Director: Marcelo Mosse

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segunda-feira, 23 dezembro 2019 07:01

O asno e a moça

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Imobilizou-se repentinamente na berma do passeio, perscrutou o ambiente que residia na via depois de olhar para esquerda e para a direita, carros, bicicletas e pessoas moviam-se rapidamente de um lado para o outro, numa azáfama que caracterizava a cidade de Quelimane no fim do dia laboral.

 

Ela ensaiava pousar o pé direito na estrada, mas o medo demovia-lhe de tal aventura.

 

Um carro passou rente ao passeio ela deu um pulo para trás, franziu a teste e a sua jovialidade ficou subtraída naquele acto.

 

O seu cabelo oleoso com brilhantina reluzia quando as folhas da acácia deixavam escapar tiras de sol, o seu rosto completamente maquiado era evidenciado pelo batom vermelho pronunciando os lábios e para rematar os seios erectos agregavam os seus dotes femininos. Usava uma saia de caqui castanha que combinava com a sua tez escura e uma blusa branca sem mangas. Calçava umas sandálias pretas que deixavam visíveis as unhas pintadas.

 

Um homenzinho acantonado na esplanada gesticulava ininterruptamente procurando captar a atenção do atarefado servente, ignorado por este o senhor levantou-se e toda a extensão da sua altura mediana ficou exposta. Gesticulou mais umas vezes até ser descoberto.

 

Quando estava para sossegar no seu acento e esperar pelo atendimento eis que descobre a moça na sua tentativa de atravessar a rua. Arregalado não perdia de vista o pequeno espectáculo.

 

- Sim faz favor – abordou o servente, distraindo-o

 

- Um café – disse sem tirar os olhos da moça

 

Quando o café prontamente chegou, absorveu num trago pediu a conta e retirou-se energizado ao encontro da moça.

 

Quando a alcançou abordou-a:

 

- O que se passa moça? perguntou solícito.

 

- Tenho medo.

 

- Vamos – convidou ele.

 

Um pico da sua pulsação cardíaca sacudiu o seu peito quando ela segurou a sua mão esquerda, caminharam calados pelo passeio até ao semáforo, ele esperou que o vermelho brilhasse e então iniciaram a travessia pela passadeira. Este conctato físico fez com que ele libertasse gotículas de suor que sulcaram pela testa apesar da frescura vespertina.

 

Quando finalmente alcançaram a outra margem da via, ele quis se libertar da mão dela apesar de estar a gostar do calor que ela transmitia, mas a rapariga continuou segurando firme.

 

- Tenho medo de atravessar as estradas ajuda-me a chegar a paragem de chapa? – solicitou timidamente.

 

O homenzinho demorou a responder, apreciando a beleza que ela emanava.

 

- Sim, sim – disse sem pensar completamente enfeitiçado pela sua beldade.

 

Taxistas de bicicletas pedalavam em fila indiana conversando animados com os seus respectivos passageiros.

 

Continuaram caminhando de mãos dadas como um casal de namorados atravessando as vias a caminho da paragem.

 

Quando alcançaram a terminal de transportes semi-colectivos o último chapa acabava de partir superlotado, bufando pela via em direcção a Nicoadala.

 

Eles entreolharam-se calados, já passavam das 18h aquela hora era improvável que conseguisse um carro que a levasse para o seu destino.

 

- Como te chamas? – perguntou-lhe repentinamente o senhor preocupado.

 

- Zainabe – respondeu - não sei como faço vivo em Nicoadala, não sei onde vou passar a noite – desabafou ela entristecida.

 

Arrojado no espírito solidário o senhor avançou com uma proposta:

 

- Podes passar a noite no hotel onde estou hospedado e de manhã segues para o teu destino.

 

Ela anichada na oferta que acabava de receber, ficou divagando digerindo a boa nova.

 

- Obrigado senhor – titubeou ela.

 

- Trata-me por Juventino – afirmou ele afável. 

 

Uma dupla timidez conferia a caminhada um ambiente tenso, até que ele recebeu um zéfiro no coruto descabelado e então lembrou de perguntar.

