A petroquímica, sul-africana, Sasol explora o gás em poços localizados em Pande e Temane, distritos de Govuro e Inhassoro, respectivamente, no norte da província de Inhambane, desde 2004, mas, volvidas quase duas décadas, a contribuição da empresa no desenvolvimento local é bastante crítica. Esse facto tem criado, nos últimos anos, nervos à flor da pele da população, principalmente nos mais jovens.
Para reverter o cenário, a população tem recorrido a manifestações e o último tumulto aconteceu há menos de um mês, caracterizado pela colocação de barricadas na Estrada Nacional Nº 1. Em concreto, os jovens contestavam a fraca contratação de mão-de-obra local.
Perto desse tumulto esteve Cleison de Sousa, vice-presidente da Associação dos Jovens Naturais e Amigos Residentes em Inhassoro. O jovem contou à “Carta” que, até inícios de 2021, a Sasol recrutava os jovens locais, através de uma empresa chamada Khainda. Entretanto, afirma que a empresa recorria, infelizmente, a esquemas de corrupção, facto que excluía ainda mais a população local. Com essas reivindicações “esperamos que a petroquímica imponha as subcontratadas a contratarem mão-de-obra local em detrimento de outros distritos longe da Sasol”, disse De Sousa.
Para além da fraca alocação de jovens, a Sasol é severamente criticada por excluir as empresas locais no fornecimento de serviços e bens. Benedito Lai é um jovem empresário no sector de água e transporte que sente na pele essa exclusão. Contou ao jornal que o problema é antigo e está a afectar o desenvolvimento do distrito de Inhassoro.
“A Sasol lança concursos, mas a meu ver é para o «inglês ver» porque as empresas locais raramente ganham, nem mesmo para fornecer água mineral. Sempre são contratadas empresas de Maputo e de outros cantos e isso atrofia os empresários locais. Pelo que esperamos que a empresa comece a olhar mais para nós em prol do desenvolvimento do distrito em que opera”, desabafou o empreendedor.
A fraca absorção de mão-de-obra e de bens e serviços locais aliam-se a pouco investimento da Sasol para desenvolver as comunidades afectadas pelo projecto no contexto da sua responsabilidade social corporativa. Esses problemas têm barbas brancas e têm criado revolta por parte da população.
Entretanto, em visita aos projectos da petroquímica com o Governo, o Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, garantiu que as tensões entre a empresa e as comunidades irão acabar.
“O Governo aprovou [recentemente] o Plano de Desenvolvimento do Projecto [Partilha de Produção que prevê construir uma Refinaria de gás doméstico, Central Térmica de 450 MW e uma Linha de transporte de energia até Maputo] e uma das componentes que a Sasol é obrigada a desenvolver é o conteúdo local, nomeadamente, emprego, melhoria da sua contribuição para o desenvolvimento local e criação de melhores oportunidades para as empresas moçambicanas. Na componente das empresas, acordamos que, nos próximos três anos, o nível de participação do empresariado nacional se eleve de 50% para 70%”, afirmou o Ministro, à margem da visita à Sasol.
Em termos de mão-de-obra, Tonela disse que durante a fase de construção e operação prevista para 2024, o Projecto irá empregar mais de 6.5 mil trabalhadores que maioritariamente deverão ser moçambicanos. Além desse Projecto, o Ministro lembrou que a Sasol lançou há meses em parceria com o Banco de Investimento e Comercial (BCI) uma linha de crédito para ajudar as empresas, sobretudo, as micro, pequenas e médias a terem recursos para financiarem projectos que têm a ver com a petroquímica.
O governante lembrou ainda que é obrigação do Executivo da Sasol o incremento do nível de formação da população local a partir do Centro de Formação em construção em Inhassoro. O Governo exige ainda que a multinacional melhore a divulgação de informação sobre emprego e negócios para que haja mais transparência.
