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Actualizado de Segunda a Sexta

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Redacção

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Continua dura a batalha para devolver o campeonato nacional de futebol à sua realidade. Depois de um longo exercício de cálculos para encontrar o modelo mais viável, do ponto de vista financeiro, a Direcção Executiva da Liga Moçambicana de Futebol (LMF) viu goradas as suas expectativas de organizar um campeonato de baixo custo, ao ser confrontada com a proposta de um modelo diferente daquele que estava agendado. Na sua Assembleia-Geral realizada na tarde da última quinta-feira (07), os 16 clubes que irão disputar o “Moçambola” optaram por um campeonato regional de oito equipas divididas em dois grupos (um da zona sul e outro da que integra equipas da zona centro e norte), contrariando a direcção de Ananias Couane, que trazia os orçamentos do actual modelo (de 16 equipas) e do regional de três grupos (dois de quatro equipas, nas zonas norte e centro, e um de oito equipas, na zona sul). 

 

Foram necessárias mais de três horas para os clubes decidirem que modelo iria imperar este ano na principal prova do futebol nacional, num encontro em que tanto competitiva como orçamentalmente quase nada foi discutido a não ser trazer confusão à prova máxima do desporto-rei no nosso país. O facto é que apesar de ter sido aprovado um campeonato regional de oito equipas divididas em dois grupos, os 16 clubes que irão disputar o “Moçambola” não conseguiram descriminar os números que serão necessários para suportar a prova, e muito menos apresentar um modelo competitivo equilibrado, tendo-se concentrado apenas no critério da definição do campeão nacional. Assim, o próximo vencedor do “Moçambola” será apurado num campeonato que envolverá os quatro primeiros classificados de cada grupo.

 

Apanhado em contra-pé, o presidente da LMF, Ananias Couane, não clarificou quanto dinheiro seria necessário para viabilizar a prova, tendo dito apenas que o modelo adoptado terá um impacto de 3 Milhões de Meticais. Este valor, na óptica de Couane, ainda está ao alcance da LMF. Demonstrando o seu descontentamento com o desfecho do caso, Ananias Couane disse que era sua expectativa que a Assembleia Geral discutisse de forma clara os pontos de agenda, até porque parte dos assuntos tinham sido acordados com os associados. “A sustentabilidade do “Moçambola” depende da reestruturação da prova e dos clubes participantes”, sublinhou. 

 

O novo modelo foi adoptado depois de quase 30 minutos de concertação entre os clubes, que negavam aprovar o campeonato regional de baixo custo por alegadamente ser de baixa competitividade. O modelo proposto pela LMF previa a constituição de três grupos regionais, com os dois grupos da zona norte e centro a incluírem quatro equipas cada. O grupo regional da zona sul seria composto por oito equipas.

 

Os números que a LMF levava à reunião

 

Segundo a direcção da LMF, o modelo de três grupos regionais custaria 52.325.231,00 Mts. O custo directo da prova seria de 46.528.155,00 Meticais, contra os 212.190.368,00 Mts necessários para viabilizar o campeonato de todos-contra-todos em duas voltas. Daquele montante, 128.444.130,00 Meticais seriam investidos na prova, e 77.641.162,00 Mts seriam para a liquidação de dívidas das épocas anteriores referentes a passagens aéreas, alojamento e transporte terrestre dos clubes.

 

Até ao momento, a LMF só garantiu 52.320.412, 00 Mts, quase suficientes para viabilizar o modelo regional de três grupos. Daquele valor, 21.692.412 Mts são provenientes das Receitas de Secretaria e das transmissões televisivas (acordo provisório), enquanto 27.928.000 Mts correspondem ao valor dos patrocínios assegurados para esta época. A adopção do modelo de três grupos regionais tinha em vista reduzir em 50% os custos com o transporte aéreo, o maior “fardo” da competição. Assim, de acordo com a proposta, as equipas iriam viajar de avião na segunda fase da prova, enquanto na primeira fase fariam viagens por via terrestre. A LMF patrocinaria as deslocações superiores a 500 km.