 

- O que fazes?

 

- Perdi a matrícula escolar e agora faço pequenos negócios.

 

Um bando de marriés partiu num voo rasante e foi ganhando altitude gradualmente em busca dos seus ninhos.

 

Os candeeiros das vias já brilhavam para minimizar a escuridão que chegava com a noite, eles caminhavam lado a lado sem pressa de chegar.

 

- O que fazes cá? – perguntou ela envolta na sua timidez suburbana

 

- Estou de passagem venho de Maputo e amanhã parto para Mocuba em missão de serviço – replicou à vontade.

 

Antes de se embrenharem no hotel pararam num restaurante e tomaram uma leve refeição.

 

Encontraram a recepcionista embrenhada no seu telemóvel, Juventino pigarrou para não a assustar.

 

- Chave 14

 

Sentaram-se no sofá da recepção, ela ofereceu-lhe um olhar benevolente pelo acolhimento oferecido. Ele replicou o gesto com um sorriso terno antes de lhe falar.

 

- Podemos dormir no mesmo quarto pois, possui duas camas – alertou para evitar qualquer mal-entendido.

 

Ela ponderou demoradamente antes de proferir qualquer resposta, como se buscasse na sua mente a afirmação mais acertada.

 

- Sim podemos – sussurrou ela meio acanhada.

 

Seguiram pelo corredor em direcção ao quarto sob o olhar inspectivo da recepcionista.

 

Cavaquearam durante horas enquanto o sono não chegava, falavam disto e daquilo, como velhos amigos. Primeiro foi ela que bocejou e logo Juventino ficou contaminado.

 

- Boa noite! – sussurrou ensonado.

 

Um elemento calorifico conferiu um aumento substancial da temperatura corporal, ele despertou não demorou muito para encontrar Zainabe ali na sua cama completamente nua.

 

O impulso animal catapultou-o para cima dela, não demorou muito para o gemido unilateral expelido por ela catapultasse mais a sua apetência carnal.

 

Evoluíam no coito libertando duplo gemido sonoro que confiscava o silêncio da noite, copulavam selvaticamente como verdadeiros animais indistintos de qualquer norma ética que aprisiona os humanos. Ela animada pelo vigor do seu parceiro derrubou e trepou-o, assumindo agora a liderança movia-se devagarinho sentindo cada centímetro da penetração nos seus múltiplos nervos genitais. Gozava e gozava mais ainda quando via Juventino rendido a sua grandeza de governante do prazer.

 

Suavam e esse odor tornava-se num perfume afrodisíaco que excitava mais o ritual sexual.  

 

O domínio dela demorou o tempo suficiente dele se revigorar, saiu debaixo e posicionou-se por trás reiniciou a penetração com uma das mãos segurava um dos seios e com outro a omoplata, movia-se rapidamente fazendo com que ela deixasse escapar pequenos grunhidos. O acto demorou pouco mais de vinte minutos até que a sua euforia masculina encheu o balão que lhe revestia o órgão genital, ela sentiu aquela volúpia sensacional deixando os músculos afrouxarem completamente relaxados. Ele libertou um suspiro e capturou todo o oxigénio que pode para refrescar o seu ser agora também mais descontraído.

 

Deixaram-se cair na cama, respirando fundo, descobrindo o teto escuro, cada um pensou em nada ainda apreendidos pelo prazer que haviam sentido. Encontraram espaço na pequena cama e adormeceram.

 

A manhã encontrou-os ainda dormitando estafados pelo exercício nocturno, o pio dos pássaros, o som dos motores, misturada com a vozearia popular compunham um alarme madrugador.

 

Descobriram-se mutuamente com a luminosidade fosca que entrava pelas cortinas.

 

Ela desembarcou da cama que lhe acolhera completamente despida, caminhou pelo soalho em direcção ao quarto de banho, deixando bem evidente cada parte do seu formoso corpo na passada lenta que executava, não era a mesma menina que temia atravessar a estrada, era outra, toda poderosa, ele todo babado limpou os olhos remelados com as mãos para capturar cada quadro daquele movimento soberbo.