Com esses projectos, que serão avaliados periodicamente pelo Governo, Tonela garantiu que os conflitos irão acabar, pois, “as populações reclamam um contributo mais directo e visível que o projecto deve deixar ficar na zona de implantação”. (Evaristo Chilingue)
O ministro dos Recursos Minerais e Energia disse ontem que a multinacional sul-africana Sasol “está obrigada” a criar emprego e oportunidades de negócios para as empresas moçambicanas nos seus projetos de gás natural em Moçambique.
“O Governo aprovou o plano de desenvolvimento do projeto [de produção de gás natural a iniciar em 2024] e uma das componentes em que a Sasol está obrigada a cumprir é o desenvolvimento do conteúdo local”, afirmou Max Tonela.
Tonela falava à comunicação social após a visita aos locais onde a petroquímica sul-africana está a abrir novos furos e a reabilitar outros antigos de extração de gás natural nas jazidas de Pande e Temane, província de Inhambane, sul de Moçambique.
No âmbito de um novo Acordo de Produção Partilhada com a Sasol, o executivo moçambicano quer que a empresa contrate mais mão-de-obra local e promova mais oportunidades para empresas moçambicanas.
“Acordámos que nos próximos três anos o nível de participação das empresas moçambicanas nas oportunidades criadas pela Sasol deve passar de 50% para 70%”, assinalou.
Por outro lado, a companhia abriu junto da banca nacional uma linha de crédito a favor das empresas que vão prestar bens e serviços ao novo projeto de desenvolvimento de gás natural na província de Inhambane, segundo a fonte.
A companhia, prosseguiu, vai igualmente intensificar a formação técnico-profissional da mão-de-obra local visando permitir que a juventude da província de Inhambane tenha acesso ao emprego.
Max Tonela avançou que o Governo e a Sasol começaram hoje reuniões regulares de monitorização do grau de observância dos compromissos que a empresa assumiu no âmbito do chamado “conteúdo local”, conceito que define mão-de-obra e oportunidades de negócios para os moçambicanos.
O governante considerou que um maior compromisso das multinacionais da indústria extrativa será um contributo importante para a mitigação de "tensões" entre as empresas e as comunidades residentes nas áreas de implantação dos megaprojetos.
“As populações reclamam um contributo mais direto e mais visível que o projeto deve deixar na zona de implantação”, assinalou.
Em julho deste ano, um grupo de jovens do distrito de Inhassoro, onde a Sasol atua, bloqueou a Estrada Nacional 1 (EN1) por algumas horas, em protesto contra a alegada exclusão das comunidades locais.
Os empreendimentos da Sasol em Moçambique vão alimentar a maior central térmica a construir no país com 450 megawatts, uma linha de transporte de energia elétrica entre Inhambane e Maputo com mais de 560 quilómetros e três subestações com um custo superior a 600 milhões de dólares (mais de 510 milhões de euros).
Max Tonela destacou que o projeto vai igualmente compreender a produção de gás de cozinha favorecendo novas relações entre empresas e cadeias de valor.
Na fase de construção, o novo empreendimento da Sasol vai empregar no pico 6.500 trabalhadores e na etapa de operação 714 empregos.
As obras de construção do novo projeto da Sasol em Inhambane vão terminar em 2024, devendo a produção de gás natural arrancar nesse ano.
A Sasol explorava reservas de gás desde 2004 em Temane e Pande com gasodutos para a África do Sul e Maputo, alimentando ainda a central elétrica moçambicana de Ressano Garcia, junto à capital e na fronteira com a África do Sul. (Lusa)
O Governo, através da empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM), investiu 123 milhões de Meticais para electrificar e catapultar a economia do Posto Administrativo de Chicomo, norte do distrito de Massinga, província de Inhambane.
O valor serviu para a construção, no local, de 65 km de linha de Média Tensão a 22 kV (a partir da vila-sede de Massinga) alimentada a 33 kV; ligação de três transformadores; construção de 20 km de Rede de Baixa Tensão; ligação de 344 consumidores dos cerca dos 1500 previstos; e montagem de 100 candeeiros de iluminação pública.
O Posto Administrativo de Chicomo está electrificado desde Outubro de 2020, mas só esta quarta-feira (15), o Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, foi inaugurar a infra-estrutura.