 

Caso a opção fosse o campeonato de todos-contra-todos em duas voltas, a LMF previa gastar com o transporte aéreo 78.9 milhões de Mts. Na época passada, por exemplo, o transporte aéreo custou aos cofres da LMF 100.515.589,00 Mts, sendo que 50.534.989,00 Mts foram suportados pela LAM (Linhas Aéreas de Moçambique). Os restantes 49.980.600,00 Mts foram desembolsados pela LMF, que neste momento tem uma dívida de 51.881.720 Mts com a LAM, tornando-se na maior dívida que aquele órgão tem com os fornecedores. 

 

No modelo ora adoptado, as equipas da zona sul viajarão por terra nas suas deslocações, enquanto as da zona centro e norte irão recorrer maioritariamente ao transporte aéreo. Neste momento, a LMF está no terreno a negociar com a Ethiopian Mozambique Airlines como forma de encontrar equilíbrio para as suas contas. Conforme é sabido, aquela companhia aérea prontifica-se a transportar as equipas a um custo muito abaixo do exigido pela LAM. O "Moçambola-2019" arranca a 30 deste mês e termina a 03 de Novembro. (Abílio Maolela)

segunda-feira, 11 março 2019 06:48

Moçambique comprometido com a agenda da OIT

O nosso País está comprometido com a agenda da OIT-Organização Internacional do Trabalho, tendo, com efeito, ratificado todas as convenções fundamentais e três das quatro convenções prioritárias em 2015, segundo garantiu a ministra moçambicana do Trabalho, Emprego e Segurança Social, na sexta-feira, 8 de Março, em Windhoek, Namíbia, no decurso da reunião anual dos ministros e parceiros sociais  (empregadores e trabalhadores) do sector do trabalho e emprego da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

 

Igualmente, conforme indicou Vitória Diogo, Moçambique ratificou, recentemente, o Protocolo à Convenção 29 sobre o Trabalho Forçado, o Protocolo à Convenção 81 sobre a Inspecção do Trabalho, a Convenção 176 sobre a Segurança e Saúde nas Minas e a Convenção sobre o Trabalho Marítimo. “Os nossos laços de cooperação remontam há mais de quatro décadas e ganharam um grande dinamismo nos últimos cinco anos. É, em parceria com a OIT, que o Governo definiu a primeira Política de Emprego, aprovada em 2016, o Plano de Acção para o Combate às Piores Formas do Trabalho Infantil e a primeira Lista de Trabalhos Perigosos para as Crianças, formulação da Lei-Quadro de Protecção Social, entre outras acções”, indicou.

 

Num outro desenvolvimento, a governante referiu-se ao Relatório da Comissão Mundial sobre o “Futuro do Trabalho”, com o qual Moçambique se identifica por conter recomendações que servirão de inspiração na formulação de agendas globais, continentais, regionais e nacionais, com vista à universalização do trabalho digno e dos princípios e direitos fundamentais no trabalho. Para Moçambique, segundo sublinhou Vitória Diogo, o lançamento do relatório sobre o “Futuro do Trabalho” chegou no momento certo por “coincidir com o fim de um ciclo de governação, por isso as dez recomendações do relatório, com as devidas adequações, serão incorporadas no âmbito da preparação dos instrumentos de governação do próximo ciclo”.  Importa realçar que a ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social chefiou a delegação moçambicana, na reunião, cuja  composição integrou quadros do Governo, representantes dos trabalhadores (OTM-CS e CONSILMO) e representantes dos empregadores (CTA-Confederação das Associações Económicas de Moçambique). (FDS)

Um Plano Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos (PNGRH), elaborado em 2015 pelo Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos (MOPHRH), mas que nunca foi executado, revela como o Governo teria evitado a tragédia que acontece nas províncias do centro do país, sobretudo Tete e Zambézia. O Plano em questão abarca 35 bacias hidrográficas nacionais - incluindo as 13 maiores e 22 pequenas mas estratégicas - das 104 existentes, e devia ter sido executado entre Dezembro de 2015 e Fevereiro de 2018. No documento são detalhadas as acções que o sector dos Recursos Hídricos devia ter feito para evitar as cheias que ciclicamente afectam milhares de moçambicanos.

 

Entre as medidas estruturais propostas no PNGRH para melhorar a fiabilidade e equidade na utilização da água, incluem-se a construção e desenvolvimento de 39 barragens de fins múltiplos, reabilitação de cinco barragens já existentes, desenvolvimento de 118 pequenas barragens. Está igualmente incluída a construção de outras quatro barragens para geração de energia hidro-eléctrica, bem como de diques nos rios e drenagem de água pluvial.

