combate de infantaria, mas obviamente sabia pouco sobre as condições reais no campo, disse Ellis. O terreno no Norte de Moçambique tem muitos problemas, acrescentou: "É um tipo de guerra totalmente diferente do que eles experimentaram na Síria ou na Líbia". 

 

 

A percepção imediata de Ellis foi de que os comandantes do grupo mercenário haviam feito muito pouco trabalho de base. "O rio Rovuma também pode ter sido uma nova marca de creme dental". O principal problema que a força mercenária enfrentava era que ela não estava totalmente familiarizada com uma série de características difíceis contra um inimigo completamente familiarizado com as condições do seu próprio quintal. A maioria das emboscadas feitas pelos insurgentes aconteciam em zonas inóspitas.

 

Além disso, as patrulhas do grupo Wagner enfrentavam, às vezes, leões e leopardos durante as patrulhas nocturnas em terra e, por outro lado, centenas de crocodilos e hipopótamos em todos os rios e riachos, resultando em fatalidades para quem ignora as disciplinas básicas orientadas para o mato.  Fontes indicam que os mercenários estavam equipados com uma série de boas armas da Europa Oriental e da China, a maioria “fresca”, mas isso por si só não era suficiente. 

 

O Grupo Wagner não é o primeiro a tentar ajudar Moçambique na sua luta contra insurgentes. Mas os mercenários russos no geral nunca provaram ser os melhores operativos e estrategas para o cenário africano e neste caso contra os insurgentes. 

 

Daí que entrem em jogo outros contratos de segurança envolvendo outras empresas num jogo de negócios, alguns dos quais obscuros.

 

(Traduzido e adaptado de Air War Analysis, Número 386, Maio 2020)