Para o Ministro, a electrificação do Posto Administrativo de Chicomo traduz mais uma etapa rumo ao cumprimento da iniciativa do Governo de Moçambique de alcançar o Acesso Universal à Energia Eléctrica até 2030.
Segundo Tonela, a electrificação de Chicomo irá impulsionar a actividade económica do local, o emprego, bem como melhorar as condições de vida da população. “Foi neste quadro que o Governo desenhou e tem vindo a implementar o programa Energia para Todos, um programa de âmbito nacional que tem como objectivo levar energia eléctrica a todas as famílias moçambicanas até 2030. Nesse âmbito, o Governo definiu como uma das prioridades assegurar que todas as sedes de Postos Administrativos possam ser ligados à rede eléctrica nacional, até 2024”, afirmou Tonela.
Alguns comerciantes interpelados por “Carta”, em Chicomo, revelaram que a energia já está a melhorar os seus negócios. Alfredo Matule é caixa numa mercearia. Contou-nos que a energia trouxe melhorias no seu negócio. Explicou que antes de ter acesso à energia despendia muito para iluminar, mas principalmente para refrigerar os produtos com recurso a gás liquefeito, vendido na capital do distrito, localizado a mais de 60 km.
“Por vezes, o gás acabava numa altura em que não podíamos facilmente adquirir. Os produtos deterioravam-se e era um prejuízo enorme. Mas com a chegada de energia, os custos minimizaram. Já podemos congelar peixe por muito tempo. Só não podemos vender de noite por causa da situação de emergência provocada pela pandemia”, disse Matule.
Isabel Muchiua é outra comerciante que falou ao jornal. À semelhança de Matule, contou que registava perdas avultadas para refrigerar produtos com recurso a gás doméstico. Precisou que a última vez que adquiriu o gás, uma botija de 11 kg custava 1200 Meticais (mais do que o dobro, em relação à Cidade de Maputo). Entretanto, desde a electrificação do Posto, Muchiua disse que já não compra gás, consequentemente, os custos reduziram.
“Estamos satisfeitos porque com energia, a todo o momento, o nosso negócio melhorou e a vila também. Mas para além daqui [vila] gostaríamos de igualmente ver electrificadas as nossas casa”, afirmou Muchiua.
Chicomo consta na lista de 26 Postos Administrativos existentes na província de Inhambane. Dados da EDM indicam que, desse universo, 20 estão electrificados e seis continuam fora da Rede Eléctrica Nacional e Sistemas Isolados. (Evaristo Chilingue)
Os resultados dos Índices das Actividades Económicas do mês de Junho de 2021, quando comparados com os do mês anterior, apontam para um decréscimo dos índices gerais de volume de negócios, de emprego e de remunerações em 1,2%, 2,4% e 4,0% respectivamente. Os dados foram tornados públicos esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
De acordo com a autoridade estatística, a diminuição do índice de volume de negócios foi influenciada pela variação negativa verificada nos sectores de Electricidade, de Alojamento e Restauração, Produção Industrial e de Outros Serviços Não Financeiros com 7,8%, 7,2%, 3,9% e 3,2% respectivamente.
Todavia, durante o período em análise, o INE verificou que os sectores de Comércio e de Transportes e Armazenagem, contrariaram o decréscimo ao registarem incrementos de 6,6% e de 5,9% na facturação.
“Quanto à variação negativa, do índice do emprego no mês de Junho de 2021, foi resultado da variação negativa verificada nos sectores da Produção Industrial, de Outros Serviços Não Financeiros, de Alojamento e Restauração, bem como o sector do Comércio em 8,3%, 3,0%, 1,7% e 0,3% respectivamente. O sector de Transportes e Armazenagem teve uma variação tenuemente positiva de 0,4%”, observou a autoridade.
Em relação ao índice de remunerações, o INE observou que, comparativamente a Maio, o mês de Junho apresenta uma variação negativa, resultado da queda verificada em todos os sectores, com maior destaque em termos de amplitude para os sectores da Produção Industrial, de Alojamento e Restauração, bem como o de Transportes e armazenagem em 8,9%, 2,6% e 1,9% respectivamente.