 

Entre as barragens para fins múltiplos consta a Barragem de Revúbuè na província de Tete, com capacidade para armazenar 1.135 mil metros cúbicos de água. É exectamente o rio Revúbuè que na passada sexta-feira em Tete ceifou vidas humanas e desalojou famílias na capital provincial e em Moatize. Ao longo do Rio Zambeze, o Plano previa a construção de cinco barragens.

 

Conforme consta no Plano Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos, que para a sua concretização é necessário um montante que não está incluído no documento, a construção de barragens de fins múltiplos tornaria possível a abordagem do problema de défice de água, garantindo o seu fornecimento e transferência inter-bacias.“Isso vai permitir uma gestão eficiente de recursos hídricos em termos de fornecimento fiável, controlo de cheias e protecção do ambiente”, diz o PNGRH.

 

Uma das províncias que ficaria beneficiada com o PNGRH é Zambézia, que tem a maior bacia hidrográfica do país, com cerca de 115.5 mil km2. Essa extensão resulta da soma dos cinco rios que atravessam a província zambeziana (Zambeze - 181,834 km2; Licungo - 22,761 km2; Lúrio - 60,011 km2; Ligonha - 14,737 km2; e Namacura - 7,563 km2). Isso faz com que a bacia hidrográfica da Zambézia seja a maior de toda a zona sul (103 mil km2).

 

Neste momento, a província da Zambézia não tem barragem. “Carta” soube de fontes seguras que das 39 barragens projectadas no PNGRH cinco seriam erguidas naquela província, que também está sendo fustigada pelas cheias. Só no Rio Licungo, o mais crítico da Zambézia abrangendo 3.5 milhões de habitantes, seriam construídas quatro barragens. A maior barragem prevista nesta bacia hidrográfica é de Mugeba, orçada em cerca de 300 milhões de dólares norte-americanos e com capacidade para gerar aproximadamente 100MW de energia. Também haveria uma área de terra irrigável com mais de 100 mil hectares que beneficiaria cerca de 1.5 milhões de pessoas em termos de água potável, para além de evitar cheias naquela província.

 

Segundo as nossas fontes, o Plano Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos nunca saíu da gaveta devido à falta de fundos, em parte como resultado do calote financeiro que abala o país. Já em 2015, durante a elaboração daquele Plano, os técnicos do MOPHRH previam que o país enfrentasse um défice de água nas regiões centro e sul, e em algumas partes da região norte. Na altura, os mesmos técnicos disseram que apenas tinha utilidade 12.9% do escoamento total dos rios, e que o défice de água poderia atingir 1.3 mil milhões de metros cúbicos em 2040.Assim, propunham a reabilitação de cinco barragens, algumas delas cruciais para o abastecimento de água, nomeadamente. As barragens cuja reabilitação estava prevista eram as de Corumana (Incomati), Pequenos Libombos (Umbeluzi), Chipembe (Montepuez), Locúmuè (Rovuma) e Nampula (Monapo).

 

O Plano de Controlo e Prevenção de Cheias inclui a construção de diques ao longo de rios nas zonas com elevada densidade populacional ou áreas de irrigação em larga escala, e o desenvolvimento de sistemas de drenagem de água pluvial nas zonas baixas interiores de maior densidade, com más condições em termos de drenagem pluvial. O Controlo e Prevenção de Cheias consta no PNGRH, e foi formulado com base nos resultados da Avaliação do Risco de Cheias que apontam as províncias de Gaza, Sofala e Zambézia como as mais vulneráveis.

 

O PNGRH também propunha a realização do levantamento de bacias, sistematização de dados e informação relacionada com recursos hídricos numa base de dados, construção de um sistema de Gestão Integrada dos Recursos Hídricos (GIRH), incluindo a introdução de um Sistema de Previsão e Aviso de Cheias (SPAC), como parte de medidas não-estruturais de controlo de cheias. Tais acções visam tinham em vista garantir a gestão eficiente de recursos hídricos nacionais, bem como o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. (Abílio Maolela)

domingo, 10 março 2019 16:41

Artes Plásticas / O femenismo

Reinata Sadimba nasceu, em 1945, na Aldeia de Nimu, no Distrito de Mueda, Província de Cabo Delegado. Filha de pais camponeses, Sadimba Machemba e Alanica Ngualenje, ambos naturais de Mueda. Recebeu a educação tradicional da etnia Maconde e aprendeu a fazer potes de barro para uso doméstico com a sua mãe. A partir de 1975 sua vida mudou. A cerâmica utilitária que fazia transformou-se para o trabalho que conhecemos hoje.