 

Mil projecções eróticas chegaram a sua mente quando a perdeu de vista, não sabia o que fazer estava agora vigiado pela luz diurna.

 

Quando ela reapareceu a tela voltou a ganhar vida Juventino pulou da cama completamente nu o seu membro viril erecto desafiava a força de gravidade e pulsava ao ritmo cardíaco. Arrebatou-lhe de encontro a parede levantou-lhe a perna direita descobriu o manto de pelos púbicos com o seu falo e entrou, o movimento de vaivém foi ganhando cadência, as suas matunas iam serpenteando seu membro viril, ela soltou um vagido e logo ele beijou-a. A sua boca ora a beijava ora sugava os seios, ela o abraçava e arranhava nesse momento de êxtase sublime. Quando finalmente derramou o fluido seminal libertou um suspiro e a largou. Ela caminhou para se preparar e ele dirigiu-se ao quarto de banho.

 

Juventino encontrou-a se maquiando e foi-se preparando para deixarem o hotel.

 

– São dez mil meticais – disse ela estreando as palavras nessa manhã de quinta-feira

 

Ele percebeu que ela emitira um som, mas não foi capaz de descodificar.

 

– Não ouviste eu disse que são dez mil! – voltou a proferir alto e serena.

 

– Dez mil de quê? – perguntou ele estupefacto.

 

– Pelos serviços da noite passada e desta manhã – conferiu ela e toda a meiguice de moça inocente ficaram dissipadas.

 

– Menina você não esta boa, quem te mandou vir para minha cama nua? – disse ele com a voz tremula deixando transparecer algum nervosismo.

 

– Senhor eu não sei quero meu dinheiro. – gritava ela.

 

– Você é puta? – questionou visivelmente fora de si. 

 

– O que eu sou não interessa, quero o meu dinheiro senhor.

 

Ele não quis divagar em busca de qualquer interpretação ainda sentia nas suas entranhas o gozo do sexo que tivera.

 

– Vamos embora, preciso de viajar - disse ele.

 

Já na rua uma baforada de ar fresco renovou-lhe o ânimo caminhava meio apressado e ela logo ali no seu encalço. Eram nove horas, não tinha tomado o pequeno almoço, estava sem apetite, precisava mesmo de apanhar o carro para Mocuba. Ela interrompeu a sua caminhada prostrando-se a sua frente.

 

Uma passageira montada na garupa de um táxi bicicleta pede o condutor para parar quer presenciar o pequeno espetáculo onde um grupo de jovens uniformizados que estavam a caminho da escola já fazem parte dos espectadores.

 

– Estou a pedir pagar-me senhor! - diz muita convicta.

 

Ele fuzila-lhe com um olhar vítreo afasta-lhe de seu caminho e continua o seu percurso apressando o passo. Ela alcança-o logo de seguida e pega-lhe pelo cinto. 

 

O pequeno público liberta murmúrios animados ainda lhes seguem até perderem interesse.

 

Quando Juventino percebeu que ela não desarmava das suas intenções convidou-lhe a irem a um posto policial.

 

– Não vou a lado nenhum até você dar o meu dinheiro – agora ela gritou.

 

Já tinha alcançado a terminal de autocarros para os distritos da província. 

 

Um a um ia chegando curiosos desocupados para se entreter com o pequeno espectáculo que ela investia.

 

Juventino começava a sentir-se acossado com a determinação da moça segurou-lhe pela mão e mudaram de posição para fugir os mirones.

 

– Não tenho esse dinheiro.

 

– Paga-me.

 

O homem desesperado puxou da carteira tirou o dinheiro que tinha e antes de conferir ela confiscou-o.

 

Ele olhou pasmada para ela sem sabe o que fazer e dizer.

 

Eram sete mil e quinhentos meticais, ela ainda tirou quinhentos e ofereceu-lhe para que ela apanhasse o chapa para Mocuba. Depois largou um sorriso trocista.

 

– Estás arrependido nem!

Sir Motors

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