Comparando os índices globais do mês de Junho de 2021 com os do período homólogo de 2020, o INE concluiu que houve um crescimento assinalável do volume de negócios, das remunerações e de emprego em 28,3%, 7,4% e 4,2% respectivamente. (Carta)
O terrorismo, que mata, destrói e provoca milhares de deslocados na província de Cabo Delgado, já causou à empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM) um prejuízo avaliado em cerca de 240 milhões de Meticais.
O dado foi tornado público pelo Presidente do Conselho Administrativo (PCA) da EDM, Marcelino Gildo, em visita efectuada na semana finda às zonas libertadas pela força conjunta entre Moçambique, Ruanda e da Comunidade da África Austral (SADC).
Segundo Gildo, o valor resulta principalmente da falta de facturação de 25 mil clientes da empresa, que ficaram desprovidos de energia eléctrica após destruição do equipamento da EDM, nos distritos de Nangade, Muidumbe, Palma e Mueda.
Todavia, com a recuperação desses distritos por parte do Estado, o PCA da EDM disse que acções decorrem no terreno para a reposição de energia eléctrica. Com efeito, o gestor afirmou que a empresa já repôs energia no distrito de Mueda.
“Com esta visita ao terreno, estamos mais optimistas em repor a energia para os restantes distritos. Logo que as zonas ficaram disponíveis para o acesso, fizemos um levantamento muito detalhado e já movimentamos as equipas, por isso, já conseguimos repor em Mueda em pouco tempo. Neste momento, temos equipas a fazerem a reposição de linha de Nangade, com previsão de terminar dentro de duas semanas”, afirmou o PCA da EDM.
Para a reposição de emergência do sistema nos distritos, a empresa pública de electricidade prevê gastar cerca de 11 milhões de USD. “Depois iremos fazer uma reposição definitiva que, naturalmente, precisará de outro investimento. Por exemplo, a reposição da subestação de Ouasse necessitará de cerca de 10 milhões de USD”, acrescentou o PCA da EDM.
Com vista a repor energia naqueles distritos, a empresa diz contar com recursos próprios e de parceiros financeiros, como o Banco Mundial, que no contexto da emergência, em Cabo Delgado, já disponibilizou 100 milhões de USD, parte dos quais para reerguer a infra-estrutura eléctrica. (E.C.)
De acordo com o Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas de Moçambique, os operadores pesqueiros do país exportaram cerca de 4000 toneladas de produtos pesqueiros nos primeiros seis meses deste ano, correspondendo a 34 por cento do plano anual do sector e um crescimento de 11 por cento em comparação com o mesmo período em 2020.
O feito foi anunciado segunda-feira pela ministra, Augusta Maita, que se pronunciou numa reunião para avaliar o resultado da campanha de pesca ao longo dos primeiros seis meses, discutir os desafios que o sector enfrenta e identificar as melhores formas de garantir a pesca lícita sustentável. “Queremos um salto quantitativo e qualitativo nas nossas exportações, mas o sucesso depende da conquista de novos mercados e do cumprimento das exigências e certificações impostas para colocar o país na rota do comércio global”, disse Maita. Durante a primeira metade de 2021, a pesca do país atingiu uma produção global de cerca de 230.000 toneladas, totalizando 48 por cento da produção anual planejada e um crescimento de 4 por cento, em comparação com o mesmo período em 2020.
Ela destacou que o sector pesqueiro do país impõe, a cada ano, um período de defeso para a pesca do camarão de superfície e do caranguejo do mangue, na tentativa de garantir sua sustentabilidade e para que possam continuar a fazer parte da dieta das gerações futuras.
“Gostaríamos de renovar nossos apelos para que os pescadores cumpram integralmente os períodos de defeso estabelecidos”, disse ela, acrescentando que apesar dos avanços alcançados até agora, relatos sobre a constante matança de espécies protegidas em águas marinhas e interiores representam uma grande preocupação para as autoridades pesqueiras.(Carta)