 

(12 de Março, às 18 e 30Min no Centro Cultural Brasil-Moçambique)

domingo, 10 março 2019 16:39

Cinema / La grande séducion

A pequena Ilha de Santa Marie-La-Mauderne é um local esquecido pelo tempo. O povoado precisa de um médico para poder sediar uma fábrica de plásticos e monta um plano para tentar convencer o Dr. Christopher a se mudar definitivamente para lá. Um hilariante e emocionante plano, onde os detalhes são tão engraçados quanto estapafúrdios, de Jean-François Pouliot (Canadá, 2003, 110’). O filme está em francês, com legenda em Português.

 

(11 de Março, às 19Hrs no Centro Cultural Franco-Moçambicano)

domingo, 10 março 2019 16:37

Cinema / L’orchestrt des aveugles

Sinopse: No início do reinado de Hassan II, Houcine, fã do seu novo rei é o líder de uma orquestra de música popular. Ele mora com a sua esposa Halima, na casa da sua família, um lugar de intensa coabitação, com personagens que cruzam o ritmo de vida da orquestra e os seus tradicionais dançarinos, os Chikhates. Nesta peculiar orquestra, os seus integrantes fingem ser cegos para que possam tocar em festas exclusivas para mulheres dentro de casas de famílias marroquinas tradicionais. Idioma: Filme em Árabe com legendas em Francês. De Mohamed Mouftakir (Marrocos, 112’).

 

(11 de Março, às 18 Hrs em Maputo)

O Porto de Maputo conta com mais dois novos guindastes móveis, com capacidade máxima de 144 toneladas cada, adquiridos no âmbito de um amplo programa de investimento em curso, para a ampliação e modernização da maior infraestrutura portuária do País.

 

O equipamento, inaugurado na sexta-feira, 8 de Março, pelo ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, representa um investimento de 19 milhões de dólares norte-americanos e vai conferir uma maior eficiência e competitividade ao porto, traduzida em aumento de volumes manuseados, mais receitas, empregos gerados à montante e à jusante, entre outros efeitos positivos para a economia.

 

Para o titular da pasta dos Transportes e Comunicações "não há dúvidas que o investimento realizado terá um efeito multiplicador, não só nas operações do Porto de Maputo, como também na economia nacional e regional".

 

Como resultado da implementação do Plano Director do Porto de Maputo, aprovado pelo Governo em 2010, segundo referiu Carlos Mesquita, foram materializados investimentos maciços que permitiram a dragagem, reabilitação de infra-estruturas e formação do capital humano especializado.

 

Num outro desenvolvimento, o governante explicou que, “seguindo a tendência de 2017, o manuseamento de carga pela via ferroviária voltou a crescer em cerca de 50 por cento, em 2018, consolidando os melhores resultados conseguidos em 2017 em que o volume ferroviário da principal carga manuseada pelo porto de Maputo cresceu em quase 100 por cento”.

 

Estes resultados, conforme enfatizou o ministro, representam um enorme ganho para a economia nacional se tivermos em linha de conta que a retirada das rodovias, de carga tradicionalmente ferroviária, incrementa a competitividade das nossas infra-estruturas, para além de melhorar a fluidez do trânsito na N4, melhoria da segurança rodoviária, entre outros ganhos.

 

Como resultado dos investimentos realizados para o retorno da carga tradicionalmente ferroviária, transportada por via rodoviária, o porto passou a manusear, desde Janeiro desde ano, 204 vagões por dia, contra os anteriores 120 vagões, um salto que permitiu a retirada da N4 de mais de 25 mil camiões por ano. 

 

Andreas Muller, director de vendas de guindastes móveis do porto da Liebherr-MCCtec, empresa alemã fornecedora do equipamento, referiu que as máquinas inauguradas no Porto de Maputo fazem parte do modelo com mais êxito no mundo, contando com mais de 200 unidades em vários portos internacionais.

