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segunda-feira, 20 setembro 2021 07:29

O clamor de quem é excluído das oportunidades da Sasol

 

A petroquímica, sul-africana, Sasol explora o gás em poços localizados em Pande e Temane, distritos de Govuro e Inhassoro, respectivamente, no norte da província de Inhambane, desde 2004, mas, volvidas quase duas décadas, a contribuição da empresa no desenvolvimento local é bastante crítica. Esse facto tem criado, nos últimos anos, nervos à flor da pele da população, principalmente nos mais jovens.

 

Para reverter o cenário, a população tem recorrido a manifestações e o último tumulto aconteceu há menos de um mês, caracterizado pela colocação de barricadas na Estrada Nacional Nº 1. Em concreto, os jovens contestavam a fraca contratação de mão-de-obra local.

 

Perto desse tumulto esteve Cleison de Sousa, vice-presidente da Associação dos Jovens Naturais e Amigos Residentes em Inhassoro. O jovem contou à “Carta” que, até inícios de 2021, a Sasol recrutava os jovens locais, através de uma empresa chamada Khainda. Entretanto, afirma que a empresa recorria, infelizmente, a esquemas de corrupção, facto que excluía ainda mais a população local. Com essas reivindicações “esperamos que a petroquímica imponha as subcontratadas a contratarem mão-de-obra local em detrimento de outros distritos longe da Sasol”, disse De Sousa.

 

Para além da fraca alocação de jovens, a Sasol é severamente criticada por excluir as empresas locais no fornecimento de serviços e bens. Benedito Lai é um jovem empresário no sector de água e transporte que sente na pele essa exclusão. Contou ao jornal que o problema é antigo e está a afectar o desenvolvimento do distrito de Inhassoro.

 

“A Sasol lança concursos, mas a meu ver é para o «inglês ver» porque as empresas locais raramente ganham, nem mesmo para fornecer água mineral. Sempre são contratadas empresas de Maputo e de outros cantos e isso atrofia os empresários locais. Pelo que esperamos que a empresa comece a olhar mais para nós em prol do desenvolvimento do distrito em que opera”, desabafou o empreendedor.

 

A fraca absorção de mão-de-obra e de bens e serviços locais aliam-se a pouco investimento da Sasol para desenvolver as comunidades afectadas pelo projecto no contexto da sua responsabilidade social corporativa. Esses problemas têm barbas brancas e têm criado revolta por parte da população.

 

Entretanto, em visita aos projectos da petroquímica com o Governo, o Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, garantiu que as tensões entre a empresa e as comunidades irão acabar.

 

“O Governo aprovou [recentemente] o Plano de Desenvolvimento do Projecto [Partilha de Produção que prevê construir uma Refinaria de gás doméstico, Central Térmica de 450 MW e uma Linha de transporte de energia até Maputo] e uma das componentes que a Sasol é obrigada a desenvolver é o conteúdo local, nomeadamente, emprego, melhoria da sua contribuição para o desenvolvimento local e criação de melhores oportunidades para as empresas moçambicanas. Na componente das empresas, acordamos que, nos próximos três anos, o nível de participação do empresariado nacional se eleve de 50% para 70%”, afirmou o Ministro, à margem da visita à Sasol.

 

Em termos de mão-de-obra, Tonela disse que durante a fase de construção e operação prevista para 2024, o Projecto irá empregar mais de 6.5 mil trabalhadores que maioritariamente deverão ser moçambicanos. Além desse Projecto, o Ministro lembrou que a Sasol lançou há meses em parceria com o Banco de Investimento e Comercial (BCI) uma linha de crédito para ajudar as empresas, sobretudo, as micro, pequenas e médias a terem recursos para financiarem projectos que têm a ver com a petroquímica.

 

O governante lembrou ainda que é obrigação do Executivo da Sasol o incremento do nível de formação da população local a partir do Centro de Formação em construção em Inhassoro. O Governo exige ainda que a multinacional melhore a divulgação de informação sobre emprego e negócios para que haja mais transparência.

 

Com esses projectos, que serão avaliados periodicamente pelo Governo, Tonela garantiu que os conflitos irão acabar, pois, “as populações reclamam um contributo mais directo e visível que o projecto deve deixar ficar na zona de implantação”. (Evaristo Chilingue)

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