 

"Faz agora três anos que vendemos as primeiras máquinas a Moçambique. Hoje em dia, existem cinco unidades no País, sendo que quatro funcionam no Porto de Maputo e uma no Porto de Nacala, na província de Nampula”, disse Andreas Muller.

 

Trata-se, segundo explicou de máquinas multi-uso, que podem manusear cargas pesadas e contentores e podem custar entre quatro a cinco milhões de euros dependendo do modo do seu transporte. (FDS)

A Conferência Anual do Sector Privado, que decorre quarta e quinta-feiras em Maputo, estará centrada no agro-negócio. O “lobby” empresarial moçambicano, arregimentado na CTA, juntamente com entidades do Governo e empresários de fora do país, pretende discutir, entre outros temas, os problemas que preocupam o sector da agricultura em Moçambique. O destaque vai para o Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC), que passou para o mesmo nível do dos restantes sectores da economia, ou seja, a agricultura, a partir de 1 de Janeiro 2016, passou a pagar 32% de IRPC. Os empresários da área afirmam que o imposto é sufocante.

 

Eles já operam sob um mar de dificuldades, com pequenas margens de lucro principalmente na produção de comida, e têm de competir com tantos produtos baratos vindos do estrangeiro. Neste contexto, insistem os operadores da área, uma carga de 32% sobre lucros diminui ainda mais a capacidade de as empresas fazerem o reinvestimento e expandirem a sua produção ou a sua actividade. A CTA pretende influenciar o Governo a criar condições para reduzir o IRPC no sector para 10%.  

 

Entretanto, o mau estado das vias de acesso aos locais de produção é outro problema que apoquenta os operadores agrários, para além da limitação da rede eléctrica que até agora só chega às capitais distritais e não aos locais de produção.  Alguns empresários acabam construindo as linhas de electricidade,  incluindo Postos Transformadores, custos que os agricultores são obrigados a incorrer e que reduzem a sua capacidade de competitividade.

 

Outro especto tem que ver com a grande vulnerabilidade do país em relação às cheias e à seca. As margens dos principais rios do país, locais de grande produção, não estão devidamente protegidas contra as cheias e quando chove as machambas são constantemente alagadas e perdem-se muitas culturas.

 

Em relação à seca, também não há reservatórios espalhados nas zonas de produção para captação de água de chuva ou mesmo nos períodos de inundação que podiam captar a água que depois seria utilizada pelos agricultores em períodos de seca. O país está completamente vulnerável a pragas e doenças, quer seja para as plantas assim como para os animais. Destaque vai para o “lagarto de funil” que entrou e dizimou milhares de hectares de milho e a febre aftosa para os animais. Face à estes problemas, os produtores sugerem ao Governo medidas concretas para a sanidade quer animal assim como vegetal no país.

 

Para além de discutir os desafios acima descritos, bem como propor soluções, a CTA criou condições para que na XVI CASP 2019, sejam assinados diversos memorandos de entendimento para desenvolver ainda mais o sector do agro-negócio em Moçambique.

 

Para a edição da CASP deste ano já estão confirmadas cerca de 10 Instituições Financeiras de Desenvolvimento, o caso do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), PROPARCO, Industrial Development Corporation (IDC), Development Bank of Southern Africa (DBSA) e a Trade Development Bank (TDB). Estas Instituições irão interagir com as empresas moçambicanas e outras, procurando concretizar projectos específicos, previamente seleccionados. (Evaristo Chilingue)

domingo, 10 março 2019 14:34

As contas vermelhas do “Moçambola”

A situação financeira da Liga Moçambicana de Futebol (LMF) continua caótica. Com efeito, cada vez mais prejuízos estão sendo acumulados pela entidade gestora do campeonato nacional de futebol para viabilizar a principal prova futebolística nacional (Moçambola).

 

De acordo com o Relatório das Actividades e Contas de 2018, aprovado na última quinta-feira em Maputo durante a XXIV Assembleia-Geral daquele órgão, até 30 de Novembro do ano transacto a LMF apresentava Fundos Próprios negativos no valor de 82.332.350,00 Mts. O valor correspondente ao excesso do passivo corrente sobre o activo (corrente) era 82.696.503,00 Mts. Comparando com o exercício económico anterior (2017), a situação representa um aumento de mais de 10 milhões de Mts, na medida em que os Fundos Próprios eram de 71.615.957 Mts negativos. Em 2016 a rubrica apresentava um valor negativo de 65.343.916,00 Mts.

 

O Relatório em causa, que os clubes declinaram discutir para se concentrarem no modelo da prova, refere que os activos tangíveis da LMF (mobiliário e equipamento administrativo, social, básico, e outros) decresceram de 417.675,00 Mts, em 2017, para 364.153,00 Mts no ano seguinte. Os activos financeiros subiram de 1.487.813,00 Mts, em 2017, para 3.389.889,00 Mts no ano a seguir, como resultado das dívidas que os clubes e algumas instituições têm com a LMF. Daquele montante, 3.083.114,00 Mts correspondem às dívidas dos clubes (referentes ao pagamento de multas e outras obrigações).

 

O valor das dívidas de outras instituições, incluindo a própria Federação Moçambicana de Futebol, é de 306.775,00 Mts. Aliás, a dívida dos clubes subiu de 1.314.813,00 Mts, em 2017, para 3.083.114,00 Mts no ano seguinte. O Desportivo de Nacala é o maior devedor, com uma dívida acumulada de 353.300,00 Mts.

 

Por sua vez, o saldo de caixa até 30 de Novembro de 2018 era de 7500,00 Mts, o mesmo que restou em 2017. Nos bancos comerciais, a LMF tinha um valor de 3.779.531,00 Mts, contra 912.103 Mts em 2017.Em relação às dívidas com os fornecedores, o Relatório aponta para um total acumulado de 78.589.064,00 Mts, contra 70.362.004,00 Mts de 2017. Do total da dívida, 51.881.720,00 Mts devem ser pagos à LAM (Linhas Aéreas de Moçambique), a companhia aérea responsável pelo transporte das caravanas desportivas.

 

Ainda de acordo com o Relatório das Actividades e Contas de 2018, que faz referência às actividades realizadas no ano passado e respectivos gastos financeiros, o passivo financeiro da LMF subiu de 4.095.924,00 Mts em 2017 para 11.153.232 Mts no ano a seguir, representando um aumento de aproximadamente 200%. Na rubrica “Outros Rendimentos e Gastos Operacionais”, onde são descriminadas receitas provenientes das transmissões televisivas e das obrigações financeiras dos clubes, assim como os gastos operacionais, o Relatório diz que a LMF rendeu no ano transacto 4.018.296,00 Mts, e gastou 15.888.063,00 Mts, tendo ficado com um saldo negativo de 11.869.787 Mts. Em 2017 aquela entidade tinha colectado 24.724.144,00 Mts, contra 13.485.873,00 Mts de gastos. Teve um saldo positivo de 11.236.271,00 Mts.

 

No documento em causa, o executivo liderado por Ananias Couane começa por defender que 2018 foi um “ano atípico” para todos os agentes económicos que actuam em Moçambique. Auto-intitulando-se uma das principais vítimas, a LMF destaca a possível interrupção da prova por falta de cabimento orçamental para o pagamento integral da factura da LAM. No entanto, para a prossecução do Moçambola contribuiu a pronta intervenção e patrocínio do Governo.

 

De acordo com o Relatório em questão, a LMF colectou em 2018, através de contratos de patrocínio, 137.306.295 Mts, contra os 107.452.507 Mts angariados em 2017, o que representou um aumento de 30 milhões de Meticais. Do valor colectado, 33.850.000 Mts foram injectados pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural através do seu Fundo de Desenvolvimento Sustentável, entidade que pagou o valor da Taxa de Combustível que era exigido pela LAM como condição primária para a deslocação aérea das equipas.

 

Por sua vez, a LAM desembolsou 50.974.050,00 Mts através de um desconto comercial na contratação de 3.980 passagens aéreas, enquanto a Aeroportos de Moçambique injectou 7.500 mil Mts que foram canalizados para o pagamento das taxas aeroportuárias e de embarque. Assim, dos 100.515.589,00 Mts gastos pelo transporte aéreo em 2018, só 49.980.600,00 Mts foram desembolsados pela LMF. Das transmissões televisivas, a LMF recebeu da ZAP 15.485.000,00 Mts, um valor abaixo do colectado no ano 2017, quando angariou 20 milhões de Meticais.

 

As discussões sobre a saúde financeira da LMF não são novas, mas anualmente o assunto tem sido colocado em segundo plano em virtude de a Direcção da LMF e os clubes priorizarem questões políticas e competitivas da prova, sem olhar para as condições em que a mesma decorre.

 

Há dois anos que a Direcção da LMF falava da necessidade de ajustar o campeonato nacional de futebol à realidade financeira da entidade, mas tanto por aquele órgão social como pelos clubes o assunto nunca foi levado seriamente. (Abílio Maolela)

As cheias nas margens do rio Rovúbuè (nas regiões de Matemo e Chingodzi) em Tete, na madrugada do dia 8, na sexta-feira, eram previsíveis, mas ninguém lançou qualquer alerta, apurou “Carta” de especialistas do sector hidrológico nacional. No passado dia 7 de Outubro, o Boletim Hidrológico (produzido pela Ara-Zambeze) referente ao dia anterior (6), indicava que tinha havido chuvas acima do anormal nas regiões mais a norte de Tete, em Tsangano e Angónia, com uma queda pluviométrica de 100 milímetros. Com esse nível de precipitação, disse uma especialista, era previsível que a bacia do Rovúbuè haveria de inundar, desalojando dezenas de pessoas e destruindo casas de construção precária.

 

Mas ninguém se mexeu para alertar às pessoas, que construíram residências numa zona propensa a inundações. Por regra, as autoridades governamentais deviam ter convocado um Conselho Técnico ligado à gestão de emergência. O que aconteceu foi o que se viu. Na madrugada do dia 8, todo o mundo foi apanhado de surpresa quando passava pouco depois da 1 hora da manhã. A descarga de chuvas nas regiões de Tsangano e Angónia tinha sido tão forte, mas ela por si só não seria suficiente para inundar na bacia do Rovúbuè até encobrir tetos de várias casas. Houve algum contributo da Hidroeléctrica de Cahora Bassa(HCB)”, sugere outro especialista contactado. A HCB ainda não fez qualquer pronunciamento. “Carta” não conseguiu ouvir fonte oficial da empresa.

 

Mas fontes internas, não oficiais, disseram que a HCB começou a efectuar descargas há cerca de duas semanas, quando sua capacidade de encaixe atingiu os 99%. A HCB estava a libertar 3 mil metros cúbicos por segundo, antes de acontecer o descalabro no Rovúbuè. Quando no final da manhã do dia 7, o alarme de cheias dada pelo boletim hidrológico foi enviado para a HCB, já era tarde. “Carta” apurou que a HCB, ao receber a informação da Ara-Zambeze, tratou de encerrar suas comportas.

 

O problema é que o impacto do encerramento das comportas no Songo (onde se localiza a hidroeléctrica) atinge a zona de Tete apenas 24 horas depois. Esse é o tempo de duração de uma onda de caudal que saia da barragem para Tete. Ou seja, na noite do dia 7, a massa de água que tinha sido absorvida pelo Rovúbuè, vinda dos vários riachos do norte, tentava entrar no Zambeze, onde o Rovúbuè desagua, mas não fluía por que o rio já vinha carregando grandes caudais da montante, provocando a inundação. 

 

A madrugada do dia 8 foi o pico, com um enorme pano de fundo de destruição. Mas não é a primeira vez que as inundações acontecem nas regiões baixas de Matemo e Chingodzi. Habitantes de Tete recordam-se de ter havido cheias com as mesmas características na mesma região em 2014 mas ninguém foi afectado. Nos últimos anos, as autoridades municipais de Tete fizeram vista grossa à construção desenfreada no local, ondem nasceu uma superpovoada zona suborna, num misto de laxismo e corrupção. Por outro lado, um Plano Nacional de Gestão de Recursos Hídricos, elaborado pelo Governo em 2015, com o objectivo de melhorar a gestão de bacias hídricas em Moçambique, foi posto na gaveta. O Ministro das Obras Publicas, Recursos Hídrico e Habitação, João Machatine deslocou-se a Tete hoje para se inteirar da situação. É provável que tente perceber porque é que ninguém mobilizou as populações para retirarem-se das zonas de risco diante de uma forte probabilidade de inundações. (Carta)